25 de outubro de 2007:
Cair em um lugar desconhecido e rolar pela terra não foi a parte ruim, a parte ruim foi que mesmo batendo todo o meu corpo no chão e sofrendo fraturas, que pela dor que sentia eram graves; não consegui morrer.
Não era uma viciada em tentar me matar ou uma pessoa suicida, só ia com o fluxo do tempo e se esse fluxo estava dizendo que iria morrer, o problema não era eu e sim, o fluxo.
Coloquei minha mão na costela e senti a dor que fazia meus pulmões perderem o oxigênio apenas por esse toque, já quebrei muitas coisas, mas a costela era a primeira vez.
Fico por algum tempo tentando saber a gravidade da fratura, mas ainda não tinha visão de raio-x para isso, infelizmente.
Iria me sentar, mesmo com toda a dor do mundo estivesse me afligindo, não poderia parar agora apenas devido a uma dorzinha qualquer.
Tinha que fugir, não poderia mais estar aqui, ou seria encontrada e isso seria uma morte horrorosa.
E não quero morrer pelo inimigo, aceitava tudo, menos ser zombada, ser morta pelo inimigo, ver olhares de pena e perder a dignidade.
Apoio o meu cotovelo no chão e vou tentando me levantar devagar, mesmo que meu corpo reclamasse, não poderia ficar deitada nesse chão para sempre.
— Achei ela! - Gritou um homem. _ Como vai? Alguém me disse que você estaria morta e seria mais fácil de pegar essa bolsa, mas quem diria que você iria sobreviver depois de ser jogada de uma altura impressionante. - Cabelos ruivos, vestes feitas sob medida; ele deve ser um Weasley.
— Também queria ter morrido, pelo menos não veria essa sua cara horrível. - Suspirei.
Ele apenas ficou sério e me puxou para cima, quase me fazendo desmaiar pela dor que esse movimento me causou.
— Espero que continue com essa personalidade horrível, vai ser melhor para a minha sanidade quando ele a matar.
Não conseguia mais retrucar, só queria pensar em uma maneira de destruir essa bolsa, essa bolsa continha coisas valiosas para mim e essas coisas poderiam ajudar muito o lado das trevas ou prejudicá-lo, se fosse parar em mãos erradas.
A bolsa continha um feitiço de expansão, sim, um feitiço ilegal que só pode ser usado com a permissão do ministério por escrito.
Mas não estou me importando com algo tão banal, estava preocupada com os livros que tinha nessa bolsa, livros das trevas, arquivos sobre todos os Comensais e aliados; dinheiro e tinha duas coisas muito preciosas para mim.
Um livro escrito pela minha mãe, dizendo como se fazia o seu próprio vira-tempo e uma poção de crescimento, que ficava nas últimas páginas do livro.
Sobre o livro ensinando sobre o vira-tempo, seria necessário caso fosse realmente para o passado ajudar aquele imbecil sem nariz.
Mas sobre a poção, era uma perda de tempo, não quero ficar mais velha, queria retroceder, queria ter onze anos para fugir para algum lugar e aceitar a carta de Hogwarts.
Meus pensamentos foram interrompidos por ser simplesmente jogada no chão. Um pouco de grama morta entrou em minha boca, tentei tirar com a mão, mas ela estava suja e isso piorou a situação.
— Perdi a aposta. - Essa voz.
Olhei para cima e vejo Harry Potter bem na minha frente, que maravilhoso. Antes dele me matar, poderia pedir um autógrafo? Talvez no submundo valesse algum trocado.
— Minha bebê. - Olhei para o lado,
Vejo a mamãe rendida por uma mulher de cabelos indomáveis.
— Fique quieta. - A mulher falou.
— Ela não tem nada a ver com isso, deixa-a em paz. - Mamãe suplicou, mas não adiantou.
— Deixá-la em paz? - Ele sorriu. _ Claro, só se ela me entregar essa bolsa, procuramos essa bolsa por muito tempo.
Alguns Comensais que conheceram a mamãe e que sabiam o que tinha nessa bolsa, foram capturados algum tempo atrás e eles delataram para alguns aurores sobre nós.
— Se você pegar essa bolsa, com certeza seremos mortos por vocês em menos de cinco segundos. - Digo o observando. _ Não vou dar essa bolsa, pegue-a se conseguir, testa rachada. - A mulher segurou o riso, mas o Weasley não se segurou e gargalhou.
— Ela me lembra o Malfoy. - Weasley comentou.
Pensei que essa comparação não era tão absurda assim, já que ele era o meu primo.
Harry veio até mim, chutando meu corpo e me fazendo ficar de barriga para cima, a dor que pensava ter esquecido, apareceu novamente, mas mil vezes pior.
A minha visão ficou turva por alguns segundos e meus ouvidos ficaram surdos para o exterior, só conseguia escutar o meu coração batendo rapidamente na minha caixa torácica.
Podia sentir o meu sangue amaldiçoado correndo pelas minhas veias e esquentando todo o meu corpo.
Ardendo e me fazendo ranger os dentes para não gritar, esse sangue... O odiava, queria que ele fosse normal.
