27 de outubro de 2007:

Dois dias se passaram e continuo pedindo que tudo que estava vivendo fosse apenas um pesadelo.

Um pesadelo que você não sabe muito bem o que estava acontecendo, mas sente em seu ser que está vivendo em um estado de medo, mas quando você achasse que tudo estava perdido e que não aguentaria mais.

O pesadelo acabaria e você descobriria que tudo que você viveu, era apenas algo criado pela sua cabeça.

Queria essa sensação de alívio e queria ir embora daqui, só queria sair daqui...

Estou cansada de tomar Veritaserum, estou cansada de cuspir baldes de sangue pela superdosagem que estão me dando.

Tentando destruir a barreira que minha mãe fez em meu corpo para impedir que eu falasse coisas perigosas de outros Comensais... Outros Comensais.

Ela nem mesmo pensou em mim, não pensou em como eu ficaria tendo essa barreira, esse feitiço dentro de mim. Ela só pensou neles, só viu eles e sua causa desgraçada.

Será que sou a filha dela? Ou será que ela não me roubou de alguém e me fez ser assim, ter uma vida assim por puro egoísmo? Ela realmente me amou?

E meu pai? Ele viu todas as coisas que o vovô fez, mas nunca disse nada e sempre se calou. Ele realmente me amou como dizia quando eu era criança?

Sei o que é ser amada? Eu sei a sensação de calor que sempre li em livros? Sei o que é ter liberdade?

Não, não sei nada dessas coisas, não fui ensinada a ser livre; fui ensinada a seguir, obedecer e agradecer pelas coisas que aconteceram comigo. Sou uma marionete com cordas bem apertadas.

Escuto meu estômago roncar e apenas fecho os olhos, tentando não pensar na fome que sentia, na sede que me afligia e no frio que me fazia arrepiar.

Afofei a bolsa que estava sendo usada de travesseiro e tentei mais uma vez me beliscar, mas não voltei para alguns dias atrás ou anos.

Continuei aqui, presa em um lugar escuro que me causava uma sensação de sufocamento.

Tinha dois dias que não via a família Malfoy, seja o pai ou o filho. Nenhum deles veio aqui e talvez eles só estivessem tirando sarro de mim.

Não duvidaria disso, afinal, a família Malfoy não tinha uma boa reputação, sempre passavam a perna nos outros.

Acreditei nas suas palavras, pensei que pudesse finalmente ter um pouco de calor, um calor que nunca senti pela minha família. Mas acho que estava apenas me iludindo, sou boa em fazer isso.

Entretanto, sabia que o Draco entregava as poções que deveria tomar, mas quem vinha em seu lugar era um inominável.

O homem entrava no meu pequeno e não aconchegante "quarto" e me fazia engolir a poção. Às vezes me engasgava e outras vezes pensava que ele estava me dando tudo, menos as poções que deveria tomar.

Essa era a minha vida e essa foi a vida que a minha família escolheu para mim.

Contudo, sempre fico pensando no que iria ser, se não fosse de uma família purista, com pensamentos extremistas.

Nunca tenho a resposta para isso além de querer estudar em Hogwarts, nada vinha na minha cabeça.

A porta se abriu, me fazendo abrir meus olhos, mas logo os fechei novamente, já que a luz do lado de fora me incomodava por não estar acostumada.

_ Hoje faremos algo diferente, espero que goste. - Pisquei e vejo Harry, ele parecia tudo, menos o menino bondoso da luz, nem parecia que era ele.

Um auror veio até mim, puxando meus cabelos para me tirar da cama, a dor que se fez nos meus quadris batendo no chão foi suportável.

Sou como um pedaço de merda na visão de todos que entravam ali, eu não era nada.

Um dia eu iria pensar assim também? Espero que não.

Vejo Harry tentar tocar na bolsa, mas sua mão foi queimada e repelida. Bem feito.

Mas minha felicidade se foi com o meu corpo sendo arrastada para fora da cela.

Meus cabelos doíam e tentava fazer que ele os largasse, mas ele só fazia doer ainda mais.

