Romance inexplicável
Uma fanfic baseada na história comovente de "Kimi no na wa" ("Your name") cujos dois principais figurões, Taki Tachibana e Mitshua Myamizu, partem para uma jornada de autodescoberta sem precedentes, onde o amor que sentem um pelo outro parece saído de um sonho demasiado bom para ser real… Algo lhes parece faltar desde o momento que interagem pela primeira vez, como se tivessem ido para uma máquina de apagar memórias do seu relacionamento e o destino tivesse caprichado em os juntar de novo, no estilo "O despertar da mente" protagonizado por Jim Carrey. Mas algo muito mais complexo os espera, desde troca de corpos a viagens no tempo, coisas que ambos fizeram, mas se esqueceram. Os dois podiam-se contentar com a dádiva de Musubi, que os juntou de novo após anos de angústia incompreendida, mas não, algo faltava no seu amor: um passado. Como costumo dizer, não existe um futuro brilhante sem o verdadeiro conhecimento do passado, e o casal pressentia que tiveram um passado mesmo sem saber se o tinham de todo. E a mesma intuição que lhes fez encontrar e amarem-se mutuamente, é a mesma intuição que lhes diz que há algo mais que uma feliz coincidência de amor à primeira vista. E enquanto não descobrirem essas conexões perdidas a tranquilidade não irá reinar por mais que queiram. Espero que apreciem a leitura.
Capítulo 1- Taki e Mitshua
Taki e Mitshua, depois de se entreolharem nas escadas, ambos vão em direções opostas como se a cabeça tivesse vencido o coração após este os ter feito reencontrar. Mas Taki, como se tratasse de uma luta contra o destino, e de alguém que não tem medo de explorar o desconhecido, virou-se para a rapariga que já ia embora nas suas costas e perguntou-lhe se a conhecia de algum lugar. A rapariga voltou as costas com um olhar brilhante e esperançoso, os deveres que ela tinha, o medo e frustração que lhe percorriam desapareceram subitamente, então ela respondeu:
–Sim, eu também lhe conheço de algum lado! - respondeu emotivamente como se estivesse agradecendo aos céus pelo rapaz ter feito a pergunta que ela tanto queria fazer, mas não tinha coragem para fazê-la.
Após a resposta afirmativa de Mitshua, tanto Taki como ela sentiram um instinto inabalável síncrono de perguntarem os seus nomes, como se as suas vidas dependessem disso:
–Qual é o seu nome? - ambos perguntaram falando num registo alto ao mesmo tempo.
Ambos olharam espantados com tal estranha coincidência, e depois de uns segundos em silêncio ambos se desataram a rir. Afinal, qual a probabilidade de duas pessoas, supostamente conhecendo-se pela primeira vez, fazerem a mesma pergunta ao mesmo tempo? A implicações disso não se trata só da coincidência do timing numa fala, mas de tudo o que levou a essa, desde o primeiro encontro de olhares em comboios separados, até à vontade súbita dos dois desconhecidos se quererem encontrar sem uma única memória que os guiasse. Apenas o coração, um pressentimento, algo que sentiam que não conseguiam explicar os guiava. Após os risos do momento inusitado, ambos se encaram mais seriamente, como se tentando orientar num sítio que desconheciam. Após alguns segundos de silêncio encarando-se, o Taki lançou a bola primeiro:
–O meu nome é Taki, Tachibana Taki, e o seu? - respondeu.
–O meu nome é Mitshua, Myamizu Mitsha. - respondeu com confiança invulgar.
No momento que ambos trocaram a informação dos seus nomes, lágrimas começaram a escorrer no canto do olho de ambos como se tivessem reencontrado o amor da sua juventude do qual o nunca o tinham superado anos depois. Mas no momento eram totais desconhecidos. O Taki continuou liderando a investigação:
–Tem a certeza de que nos encontramos nalgum sítio, sei lá, numa universidade ou numa festa de casamento? - perguntou de olhos arregalados.
–Não creio, não recordo de ver a sua cara nalgum evento – disse Mitshua com um tom pensativo – Mas só por curiosidade, qual a sua idade?
–Eu... tenho 22 – respondeu Taki embaraçado ao notar que a mulher podia ser mais velha.
–Bem, e eu 25. Com três anos de diferença é quase impossível termos sido colegas de faculdade. Quando você entrou eu tinha acabado de terminar o curso - acrescentou Mitshua.
