Capítulo 4 - O Círculo Mágico

A residência de Magnolia Jolie exalava uma tranquilidade que contrastava fortemente com o agito do Beco Diagonal. A casa de campo, situada em uma clareira isolada e cercada por árvores altas, irradiava uma sensação de paz e segurança. Os pássaros cantavam suavemente, e a brisa leve agitava as folhas, criando uma melodia serena que acalmava a alma.

Dentro da casa, Magnolia Jolie estava em seu ambiente natural, mas a preocupação nublava seus olhos. Sua neta, Fleur, estava deitada dentro de um círculo de proteção mágica, recebendo cuidados meticulosos. Magnolia havia passado o dia anterior inteiro ao lado de Fleur, monitorando ansiosamente sua condição e recarregando lentamente sua energia mágica. A velha bruxa sabia que sua neta precisava de tempo e de cuidados intensivos para se recuperar da imensa quantidade de magia que havia usado. Cada suspiro de Fleur era acompanhado por um olhar atento e um murmúrio de esperança de Magnolia, que não se permitia descansar enquanto sua neta não estivesse completamente recuperada.

Então, a tranquilidade foi interrompida. Apolline Delacour aparatou apressada em frente a casa de sua mãe, com o coração acelerado e o Profeta Diário na mão. Ela correu em direção à casa, sentindo pânico e raiva crescerem a cada passo. Ela abriu a porta com um empurrão, seus olhos escaneando freneticamente o interior aconchegante e rústico.

"Mãe?" ela chamou sua voz cheia de urgência e preocupação. "O que você fez agora? Colocou todo o Beco Diagonal para dormir por diversão?" Apolline avançou pela sala principal, seus olhos fixando-se na lareira de pedra onde uma pequena chama tremulava.

Magnolia, de pé ao lado do círculo mágico, olhou para Apolline com uma expressão calma. "Eu não fiz nada, Apolline. Olhe ao redor e veja. Ela chegou aqui quase desmaiada, eu passei o ultimo dia cuidando de Fleur, não fazendo essas coisas das quais você me acusa"

Apolline deu mais alguns passos, seus olhos finalmente pousando no círculo no chão. Dentro dele, envolta em luzes coloridas e pulsantes, estava Fleur, deitada aparentemente inconsciente. O pânico de Apolline transformou-se em uma mistura de medo e raiva. "Fleur!" ela exclamou, ajoelhando-se ao lado de sua filha. Ela estendeu a mão, mas hesitou, lembrando-se do perigo de quebrar o círculo mágico.

Apolline, sussurrando enquanto via a condição de sua filha, disse, "Eu não entendo como aconteceu, mas ela colocou todo o Beco Diagonal para dormir."

Magnolia, com um olhar de orgulho nos olhos e surpresa, perguntou, "Como você sabe que foi ela?"

Apolline virou-se para a mãe e atirou o jornal nela, seus olhos transbordando de fúria e lágrimas. "A energia do Beco Diagonal foi drenada, exatamente como um feitiço de uma Veela em pleno poder. Eu pensei que fosse você porque já a vi fazer algo parecido, mas agora, vendo Fleur assim, tudo faz sentido. E a culpa é sua!" ela acusou, a voz tremendo de raiva e medo. "Você encheu a cabeça de Fleur com essas ideias de Veela!"

Magnolia leu o jornal enquanto Apolline falava exasperada. "Primeira página, mãe. A ação de Fleur está na primeira página."

Magnolia olhou para o jornal novamente. "Mas ninguém está associando isso a Fleur. Parece que o principal suspeito é Lucius Malfoy. Você sabe por quê?"

Apolline respondeu impaciente, "Porque ele estava saindo de Azkaban naquele dia, no lugar errado e na hora errada. Eu tenho me esforçado ao máximo para fazer meus repórteres olharem para outro lado na investigação, mas o Profeta Diário é muito grande. Eu não consigo controlá-lo por muito mais tempo."

"Estou impaciente para que ela acorde e nos conte tudo" disse Magnolia.

