1981:
Estava olhando minha tia enquanto falava em como se comportar quando estivesse manipulando e induzindo alguém a fazer algo que ela não iria querer fazer.
Era bem interessante a teoria, mas colocar em prática parecia algo impossível. Entretanto, ela me disse que estava indo bem, não era uma lição rápida de qualquer maneira.
Bom, até tinha dever de casa, sempre tinha que ir ao mercado dessa pequena comunidade e convencer os vendedores a baixarem os preços. Algumas vezes conseguia.
Sempre tinha que estar calma e com um sorriso no rosto para cumprimentar todos que pudesse ver.
As senhoras do bairro começaram a me chamar para tomar chá e as informações que ganhava em algumas dessas visitas eram interessantes e saborosas de ouvir.
Até mesmo ganhava livros que elas pensavam que não eram importantes, mas eram. Gostava desses dias, a tristeza no meu peito não passou, mas estou caminhando devagar e acho que estou indo bem.
Meus nervos estão controlados dentro do possível e minha sede de vingança está calma, por enquanto.
_ Leesa, está prestando atenção? - Concordei. _ Então o que eu estava dizendo?
_ Tia, antes de eu falar sobre as formas de manipular uma pessoa para matar outra, me diga uma coisa. Aquela profecia que o Dumbledore contou...
_ Ele não descobriu mais nada, mas ele pediu um inominável para verificar se tinha outra profecia.
_ Então nenhuma pista.
_ Bom, tudo por causa daquela vidente. - Estranhei. _ Desde que a visão dela se concretizou, tudo que ela vê, seja um porco caindo e se esborrachando no chão, vai ser enviado para o ministério, lá está um terror.
_ Você foi lá? - Discordou.
_ Não, felizmente, mas tem pessoas que trabalham lá que moram por aqui. Pensei que aquelas senhoras iriam te contar sobre isso. - Parecia estar zombando das minhas amigas.
_ Acho que elas não souberam dessa informação privilegiada. - Bufou, abanando o vento.
_ Informações. - Debochou. _ Isso são fofocas.
_ São informações, se fossem fofocas não seriam verídicas. - Revirou os olhos.
_ Tem uma coisa que até hoje não entendi. - Foi até a cozinha e a segui. _ Como é o seu juramento de ajudar o Lorde?
_ Quer saber se posso ficar nesse tempo e ajudá-lo aqui?
_ Sim, você pode manipular ele, não vai ser difícil.
_ Bom, essa é uma pergunta interessante, mas que já tenho uma resposta. Mamãe me fez jurar a salvá-lo e não, reerguê-lo. Isso quer dizer que preciso estar na sua infância e salvá-lo de sua própria destruição, e se fosse para reerguer, iria naquela floresta e faria o ritual para ele ter um corpo de volta.
_ Sua mãe é louca, pedir para uma criança jurar pela magia, que coisa estúpida.
_ Concordo plenamente, ela é tão louca que criou uma poção para engravidar mais rápido. - Ficou surpresa. _ A poção de crescimento é para engravidar, é como fazer o esperma correr mais rápido e demora menos de cinco minutos para saber que está grávida.
_ Sua mãe tinha problemas mentais, bom que você não puxou isso dela.
_ Ainda bem que você me avisou para pesquisar sobre a poção, imagina se eu tomasse e tivesse alguma relação sexual com alguém? A maioria dos bruxos toma poções anticoncepcionais depois do ato... - Olhei para a minha barriga e fiz uma careta. _ Estou na minha adolescência e já estaria grávida.
_ Leesa.
_ Sim?
_ Você tem 28 anos.
_ Não, tenho 15 anos. - Ficou me olhando e não dei para trás. _ A titia já está caducando?
_ Devo estar ou tem uma pirralha que se acha muito esperta.