Aparentemente, a atitude defensiva de Mitshua desapareceu, ao ponto de nem se importar que o outro soubesse já a sua idade. Ela entrou no espírito investigativo de Taki, e com isso ambos se iam esquecendo das suas rotinas enquanto o tempo passava. O Taki continuou:
–É improvável de facto, mas diga-me, você estudou na mesma faculdade que eu em Tóquio? Eu estudei na agrónoma - disse Taki um pouco esperançoso.
–Não, embora eu tenha estudado na universidade de Tóquio, no meu caso foi na de economia, faculdades bem longínquas - respondeu Mitshua prontamente.
–Pois, não sendo aí então não sei. E tampouco conheci algum familiar Myamizu nos casamentos de família - disse Taki cabisbaixo – Mas se você não se importar diga-me, de onde você é? É daqui de Tóquio? - perguntou curioso.
–Eu... bem, sou da prefeitura Gifu, lá para os lados de Hida – a rapariga hesitou, ela não gostava de contar a ninguém que era de Itomori por não querer ser chamada de "rapariga cometa". Mas com aquele bonito rapaz desconhecido apetecia-lhe contar totalmente a verdade, mas viu-se no dever da sua racionalidade controlar as emoções mais que descontroladas naquele momento.
–Curioso, eu uma vez viajei por esses lados, lá para Itomori para procurar uma coisa que não me lembro. As minhas memórias desse tempo são nebulosas, mas lembro-me de a pequena vila ficar perto das montanhas de Hida. Infelizmente a visitei 3 anos depois do cometa, estranho, não é? Por acaso você já visitou Itomori quando estava intacta? Da documentação e imagens que encontrei, era uma belíssima vila. - disse Taki nostálgico.
–Espere... você esteve lá? - Mitshua estava em choque – Bem, eu de facto nunca visitei Itomori... Porque sou de Itomori! - desabafou Mitshua, sentindo que era impossível haver melhor pessoa fora dos seus círculos para lhe contar aquilo.
–Vo... Você é de lá? - tentou confirmar Taki, que ficou pálido com a revelação, como se estivesse vendo um fantasma.
–Sim sou, eu saí à força em 2013 pelos motivos que deve saber. Quem sabe se essa coisa era eu que procuravas, mas você se atrasou uns três anos, eu já estava em Tóquio faz tempo – disse Mitshua num tom audaz que só mostra a espaços com a sua melhor amiga Sayaka. Parecia que ela já tinha aceitado que aquele rapaz era especial para ela de algum modo.
–Pro... Procurar-te? - aquelas palavras ressoaram no fundo do seu coração sem saber porquê, crescendo um rubor nas suas bochechas – De facto, não sei por qual outra razão teria gastado as minhas poupanças para visitar uma vila longínqua destruída. - Taki gostava de pensar na ideia de que ela seria a razão da sua procura, por mais estapafúrdia e absurda fosse essa ideia, uma garota tão bonita e amável associada ao sítio que passou a amar inexplicavelmente parece encaixar as peças de um puzzle, totalmente aleatório na sua mente, mas lógico no seu coração.
Mitshua começou a navegar na mente com aquelas palavras, algo na memória surgiu nela, subitamente como um relâmpago:
–Não... Não és o único que fez uma viagem longínqua negligenciando os seus deveres. Eu também a fiz, para Tóquio, para procurar algo ou alguém, que não me lembro. A única coisa que sei é ter chorado muito e até ter pedido a minha avó para cortar o cabelo, e só sei isso graças à minha irmã... Por acaso sempre viveste em Tóquio? - perguntou Mitshua levantando os olhos e olhando para Taki com expetativa.
–Sim, sempre vivi aqui. - Taki levantou os olhos para ela com aquela revelação também. Será que já a tinha encontrado nalgum comboio antes? Ou ainda melhor, será que as viagens loucas de ambos eram para se procurarem um ao outro? Mas algo não lhe batia certo, ela devia ter feito essa viagem em 2013 ou antes, não tinha como estarem à procura de um do outro, se ele estava em 2016, quiçá procurando algum fantasma numa vila deserta. – Você fez essa viagem quando? - só para confirmar a dedução óbvia, como se estivesse tentando uma resposta diferente.
–Fiz essa viagem um dia antes do desastre do cometa, em 3 de outubro de 2013. Bizarro, não é? Nunca entendi o timing estranho dessa viagem… Por acaso você viajou em outubro? Talvez você possa ter visto algum documentário na época que o fascinou. – Mitshua estava entrando em conflito consigo mesma, por um lado queria desabafar os estranhos mistérios com aquele desconhecido do qual parecia ter uma ligação importante a esses, mas por outro lado achava imprudente expor a sua vida daquela forma, ainda mais coisas que lhe faziam parecer maluca, e então tentava também encontrar explicações mais pragmáticas para poder encerrar o assunto.
