Prólogo - Um Homem Livre

Azkaban, a sombria fortaleza de pedra, erguia-se como um monumento ao desespero no meio do mar revolto. As ondas batiam violentamente contra as paredes negras da prisão, emitindo um som constante e ameaçador. A névoa densa envolvia a estrutura, dando-lhe um ar ainda mais opressivo e sinistro. Um raio de luz pálida filtrava-se através das nuvens escuras, lançando um brilho fantasmagórico sobre o cenário.

Ao adentrar os corredores de Azkaban, a atmosfera pesada era palpável. Os sons dos passos ecoavam pelas paredes úmidas e frias, cada batida ressoando como um lembrete da solidão e do sofrimento que habitavam ali. As celas, alinhadas em longas fileiras, exalavam um ar de desespero, com os prisioneiros raramente visíveis, mas sempre presentes, como sombras de um passado esquecido.

No fundo de um dos corredores, uma porta pesada de ferro se abria para uma sala iluminada por uma única lâmpada pendente do teto. A sala era espaçosa, mas desprovida de qualquer conforto. Ao longo de uma das paredes, escaninhos de metal estavam dispostos em fileiras ordenadas, cada um com uma pequena placa de identificação.

Lucius Malfoy, vestindo um uniforme cinza desgastado, estava de pé, aguardando em silêncio. A marca dos dez longos anos em Azkaban era visível, mas sem apagar sua altivez. Seus olhos, antes cheios de arrogância, agora refletiam uma determinação fria e uma sabedoria endurecida pelo sofrimento.

Os cabelos loiros platinados, antes longos e soltos em ondas perfeitas, estavam agora presos em um coque estilo samurai, um contraste marcante com sua antiga aparência aristocrática. O coque, além de prático, dava a Lucius um ar de guerreiro disciplinado, alguém que havia enfrentado seus próprios demônios e emergido mais forte.

O uniforme cinza, embora desgastado, estava impecavelmente arrumado, refletindo um resquício de sua antiga dignidade. Mesmo em meio à adversidade, Lucius manteve um certo nível de orgulho e cuidado com sua aparência.

O guarda que o acompanhava, um homem robusto com um olhar severo, retirou um molho de chaves do bolso e começou a destrancar um dos escaninhos. Lucius observava com uma atenção fria, seus pensamentos vagando entre o passado e o futuro incerto que o aguardava fora das paredes opressivas de Azkaban.

"Malfoy," disse o guarda, sua voz reverberando pelo ambiente. "Aqui estão suas roupas e itens pessoais. Varinhas e artefatos mágicos serão entregues somente na porta de saída."

O escaninho se abriu com um rangido, revelando uma coleção de objetos pessoais. Um relógio de bolso de prata e várias outras peças de valor sentimental e material estavam dispostas ali, cada uma um lembrete da vida que ele deixou para trás.

Lucius pegou o anel primeiro, deslizando-o no dedo com uma expressão de alívio quase imperceptível. A pedra negra brilhou momentaneamente sob a luz fraca, como se reconhecesse o retorno de seu dono. Ele então pegou o relógio de bolso, abrindo-o para verificar se ainda estava funcionando. O tique-taque constante do mecanismo parecia um sinal de que, apesar do tempo perdido, o mundo lá fora continuava a girar.

Lucius pegou o saco de papel contendo suas roupas e, ao sentir o cheiro insuportável emanando do recipiente, franziu o nariz com desprezo. Suas vestes elegantes estavam sujas e cheias de furos, resultado dos anos em Azkaban. Os guardas ao redor riram, um deles dizendo com desdém: "Sabe como é, tem muitos ratos por aqui."

Mantendo a posição altiva, Lucius apenas levantou a cabeça e suspirou em resignação. Ele caminhou até um canto da sala, onde uma cortina suja e desgastada pendia de um suporte enferrujado. Com um movimento firme, puxou a cortina, criando uma barreira improvisada entre ele e os guardas que continuavam a observá-lo com olhares de desprezo e curiosidade.

Atrás da cortina, Lucius olhou para suas roupas com uma mistura de repulsa e determinação. Com um gesto deliberado, começou a despir o uniforme cinza de prisioneiro, deixando-o cair ao chão com um som surdo. Em seguida, pegou as roupas sujas e rotas do saco de papel, sendo imediatamente atingido pelo forte cheiro de mofo e dejetos de animal, que impregnava o tecido.

