Capítulo 4, o Despertar de Mitsuha:
A Mitsuha estava correndo o mais que podia, mas agora com o seu trabalho e compromisso em mente, não com o seu coração. E talvez por isso, quando estava a chegar à estação de Shinanomachi, ela estava mais cansada que nunca. "Arf! Arf!", expirava a Mitsuha forçosamente, e como se não bastasse, depois de apanhar o comboio, ainda teria de dar outra corrida depois de sair do mesmo na histórica estação de Tóquio, para se dirigir à sede da companhia de seguros onde trabalha.
Enquanto esperava o próximo comboio, Mitsuha percebeu que estava toda suada e não podia vir nessas condições para o trabalho, teria de se limpar durante a viagem de comboio. "Ai Taki! O que me fazes…", disse ela primeiro transtornada, mas um sorriso incontrolável esboçou na face dela quando se lembrou que tinha o contacto dele. Ela tirou o pequeno papel da sua bolsa, e olhou para os números como se tratasse da chave vencedora da lotaria, embora o prémio fosse um indivíduo ainda desconhecido. Ela apertou o contacto contra o seu peito, e no mesmo momento surgiu o comboio para onde ela ia entrar; no seu instinto de discrição em espaços públicos, ela guardou rapidamente o seu contacto na sua bolsa como se de um papel confidencial se tratasse.
"Espera!", gritou Mitsuha por dentro, enquanto dava passadas largas para uma das portas de entrada do comboio, ela tinha medo de se descuidar e deixar o comboio passar, algo nada habitual para uma rotina que já fazia há vários meses, era como se aquele rapaz que conheceu lhe tivesse desregulado os seus hábitos e automatismos. De facto, ela já fazia essa viagem desde há uns tempos para cá, há um ano aproximadamente, quando teve a oportunidade de ingressar na Tokyo Flood Insurance, uma grande companhia de seguros integrante de um conglomerado ainda maior, do qual controla quase um décimo da economia japonesa. A função de Mitsuha nessa companhia era lidar com os seguros associados a desastres naturais, em específico na prevenção dos mesmos. Provavelmente, algo dentro dela queria ser a heroína consciente que não foi em Itomori, e a puxou para uma carreira que seria antes impensável para ela.
Quando ela entrou no comboio, ao invés de se sentar como habitual, foi à casa de banho limpar-se com vários papéis, perfumar-se e retocar a sua maquilhagem desfeita pelo suor do seu corpo, felizmente ela tinha um mini-kit de beleza de primeiros socorros na sua bolsa como toda a mulher minimamente bem arranjada. Durante a pequena viagem, ela saiu da cabine apertada e foi-se dirigindo aos assentos, já tinha passado duas estações e o comboio estava dando volta ao parque Chiyoda. Ela lembrou-se desse facto inusitado e teve um desejo como nunca antes de o visitar, algo estranho já que tinha visitado algumas vezes com colegas de curso e trabalho, e embora achasse bonito, algumas secções lhe faziam lembrar a sua terra-natal e acabava por sair cabisbaixa e de espírito perturbado sem bem nem perceber porquê. "Deve ser por fazer-me lembrar Itomori destruída", pensava Mitsuha naquela época, embora não conseguisse explicar certos sentimentos de angústia, como se tivesse perdido alguém, faltasse alguma coisa. Essa coisa que faltava parecia já não lhe incomodar, como se ela tivesse suprido essa necessidade, e esse novo contraste fez-lhe querer revisitar o que achava bonito com essa nova perspetiva, e gostaria que o tal indivíduo desconhecido a acompanhasse. Ela queria visitar o parque com ele, ela queria saborear o aroma a pinheiro e cerejeira com ele… "Concentra-te Mitsuha, não é hora de pensar em parques e passeios, tens uma justificativa a ser dada pelo atraso do teu trabalho!", ralhou consigo mesma no pensamento.
Ela pensava, pensava, e não conseguia vir com nada concreto, como ela ia conseguir provar que um homem lhe atrasou a caminho do trabalho? E mesmo que conseguisse, ela quereria usar ele como bode expiatório de algo que ela fez voluntariamente? Não parecia honesto, embora não fosse a principal razão que a detivesse, era mais pelo que sentia por um indivíduo chamado Taki, a única pessoa que lhe parece ter movido o coração todos estes anos. Ela recostou-se no assento enquanto algo inquietante surgiu na sua mente: "Eu ia pensar em mentir para proveito próprio prejudicando outra pessoa?". A Mitsuha, apalpou a sua cara com as mãos e pensou que algo não estava certo. Ela desde há um ano ingressou na tal Tokyo Flood Insurance, e embora fosse uma companhia com fins nobres, essa tornou-se conhecida por escândalos de corrupção, envolvendo desde o não pagamento massivo a clientes até a doações governamentais duvidosas.