–Sim, de facto viajei em outubro, duas semanas depois do aniversário do desastre. Mas eu juro que nunca me interessei pelo desastre antes, só depois da viagem é que comecei a ver documentários sobre Itomori, a procurar qualquer coisa que mostrasse qualquer imagem da vila como era antes. Era como se tivesse vivido lá noutra vida, embora não acredite nessas coisas... - Taki nega a dedução lógica de Mitshua, tentando não matar um assunto do qual nunca teve respostas, e que sempre as procurou sem sucesso. A rapariga à sua frente é o mais próximo que teve na iminência de as encontrar.
–Bem... se vamos por aí, o que aconteceu comigo é bem mais estranho – replicou Mitshua abrindo o jogo – Como lhe tinha dito, viajei a Tóquio, uma viagem demorava 6 horas apenas a parte da ida, e que fez um rombo nas minhas poupanças. Mas o que aconteceu no dia seguinte foi muito mais bizarro. Olhe, lembra-se das circunstâncias do cometa e como todas as pessoas se salvaram? - interpelou Mitshua, não querendo correr o risco da pessoa a quem lhe vai contar isso não entender o contexto, e achar que ela esteja a inventar ou a alucinar.
–Eu... pelo que sei... - Taki parou um pouco, para organizar a ideias e buscar as memórias da sua obsessão por Itomori – Acho que houve um exercício de emergência pouco antes da queda do cometa. Se não estou em erro, o subprefeito da vila ficou com os louros de ter salvo a cidade mesmo que a sua decisão tenha parecido louca. O que adiciona ainda mais mistério é a subestação elétrica de Itomori ter sido explodida 1 hora antes da queda do cometa, talvez a razão do subprefeito ter feito a evacuação de emergência - Taki fez uma pausa para respirar – Enfim, os jornais e sites de notícias não pararam durante um mês de inventar novas teorias da conspiração, na época não liguei a elas, mas em 2016 pesquisei nas notícias arquivadas da época e percebi que tinha perdido uma enorme festa - concluiu Taki.
–Pronto, ainda bem que você está por dentro – suspirou de alívio Mitshua - Então como vou dizer isto... bem... não foi o subprefeito que teve a ideia de evacuar a vila, ou de alguma forma previu a queda do cometa. Alguém previu o cometa sim, mas essa pessoa fui... eu - apontando para si, de forma embaraçada – Eu não me lembro como fiz, mas os meus amigos contaram-me que eu vinha alertando toda a vila desde cedo de manhã para a iminente destruição de Itomori. Como eu já disse, eu não me lembro disso, apenas a parte em que alertei o meu... - Mitshua pausou viu que se esqueceu de um pormenor importante – Desculpe por não lhe ter contado, o meu pai era o subprefeito, Myamizu Toshiki caso se lembre. Então como vinha dizendo, a única parte que me lembro foi ter dado o alerta nos últimos minutos ao meu pai, o subprefeito, e por alguma razão inexplicável acreditou em mim e deu continuidade à ordem de evacuação para a escola secundária de Itomori, do lado oposto da cratera de impacto. - Mitshua finalmente pôde contar o seu mérito a alguém na salvação da vila contra a versão oficial que foi o seu pai, que tentou a todo o custo até quase ao último minuto cancelar a ordem de evacuação que os seus amigos prepararam, os únicos que confiaram na sua premonição inexplicável e estiveram com ela até ao fim.
Taki ficou vários segundos em silêncio, a olhar de cima a baixo não uma pessoa qualquer de Itomori, mas sim a que supostamente salvou a cidade com um aviso profético, algo que pensava só existir em lendas antigas japonesas. Ele a olhava como um ser de luz, como se não bastasse ter-lhe feito esquecer o vazio que tinha no coração, ainda salvou uma povoação inteira! Mas voltando com os pés na terra, quis perceber melhor a veracidade dessa história:
–É uma história extraordinária, que nunca tinha visto em nenhum portal de notícias. Mas vou acreditar em você, não me parece ser aquele tipo de pessoa que procura ficar com os louros, e também não creio que você se fosse expor a um desconhecido por uma história falsa que o público não sabe - fez uma pequena pausa pensando que fez um julgamento demasiado duro em voz alta - É difícil de acreditar, mas pela nossa conversa sinto que ambos passamos por situações inexplicáveis, e logo pelos mesmos locais onde vivemos (mesmo que em tempos separados) - balbuciou ele nessa última parte.