Enquanto ajustava as roupas, ele respirou fundo, absorvendo a realidade de sua situação. O tecido esfarrapado contra sua pele era um lembrete constante da humilhação que havia suportado, mas também uma fonte de força. Ele sabia que, uma vez fora das paredes opressivas de Azkaban, teria a oportunidade de reconstruir sua vida e reafirmar sua identidade. Não arriscaria prolongar sua estadia naquele lugar nem por mais um segundo respondendo algo aos guardas.

Com esse pensamento, ele deu o último ajuste em suas vestes e saiu de trás da cortina, pronto para enfrentar o futuro com a mesma determinação fria que o havia mantido vivo durante os anos de encarceramento. Ao sair de trás da cortina, Lucius se endireitou, seu olhar encontrando o dos guardas com uma expressão desafiadora. Embora mantivesse a postura altiva e o ar de nobreza, suas roupas sujas e rotas faziam com que ele parecesse um príncipe mendigo. A dignidade e a presença aristocrática estavam intactas, mas camufladas pelas vestes esfarrapadas, criando um contraste marcante que ressaltava tanto sua queda quanto sua resiliência.

"Estou pronto para sair," disse ele, sua voz firme e controlada.

Enquanto caminhavam pelos corredores escuros de Azkaban pela última vez, Lucius sentiu um misto de emoções. O frio úmido das paredes e o som dos gritos distantes dos prisioneiros eram como um eco sombrio de sua própria jornada. Cada passo que dava era uma despedida do passado sombrio e uma preparação para o futuro.

Ao chegar à porta principal da prisão, o guarda parou e, com uma expressão séria, entregou-lhe sua varinha e os artefatos mágicos restantes, incluindo uma bengala de ébano com detalhes em prata.

Lucius, com um olhar decidido, pegou sua varinha e, com movimentos elegantes, começou a lançar um feitiço sobre suas vestes. Ele traçou símbolos complexos no ar, e cada gesto era preciso e carregado de propósito. À medida que a magia tomava forma, um brilho suave envolveu suas roupas. As peças começaram a recuperar o vigor.

Primeiro, os furos começaram a se fechar, como se fios invisíveis estivessem tecendo as fibras de volta ao lugar. A sujeira e as manchas que haviam impregnado o tecido por anos de negligência simplesmente evaporaram, deixando um rastro de frescor. Em seguida, os amassados e vincos, que pareciam impossíveis de remover, se desfizeram com um sutil tremor, retornando à forma original, com vincos perfeitamente alinhados, como se tivessem acabado de sair de uma alfaiataria de luxo.

Lucius deu um sorriso satisfeito ao ver o resultado. Era mais do que uma simples restauração de suas roupas; era uma recuperação de sua dignidade e identidade. Um dos guardas, observando com um misto de desdém e curiosidade, murmurou: "Que tipo de homem conhece esses feitiços de arrumar roupas? Isso é coisa para mulher."

Lucius, alheio aos comentários, manteve-se firme, com o olhar fixo na porta à sua frente. Seus dedos acariciavam a bengala, há tanto tempo sua marca registrada, agora novamente em sua posse. Ele sentia o couro descosturado em alguns pontos, uma imperfeição que lembrava a natureza resistente dos artefatos mágicos, diferentes das roupas que podiam ser restauradas facilmente. Sem se preocupar em dar um último olhar aos corredores escuros que deixava para trás, nem aos risos zombeteiros dos guardas às suas costas, ele esperava, imperturbável, o momento de sair.

O guarda responsável, após parar de rir, abriu a porta com um gesto mágico, indicando que ele seguisse. Ao atravessar o portão principal de Azkaban, o vento frio do mar o atingiu, mas ele não recuou. A força do vento soltava seu coque, fazendo seus cabelos balançarem vigorosamente. O cheiro salgado do oceano invadiu seus sentidos. Cada passo que dava o afastava do passado sombrio e o aproximava de um novo começo. Lucius Malfoy, um homem forjado na adversidade, estava pronto para reconstruir seu legado e reivindicar seu lugar no mundo.