A Mitsuha na época não estava lá, mas a companhia esteve quase a ser encerrada não fosse um terramoto grave a norte do país que lhe requereu os seus serviços, desviando as atenções do público para o que vários elementos da Tokyo Flood Insurance fizeram. De qualquer dos modos, mais de 100 executivos e outros empregados relacionados a eles demitiram-se ou foram demitidos, numa purga inédita na companhia. Foi poucos anos depois desse incidente que a Mitsuha conseguiu arranjar uma vaga nessa companhia de seguros, da qual vinha crescendo em novas contratações, quiçá no último ano que isso acontecia para sorte dela. Até aí, nada que lhe fizesse pesar a consciência, ela não tinha nada a ver com o que administração anterior tinha feito. Mas o que talvez lhe fizesse pesar a consciência foi ela ter presenciado a alguns atos de corrupção desde favorecimentos, contratos fraudulentos contra clientes, entre outras situações sem fazer nada.
A Mitsuha de facto, já tinha a tendência de não intervir no que os outros faziam de mal a seu ver, pelo menos quando só a ela lhe afetava, como por exemplo, na época em que lhe gozavam na escola por ela "cuspir" arroz mastigado para uma caixa tradicional. Mas tal era diferente quando outros sofriam injustiças e ela podia fazer alguma coisa sobre isso, como quando a sua avó Hitoha foi traída pelo seu pai Toshiki por causa de ele ter rompido com a tradição familiar da sua mãe e avó Myamizu que ele tinha jurado cumprir. O seu pai até lhe prometeu regalias, em especial sair daquela vida exaustiva de donzela de santuário, mas Mitsuha (não sua irmã Yotsuha que ainda era demasiado nova) arredou o pé e ficou com a avó, sem nunca olhar para trás na sua decisão. Ou quando o Katsuhiko Teshigawara (conhecido por Teshi) era gozado na escola pelos seus interesses de ocultismo, e Mitsuha, fazendo equipa com a sua melhor amiga Sayaka Natori (conhecida por Saya), o defenderam contra quem lhe perturbava, aprofundando uma amizade entre os três. Estes e outros exemplos demonstram que de facto, a Mitsuha de Itomori, não deixaria passar tais atos de corrupção incólumes, mas a rapariga que veio depois do desastre do cometa era uma pessoa indiferente, distante, sendo o que era moral ou não já não lhe importava tanto.
Para quê se incomodar com coisas alheias se tinha uma rotina diária a seguir tão estreita como a linha de um comboio? Ela acordava todos os dias de lágrimas e só se conseguia recompor após fazer o penteado com a sua corda kuhimimo, entrelaçando pacientemente o seu cabelo, como se estivesse organizando a sua estrutura neural; havia uma lenda popular da sua terra de que esse penteado tinha sido criado por Shitori-no-kami, a divindade local xintoísta dos tecidos, para que as mulheres Myamizu lidassem melhor com as suas tragédias e se concentrassem no dever de proteger o santuário e as pessoas fiéis a esse. Sendo verdade ou não, de que é certo é que o penteado ajudava ela a fazer o resto do seu dia, a ser resiliente contra o sentimento de frustração que lhe corria todas as manhãs, que ela não percebia o porquê de o ter, apenas sabia que vinha um sonho misterioso que nunca se lembrava.
Após o ritual matinal, ela se ocupava nos estudos e posteriormente no trabalho ou nalguma outra ocupação solitária, tudo para não pensar naquela coisa misteriosa da qual chorava de manhã, que ela pressentia que fosse carência por alguém que ela gostava muito. Isso era algo estranho, ela nunca se tinha interessado por ninguém lá em Itomori, e muito menos em Tóquio, ela sempre quis ficar solteira para estranhamento tanto da família, amigos e colegas de faculdade e mais tarde de trabalho. Mas apesar da sua afirmação consciente de não querer ninguém, esses sonhos misteriosos a guiavam fazendo ela procurar em todos os cantos por algo ou alguém, um tique involuntário que ela ganhou após a queda do cometa, e na qual ela referiu várias vezes nas suas consultas gratuitas de psicologia que todos os habitantes de Itomori tiveram direito. A sua conclusão? Desconhecida! Apenas deduções sobre problemas familiares e outras causas não confirmadas, das quais ela queria acreditar que fossem as causas reais dos seus tiques, mas que nunca tiveram respaldo no que ela sentia. Ainda para mais, ela ainda nem tinha rompido com a sua avó no tempo dessas consultas, e o sentimento estranho de perda e carência desses sonhos e tiques continuou exatamente igual após esse rompimento. Portanto, para manter a sua rotina diária ela quis enterrar esse mistério nas profundezas da sua mente, mas a sua atração repentina por aquele Taki fez-lhe renascer as suas suspeitas de que realmente ela procurava por alguém que era importante para ela, alguém que ela já procurava em Itomori, desde o exato momento da queda do cometa. E esse rapaz desconhecido, não só era um raro entusiasta tardio pela sua terra e consequente desastre do cometa, como também parecia procurar alguém desconhecido como ela.