Saímos do corredor que tinha a minha cela e fomos para outro e nesse era mais escuro.

Entramos em uma sala e tinha... Era uma sala de tortura.

O auror largou meus cabelos, me deixando mais uma vez no chão frio desse lugar, acho que já posso o considerar um amigo.

Entretanto, mesmo que quisesse sair dessa situação insalubre, não tinha forças e nem magia.

Vejo o auror pegar algemas que estavam presas em correntes grossas e chumbadas na parede. Mas se não fosse o suficiente, ele veio até mim e as colocou nos meus pulsos.

Estalou os dedos, fazendo as correntes se erguerem e com elas, o meu corpo. As correntes pararam quando meus pés não tocavam mais o chão.

_ Essa ideia veio da tortura que minha amiga sofreu. - Arrumou os óculos. _ Quando só tentava me ajudar. - Suspirou. _ Mas você não é a Bella, porém, pode ser você também, já que não faz tanta diferença.

_ Não quero saber se sua amiga foi torturada ou não.

Concordou e estalou os dedos, desfazendo da minha e, me deixando apenas de sutiã e calças. Meu tênis já tinha sumido nesses dois dias.

_ Até que é bonitinha. - Escutei o auror falar baixinho.

_ Alguns me pediram para usar o chicote, mas aí não seria igual à tortura da minha amiga. - Veio para atrás de mim e não disse nada por alguns minutos. _ Isso é interessante. Uma cobra com duas cabeças mordendo um relógio, essa é a sua marca?

_ Você está vendo outra nas minhas costas? - Sinto a dor do feitiço Cruciatus e era pior que quebrar todos os ossos do corpo.

_ Você realmente é uma Malfoy. - Parou o feitiço para puxar os meus cabelos para baixo e minha cabeça ficou virada para o teto. _ Precisamos cortar os seus cabelos para termos uma boa sessão de tortura, não acha?

_ Acha que cortando os meus cabelos você irá conseguir os segredos do mundo? Você está me dando muita credibilidade.

Não falou, mas sinto a sua varinha passando pelos meus cabelos, os cortando de uma maneira rudimentar.

Deveria ficar com raiva, não é? Mas é apenas cabelo, não é nada que sentiria falta, já que vai crescer.

Largou meus cabelos que sobraram e voltei a olhar para frente, mas abaixei o meu olhar, vendo um amontoado de cabelos negros no chão.

Esperava que a mamãe estivesse vendo isso e estivesse pensando em suas ações que me colocaram aqui.

_ Gosta de música? - Por que ele não morre? _ Adoro, me deixa mais à vontade, então, por que não começamos a escutar um pouco? - Foi até a vitrola e colocou a agulha no disco e de lá saiu uma melodia. _ Istanbul (not Constantinopla), já escutou?

_ Não. - Sorriu e voltou a ficar atrás de mim.

_ Agora conhece. - A música não era ruim, era uma música envolvente dizendo coisas sobre Istambul.

Até mesmo poderia começar a cantar se prestasse atenção em sua letra. Mas isso não iria acontecer, já que a varinha do homem alisava minha marca, cutucando o relógio em seguida.

_ Já pensou que isso não é um relógio e sim, um vira-tempo?

_ Já e não faz sentido, nunca usei um vira-tempo. - Apenas observei a mamãe criando.

_ Descobriremos isso juntos. - Tremi quando o primeiro feitiço acertou as minhas costas, fazendo o sutiã ser cortado.

Observei o sutiã no chão, me lamentando por não usar sutiã com alças por não gostar deles.

Apenas queria abrir uma cova bem funda e me jogar nela para ser enterrada viva.

Era muito melhor do que ficar quase nua na frente de duas pessoas que só queriam o meu mal.

Risadinhas saíram da boca do auror, mas não queria olhar para ele e ver seus olhos cheio de prazer ou algo pior.

Só quero pensar que não tem ninguém aqui, apenas eu e uma varinha que mais uma vez cortava as minhas costas, me arrepiando e fazendo meus dentes cravarem em meus lábios.

