10 de novembro 1981:
"Tem um lugar que gostava de visitar antes do Lorde começar a viver na mansão."
"E onde é esse lugar?"
"O labirinto que tem atrás da mansão Malfoy, lá tem uma vista linda para a lua e um banco de cimento muito confortável."
"Um dia vou ver se esse banco é realmente confortável."
"Espero estar na sua presença quando você o testar."
Acordei me sentindo um pouco mal, queria trancar essas memórias para que nunca pudessem ser vistas novamente, mas parece que minha cabeça realmente não gostava de mim.
Levantei minha cabeça da mesa de madeira e tento limpar a baba do canto da minha boca. Quantos dias que não conseguia dormir para conseguir fazer essa coisa chata chamada vira-tempo?
Mamãe fazia rapidamente, mas esse troço demorava demais para fazer, e colocar pó de vira-tempo na ampulheta era algo irritante.
Esse vira-tempo já era o terceiro que tentava fazer, os outros dois não voltaram para contar história. Então presumi que não deram certo.
Ou talvez deveria ter testado em um humano para essa experiência funcionasse corretamente, em vez de usar ursinhos.
Talvez o temporizador não tenha funcionado, ao invés de pensar que foi o vira-tempo que não fez o seu trabalho.
Devo tirar o temporizador para um novo teste, mas dessa vez usando um humano como cobaia.
Bom, dessa vez irei tentar, talvez pegue uma criança e use o Imperius, ou posso suborná-la com doces, seria muito melhor que um adulto.
Arrumei as engrenagens e ferramentas na mesa, enquanto olhava para o diário que estava aberto.
A tia disse que era bom ter um diário para contar sobre as minhas experiências fracassadas ou bem-sucedidas. Mas até agora só foram escritas 99% por cento das fracassadas e 1% por cento das bem-sucedidas.
Bom, só estava tentando fazer o vira-tempo e algumas vezes pegava o livro que estava escrito a poção de crescimento, algo que deveria modificar e só de pensar nisso me dá preguiça.
Mamãe deveria ter feito as duas poções em vez de uma, seria tão mais fácil.
E quando estava com insônia ou os pesadelos me acordavam no meio da noite, lia os diários que a tia Cisa escreveu.
Ainda não li as cartas que Draco escreveu, não por não querer, mas por temer os meus sentimentos e racionalidade.
Nem parece que tenho 28 anos, nem parece que vivi por mais de dez anos no ministério.
Deveria saber a controlar os meus sentimentos e a minha raiva, ou talvez tenha prendido, mas tenha apenas jogado esse aprendizado no lixo.
Faço muitas vezes isso, mas consegui fazer algo bom nesse tempo, consegui modificar o feitiço da minha bolsa, só precisava de uma pessoa que confiava para testar. Mas até agora não tinha.
Escutei passos no corredor se aproximando do meu quarto.
_ O que você quer? - Olhei para a porta e lá estava uma velhinha que tinha um rosto bondoso, mas a sua personalidade não era bondosa.
_ Você era mais educada.
_ Não estou com paciência para brincar com você, tia. Então me diga o que quer e saia.
_ Encontrei ferramentas que podem resolver a sua falta de paciência. - Entrou no quarto e colocou uma caixinha transparente em cima da mesa. _ De nada.
_ Não agradeci. - Bufou e se sentou na minha cama.
Abro a caixinha, vendo que tinha pequenas ferramentas feitas... Feitas por pó de estrela, isso é uma raridade.
Essas pequenas ferramentas feitas por esse pó, era como ter ganhado diamantes preciosos e únicos.
O que elas faziam? Qualquer peça iria se encaixar perfeitamente, sem precisar se estressar com elas.
_ Onde conseguiu isso?
_ Com um amigo.
_ Agradeça esse amigo por mim, isso é fantástico. - Digo enquanto pegava as pequenas ferramentas, elas não chegavam a ser do tamanho do meu dedinho.
_ Deveria agradecer a mim, eu que fui lá e pedi.