Até ao momento antes do encontro com ele, ela limitava-se a cumprir os seus objetivos friamente, uma frieza que não vinha da falta de sentimentos e compaixão por outras pessoas, mas pela repressão das emoções fortes não correspondidas pelo desconhecido que procurava. Nesse sentido, a sua indiferença para o mundo era o seu mecanismo de autodefesa para aliviar a dor da sua angústia em procurar alguém desconhecido eternamente, e só praticamente pela sua melhor amiga Saya-Natori com o seu noivo Teshigawara e pela sua irmã Yotsuha é que não era indiferente. Essa sua indiferença tornava o anteriormente intolerável agora tolerável, tornava por exemplo, os atos duvidosos na sua empresa apenas como parte da sua vida quotidiana, algo que ela não tinha de interferir ou mesmo julgar. No entanto, bastou a conversa de meia hora com um indivíduo aleatório para ela mudar a sua perspetiva, como se tivesse acordado de um sono profundo. O seu coração voltou a bater de uma forma que já nem se lembrava, o peso do cansaço eterno da sua cabeça parecia ter desaparecido, apesar das suas inúmeras preocupações no momento. "Taki, quem és tu? Porque me mexes tanto?", disse ela para si, dando pequenos socos na sua testa como se estivesse a tentar acordar de algum sonho.
Nas questões relacionadas com o trabalho, após dar várias voltas na mente num assunto do qual ela estava com menos foco do que devia, chegou à conclusão de que o melhor era contar a verdade e dizer que quis encontrar-se com um homem que parecia ter algo urgente para ela. Com isto, ela não estaria mentindo, e, ao mesmo tempo, parecia algo plausível mesmo que fosse repreendida pelo atraso na mesma. No momento que a Mitsuha conseguiu organizar um pouco a sua mente, o comboio chegou à estação do seu trabalho, na estação de Tóquio.
Depois de uma longa caminhada, Taki chegou à estação de Yotsuya. A caminhada de volta pareceu-lhe muito mais longa do que a de ida, afinal, ele tinha vindo a correr antes e tinha parado na biblioteca, ao contrário de agora. Além disso, a própria perceção de se querer encontrar com Mitsuha logo de seguida parecia-lhe cada vez mais irrealista, as suas roupas estavam mais bagunçadas que o habitual, e cheirava a suor apesar da temperatura fresca ainda típica dos dias de abril.
Depois de quase uma hora de caminhada, Taki finalmente avistou o Beck's Coffee Shop e seu telhado em vidro enrolado de forma tão característica, como se de um rolo de carne se tratasse. Mais à frente estava a estação de Yotsuya, tudo o que faltava ao Taki, era cruzar pela ponte sobre as linhas ferroviárias e subir as escadas para uma das suas habituais paragens. Quando Taki finalmente chegou ao longo vão de escadas, deu um longo suspiro e disse para si, "que dia mais longo". Após isso sentou-se no canto numa das escadas, do lado que fazia mais sombra. Não lhe importava muito se era decente ou não se sentar ali, apenas queria descansar, até que um pensamento lhe interrompeu: "Não era esse o local onde me tinha encontrado com Okudera?". Apesar de ter já passado várias vezes naquele local, só agora se lembrou desse facto, parece que aquele incidente de manhã e toda aquela investigação de memórias fez-lhe espoletar outras memórias, num efeito associativo semelhante ao dominó. "Pois é, foi esse o local, como nunca me lembrei antes?", após Taki proferir isso na sua mente, ganhou novamente curiosidade em encontrar novas memórias perdidas que pareciam girar em torno do seu encontro de manhã, mas estava demasiado exausto desse exercício. Ele queria apenas pensar numa coisa, quando vai se encontrar com aquela rapariga de Itomori.
Após se recuperar, Taki levantou-se da escadaria e decidiu que ia primeiro para casa arranjar-se e telefonar para ela mais para o fim da tarde. Entretanto, ele foi-se dirigindo para o edifício da estação para ver os horários. Havia um comboio daqui a pouco minutos para o seu destino, na estação de Shinjuku. Após essa viagem, ele teria de percorrer mais de 1 quilómetro ou mais de um quarto de hora de caminhada para poder chegar ao seu modesto apartamento de família com vista para os principais arranha-céus de Tóquio que tanto fascinou uma certa Mitsuha em circunstâncias desconhecidas.