O grito e o choro não saíram e isso me deixou um pouquinho feliz, já que não queria dar esse gostinho para essas pessoas.

Ainda mais que isso não era nada comparado as coisas que o vovô fazia comigo. Nada.

O sangue escorria pelas minhas costas e se perdia nas minhas calças, mas os pingos no chão eram audíveis.

Mas a música continuava tocando, como se fosse uma festa e as coisas que estavam acontecendo eram coisas felizes.

Mais um corte foi desferido e outro, mais outro e mais...

E mesmo assim, eles não escutaram nada saindo dos meus lábios.

Entretanto, o sangue que pingava estava me dando agonia, parecia o tique-taque do relógio, ou as batidas do meu coração. Parecia tanta coisa, menos a salvação para a minha vida.

A música estava me enlouquecendo, talvez seja o proposito dela...

Mas neste momento só queria destruir aquele aparelho e jogá-lo na cabeça de alguém.

As algemas já estavam cortando os meus pulsos e sangue impregnava a minha língua.

Odiava gosto de sangue, ainda mais se fosse o meu.

Os meus pensamentos continuaram enquanto me privavam de sentir a dor, porém, não me privavam de escutar a música e o sangue cotejando.

Não me privavam de sentir agonia e medo.

Sentia a minha carne rasgando e se abrindo, apenas devido a uma varinha e um feitiço proferido pela boca de um homem, que não sabia mais o que era certo e o que era errado. Já que as Trevas praticamente não existiam mais.

Não, existia sim. Apenas que eles tiraram a palavra "trevas" do dicionário, mas colocaram "luz" em seu lugar.

Luz deveria ser algo bom, mas eles estão usando isso apenas para ter mais pessoas ao seu lado.

Eles irão mostrar um belo sorriso no rosto e dizer que tudo que fizeram foi para uma boa causa.

Porque não existem mais opositores à sua causa, tudo que eles fizerem será bem-visto, será glorificado e aclamado pela população.

_ Você não parece estar se divertindo, por que não grita?

Sangue deslizou pelo meu queixo, correndo pelo meu pescoço para contornar o meu corpo e se perder em algum lugar.

_ Como não consegue falar, vamos continuar, hoje só estamos aquecendo.

Estou com fome... Não quero saber de qual forma serei punida amanhã, só quero comer alguma coisa.

Pode ser terra, não sou uma pessoa difícil para comer, só quero algo que encha o meu estômago e me faça parar de escutar esse barulho irritante. Isso é tão difícil?

A porta foi aberta e vejo quem era, era...

_ Malfoy, o que faz aqui? - Perguntou Harry enquanto secava uma gota de sangue do seu rosto.

Malfoy veio até mim sem se importar com aquelas pessoas, apenas me segurou pela cintura e apontou sua varinha para as minhas algemas.

Meu corpo despencou no seu e sua mão acabou deslizando pelas minhas costas, me fazendo tremer.

_ Desculpa. - Sussurrou.

Colocou-me sentada no chão e tirou seu paletó, o colocando nos meus ombros. A ardência me fazia lacrimejar, mas dava para aguentar.

_ Você, como você entrou aqui? - Draco me levitou e olhou para Harry.

_ Você acha que a minha família perdeu prestígio depois de tudo que aconteceu? Ainda tenho olhos por aí. - Chegou perto do míope. _ Você era uma pessoa melhor, Potter. Tinha inveja de você, mas agora vejo que sou muito melhor que você.

_ Você ainda pode ter prestígio, mas não tem autoridade para tirá-la daqui.

Limpou a varinha em um pano que o auror lhe deu, me olhando em seguida.

_ Ainda não terminamos e ele... - Apontou para o meu primo. _ Nem sempre vai ser o seu príncipe encantado vindo em uma armadura brilhante para te salvar.

O vejo sair e o auror foi logo atrás, me fazendo dar um suspiro de alívio e pensar se poderia fazer magia agora, em um lugar diferente.

Tento fazer, mas nada, não conseguia fazer nada. Mas eles podiam, isso é tão injusto!