_ Ok, obrigada. - Sorriu e me observou. _ Você não vai conseguir.
_ Tem certeza? - Sinto uma dor de cabeça e respiro fundo, observando a mulher.
_ Tenho.
Tentava invadir a minha cabeça a cada segundo que passava em sua casa e alguns dias atrás ela conseguiu escutar os meus pensamentos, mas nunca as memórias.
Até que cansei de sentir essa invasão na minha cabeça e comecei a praticar Oclumência. Algo doloroso, mas muito prazeroso quando essa velha não conseguia ler os meus pensamentos.
Segurei minha cabeça com uma das mãos e sorri para ela, que me olhou surpresa.
_ Você melhorou, Leesa. Mas não seja esnobe, sou mais velha e experiente que você.
_ Idade e experiência não querem dizer nada, veja a minha mãe, por exemplo, ela fez vários vira-tempos, mas nunca conseguiu fabricar um que pulava décadas. Mas eu... - Cutuquei o vira-tempo que não tinha todas as peças em seu corpo. _ Conseguirei em menos de um mês.
_ Não adianta nada, você ainda é uma mulher adulta.
_ Não me lembre dessa poção, ainda quero matar a minha mãe por não fazer uma poção com a função oposta. - Riu.
_ É melhor descobrir o real motivo dela ter criado essa poção.
_ O que quer dizer?
_ Sua mãe criou essa poção com um propósito, apenas descubra qual foi, antes de tomar essa poção.
_ Está dizendo que essa poção de crescimento pode ter outro objetivo? Tipo crescer cabelo ou coisa pior?
_ Qualquer poção feita ou feitiço criado tem um propósito, às vezes mudamos a sua finalidade ou não.
_ Mas por que a mamãe iria criar uma poção de crescimento para outro propósito? Na verdade, você está certa, qual é o motivo dela ter criado essa poção em primeiro lugar? - Fiz uma pergunta retorica. _ Para. - A olhei e a vejo rir.
_ Você realmente melhorou.
_ Tento sempre o meu melhor. - Concordou.
_ O que significa os cortes? Você nunca me deixou curá-los.
A olhei por alguns segundos e depois olhei para os quatro cortes no meu pulso, um ainda estava negro como a escuridão que passei a odiar.
Mas, além disso, minhas costas não tinham mais feridas e meu corpo está recuperando o peso que perdi ao longo dos anos.
Cocei a cabeça e voltei a olhá-la.
_ Cada corte representa a minha família, se estiver vermelho é que eles ainda vivem, mas se estiver preto...
_ A pessoa morreu. - Concordei.
_ Pensei que esse corte iria voltar a ficar vermelho, já que a pessoa vive nessa época, mas estou em uma realidade alternativa e nada que eu faça irá trazê-lo de volta. Mas você está certa.
_ Sempre estou certa.
_ Ele morreu, mas não em minhas memórias ou sentimentos, ele ainda vive.
_ Você aprende rápido demais ou sou uma excelente professora.
_ Talvez os dois. - Volto a mexer no vira-tempo.
_ Por que você não começa a sua vingança aqui? Por que quer ir para um passado tão distante?
_ Não é tão distante, mas quero poder ver o Lorde crescer e ver o que aconteceu com ele para perder a racionalidade. Não acha estranho? Um homem tão inteligente acabou indo atrás de uma profecia. - Não queria falar sobre o meu juramento.
_ Você não quer conhecê-lo, você quer manipulá-lo para conseguir sua vingança. - Não a olhei, apenas continuei colocando as peças no vira-tempo.
_ É estranho, não é? Se falasse que iria seguir o lado da luz, todos iriam me parabenizar e dizer que estou no caminho correto. - Digo com raiva. _ Mas se eu escolhesse o lado das trevas, todos iriam me repreender e me sentenciar a morte.
_ Leesa...