–Ei! Você pensou isso sobre mim? - gesticulou Mitshua meio ofendida.
–Não! Eu já disse, acredito em você, estamos no mesmo barco! - falou Taki enquanto se encolhia como se ela o fosse bater, embora fosse bem mais forte que ela.
–Bom... - suspirou Mitshua. Nesse tempo de suspiro e quebra do clima de conversa, ela saiu do transe, e percebeu que estava irremediavelmente atrasada para o trabalho. Tinha de o despachar agora – Olhe, eu adorei esta conversa, mas estou atrasada para o trabalho. - disse ela contrariada.
–Você estava atrasada? Perdoe-me, a culpa é toda minha! Se quiser eu posso vir ao seu trabalho para tentar que responsabilizem a mim e não a si – Taki estava aflito de arrependimento de ter feito uma dama atrasar-se, mesmo que fosse vontade dela também.
–Não! Não é preciso. Eu sou a culpada! – tentando acalmar o Taki – Olhe, eu vou ter de ir ao trabalho sozinha e vamos ter de separar caminhos, você vai para o que ia fazer.
"Separar caminhos", "você vai para o que ia fazer". Aquelas palavras congelaram-lhe o corpo. Ele queria ficar mais tempo com ela, quiçá nunca se separar dela, e ele não percebia porquê, mas falavam como pessoa íntimas, mesmo que tivessem acabado de se conhecer há uns minutos. Minutos… tempo! Quanto tempo passou? De acordo com as suas estimativas, mais de meia hora. Coitada da Mitshua! Ela tinha de ir trabalhar, enquanto ele só tinha de ir procurar emprego, nada com uma hora marcada como ela. Sentia-se estúpido, mas ao mesmo tempo não queria se separar dela. Então teve uma ideia:
–Que tal trocarmos contactos? Para continuarmos esta conversa com mais tempo? - chegou-se à frente Taki, confiante que era a única opção correta.
–Eu... Eu gostaria muito! - respondeu Mitshua corada. Como ela não se lembrou disso antes? Separar-se daquele homem sem o poder ver novamente seria das coisas mais dolorosas que lhe teria acontecido em retrospetiva.
–Fantástico, vou-lhe passar já o meu contacto. - Taki tirou um bloco de notas, escreveu o seu número, rasgou a folha e deu-lhe a ela – Aqui está. - deu-lhe a folha entusiasticamente.
No momento seguinte, ele passou o bloco de notas a ela para ela escrever o seu número. Mas no momento, em que ela estava pousando a caneta para o escrever, um arrepio súbito desconhecido subiu-lhe a espinha, e no momento em que ela começou a escrever ele começou a verter lágrimas, e um gesto involuntário da sua mão segurou na mão dela que estava a escrever o seu contacto, parando a meio.
–Eh?! O que se passa consigo? Porque me está impedindo de escrever o meu contacto para si? - perguntou Mitshua perplexa pelo gesto e cara de desespero dele.
–Não sei... eu quero que escrevas o contacto, mas algo dentro de mim não! - fungou Taki.
–Se não queres o meu contacto... - disse Mitshua cabisbaixa, mas assustada com o seu surto repentino.
–Eu quero sim! - quase gritou Taki, enquanto consegue tirar a custo a sua própria mão na mão de Mitshua com a caneta – Agora podes escrever o resto, eu não te impeço! - tentou acalmar Mitshua.
–Ok, aqui está. Nada de mais surtos de mão teleguiada, ok? Se ela tivesse ido para outro sítio não teria responsabilizado a sua mão, mas a si! - alertou Mitshua na defensiva – Mas parte-me o coração vê-lo nessa tristeza num momento que parece importante para si, para nós... Bem, chega de mistérios, aí está o seu bloco de notas, tenho de ir – disse Mitshua nervosamente.
–O... Obrigado por teres aparecido, e por teres-me perdoado esse surto, espero que nos podamos falar com mais tempo. - disse Taki enxovalhando as lágrimas e aliviado, como se o que lhe receava tivesse aparentemente desaparecido.
–Obrigada, eu. Eu pensei que estava a fazer figura de ursa na rua em vão, quase partindo os meus sapatos. Quero ver-te depois. Tchau, beijinhos – despedindo-se de Taki.
–Tchau, e espero ver-te novamente também, beijos para ti – replicando a despedida de Mitshua, muito emocionado.
