Mon petit,

Espero que esteja aproveitando o passado, que esteja aproveitando o sol e tendo conversas interessantes com alguns alunos em Hogwarts.

Essa carta não explicará os meus dias problemáticos e como quase matei um paciente.

Contudo, deveria ter contado isso quando descobri, mas não queria trazer algo tão pesado para os nossos dias de sossego.

Papai descobriu algo sobre você, mon petit. Ele descobriu que você tem um juramento por magia, mas nunca vi nenhuma tatuagem em você, apenas a sua marca que você me disse que era por sua maldição.

Então descobri que o seu juramento não é por magia em si e sim, por alma, e juramento de alma não grava na pele e sim, a alma.

Mon petit, mesmo você morrendo, você teria que cumprir o seu juramento, é um círculo vicioso que no final você só pode fazer aquilo que jurou fazer. Salvar o Lorde das Trevas.

Tentei pesquisar algo sobre juramentos de alma, mas a única coisa que descobri foi que antigamente os bruxos se casavam por alma e era algo que nem mesmo divórcio resolveria.

Eles ficariam juntos para sempre, mesmo eles se odiando e querendo a morte um do outro, deveriam estar juntos ou perderiam a sua magia e a sua vida.

Sinto muito por te dar essa notícia, mas não queria que você pensasse que se desistisse ou fizesse algo pior com você, isso iria resolver os seus problemas.

Então, mon petit. Não desista, mesmo que machuque, mesmo que isso lhe traga desesperança. Você não pode desistir.

Estarei sempre com você.

───※ ·❆· ※───

Coloquei a carta na barriga e fiquei olhando para o teto. Aqui não tinha abajur, mas tinha velas e podia fazer lumos quando a vela acabasse.

Acho que já tinha dois dias que estava aqui, parei de contar. Não estava me fazendo bem.

Mas descobri muitas coisas nesses dias.

Godric quer comprar Hollow e fazer que todos os seus amigos morassem naquele lugar, não vai conseguir. Salazar está noivo de Morgana e não a vi ainda.

Rowena está apaixonada por um trouxa, segundo Salazar. E Helga está tentando barganhar com um duende para ter a sua taça, mas não está dando certo.

Era só isso que sabia até agora, bom, dos fundadores.

Alisei o pergaminho e fico pensando em coisas estranhas. Ainda não comecei a fazer o vira-tempo, percebi que não posso apressar o tempo, mesmo querendo manipulá-lo para o meu próprio benefício.

Vou fazer o vira-tempo, mas com calma e paciência, não quero comer mamute ou algo pior, já que consegui voltar mil anos, voltar milhões não é nada.

Sentei-me na cama e guardei a carta na bolsa, observando minhas vestimentas e estava usando apenas uma camisola que ia até os meus tornozelos.

Provavelmente não estava apresentável para essa época, mas não ligava muito, já tinha muitas coisas que não ligava.

Calcei os meus sapatos, indo até a porta e a abrindo, olhei para o corredor e tentei ver por debaixo da porta se tinha alguém acordado, esperava que apenas uma pessoa estivesse acordada.

Saio do quarto, fechando a porta atrás de mim e vou na ponta do pé até a porta que queria ir. Agradecia muito por ter velas no corredor, essa casa ficava muito escura quando anoitecia.

Bati à porta devagar e esperei a pessoa me atender, mas ninguém atendeu, bati novamente e nada.

Olhei para maçaneta e girei ela, abrindo em um clique. Bisbilhotei o quarto e vejo que a pessoa estava dormindo na banheira/barril de madeira.

Não queria ver um homem nu, mas queria saber de algo e isso estava me fazendo surtar já tem dois dias.

Entrei no quarto e fechei a porta devagar, indo até a cadeira que tinha no quarto... Era pesada, esse troço era feito de quê? Madeira maciça?

Coloquei a cadeira ao lado da banheira e me sentei nela, tirei os meus sapatos e levantei os meus pés, os colocando na beirada da banheira.

_ Devo estar alucinando. - Salazar sussurrou sem abrir os olhos. _ Queria saber o porquê de ter uma mulher no meu quarto?

_ Não é uma mulher qualquer, é...

_ Ah, sim, é a minha pequena rata. - Revirei os olhos.

_ Não sou uma rata. - Riu e abriu um dos olhos. _ Ainda não entendo esse apelido.

_ Pequena rata, você tem um diário apenas para escrever fofocas e você chegou há dias, mas já sabe quem morreu e quem está traindo.

_ Isso não são fofocas, são informações que coleto por diversão e se fossem fofocas não seriam verídicas.

_ Pequena rata, sempre fuxicando onde não é chamada. - Queria que as minhas pernas fossem um pouco mais longas para que chutasse o seu rosto. _ Mas o que faz no quarto de um homem comprometido? - Sorriu de lado e insinuou algo.

_ Por Me... Por Magic, Salazar. Não tenho nenhum interesse por um velho.