— Sangue amaldiçoado, quem diria. - Harry se agachou e cutucou minha pele que estava aparecendo veias negras, e não roxas ou verdes. _ Quem a amaldiçoou?
— O capeta que não foi. - Zombei, levando um tapa. _ Acha que isso vai me privar de falar? Pensei que os Grifinórios fossem bonzinhos, mas vejo que me enganei, você é pior que os Sonserinos e acho que fui muito preconceituosa com a casa verde e prata.
Harry me chutou mais uma vez e meu rosto ficou colado no chão, mas não por muito tempo.
Meus cabelos foram puxados, fazendo que meu rosto desencostasse do chão para apontar sua varinha para o meu rosto.
Não escutava mais a mamãe gritando, talvez tenham calado a sua boca para que não continuasse fazendo os seus escândalos.
— Pegue a bolsa e vamos embora. - A mulher veio até nós.
Meus cabelos foram deixados e minha cabeça caiu com tudo no chão, me virando de barriga para cima.
Meu sangue não gostou dessa posição, ele me fez arquear as costas e tensionar a mandíbula, aquele sangue era horrível.
— Parece que seu corpo está a matando lentamente por não tomar a poção. - Não queria responder que essa maldição não tinha poção.
Meus olhos se encheram de lágrimas enquanto sentia alguém tentando tirar a bolsa de mim.
— Desgraçada. - Ri enquanto sentia a dor se alastrar pelo meu corpo. _ Essa bolsa está com um feitiço, consegue fazer um contrafeitiço para isso, Mione?
— Posso tentar. - Tente o que você quiser, eu mesma fiz esse feitiço, seus idiotas.
Fecho meus olhos por alguns segundos para regularizar a minha respiração e o sangue.
Sinto vários feitiços sendo direcionados para a bolsa, mas alguns caiam em mim e não faziam nada, apenas me faziam olhar para aquela mulher.
— Hermione não sabendo fazer algo é novidade. - Weasley zombou e a mulher lhe deu o dedo do meio. _ Agressiva como sempre.
— Quero o divórcio. - O homem riu.
— Claro, dou em fevereiro.
— Sério? - Ficou surpresa.
— Sim, 31 de fevereiro. - Foi para algum lugar. _ Vamos parar de fazer gracinhas e vamos levá-la para o ministério, talvez o ministro saiba como resolver isso.
— Mate os pais, eles não são necessários e não tem nada em suas cabeças que nos digam a solução para essa pequena guerra interminável. Mas você. - Potter sorriu. _ Você tem o que estou procurando há nove anos.
Tento me levantar para correr, mas ele fala algo que me faz gritar de dor.
— Destruccio.
Mordi meus lábios fortemente para não desmaiar e o sinto se abrir. Olho para o lado, com a visão embaçada pelas lágrimas que não paravam de sair e vejo meus pais perecer...
Deveria sentir alguma coisa vendo isso? Sei que foram eles que me criaram, os quais são meus pais biológicos, mas não sinto nada por eles e nem mesmo sinto vontade de amaldiçoar esses dois que falaram a maldição da morte.
Mas senti um pouco de inveja, eles conseguiram escapar do sofrimento e eu tenho que sentir meu corpo todo destroçado, sentir o sangue negro na minha boca e sentir minha cabeça doer como se sempre fosse assim.
Não queria chorar porque sei que nada adiantava, mas meu corpo não entendia isso e se entendesse, não me ouviria.
Minhas pernas e minhas costelas estavam quebradas, e só podia desistir, já que ninguém iria vir ao meu auxílio, como sempre.
Harry agarrou o meu braço e sinto aquela desconfortável sensação de enjoo, havíamos aparatado.
Sento o chão gelado e o piso era negro; era tão bonito.
— Eles chegaram. - Alguém gritou.
A falação do ambiente parou, todos estavam mudos e esperavam alguém falar alguma coisa.
— Não poderiam ter apenas trazido a bolsa? - Um homem negro retinto com estatura alta e vestes coloridas perguntou para os três. _ Mesmo assim, bem-vindos de volta, como foram esses meses de busca?
— Acho que devem ter chegado algumas cabeças. - Weasley zombou e viu a sua esposa ir para algum lugar. _ Vou indo, foi ótimo voltar por alguns meses como auror, mas tenho que voltar para o meu irmão. - Ele me olhou e não disse nada.
— A bolsa tem algum feitiço que nos impede de tirá-la do seu corpo e de tirar alguma coisa dela. - Harry acenou para o seu amigo e ficou olhando para o homem à sua frente. _ Então tivemos que trazê-la, ministro.
— Tudo bem, colocaremos ela em uma cela e vasculharemos as suas memórias, ela é apenas uma garota, não pode ter tanto poder para criar barreiras capazes de nos impedir de entrar. - Fez um sinal para alguém.
Sinto os meus braços sendo levantados e meu corpo sendo arrastado pelo chão do ministério.
Escuto salvas de palmas e aquilo me fez pensar, sempre foi assim? Era a peça principal de tantos tabuleiros de xadrez que estou ficando chateada de não ter ninguém no meu, nem mesmo eu.