Apolline arregalou os olhos, exasperada. "É só isso?" ela exclamou, quase em descrença. "É só isso que você tem a dizer? Fleur poderia ter morrido!"

Magnolia permaneceu firme, o orgulho evidente em sua voz. "Mas ela não morreu" ela afirmou. "Ela foi brilhante! Lançar um feitiço de sono em um lugar com uma concentração tão alta de magia é incrivelmente difícil, mesmo para alguém com minha experiência. Você deveria estar orgulhosa de sua filha, não lamentando como se ela fosse uma criminosa! E eu não vou deixar você fazer essa garota sentir vergonha de si mesma, como se o que ela é não fosse suficiente."

Apolline, amarga, retrucou, "Por que não? Você sempre foi uma especialista nisso."

Magnolia olhou para Apolline com arrependimento: "Lamento se fui muito exigente com você. Mas saiba que respeito a bruxa que você é hoje. Por favor, deixe-me ajudar."

Apolline olhou com desconfiança. Magnolia largou o jornal no sofá e disse, "Vamos para a cozinha fazer um chá, você me conta o que está acontecendo, e eu pensarei em como posso ajudar."

Enquanto Apolline assentia e seguia sua mãe para a cozinha, sentia um pequeno alívio misturado à preocupação constante por Fleur. As duas mulheres sentaram-se à mesa, com Magnolia preparando o chá com movimentos calmos e precisos. Apolline começou a relatar todos os detalhes da investigação e seus esforços para proteger Fleur da exposição pública.

Enquanto isso, na sala de estar, Zaino estava encolhido em um canto, aproveitando o calor do sol que entrava pela janela. Seus olhos permaneciam fechados enquanto descansava. Fleur, ainda deitada dentro do círculo de proteção, começou a se mover. Lentamente, ela abriu os olhos, piscando para se ajustar à suave luz da manhã. Sentindo-se fraca, ela se sentou e olhou ao redor.

Enquanto se ajustava à luz, Fleur podia ouvir as vozes de sua mãe e avó vindo da cozinha, envolvidas em uma conversa séria. O som das vozes familiares trouxe-lhe um estranho conforto, mas também despertou uma curiosidade urgente sobre o que estavam discutindo.

Zaino, sentindo movimento, levantou a cabeça, ainda com os olhos fechados, e começou a se dirigir à cozinha. Fleur, notando a presença do basilisco, sussurrou fracamente, "Zaino, fique quieto aí." Usando seus poderes de Veela, sua voz tinha um tom hipnótico que fez Zaino parar imediatamente. Ele voltou ao canto da sala e se encolheu para dormir novamente.

Com dificuldade, Fleur se levantou, sentindo a fraqueza em cada movimento. Ela caminhou descalça até a porta da cozinha, onde podia ouvir claramente a conversa entre Apolline e Magnolia.

"Mãe eu também não gostaria que Lucius Malfoy voltasse para Azkaban por algo que não fez, mas não posso entregar Fleur. Quando uma Veela é repreendida por usar seus poderes, isso afeta todas nós. Em qualquer lugar onde haja uma Veela em uma posição de trabalho, ela será automaticamente questionada se merece estar lá. Mulheres solteiras serão vistas como demônios destruidoras de lares sem terem feito absolutamente nada. Não sei por que Fleur fez o que fez, mas confessar não resolverá nada."

Magnolia respondeu firmemente, "Você conhece sua filha, ela não vai aceitar que um homem inocente vá para a prisão para sair impune. Essa não é quem ela é."

Apolline deu de ombros, frustrada. "Mesmo que Fleur confessasse, não mudaria nada. Uma nova evidência foi encontrada ligando Lucius Malfoy ao incidente. Uma joia dentro do baú encontrado está registrada na família dele."

Magnolia franziu a testa, intrigada. "Como você sabe sobre essa joia?"

Apolline suspirou. "Minha repórter Rita Skeeter conseguiu a informação, mas não a publicamos ainda porque não há uma fonte confiável para confirmar a informação."