_ Você me chamando de pirralha me faz realmente acreditar nas minhas palavras. - Riu. _ Mesmo você não me perguntando, consegui fazer uma poção que pode me fazer voltar a ser uma criança. Bom, fiz a fórmula, só tenho que fazê-la.
_ E essa vai fazer o quê? Te fazer infértil e fazer seus órgãos diminuírem?
_ Hahaha, engraçadinha. - Cruzei os braços. _ Vai apenas fazer meus ossos se tornarem de uma criança e serei uma criança com a mente de uma adulta.
_ Pensei que você fosse adolescente. - Zombou. _ Mas você consegue reverter isso? Se você não quiser ser mais uma criança.
_ Não, mas consigo crescer como uma pessoa normal, talvez eu até mesmo cresça mais. - Bati palminhas. _ Espero chegar a 1,77 de altura.
_ E o vira-tempo?
_ Bom, qualquer minuto saberei se ele realmente funcionou. - Observei a cozinha.
_ O que quer dizer?
_ Ontem peguei uma criança e a fiz usar o vira-tempo. - Dei de ombros. _ Nas duas primeiras vezes ela voltou, mas até agora nada, e espero que ela volte com o meu vira-tempo intacto, demorou muito para fazê-lo.
_ Você é inacreditável, Leesa.
_ Não sei como responder a esse elogio. - Digo confusa.
_ Mas... Deixa para lá. - Concordei. _ Descobriu o que esse anel faz?
_ Já li mais de trezentas cartas, mas nada fala sobre o anel, acho que só descobrirei quando conhecer o meu avô. - Suspirou e mudou de assunto.
_ Espero que você me visite quando chegar no passado.
_ Você quer que eu te irrite ainda mais? Que amor, titia. Merece até um abraço. - Vou até ela e a abracei de lado.
_ Sai, não gosto que me abracem e está me sufocando. - Tentou me empurrar.
_ Nem estou te apertando, sua dramática.
_ Você conseguiu fazer uma poção para o seu sangue?
_ Tentei tudo, mas até o vidro não aguentou o meu sangue e não tive mais paciência para tentar fazer uma poção. - Não sou uma pessoa com paciência.
_ Leesa, você precisa descobrir uma poção, sangue amaldiçoado pode ser fatal.
_ Eu sei, mas já durei 28 anos, durar mais um pouco não vai me prejudicar. - Não é?
_ Só quero o seu bem, Leesa. - Iria falar algo, mas um barulho alto nos fez olhar para trás, me fazendo ver a criança que estava acabada.
_ Meu bebê! - Digo correndo até o vira-tempo.
_ Olhe a criança primeiro. - Veio em nossa direção.
_ Eu não. - Tirei o vira-tempo do seu pescoço e vejo se tinha algum arranhão. _ Ainda bem que está intacto.
_ Você está bem? - Olhei para o lado, vendo que a criança estava suja de carvão e seus cabelos estavam queimados.
_ Sim, mas esse troço é louco. - A criança comentou, dando alguns passos para longe do meu bebê.
_ Ou você que não pensou direito no lugar que você queria ir? - Zombei.
_ Mas fiz exatamente o que você falou para fazer. - Gritou. _ Nas duas vezes consegui, mas na terceira ele começou a vibrar e fiquei presa em um lugar desconhecido. - Franziu as sobrancelhas.
_ Mas está viva e bem, agora tchau. - Riu, mas não se foi.
_ Quase morri, preciso de pelo menos dez galeões como recompensa. - Veio até mim, estendendo a sua mão.
_ Mas não tenho dez galeões. - Mordi meus lábios.
_ Mas quero dez galeões. - Estava raivosa, era engraçado vê-la daquele jeito.
_ Tenho cinco, pode ser?
_ Não, quero dez.
_ Isso vai ser difícil, só tenho cinco e é as minhas últimas economias. - Fiz beicinho. _ Aceita um galeão? - Tento barganhar.