Eles não me levaram para o elevador, mas usaram a escada e meus pés batiam nos degraus, me fazendo arrepiar e morder os meus lábios com mais força que antes.
Poderiam ter me levitado, mas acho que isso era como uma tortura psicológica e não está funcionando.
O ar daqui de baixo era frio, doía os meus pulmões apenas por respirá-lo e se não soubesse que os Dementadores não existiam mais no ministério, falaria que tinha vários aqui. Era a mesma sensação, só que um pouco melhor.
Paramos e vejo um dos homens apontar sua varinha para um azulejo específico e o azulejo começou a fundar, era como a entrada do Beco diagonal, mas um pouco sem graça.
A parede começou a deslizar para o lado e me foi mostrado um lugar escuro, não dava para ver o seu interior.
— Tenha uma boa estadia, escória. - Um dos bruxos disse, antes dos dois me jogarem naquele lugar.
Eles têm alguma coisa contra o meu corpo? Quantas vezes fui jogada no chão? Saiba que isso dói e ainda mais por ter fraturas pelo corpo.
Apenas continuei no chão, talvez ele fosse um lugar melhor, ou apenas liguei o foda-se.
— Um medibruxo vai avaliá-la, não queremos uma doença voando por aí. - Foi a última coisa que um dos bruxos falou antes que a parede voltasse para o seu lugar.
Isso me ajudaria muito, principalmente destruir essa bolsa, não preciso de varinha para fazer magia, até alguns anos atrás nem mesmo tinha varinha para fazer um lumos.
Apenas ganhei uma quando matamos uma bruxa da luz e a sua varinha voou para a minha mão, como se eu fosse sua dona, ou ela não queria ser destruída.
Tento lançar um lumos para o ar, mas nenhuma faísca saiu dos meus dedos, só o que me faltava, eles ficaram inteligentes.
Ala de anti feitiço, bem interessante.
Eram feitas por pedras de runas e devem estar por pelo menos 10 metros onde a pessoa queria que funcionassem.
Então deve estar em algum lugar do outro lado daquela porta, mas sem magia não iria conseguir fazer nada, pelo menos a bolsa continuava funcionando, pelo menos eles não fizeram melhorias nesse tipo de encantamento.
Puxo minha bolsa para cima e a abraço, não tinha nada nela que pudesse me ajudar a escapar daqui, nem mesmo um vira-tempo.
Eu só tinha uma pequena determinação de ficar aqui e esperar que meus ossos se curassem sozinhos, mesmo que se curassem para o lado errado e no futuro tivesse que quebrá-los novamente para que eles crescessem no lugar certo, sairia daqui.
Mamãe poderia ter pensado um pouco e ter me deixado fazer um vira-tempo, em vez de apenas me ensinar como fazê-los e modificá-los.
Ou ela poderia não ter destruído os três vira-tempos que ela fez durante a minha infância e mesmo que ele apenas voltasse algumas horas, teria conseguido fugir.
Mas não posso pensar assim, pensar nas coisas que poderia ter feito. Isso iria virar um ciclo e iria ficar imaginando, ao invés de fazer de fato algo que poderia me ajudar e iria cair na rotina monótona da minha vida.
A parede começou a se mexer e presto atenção na pessoa ao lado de fora; cabelos loiros, olhos cinza e postura excepcional, um Malfoy, especificamente, Draco Malfoy, o meu primo.
— Muito escuro para o meu gosto. - Disse para si e fez um lumos, fazendo iluminar o ambiente.
— Pensei que tivessem runas...
— E tem, mas só para prisioneiros que a sala é especificamente ordenada a prender, como você, Leesa. - Entrou na sala e a porta se fechou atrás de si.
— Já descobriram até o meu nome. - Zombei. _ Como descobriram?
— Sabíamos o nome de sua mãe e vimos que nos registros havia uma filha que se chamava Leesa Avery.
Então eles sabem que a minha mãe é uma Malfoy? Ou a vovó conseguiu burlar os documentos e dizer que fez a minha mãe com o dedo? Porque o dedo é muito melhor que Abraxas Malfoy.
Sinto sendo levitada e vejo que estava sendo colocada no colchão daquele lugar, posso chamar aquilo de colchão? Estava mais para espuma extrafina, preferia o chão.
— Você não parece ter gostado.
— Deita-se aqui para ver se é bom. - Riu e fez a espuma virar uma cama com um colchão macio. _ O que você ganhará me proporcionando um bom lugar para dormir?
— Não terei dores nas costas. - Apontou a sua varinha para mim, surgindo um pergaminho. _ Por que não está chorando? Pelo pergaminho você tem duas costelas e pernas quebradas, queimaduras de segundo grau, sangue amaldiçoado, ossos malformados e anemia.
— Iria resolver os meus problemas se chorasse? - Observou-me por um tempo e continuou conferindo o pergaminho com o diagnóstico. _ Você gostava de estar ao lado do Lorde?
— Não e isso não diz respeito a você.
Ele estava certo, mas queria a opinião de outra pessoa, meus pais sempre endeusavam o Lorde e dizia que ele fez o que tinha que fazer, mas se era a verdade, por que a metade do mundo queria nos matar por apenas segui-lo?
