Isabella não ficou surpresa ao ver o cara de dreads, Jake, encostado em uma parede perto da cafeteria onde ela estava esperando Edward, que havia ido fazer alguma coisa que preferia manter em segredo. Isabella tinha a impressão de ter visto Jake várias vezes ultimamente. Mas ela não parou. Não estava certa do que dizer a ele. Quando percebeu que ele andava observando-a, pensou em consultar Edward, mas não sabia bem o que dizer, nem o que perguntar.

Jake alcançou-a, acertando o passo com ela, e passou a acompanhá-la.

- Preciso lhe dizer uma coisa, Isabella. Pode me dar atenção?

- Por quê?

- Porque agora você é companheira do meu irmão, e estou preocupado com ele.

- Tive a impressão de que Edward não gosta tanto assim de você... e ele está bem. Feliz. - Ela sentiu um aperto no peito, de pânico. Era muito diferente do que sentia quando estava com Edward.

- Então não tem visto o meu irmão contemplando o mar? Ele não sente saudades de lá? - A expressão de Jake era reveladora: ele já sabia a resposta. - Ele não pode admitir. Faz parte do... encantamento. Você o prendeu aqui em terra e roubou sua Outra-Pele. Ele não pode lhe dizer que está infeliz, mas você vai descobrir no seu devido tempo. Ele vai ficar deprimido, vai odiar você. Um dia vai vê-lo de olhar parado, contemplando o mar... Talvez ainda não, mas não há como escapar.

Isabella pensou no assunto. Tinha visto Edward tarde da noite, quando ele pensava que ela estava dormindo. Estava de olhos perdidos ao longe, virado na direção da água, muito embora não pudesse ver o mar do apartamento dela. O olhar saudoso dele era de fazer doer o coração.

- Ele vai começar a ficar com raiva de você em breve. Nós sempre ficamos. - E Jake franziu os lábios, num sorriso sardônico. - Exatamente como você sente raiva de nós...

- Não sinto raiva de Edward - começou ela.

- Talvez não sinta mais. Mas já sentiu. - E Jake brincou com um dread longo e esverdeado. - Sentiu raiva dele porque ele a capturou. É um destino cruel ser capturado. Minha companheira também seria raiva de mim... a Leah... Era esse o nome dela. Minha Leah...

- Era?

- Desconfio que ainda é. - E ele interrompeu-se, com uma expressão pensativa no rosto. - Só que, depois de certo tempo, nós passamos a sentir raiva de vocês. Vocês nos impedem de ter aquilo de que precisamos: nossa liberdade. Eu não queria sentir raiva da minha Leah...

Isabella pensou Edward, sentindo-se preso, zangado com ela, irritado por ela mantê-lo ali em terra. A amargura nos olhos de Jake era algo que ela não queria ver no olhar de Edward.

- E então, o que devo fazer? - sussurrou ela.

- Uma mortal não pode estar ligada a dois selkies... É só pegar minha pele. Edward vai se libertar na mesma hora.

- E por que faria isso? Nós, eu e você, vamos passar a estar... - E Isabella tentou não estremecer ao pensar em ligar-se a Jake. - Não quero ser... nada sua.

- Não sou seu tipo? - E ele chegou mais perto, tão predador e belo quanto tinha lhe parecido na festa, quando eles haviam se conhecido. - Ahhh, Isabella, acho que fiz tudo errado quando a conheci. Quero ajudar Edward como meu irmão me ajudou. Se não fosse por ele, Leah e eu ainda estaríamos... atados. Eu nunca mais poderia ir para o mar. Edward nos desligou.

- É ótimo você querer ajudá-lo, só que eu não quero me ligar a você. - E ela reprimiu um novo arrepio ao pensar naquilo, quase sem conseguir.

Jake assentiu.

- Mas isso tem jeito. É apenas um detalhe. Não vou lhe pedir o que Edward tem com você... Não quero uma esposa. Só que preciso corrigir as coisas. Talvez eu não tivesse lhe dito as palavras certas quando nos conhecemos. Não posso dizer que tenho a mesma experiência que Edward tem com moças mortais, mas...

Isabella ficou paralisada.

- Como assim?

- Ora, Isabella, não me diga que não sabe que não fomos feitos para ser fiéis. Olha só pra nós. - E Jacob indicou o próprio físico. Aquela sua expressão de autoconfiança havia voltado. - As mortais nunca nos rejeitam. As coisas que vocês sentem quando nos veem... centenas de moças... ele não esteve com todas... mas... o que sentem é instinto. Não é amor de verdade; é só uma reação aos feromônios.

Isabella hesitou entre o ciúme e a aceitação. Jake não estava lhe dizendo nada que ela já não houvesse pensado. De certa forma era apenas uma versão extrema da lógica por trás da Regra das Seis Semanas.

- Devo isso a ele - prosseguiu Jake. - E você não acha que esteja mesmo apaixonada por ele, acha?

Ela não chorou, mas sentiu vontade. Não tinha dito aquelas palavras a Edward, ainda não, mas tinha pensado no assunto. E era exatamente isso que estava se perguntando. " Será que estou sendo boba? Será que é mesmo verdade?"

Ela havia perguntado a Edward, mas será que ele estava dizendo a verdade? Será que importava? Se Edward ia odiá-la com o passar do tempo, ela devia libertá-lo agora. Ela não queria que houvesse ódio entre eles.

Se Jake estava dizendo a verdade, não havia motivo para manter Edward a seu lado, e havia motivos de sobra para libertá-lo. "E rápido." Ele não podia ser dela para sempre. Aliás, não era mesmo dela. "É só um truque." Ele pertencia ao mar, e com isso vinham os relacionamentos, relacionamentos temporários, com outras moças. "Será que o que estou sentindo é mentira, ou será que Jake está mentindo?" Jake devia estar dizendo a verdade, faria mais sentido. As pessoas não se apaixonam tão rápido assim... não quebravam todas as suas regras tão facilmente. "É só uma coisa de selkies..." ela se obrigou a afastar o pensamento daquele turbilhão de emoções e respirou várias vezes para acalmar-se.

- E então, me diga, como faremos isso?