Habitualmente, ela costumava caminhar durante pouco mais de 5 minutos até ao seu local de trabalho. Mas por ter ido num horário fora do habitual, quis o apanhar o primeiro táxi que lhe apareceu na frente para se apressar. Durante o caminho, à medida que a Mitsuha se aproximava do local de trabalho, os pensamentos que ela ainda pudesse ter com aquele rapaz desconhecido e o que ele significava para ela foram se desvanecendo, para dar às preocupações com o que dizer no trabalho, agora estas mais fortes que nunca. Quando chegou ao imponente edifício alaranjado, os seus membros começaram a tremer de forma discreta, mas sentida, e o seu coração voltou a acelerar, desta vez de aflição e não de algum delírio amoroso porventura. Os seus nervos eram equivalentes aos jovens que se atrasavam para a aula sem nenhuma justificação convincente para dar ao professor, a Mitsuha não tinha de facto nenhuma também, e isso lhe fez recear que todo o seu bom trabalho fosse posto em causa. Entretanto, ela dirige-se para o hall de entrada, avistando o familiar porteiro do qual ela já o via há meio ano quase diariamente; era alguém de cabelo e barbas grisalhas, já na idade da reforma e vestia um fato preto-cinza moderno que não correspondia em nada com a idade do senhor em questão. A Mitsuha cumprimentou o porteiro com um "bom dia" o mais natural que possível, esperando que ele apenas acenasse ou respondesse como se nada tivesse acontecido. Mas as esperanças dela foram vãs, o homem de olheiras desgastadas e rugas vincadas não poupou nas suas observações daquele momento insólito:
– Estou surpreso vê-la aqui, pensei que você ia faltar hoje… aconteceu alguma coisa consigo? – olhando para a Mitsuha como se fosse um jogo de Mahjong, um entretém para ele.
– Ah! Não, quer dizer… eu tive um percalço no caminho, mas ele já foi resolvido. Agora tenho de ir! Foi bom falar com o senhor… – a Mitsuha respondeu com muita hesitação e nervosismo, o porteiro idoso apanhou-lhe de surpresa e ela queria se despachar o mais rapidamente que possível.
– Hmmm… então tenha um bom dia, minha senhora. E não irrite seus superiores, ainda mais no último dia útil da semana! – cortejou e alertou o porteiro.
Apesar disso, o velho olhou-a com desconfiança, como se pressentisse que houvesse algo mais naquela história, mas a deixou escapar do interrogatório de passatempo, talvez por bons modos. Após passar pelo impertinente, mas cortês porteiro, que lhe fazia lembrar os seus vizinhos coscuvilheiros lá em Itomori, dirigiu-se ao elevador que lhe ia levar ao seu escritório, passando apenas por uma rececionista demasiado ocupada com telefonemas para notar a ela. Ela entra no elevador com passos tensos, e após pressionar o botão correspondente ao piso onde ela trabalha, ela abraçou a sua mala castanha como se fosse um urso de peluche. Ela já não se lembrava do tempo em que se sentia tão nervosa e carente, talvez lá para os primeiros tempos em Tóquio, e aquele urso de peluche em forma de mala tomava a forma daquele rapaz desconhecido, Taki, ela queria ele estivesse presente no momento com ela no elevador, fazendo-a arrepender-se de não o ter deixado ir com ela para o trabalho.
Tal estranho pensamento fez-lhe despertar para a figura infantil que ela estava a fazer, fazendo-a largar de rompante a sua mala de volta ao seu ombro direito: "O que raio estás a pensar, tu só conheceste aquele homem hoje!", disse ela para si repreendendo-se, "Depois do trabalho eu penso como me encontrar com ele, ok?", concluiu Mitsuha, tentando-se tranquilizar. Entretanto, durante os segundos intermináveis de espera, as portas automáticas abrem-se, e ela suspira fundo ao ver o corredor que vai ter ao seu escritório, proferindo para si as palavras: "É agora". Quando ela penetra no corredor, a Mitsuha põe-se a caminhar com os passos mais leves que alguma vez deu, como se tivesse chegado de uma noitada e não quisesse acordar os seus pais enquanto se dirigia para o quarto, com passos silenciosos. Mas, como seria de esperar, ela "acordou" alguém, neste caso o seu superior hierárquico e seu chefe que supervisiona a secção onde ela trabalha, o executivo sensei Hikaru Sumino. Era alguém relativamente alto, nos seus 1 metros e 80, com óculos graduados, elegante e com uma face tecnicista; o seu semblante fazia lembrar o imperador Hirohito, que encaixava com o seu perfil de autoridade na secção da companhia. Ele olhou-a com severidade e irritação:
– Mas isto são horas de chegar Myamizu-san? Às suas custas uma dúzia de relatórios atrasaram-se por não terem passado nas suas mãos. Diga-me, o que a impediu de vir a horas? – perguntou Sumino-sensei com faíscas nos olhos.
– Eu… um homem tinha algo urgente para mim. Eu vim atender a sua vontade, mas… demorou mais que eu pensava. E com isso perdi o comboio – respondeu Mitsuha tremendo no seu interior como um rebarbador.
– Esse senhor estava doente? Precisava que o acompanhasse? Tem algum relatório médico a comprovar? – bombardeando Hikaru-sensei a Mitsuha com perguntas de interrogatório.