_ As escolhas que eles impõem para a sociedade é tudo palavras de merda jogadas ao vento, eles não te dão escolha. - Mordi meus lábios. _ E quer saber? Espero que os dois lados se explodam e morram todos no inferno. - A olhei. _ Porque aí, terei o mundo para mim e poderei fazer o lado e a escolha que quiser, sem a interferência de opositores.
_ Está tentando criar o seu lado? E como ele se chamaria? Lado das cinzas?
_ Ah, não, não estou criando um lado, estou destruindo dois lados para não ter nenhum futuramente. Não quero mexer em tabuleiros e governar pessoas medíocres que não valem o meu tempo. - Comecei a sorrir sem perceber. _ Quero que o mundo seja apenas meu e que nada me impeça de controlá-lo, nem mesmo o Lorde.
_ Se você não quer opositores, não é melhor matar o Lorde, Dumbledore e o garoto? E mesmo você fazendo isso, nascerá uma pessoa que irá contra o seu governo.
_ Tem coisas que você desconhece, titia. Mas você não precisa saber disso. - Respirei fundo. _ Que nasça, volto no tempo e mato essa pessoa, o tempo está nas minhas mãos e não eu. - Cutuquei a ampulheta do vira-tempo.
_ Então por que você não mata o Lorde? - Iria falar mais uma vez que ela não precisava entender os meus motivos, mas falei:
_ Porque ele será útil para mim, muito útil e não posso aparecer, não quero que as pessoas me conheçam, então preciso...
_ Você vai ser a sombra que manipula o Lorde e ele será odiado, enquanto você, é amada e adorada por todos. - Finalmente entendeu. _ Por isso que você não vai virar uma sangue puro ou mestiça, você vai virar uma sangue-ruim. - Olhei para ela e não aguentei, comecei a gargalhar.
_ Sim, não é fantástico?
Levantei-me da cadeira e fico girando pelo quarto com o vira-tempo em mãos.
_ Eu, a pobre coitada de uma sangue-ruim sendo excluída por todos, sendo repreendida por todos, mas ninguém iria desconfiar de mim. Ninguém iria desconfiar de uma criança que nunca conheceu nada, uma criança que não fala com cobras, ou que rouba brinquedos das pessoas em sua volta. - A olhei com um sorriso imenso no rosto. _ Você não acreditaria em mim, titia? - Ela estava meio certa, já que no final iria fazer que eles descobrissem sobre mim.
_ Vejo que você passou por muitas coisas para pensar assim. - Suspirou e me olhou com pena, odiava esse olhar.
_ Não me olhe assim! - Gritei com ela. _ Não, não me olhe assim. - Cheguei perto dela. _ Eles que fizeram essa versão minha, eles que destruíram a Leesa que acreditava que a luz poderia ser a salvação. Eles destruíram os meus sonhos... Sou inocente, eles são os culpados. - Balancei a cabeça. _ Eu era uma boa pessoa, titia. Matei apenas algumas pessoas por ordens da mamãe...
_ Se você acredita nisso, não posso dizer o contrário, mas saiba que tudo começa com a loucura e termina em morte e solidão.
_ Então abraçarei a loucura como uma velha amiga. - Balancei o vira-tempo. _ E matarei o tempo que me privou de muitas coisas...
_ E a morte?
_ A morte... Não sei, talvez a minha história não seja aquela que contará tudo sobre essa entidade. A minha contará sobre a loucura e o tempo. - Apertei o objeto na minha mão. _ Você acha que conseguirei?
_ Já vi dois Lordes indo ao poder e perdendo pela sua ganância, mas nunca vi uma mulher... - Suspirou. _ Vai ser interessante, só espero que consiga a sua vingança e não se perca nela.
_ Ainda consigo enxergar o que devo e não fazer. - Voltei a me sentar na cadeira.
_ Espero que isso seja realmente verdade, Leesa. Não quero perdê-la como perdi Grindelwald.
_ Você não me conhece direito, não vai sentir falta e não sou Grindelwald.
_ Lembra o que falei quando a conheci?
_ Para não construir muros à minha volta?