_ Pequena rata, temos apenas sete anos de diferença, você se intitula como velha. - Isso era ultrajante. _ Não concorda?

_ Não, sou apenas uma adolescente que entrou no seu quarto para saber de algumas coisas. - Sentou-se mais confortavelmente na banheira e pude ver o seu peitoral.

Santo Merlim, deveria ter pensado duas vezes antes de entrar aqui.

Olhei para o lado e tento não ficar imaginando besteiras, ele é só um homem, não tem nada de anormal... Apenas o seu corpo atlético, robusto e atraente.

Pelos negros pelo peito e com certeza estava alisando os seus cabelos para trás enquanto me observava. O olhei e era exatamente isso que estava fazendo.

_ O gato comeu a sua língua, pequena rata? - Apoiou sua cabeça em sua mão e sorriu de lado.

_ Não, só estava pensando como começar esse assunto. - Mexi os dedos dos pés. _ Fui muito rude com você...

_ Percebeu isso hoje? Tenho sentimentos, pequena rata.

_ Continuando, queria saber o que você...

_ Iria pedir ao duende? - Concordei sorrindo. _ Algo que representasse a nobreza e a pureza, que seja pequeno e fácil de ser carregado, um objeto para me lembrar dos meus dias mais notáveis, algo que mostre minhas verdadeiras origens.

_ Tipo um medalhão?

_ Você veio do futuro, já deve saber o que cada um de nós pedirá ao duende para fazer.

_ Se encontrá-lo.

_ Provavelmente encontramos, já que você sabe o que seria ideal para mim. - Estalou os dedos e um copo de whisky apareceu. _ Aceita?

_ Não sei beber, provavelmente vou vomitar toda a comida que comi. - Riu e bebeu um pouco do conteúdo do seu copo. _ A única vez que coloquei álcool no meu estômago foi quando Dragon trouxe bombons de licor.

_ Esse seria o seu namorado? - Neguei rindo.

_ Ele é o meu primo, ele me ajudou muito quando estava naquele lugar e devo muito a ele. - Fiquei observando a água da banheira. _ Ele morreu me protegendo e se não fosse por ele, não estaria aqui.

_ Então que a Lady Magic o tenha. - Concordei.

_ Você realmente quer se casar? Ou é um contrato feito pelos seus pais?

_ Não posso deixar a minha linhagem morrer, Leesa. Tenho que ter alguém para pelo menos compartilhar a vida comigo.

_ Você acha que vai ser feliz? Vi meus pais e sempre os invejei por ter um "bom" relacionamento. - Faço aspas com as mãos. _ Mas no final de tudo, acabei percebendo que eles não eram um casal feliz, só estavam juntos por algum motivo.

_ E qual é a sua definição de ser feliz com alguém?

_ Não sei, nunca estive em um relacionamento, mas quando era apenas uma pirralha imatura, pedi que se encontrasse alguém, que pelo menos essa pessoa pudesse me entender e me aceitar do jeito errado que sou.

_ Conheci Morgana devido aos meus pais, mas eles não me obrigaram a pedi-la em casamento, foi apenas eu. - Seu copo encheu novamente e me entregou. _ Experimente.

_ Se eu ficar bêbada e vomitar em você...

_ Prometo que não vou te matar. - Olhei para o copo e bebo o conteúdo todo em apenas em um gole. _ Sua louca, era para tomar devagar.

_ Sempre vi pessoas bebendo isso como se fosse água. - Faço careta. _ Isso é horrível, tem gosto de árvore.

_ Então você provou uma árvore muito gostosa. - Vi o copo se encher. _ O segundo copo fica melhor.

_ Se o primeiro já é péssimo, imagina o segundo.

_ Mas dessa vez...

_ Beberei devagar. - Dou um gole e fico tentando decifrar o gosto ruim da minha boca.

Engoli o conteúdo da boca e bebo o restante que tinha no copo. Funguei o nariz e Salazar parecia rir de mim.

_ Por que você está rindo? - Tombei a cabeça.

_ Suas bochechas estão avermelhadas e seu nariz parece um pimentão. - Toquei o meu nariz e tento escondê-lo. _ Não me diga que com dois copos você já ficou bêbada? - Tomou o copo da minha mão.

_ Não fiquei, estou bem e sei contar até mil. - Mostrei minhas mãos para ele. _ Mil. - Olhou para as minhas mãos e depois para mim, rindo do começo ao fim. _ Mas contei certo.

_ Sim, você contou super certo e estou impressionado com sua sabedoria.

_ Obrigada. - Digo rindo. _ Sinto falta dele.

_ De quem?

_ Do meu primo, ele era um bom marido e pai, sempre cuidando de tudo, mas ninguém cuidando dele. - Fechei meus olhos para lembrar de tudo. _ Ele me ensinou a dançar, pisei muitas vezes em seu pé. - Ri comigo.

_ Por que não volta no...