_ Então me dê os cinco galeões e nunca mais apareça na minha frente com esse troço idiota! - Finjo surpresa.
Chamo minha bolsa do andar de cima e retiro cinco galeões.
_ Mas saiba que gostei muito de conhecer dragões. - Piscou.
Saiu da casa e fiquei olhando para a porta que se fechava devagar.
_ Você é má. - Olhei para a titia. _ Te ensinei muito bem.
_ Obrigada. - Sorri para ela e balancei o vira-tempo para ela ver. _ Acho que minha estadia em 1981 acaba hoje.
_ Faça uma boa viagem. - Pensei que a veria triste, mas tive nenhuma reação.
Observei a sala que estava um pouco bagunçada, mas continuava aconchegante e isso me fez pensar um pouco fora do normal.
_ Quer colocar essa casa no meu nome? - Riu.
_ Você odeia esse lugar e essa casa, não me faça rir. - Fiquei chateada. _ Agora suba e arrume suas coisas.
_ Já está me expulsando, titia? - Depois falava de mim.
_ Estou, você me deu muito trabalho e despesas extras.
_ Não tenho dinheiro, acabei de entregar os meus últimos galeões, e sou pobre agora, muito pobre. - Revirou os olhos.
_ Não se esqueça que antes de você aprender Oclumência, li seus pensamentos, sua diabinha.
_ Sou um anjo. - Fui para o andar de cima. _ Prevejo que sentirá a minha falta. - Gritei.
_ Em seus sonhos. - Gritou de volta.
Sentiria falta dessa mulher rabugenta, mas sei que não posso ficar presa no passado, tenho que continuar seguindo em frente, mesmo que para isso eu tenha que dizer adeus para pessoas especiais para mim.
Pessoas vêm e vão em sua vida, e algumas delas podem lhe trazer muita felicidade e ficar para sempre contigo, sejam em memórias ou presencialmente, mas existirão aquelas pessoas que apenas lhe trazem sofrimento, porém, elas também podem te trazer ensinamentos bons ou ruins.
Perdi a minha família, mas talvez, talvez no passado possa encontrar pessoas que me façam esquecer desse vazio no peito. Mesmo sabendo que eles nunca irão sair dos meus pensamentos.
Entrei no meu quarto e olhei para ele, passei boas semanas nele, mesmo quase o destruindo uma vez.
Vou até a minha mesa e coloco os meus livros, ferramentas e meu pó de vira-tempo na bolsa. Era só isso que tinha que guardar, era só isso que tinha comigo.
_ Não vai trocar de roupa? - Olhei para a porta.
Eu só estava vestindo uma calça jeans, uma blusa de frio e botinhas que foi presente da titia, nada muito elegante, mas confortável.
_ Tenho tempo para isso, não vou aparecer no meio da rua e posso mudar quando chegar lá.
_ Se você está dizendo, só não se esqueça que quando você tomar a sua poção, você terá que diminuir as roupas que você tem. - Espera, o quê?
Tinha me esquecido que seria uma criança e essas roupas que Dragon me deu eram para uma pessoa adulta...
Merda! O problema não era diminuir elas, mas só não queria fazer isso, por pura preguiça.
Vejo titia vir até mim e me entregar algo
_ O que é isso? - Olho para o pano verde com um símbolo, era o símbolo de Grindelwald.
As relíquias estavam no meio, distanciando os dois "G" que estavam de costas um para o outro, como se odiassem estar ali.
_ Um álbum de fotos, pedi a uma pessoa para tirar fotos suas quando você visitava aquelas velhas, mas você vai perceber. - Ela me ajudou a retirar o pano aveludado e abriu o álbum. _ Que mesmo você estando machucada, você sabe sorrir e não é um sorriso falso, Leesa.
No álbum me mostrava conversando com as senhoras...
_ Não é porque você quer a destruição do mundo que você precisa se destruir com ele, você pode fazer isso sendo feliz, apenas depende de você. - Ri com essa frase.