_ Sim, mas vejo que acabou construindo muros em sua volta e eles são altos, espero que quando esses muros desabarem, você tenha alguém para secar suas lágrimas. - A olhei com raiva.
_ Não preciso de ninguém, eles não irão ficar comigo para sempre, irão me abandonar pela morte ou pelo tempo, não tenho ninguém e prefiro assim...
_ Para não sofrer? - Franzi a testa. _ Lembro-me que você chorou.
_ Foi um momento de fraqueza, não irá se repetir.
_ Pessoas precisam chorar, Leesa. Se não chorar, ficará com uma dor no peito e na alma, um gosto ruim na boca.
_ Era só isso?
_ Vejo que pessoas realmente mudam devido ao amor; outros se privam dele e outros precisam dele.
_ Precisei por muito tempo, mas percebi que não precisava necessariamente disso. Posso ter amor-próprio, é algo muito melhor. - Levantou-se e me deu batidinhas no ombro.
_ Todos precisam ser amados, Leesa. Veja a lua e o sol, eles se amam, mas só se encontram algumas vezes, mas eles se amam como se fosse a primeira vez que se veem. Amar não precisa doer, o destino que não foi bom com você, mas talvez...
_ Talvez ele esteja preparando um grande amor para mim? Você realmente acredita que tudo que irei fazer, tudo que arriscarei e de todas as pessoas que matarei. Vai existir uma pessoa que irá me amar? Que irá pegar na minha mão e dizer que estará lá por mim? - Meus olhos estavam ardendo e sinto algo quente escorrendo por eles.
_ Vejo que você só está machucada, muito machucada, mas ainda contém sentimentos e sabe chorar, mesmo que negue. E sim, Leesa. Terá uma pessoa que irá te amar como se fosse a primeira vez por anos, apenas não seja uma rainha de gelo. - Saiu do quarto.
Rangi meus dentes e sequei com raiva o meu rosto, não posso demonstrar franqueza, isso pode me matar, isso poderá colocar tudo em perigo.
Todos em minha volta querem me matar, não posso confiar, não posso confiar, não posso confiar...
Peguei o vira-tempo, o jogando na parede.
Levantei-me da cadeira, a fazendo cair para trás e tudo dentro de mim se rompeu como um vaso quebrado que estava sendo colado com durex.
Começo a chorar e jogar tudo que estava na mesa no chão.
Isso dói, dói muito...
Faça parar, me deixe voltar no tempo e ter a minha família, a família que me ensinou o calor que merecia ter, que me ensinou que merecia ser amada e compreendida, que tinha pessoas que se importavam comigo.
Meu peito doía tanto que sentia falta de ar, tento respirar, tento clamar por ar, mas meus pulmões não reagiam.
Eles não queriam sobreviver, eles não queriam sentir o ar entrando em seus brônquios.
Apenas queriam me trazer dor como a minha cabeça e coração estavam me proporcionando nesse momento.
Caio de joelhos e lágrimas e mais lágrimas saiam dos meus olhos, não podia sentir, não posso ser fraca, não posso... Chamei minha varinha e a coloquei na minha têmpora.
Minhas mãos tremiam, o feitiço estava na ponta da minha língua, mas não queria sair.
Joguei a varinha do outro lado do quarto desarrumado, me arrastando pelo chão para ficar bem longe da varinha.
Minhas costas bateram na parede e fiquei olhando para as minhas mãos.
O que estava tentando fazer? Esquecer deles? E qual seria o propósito da minha vingança? Qual seria a necessidade de fazer esse vira-tempo?
Juntei minhas pernas e abracei o meu corpo enquanto me balançava para o lado e para o outro.
Minha cabeça estava a mil por hora, fazendo cálculos e me dizendo para ser racional.
Meu coração batia violentamente na minha caixa torácica, me dizendo para sair daqui e matar aquele bebê de apenas um ano.
Realmente poderia acabar com tudo apenas indo naquela casa onde os tios trouxas daquele garoto moravam e matá-lo.