_ Você pode desligar a vitrola?

Apontou sua varinha para o aparelho e o explodiu. Gostei de ver isso.

_ Não vou te pegar no colo para não doer mais as suas costas. - Concordei.

Saímos daquele lugar e um inominável correu, vindo até nós. E lá se foi a minha chance de escapar...

Como se conseguisse sem magia, minhas pernas estão fodidas e Draco não iria me tirar daqui.

A parede se abriu e Draco fez um lumos para ficar flutuando naquele lugar, mas logo me deitou de bruços na cama, e antes que o inominável pudesse entrar, a porta já estava bem fechada.

_ Desculpe por chegar tarde, queria vir quando já tivesse a poção para os seus ossos.

_ Tudo bem, fiquei bem por esses dois dias. - Afofei a bolsa e coloquei meus braços embaixo dela.

Estou pouco me fodendo se estava sujando minha cama com o meu sangue, afinal, é meu.

_ Sei que é uma mentira, mas não direi muita coisa. - Tirou o seu paletó e olhou para as feridas. _ Pense por um lado positivo, não foi chicote.

_ Devo agradecer aquele homem quando vier me visitar. - Riu.

_ Não sei se você sabe, mas tenho um filho. - Fiquei surpresa. _ Ele tem um aninho.

_ Qual é o nome? - Sabia que estava tentando mudar o clima e acho que conseguiu.

_ Scorpius, ele é uma coisinha tão pequena.

_ Você parece gostar muito dele. - Tirou a maleta do seu bolso e a transfigurou.

_ O amo, ele é muito importante para mim. - O vejo sorrir. _ Mamãe e papai são aqueles avós babões, mas tento não o mimar muito.

_ Ele é só um bebê.

_ Mas pode ficar chorando apenas para ganhar colo. - Interessante.

Pegou alguns panos e passou algo neles, limpando minhas feridas.

_ Então é essa a marca? É bastante bonita.

_ Bonita ela é, mas me faz ter um sangue negro.

_ Isso é verdade. - Mostrou o pano que não estava vermelho e sim, negro. _ Não acho que seja tóxico.

_ E não é, é apenas para mim. - Ficou confuso. _ Ele faz as minhas veias ferverem e dói, dói muito.

_ Já tentou fazer algum experimento com ele? Ou tentou curar seu sangue?

_ Não, nunca tive curiosidade, e não existe poção para o meu sangue, já tentei, mas tudo fracassou. - Continuou fazendo o que tinha que fazer. _ Você acha que o pequeno vai estar na Sonserina?

_ Nunca vi um Malfoy não indo para outro lugar se não Sonserina, e você?

_ Nunca estive em Hogwarts, mas recebi a carta. - Suspirei. _ Mamãe me proibiu e me fez prometer que nunca iria para lá.

_ Sabe o motivo? - Passou algo gelado nas minhas feridas.

_ Acho que ela não queria que eu tivesse uma segunda opinião sobre a causa que ela seguia, ou outra coisa.

_ Então você não sabe fazer nenhum feitiço? - Não sabia se ele estava zombando ou apenas brincando comigo.

_ Sei, não é porque não fui para Hogwarts que não sei fazer magia.

_ E você pensa em qual casa você seria?

_ Não sei, qualquer uma está bom, só queria ir para lá.

_ Hogwarts é um lugar maravilhoso, passei coisas boas e ruins naquele lugar. - Fiquei curiosa. _ Era o Rei da Sonserina, mas era muito estúpido e egoísta, contudo, aprendi com os meus erros.

Parou de passar a pomada e sinto um formigamento nas feridas, era estranho, mas não desconfortável.

_ Algumas podem acabar virando cicatrizes, outras podem apenas sumir. - Alisou as pontas desniveladas dos meus cabelos. _ Potter realmente não sabe fazer nada, nem mesmo para cortar reto ele consegue.

Pegou sua varinha e deu alguns retoques no meu cabelo, me fazendo perceber que ele fazia tudo, era impressionante.