A velha senhora balançou a cabeça, determinada. "Mas sabemos que não foi ele quem colocou o Beco Diagonal para dormir. Ele não é o Sr. Boa Noite, Fleur é."

E você prefere entregar sua neta para salvar a pele de um Comensal da Morte?

Fleur, vendo que as duas estavam prestes a começar a discutir novamente, voltou silenciosamente para a sala de estar. Com dificuldade, ela pegou um vestido que estava em uma cadeira e começou a se vestir. Zaino, ainda com os olhos fechados, acompanhava seus movimentos atentamente.

"Preciso sair daqui, Zaino" ela sussurrou. "Não posso deixar que Malfoy vá para a prisão por minha causa. Já se passaram quatro dias desde o incidente, e ele não mencionou meu nome. Ele deve estar esperando meu contato."

Determinada, Fleur terminou de se vestir e olhou ao redor da sala uma última vez. Ela sabia que enfrentar o mundo lá fora seria difícil, mas estava pronta para assumir a responsabilidade por suas ações. Com um último olhar para Zaino, que permanecia imóvel, ela subiu as escadas para seu quarto.

No quarto, Fleur rapidamente fez uma mala e pegou sua varinha. Enquanto preparava tudo, podia ouvir a voz de sua mãe vindo da cozinha. "Oh meu Deus, Fleur não está aqui!"

Pouco depois, a voz de Magnolia ecoou pela casa, repreendendo Zaino. "Você estava encarregado de avisar quando ela acordasse, Zaino! Que ótimo guardião você se revelou, hein?"

Fleur ouviu os passos apressados de sua mãe subindo as escadas, cada passo soando como um tambor de guerra em seus ouvidos. Sentindo a urgência da situação, ela murmurou para si mesma: "Autocontrole, Fleur, não pode ser tão difícil." Fechando os olhos, ela se concentrou, visualizando o destino para onde precisava ir. Mas percebeu que não teria energia suficiente para aparatar.

Ela olhou rapidamente para a janela, considerando escapar, mas algo na escrivaninha chamou sua atenção. Um abridor de cartas de prata brilhava na luz fraca, dando-lhe uma ideia. Forçando-se a respirar profundamente, cada respiração lutando contra o pânico crescente que ameaçava dominá-la. Com um movimento decidido, Fleur pegou o abridor de cartas. Ela sabia que precisava agir rapidamente. Segurando o objeto afiado firmemente, ela cortou a palma da mão, e o sangue fluiu instantaneamente.

Fleur ajoelhou-se no chão, traçando uma runa com o sangue que gotejava de sua mão. O símbolo antigo e complexo começou a tomar forma, brilhando com uma intensa luz vermelha. Com cada traço, ela murmurava palavras em um tom quase inaudível, invocando a magia necessária para seu feitiço.

Os passos de sua mãe estavam mais próximos agora, cada passo um implacável contagem regressiva. Com a runa completa, Fleur se levantou e apontou sua varinha para o centro do desenho. Ela sentiu a energia mágica concentrada em seu núcleo, canalizando toda sua vontade para sua varinha.

"Clareira na Floresta" ela murmurou, e com um movimento preciso de sua varinha, lançou o feitiço de aparatação. A runa brilhou intensamente, a luz ofuscante preenchendo o quarto. Um puxão em seu umbigo fez Fleur sentir-se como se estivesse sendo puxada pelo espaço.

Ao surgir na clareira, a sensação de urgência e determinação deu lugar à desorientação e exaustão. A clareira parecia ainda mais desolada sob a luz pálida da lua e o coração de Fleur batia acelerado, não só pelo esforço mágico, mas pela incerteza de sua situação. Com a energia mágica tão baixa, ela não tinha ideia de como sair dali. Ela se sentou no chão, respirando fundo, tentando recuperar suas forças. O silêncio da floresta a envolveu, e Fleur sabia que precisava de um plano. Determinada a descobrir por que Lucius ainda não a havia delatado, ela sabia que não poderia desistir. Mesmo sem saber onde encontrá-lo ou como sair dali, uma coisa era certa: ela não estava disposta a se render facilmente.