_ Não dá, a minha realidade... - Arrotei e abanei o ar com a minha mão. _ A realidade onde vivia, ele não existe mais. - Subi a manga da camisola para mostrar o corte. _ Viu, está preto, quando está preto quer dizer que morreu... - Olhei para ele.

_ Leesa. - A água se mexeu na banheira e molhou os meus dedos do pé.

Aproximou-se das minhas pernas e fico tentando saber o que iria falar.

_ Sim? Esse é o meu nome. - Ri para ele.

_ Você já pensou em ficar? Ficar no passado e tentar recomeçar. - Retirei os meus pés da beirada da banheira e me curvei para frente.

_ Já pensei em ficar em 1981. - Apoio meus braços na beirada da banheira e me deito neles. _ Ficar naquele ano com a titia e cuidando dela, mesmo ela sempre me irritando, queria conviver com ela. - Sinto um carinho em meus cabelos. _ Também queria ter ficado com a minha família, a família que me aceitou sem me julgar.

_ E você já pensou em ficar aqui?

_ Ainda não pensei, mas quando cheguei, me senti perdida. - Suspirei. _ Não pertenço a esse ano, Sly.

_ Posso fazer você pertencer, posso te mostrar as belezas que existem neste mundo...

_ Você pode me mostrar, não vou reclamar de ter um pouco de companhia, sinto falta de pessoas ao meu redor e sinto falta de poder ser um pouquinho normal.

_ Pequena rata, você é normal. - Ri pelo apelido. _ Acho que você precisa dormir, você consegue ir para o seu quarto?

_ Não estou com sono. - Digo emburrada.

_ Nem um pouco cansada? - Continuou me fazendo carinho.

_ Não, estou bem. - Funguei. _ E respondendo a sua pergunta, não quero ficar aqui, quero ter a minha vingança... - O carinho parou por breves segundos.

_ Tudo bem, você vai conseguir. - Beijou minha cabeça. _ Acredito em você.

_ Obrigada. - Falei baixinho.

_ Leesa.

_ Sim?

_ Quero me trocar, a água já está ficando fria. - Levantei minha cabeça e fiquei o observando. _ Poderia...

_ Vou para cama dormir e acho que você está certo. - Sorriu e concordou.

Levantei-me devagar e deixo o meu sapato ali, enquanto ia em direção à cama de casal do Salazar, me jogando nela.

_ Leesa.

_ Sim? - Minha voz saiu abafada por conta do travesseiro.

_ Essa é a minha cama. - O escutei saindo da água.

_ Sério? Não percebi. - Me cobri com os cobertores que estavam na cama e eram macios e cheirosos. _ Quem arruma a casa e essas coisas?

_ Elfos e falando neles, tenho que ir ao mercado comprar mais, você deve precisar de um para te ajudar em certas coisas. - Franzi a testa e levantei um pouco a minha cabeça.

_ Não preciso de elfos. - Caminhou até o seu armário.

Deitei-me novamente e olhei para os lençóis verdes. Sério, tão Sonserino.
O escuto se trocar e fecho os meus olhos, não queria ser desrespeitosa com ele.

Quando estava seminua na frente daquelas pessoas, só queria que eles olhassem para o outro lado ou me deixassem sozinha.

Mas eles nunca fizeram isso, só continuaram me olhando. Tão desagradável.

_ Vai dormir comigo? - Abri um dos olhos e o vejo com suas roupas de dormir, e tinha que ser verde.

_ Se já estou aqui, não vejo problema, por quê? Vai me expulsar? - Negou.

_ Só, por favor, não ronque como Godric. - Salazar deitou-se na cama e se cobriu. _ Tenho nervoso de escutar as pessoas roncando e não consigo dormir. - Disse enquanto tentava apagar a chama da vela, mas me curvei para a frente e o parei. _ O que foi?

_ Deixa-a acessa. - Minhas mãos tremiam enquanto apertava a sua mão. _ Não apague. - Falei nervosa.

_ Ok, vou deixá-la acessa. - Falou baixinho e segurou minha mão, me fazendo deitar novamente. _ Viu, ela está acessa.

_ Obrigada. - Continuou segurando minha mão. _ Não quer saber o motivo?

_ Não acho que você está bem o suficiente para me contar algo tão pessoal, mas quando você se sentir bem e confortável, me conte. Estarei aqui para te escutar. - Beijou minha mão e concordei.

_ E é sério, não preciso de elfos.

_ Então, apenas me acompanhe no mercado, você está enfurnada nesse bairro há dias.

_ Ele é bem agradável e não acho que ir para outros lugares seja o ideal, as pessoas podem desconfiar.

_ Leesa, não ligue para as pessoas, elas são triviais.

_ Você fala isso porque você é como o presidente deste mundo. - Franziu a testa. _ Como o rei.

_ Não acho que seja para tanto.

_ Claro. - Revirei os meus olhos e os fechei. _ Boa noite.

_ Boa. - Ficamos com as mãos unidas e até que foi bom, nem me lembrei da mania que adquiri nesses anos.

A mania de dormir agarrada com a minha bolsa.