– Não, não é isso. – negou Mitsuha – Ele está muito saudável, tal como eu. – dizendo ela esta última parte para dentro. Ela sentia o seu peito a doer só por imaginar levar o rapaz desconhecido ao hospital.
– Então, se ele não está doente, que outra razão você teria para atender a um pedido tão urgente a um homem? – perguntou Sumino-sensei, mas parece que obteve a resposta mais rápida para a sua própria pergunta que a Mitsuha – Espere! Não me diga que andou a namoriscar em tempo de trabalho! E logo você que nunca teve parceiro pelo que eu saiba! Não haveria melhor altura para arranjar um parceiro, Myamizu-san, uma altura em que, digamos, não a fizesse atrasar para o seu trabalho? – Sumino dita uma fofoca dessas em voz alta e esboça um sorriso na conversa pela primeira vez, mesmo sendo um de sarcasmo. Alguns funcionários voltaram-se por uns segundos na direção de onde os dois estavam a falar do salão principal.
– Não… foi só uma conversa. – um vermelho nas bochechas de Mitsuha cresceu enquanto ela hesitava na resposta – Eu… ele tinha coisas importantes para me contar… lamento o atraso no trabalho mas não volta a acontecer. – implorou Mitsuha nesta última parte fazendo uma vénia.
Após o pedido de desculpas dela, o Sumino-sensei olhou de cima a baixo para a sua subordinada. Nunca a tinha visto daquela forma, hesitante, emocionada e valorizando algo mais que o seu trabalho. Algo estava diferente nela e ele não percebia o quê e porquê. Ele ponderou que talvez tenha sido enganada por um homem mal-intencionado e que esse se tenha aproveitado da sua inexperiência com homens. Não é que se preocupasse muito com a vida pessoal dela, mas queria saber mais sobre o homem que perturbou a sua secção na companhia seduzindo uma das suas funcionárias. E assim, ganhava tempo para decidir melhor o que fazer com a Myamizu-san. Ele respondeu à súplica após meio minuto de silêncio:
– Antes de decidir o que fazer consigo, eu quero saber, quem é esse homem, é algum vigarista, alguém que tenta seduzir mulheres com falsas promessas? – interrogou o sensei Hikaru sem rodeios.
– Não! Não é nenhum vigarista! – disse Mitsuha quase gritando, abstraindo-se dos seus nervos, como se fosse sua missão defender o homem. Alguns outros funcionários voltaram-se de novo – E também não estava a namoriscar ninguém… A conversa com ele era relevante, ele sabia muita coisa sobre a minha terra, ele… podia dar dados importantes sobre a viabilidade da reconstrução das casas em Itomori! – ela baixou o tom de voz depois de se aperceber que falou demasiado alto.
Mitsuha estava a tentando arranjar uma desculpa ao Sumino-sensei ao mesmo tempo que não estava a mentir sobre Taki e do que os dois falaram. Mas ele replica:
– Myamizu-san, por acaso você vê algum projeto de reconstrução de Itomori na nossa secção? – indicando Sumino uma secretária com papéis – Não! Sei que é a sua querida terra-natal desparecida, mas não pode pôr os seus interesses pessoais à frente da companhia! Já tínhamos dito que não havia viabilidade económica e coesão territorial no primeiro projeto que nos apresentou. – concluiu Hikaru-sensei.
– Eu sei Sumino-sensei… – Mitsuha pausou uns segundos para tentar aliviar os seus nervos – O que eu fiz não foi profissional, eu tive um impulso do qual não consegui resistir e fui ter com o homem por opção própria, ele parecia precisar de ajuda urgentemente. Mas… óbvio, não muda os factos em questão. Espero que me perdoe. – implorou e fez outra vénia Mitsuha tentando apaziguar o seu superior exigente.
– Hmmm, não sabia que você era a Madre Teresa de Calcutá, não esperava isso de si – ironizou Sumino esboçando na sua boca um sorriso de desprezo, voltando à sua cara séria de seguida – Mas enfim, voltando ao assunto do homem, qual o seu nome? Que idade ele tem? E de onde ele é? – voltou Sumino-sensei ao modo interrogatório.
– Ele chama-se Taki… Tachibana Taki se não estou em erro. Ele… tem 22 anos e é daqui de Tóquio – hesitou Mitsuha, esboçando uma cara envergonhada por ter de contar aquilo, como procedimento normal da empresa de identificar quem perturba seu funcionamento. No entanto, um ligeiro sorriso surge nela pela primeira vez durante a confrontação com o seu superior. Só de poder falar dele, lhe trazia um sorriso involuntário.
– Tão novo? – Sumino fez uma cara surpreendida – Bem poder-me-ia fazer o obséquio de me dizer que profissão ele pratica? – Sumino-sensei perguntou de uma forma mais formal que o necessário, levando mais a sério a identidade do desconhecido do que seria de esperar.