_ Se depender de mim, acabarei fazendo os dinossauros voltarem à vida.
_ Não faça isso, não quero competir com dinossauros por comida. - Parecia estar falando a verdade.
_ Tentarei o meu melhor. - Fechei o álbum e coloquei na bolsa.
Ela me abraçou e fiquei perplexa por alguns segundos, mas logo retribuo o abraço.
_ Agora vá, estarei no andar de baixo para não ver você partindo. - Ela me deixou sozinha no quarto e olhei para ele mais uma vez.
Coloquei o vira-tempo no meu pescoço e toquei por alguns segundos o meu colar. Estou pronta, não estou?
Não, antes de ir, precisava ir em um lugar primeiro, antes que começasse a minha jornada e antes que começasse a mudar tudo.
Desaparato daquele lugar e me vejo no meio da rua dos Alfeneiros, estava escuro, mas a maioria das pessoas ainda não foi dormir.
Talvez estivessem vendo televisão ou conversando enquanto estavam deitados na cama, não sabia o que pessoas "normais" faziam, era estranho pensar assim.
Procuro a casa de número quatro e logo encontro depois de alguns minutos de caminhada.
Paro de frente da casa e fico olhando para as luzes acesas, seria tão fácil matar essas pessoas e acabar com tudo.
Mas não posso fazer isso.
Ainda não quero morrer, ainda mais devido a um juramento tolo e porque Harry Potter era apenas um bebê indefeso que ainda não me fez nada.
Não serei igual aquele homem que temeu um bebê, quero que esse bebê destrua a minha vida para que eu tenha sede de vingança o suficiente para matá-lo sem arrependimentos.
Mesmo sabendo que ele nunca iria fazer as coisas que fez comigo, já que não deixaria ninguém da luz ou das trevas sobreviver até 1998.
Essa era a data limite, era a data que impus ao mundo e a mim.
_ Espero ansiosamente para o dia que você irá morrer pelas minhas mãos, Harry Potter. - Puxei o vira-tempo para frente e girei cinco vezes, idealizando um beco em qualquer lugar em Londres.
Mas quem iria pensar que o vira-tempo testado três vezes iria começar a girar sem a minha permissão?
Quando iria tirar ele do meu pescoço, já era tarde demais, o mundo não era mais o mesmo e tudo que pensei em saber, se foi.
Caio no chão e minha cabeça doeu pela pancada, queria vomitar tudo que havia comido hoje, mas isso não me impediu de sentir algo em meu pescoço.
O via-tempo estava tremendo e o retirei rapidamente do meu corpo. O que foi uma ótima ideia, ou seria esmagada por peças que ficaram gigantes.
_ Santo Merlim! - Arrastei-me para trás para não ser esmagada por peças de vira-tempo.
Algumas peças caíram no precipício e outras quase esmagaram os meus pés. Deveria ter testado esse vira-tempo uma quarta vez, apenas por descargo de consciência... Bom, a culpa também é minha.
Aquela pirralha falou que o vira-tempo a levou para o lugar errado e a quase a matou, mas pensei que ela apenas o usou errado... Deveria ter acreditado.
Tinha que ter comprado ouro, ouro é mais maleável do que metal e quase todos os vira-tempos são feitos de ouro. Só que eu, a idiota, não queria gastar dinheiro comprando ouro.
E confiei nas ferramentas que a titia me deu. Claro, elas não iriam fazer milagre, mas, elas eram feitas de pó de estrela e todas as peças se conectavam precisamente... Eu que era estúpida de acreditar em bobagens.
Talvez tenha realmente funcionado e a única coisa que estragou foi que não era ouro e sim, metal. Vou acreditar nisso em vez de acreditar que aquelas lindas ferramentas não funcionavam.
_ A senhorita está bem? - Olhei para o lado e vejo uma mão bonita, mas tinha alguns calos nela.