– Ele… a verdade é que não sei. Só sei que estudou na Universidade Agrónoma daqui de Tóquio. Não sei se está fazendo outro curso. Se está empregado… – Mitsuha respondeu para ele, mas as suas especulações do seu superior sobre o que o Taki faz também foram para ela mesma.
– Tem a certeza de que você não sabe mais nada sobre o rapaz? Você chegou com mais de uma hora de atraso, e parece que os dois tinham tópicos de conversa em comum. Vá! Tente-se lembrar. – Sumino-sensei quis saber mais sobre ele como se de um parceiro ciumento dela se tratasse, embora Sumino supostamente o fizesse por motivos profissionais.
– Bem... Eu não me lembro mesmo, não acho que a nossa conversa tenha interesse para a companhia… – Mitsuha disse hesitante, contraindo-se.
Ela estava receosa de revelar as circunstâncias da sua conversa. Como poderia explicar a forma como se encontrou com aquele Taki e os questionamentos mútuos entre ambos sem parecer uma interação de manicómio?
– Para a sua informação, tudo o que aconteceu no incidente que lhe fez atrasar, diz respeito à companhia. – Sumino-sensei pega num papel qualquer – Nos estatutos do seu contrato está dito e explícito que todos os acontecimentos relevantes no funcionamento da empresa devem ser relatados pelo funcionário a uma entidade hierarquicamente superior, sob pena de sanção a ser determinada pela entidade responsável – ajeitando os óculos Sumino-sensei como se tivesse acabado de ler uma cláusula oficial – E dado que esse indivíduo lhe fez atrasar mais de uma hora, tudo o que vocês fizeram tem relevância para a companhia. Ou seja Myamizu-san, você tem de me contar tudo o que sabe sobre o indivíduo em questão e em que circunstâncias se encontraram. Se fosse a si eu desembuchava para evitar problemas – proferiu estas últimas palavras Sumino-sensei com um sorriso vitorioso difícil de conter.
– Tem a certeza… Que quer ouvir esse relato maçador sem interesse? – disse Mitsuha hesitante e a tremer de medo por dentro, da mesma forma que no início da interação com Sumino.
Ela estava em pânico por ter de contar o que aconteceu, não só à frente do seu superior como também a outras pessoas à volta que poderiam ouvir.
– Sim, tenho a certeza. Isso é pergunta que se faça Myamizu-san?! – fingindo uma cara de ofendido Sumino-sensei.
– Está bem, vou contar o sucedido – suspirou de resignação Mitsuha – Bem, eu estava fazendo o meu percurso habitual, estava tudo normal, até que… – Mitsuha não sabia se devia dizer aquilo – Cruzei os olhos com um homem desconhecido, ou um rapaz como você lhe chama. Depois da nossa troca de olhares, eu senti a necessidade de ir ter com ele, e ele também comigo, o que prova, bem, que tanto eu como ele tínhamos a urgência de nos encontrarmos, no meu caso… bem, para ajudá-lo e ele para ser ajudado. Essa urgência fez-nos desviar do nosso caminho habitual e encontramo-nos perto de um santuário... Como se chamava? – Mitsuha pegou no seu telemóvel e abriu o Maps para se orientar, mostrando-o de seguida ao Sumino-sensei. – Como você vê, eu saí da estação Shinbashi, e o santuário mais perto é o… Santuário Suga! – Mitsuha suspirou fundo, para tentar aliviar-se da pressão de ter de contar a verdade, e ao mesmo tempo tentar manter a coerência da pequena mentira que ela inventou sobre ela ajudar a ele, quando na verdade foi algo mútuo.
– Troca de olhares? Como assim? Vocês não se podiam falar? – perguntou Sumino-sensei com um olhar de ceticismo.
– Não, porque estávamos em comboios diferentes – respondeu Mitsuha um pouco mais calma.
– Mas o que raio é isto? Estás a gozar comigo? Desde quando tens poderes telepáticos para identificares as pessoas que precisam de ajuda? A Madre Teresa de Calcutá telepática? Ah! Conta-me uma melhor! Se chamas isto de verdade então eu sou o Imperador do Japão! – escarneceu Hikaru – Mas agora a sério, conta-me a verdade, não importa o quão embaraçosa possa ser, se não já sabes – apontando para os papéis aleatórios dos estatutos da companhia como forma de ameaça – E se é para mentir, inventa algo mais credível! – elevou a voz Sumino-sensei, como forma de a pressionar.
– Não, isto é real. Eu própria não sei explicar, mas aconteceu – Mitsuha estava começando a se sentir desesperada por não conseguir se safar nem com a verdade – Mas se você não acredita em mim, não era melhor eu ir trabalhar e esquecermos esta história? – tentou Mitsuha uma última escapatória.
– Não. Eu não saio daqui enquanto não ouvir tudo – afirmou Sumino intransigentemente – E se você não consegue arranjar algo melhor de como vocês se encontraram no comboio, então passe logo pelo conteúdo da conversa, talvez esse tenha mais interesse para a companhia. – esboçando uma cara de aborrecido.
– Ok, é melhor assim – Mitsuha faz uma careta, já não aguentava estar com aquele homem. – Então… a conversa começou nos nossos nomes, digamos, por boa educação. Depois, ele pediu-me ajuda, ele estava perdido porque… – a mente de Mitsuha bloqueou, não conseguia continuar aquela mentira. Passaram uma dezena de segundos e ela teve uma brilhante ideia, mesmo a tempo de se safar da interrupção de Sumino – Porque procurava pessoas de Itomori para entrevistar, ele fazia isso como passatempo, é por isso que não referi isso como o seu trabalho. Mas era um passatempo que ele levava a sério, e eu como sou das pouquíssimas pessoas de uma vila espalhadas por um país enorme como o nosso, não podia de deixar de dar o meu contributo à causa. – concluiu Mitsuha a frase, pela primeira vez sentindo uma ponta de orgulho se sobressair no meio dos medos e nervos naquele sítio, dando-lhe a dose de confiança que precisava em momento oportuno.
– Então, era tudo sobre um rapazote armado em repórter? Você tirou tempo do seu precioso trabalho para atender os desejos desse rapazote insignificante? – concluiu Sumino, olhando para Mitsuha com cara de desprezo e trocista.
– Não! Ele não é insignificante! – quase berrou Mitsuha, com as palavras enroladas na garganta, fazendo com que alguns funcionários do salão se virassem novamente para ver o que se passava – Ele sabe tudo sobre a minha terra, diria que até sabe mais que eu mesma… – Mitsuha sentiu que a ofensa dirigida ao tal Taki era como se fosse uma ofensa dirigida contra si própria, fazendo-a ignorar por momentos que estava a ser observada.
– Olhe Myamizu-san, eu já lidei com várias mulheres funcionárias na minha vida, e sei reconhecê-las quando elas têm um fraquinho ou estão apaixonadas por um indivíduo. E claramente dá para perceber que você tem pelo menos um fraquinho por ele. Por acaso você não estará a mentir e já conheceu esse homem antes? – Sumino quis fazer mais pressão nela. Queria ver se sacava algo mais dela para usar a seu favor.
– Hikaru Sumino, eu pensei que tivesse deixado claro, eu o encontrei pela primeira vez! Se já o conhecesse, não teria razão para me encontrar com ele em horário de trabalho. Eu tenho princípios… – Mitsuha ficou ofendida com a insinuação do seu superior.
– Bem Myamizu-san, independentemente se conheceu ou não o rapaz, tem a certeza que quer ele? Você não acha que faria melhor em procurar homens mais maduros, que lhe podem oferecer o que você quer, tratá-la como você merece? – Sumino-sensei encheu o peito enquanto falava isso, claramente sabendo que a descrição do melhor homem para Mitsuha se encaixava no perfil dele.
– O que você está a falar? – Mitsuha mudou para uma cara perplexa – Eu… eu não tive nada com aquele homem, foi só uma conversa, nada mais – ela não percebeu o porquê de ter hesitado em dizer aquilo.
– Ok, então a ser verdade, como você explica esse seu nervosismo? Vejo-lhe hesitação quando lhe pergunto o que é esse homem para si. Quer ver que você teve um amor à primeira vista e a companhia é que sofre as consequências da donzela apaixonada-san? – Sumino a questiona com um tom sarcástico no final.
– Eu não estou… espere! Isso é da minha vida pessoal! Você só tem direito de fazer perguntas profissionais comigo! – afirmou os seus limites Mitsuha, percebendo que o sensei queria saber mais da vida dela do que devia.
De facto, Myamizu-san sempre foi uma mulher reservada, talvez das poucas que levou de Itomori, e continuava a ser assim durante aquela conversa. Portanto, ela entrou na defensiva fechando as comportas após as ter aberto.
– Lamento imenso que me tenha interpretado dessa forma, você achar que eu ponho a minha vida pessoal acima dos interesses da companhia é uma grave acusação. – Sumino-sensei recuou na sua ofensiva enquanto olhava à sua volta, ele receava um efeito boomerang do seu interrogatório contra ele mesmo – Já tenho as informações que necessito, vamos terminar a conversa por aqui. Quanto ao seu atraso, como você sempre foi pontual e sempre fez um trabalho impecável, não tenho outra opção senão dar o benefício da dúvida, vamos fingir que nunca aconteceu. – proferindo essas palavras Sumino-sensei com cara de contrariado.
– O… obrigado sensei – Mitsuha hesitou nas palavras de agradecimento – Eu nunca mais farei nada que lhe faça você arrepender da sua decisão. Como você disse uma vez quando era ainda estagiária, um dia mau não faz nenhum mau profissional! Outra vez, obrigado sensei! – e Mitsuha fez outra vénia, tentando fingir perante os outros que terminou tudo bem.
– Olhe, deixe isso para lá, a única advertência a que tem direito já foi gasta, finjamos que nunca aconteceu – forçando um sorriso Sumino-sensei, sinalizando para os funcionários ao seu redor a sua suposta amabilidade – Myamizu-san, poderia vir comigo se faz favor? – Sumino foi-se dirigindo para um corredor onde não tem pessoas à volta, Mitsuha seguiu-o.
– Lembre-se, isso conta como punição, você não receberá o salário nas horas que faltou, e da próxima vez que você vacila, já sabe! – Sumino-sensei quase que sussurrou essas palavras no ouvido dela, terminando com um gesto discreto de corte na garganta.
– Eu já sei disso, agora deixe-me ir em paz para o trabalho! – respondeu Mitsuha no mesmo tom de voz.
– Você pode ir agora, mas isto não fica assim Myamizu-san, mais tarde falaremos – dando Sumino-sensei um aviso à Mitsuha como se de uma ameaça se tratasse.
Depois de outra meia hora de diálogo, desta vez um do tipo indesejável, Mitsuha finalmente se libertou dos constrangimentos do seu atraso, pelo menos por agora. Mas o que quereria Sumino-sensei com ela? Porquê essa insistência em conhecer melhor o homem com quem se encontrou? Eram perguntas que surgiam na cabeça dela, mas que logo se dissiparam para dar lugar ao medo e à tristeza que lhe inundaram depois de ter tido uma conversa daquelas em público.
A Mitsuha se dirigiu a passos rápidos e leves para o seu escritório localizado a três cubículos à esquerda e um à direita vinda da porta de entrada do salão principal, e após se sentar, pousou a cabeça e se pôs a chorar, como se a água de um dique tivesse ultrapassado os limites da sua capacidade e essa vertesse por vales e planícies descontroladamente. Ela chorava pela humilhação, por tudo relacionado que possa acontecer a seguir, e, estranhamente, pelo rapaz desconhecido não estar com ela. Passado uns 5 minutos, ela enxovalhou as lágrimas e disse para si "Concentra-te, snif! É hora de trabalhar". Ela pegou nos papéis, ligou o computador e foi começando a vasculhar o seu trabalho em atraso.
Após uma manhã sem mais sobressaltos, a pausa de almoço não lhe parece ter feito bem. Depois de almoçar a marmita que tinha trazido na sua mala, Mitsuha mal se conseguia concentrar no trabalho por volta das 13:30; cada documento, cada ficheiro analítico de algum projeto que tinha de lidar, parecia uma salada de letras e números girando à sua volta enquanto pensava primeiramente na sua conversa com o seu superior Sumino e as suas consequências no ambiente de trabalho. Ela voltou a estar numa posição que ela pensou em nunca mais estar: no centro das atenções. Uma das razões principais do seu desejo de ir para Tóquio era precisamente para se tornar anónima, o oposto que acontecia no vilarejo Itomori onde não só todos a conheciam, como depositavam expetativas nela em tudo o que fazia, tanto por ser a donzela do único santuário presente no local, como também por ser a filha do subprefeito em campanha de reeleição. Da noite para o dia, uma das poucas coisas que lhe punha confortável desapareceu. Mitsuha beliscou o seu braço para voltar a concentrar-se no trabalho.
Tal concentração não durou nem 20 minutos, começando a pensar agora no tal Taki e no seu encontro com ele. Quando ela pensou neste último, apesar dos mistérios envolvidos, ela só conseguia pensar no reencontro com ele para tentar esquecer o seu momento de vacilo em público perante Sumino-sensei. Tal pensamento do reencontro com ele aliviou os seus medos, e fez ela conseguir concentrar-se de novo no seu trabalho, até certa altura trabalhar mais rápido que o habitual ao ponto de compensar os momentos anteriores de distração. Era como se ela, como atleta, visse uma meta, e começasse a alargar as passadas e a correr mais do que nunca na garantia de fazer o melhor tempo que possível, para se reencontrar com o tal rapaz desconhecido, a meta. Mitsuha não tinha emoções dessas há anos, a última vez que tinha tido semelhantes emoções foi quiçá na sua célebre corrida para avisar o pai subprefeito do desastre do cometa, cujo motivo do impulso ela não se lembrava, ao contrário de agora.
Depois de horas de trabalho a fio, o fim da sua jornada de trabalho chegou. Ela quis sair o mais discretamente que possível, desta vez para não encarar os seus colegas que tinham visto ela levando das boas do seu superior, e sobretudo, não queria ser vista por este último que já o tinha aturado durante mais de meia hora. Eram neste momento 18 horas numa sexta-feira, e, portanto, a Mitsuha teve sorte em praticamente ninguém ter energia disponível para se meter em assuntos alheios. Após uma saída felizmente discreta, ela dirigiu para a estação de Tóquio para se dirigir a casa, saindo na estação de Shinjuku…
