Paro de manipular o ouro, o fazendo voltar a ser um anel normal. Suspirei enquanto enterrava minha cabeça na mesa.

_ Não deu certo, mestra?

_ Não, tenho que inventar outra coisa. - Deixo o anel em cima da mesa para pegar as coisas que precisava para inventar um feitiço.

Talvez um canalizador de magia pura ao invés de feitiço resolvesse, mas um canalizador tem que ser adequado para a minha magia e não para o anel.

E se as varinhas me odeiam, canalizador me odeia duas vezes mais. Então não posso ir para o lado mais rápido e fácil, tenho que ir para o mais difícil.

Primeiro, tenho que imaginar o que realmente quero.

Quero que o anel seja apenas usado por mim, então ele tem que ter uma trava de segurança para terceiros e isso ele já tem, mas o vira-tempo não.

Contudo, quero um display que dê para mudar a data com a minha magia, para não ter o erro que ele mude sozinho sem o meu consentimento.

Também queria que esse feitiço tivesse a possibilidade de continuar na mesma realidade, não quero mudar de novo. Mas qual é o nome dessa realidade? Será que é número? E se for? Qual seria o número? Tenho que ver sobre isso.

Mas esse anel precisava aguentar minha magia e o pó de vira-tempo, e se ele não aguenta um, imagina o outro.

É bem capaz dele sumir no mesmo segundo que eu colocasse um grão do pó nele.

Vira-tempo era algo mais fácil quando apenas observava a mamãe. Queria saber como ela era tão boa fazendo vira-tempo, ela aprendeu com alguém? Provavelmente, mas quem?

Isso é algo que também deveria descobrir, mas só quando estivesse naquele tempo.

Começo a fazer cálculos para um feitiço que pudesse fazer tudo isso que imaginei e um pouco mais. Faço uns desenhos pequenos embaixo dos cálculos, sobre o modelo do display que estava pensando.

Alguns cálculos deram errados, outros se aproximavam daquilo que queria, mas nenhum eram exatos, mas não desisti.

Continuei escrevendo e desenhando, até fiz minha magia colocar a Debby na cama, já que a pequena acabou dormindo sentada.

Contudo, ninguém entrou aqui para me chamar ou algo do tipo, até agradecia por isso. A titia sempre me atrapalhava nas melhores horas.

Às horas começaram a se passar sem que percebesse e o sol bateu nos meus olhos, o que me incomodou bastante e tive que colocar minha mão na frente da luz para que pudesse olhar para o lado de fora.

_ Tempus. - Falo e vejo que já era quase cinco da tarde.

Meu estômago roncou e comecei a arrumar todos os papéis e ferramentas que tirei para fora.

Coloquei meu anel no meu dedinho, o vendo se transformar no anel simples. Levantei-me da cadeira e observei a elfa que continuava dormindo, ela deve estar cansada.

A entendia, quando saí do ministério só queria dormir, mas não pude dormir muito devido à titia.

Saio do quarto e vejo que a porta do quarto de Salazar estava aberta, passo por ela e vejo que ele estava fazendo alguma coisa, mas não queria o atrapalhar.

Então saio dali antes que me percebesse.

Sinto um forte cheiro de comida e não era enjoativo, só aumentou a minha fome. Godric era um cozinheiro de mão cheia e sempre fazia o meu estômago implorar por mais.

_ Já ia subir para chamar vocês. - Rowena falou sorrindo. _ Godric acabou de cozinhar.

_ Pelo cheiro deve estar divino.

_ Provei um pouco do caldo e está mais que divino. - Sorriu subindo, acho que iria chamar Salazar.

Desço os últimos degraus da escada, indo para a cozinha e dessa vez todas as facas estavam bem longe de Helga, para a minha sorte.

_ Pensei que você tivesse morrido no seu quarto. - Godric me sentou na cadeira.

_ Só estava fazendo alguns experimentos. - Sorri vendo-o colocar o prato de ensopado na minha frente.

_ Espero que esteja do seu agrado. - Sorriu, mas logo seu semblante mudou. _ Salazar, achei que você tivesse morrido.

_ Estava fazendo alguns experimentos. - Deu de ombros e se sentou ao meu lado em vez de sua cadeira costumeira. _ Isso ficou bom? - Perguntou-me, enquanto colocava o ensopado no seu prato.

_ Está divino, Godric nunca erra. - Salazar me olhou e riu.

_ É porque você não tinha que provar aquelas comidas feitas de barro e dizer que estavam ótimas.

_ Eu era uma criança, seu idiota. - Godric deu um tapa em sua cabeça. _ E por causa dessas comidas que sou muito bom em cozinhar.

_ Você deveria ter aprendido a cozinhar sem precisar me usar como cobaia. - Provou o ensopado. _ Está faltando tempero.

_ Enfia esse tempero... - Bufou e jogou a pimenta para Salazar. _ Está bom assim?

_ Não sei, ainda não provei novamente. - Salazar gostava muito de irritar os seus amigos e isso era divertido.

Não sendo comigo, era muito divertido. Continuei comendo, vendo as meninas apareceram e começarem a comer.

Godric sentou-se por último e sempre elogiava a sua comida. Realmente estava ótima.

_ Você deveria ter colocado mais tempero, mas está bom. - Godric olhou para Salazar que limpava a boca e seu olho esquerdo estava sofrendo de um tique,

_ Posso matá-lo?

_ Godric! - Rimos.

_ Ele é uma pessoa irritante, odeio ele. - Falou emburrado. _ Estava faltando tempero?

_ Não. - Dissemos e até mesmo Salazar falou rindo.

_ Seu idiota. - Jogou a colher, mas Salazar desviou. _ Você vai ficar sem comer a minha comida por uma semana.

_ Morrerei de fome. - Disse perplexo. _ Vamos lá, Godric. Não seja ranzinza.

_ Quem é ranzinza não sou eu, é você.

_ Ele está certo. - Coloquei mais lenha na fogueira.

_ Pequena rata! - Ficou magoado.

_ Você é o melhor ranzinza que já conheci. - Dei um joinha para ele.

_ Tento fazer o meu melhor. - Sorriu e revirei os olhos. _ Vem, preciso mostrar algo. - Levantou-se e mais uma vez estendeu a mão para mim, e aceitei.

_ A gente vai arrumar as coisas para irmos para a montanha. - Rowena gritou quando já estávamos subindo a escadaria correndo.

Parecíamos duas crianças que iriam aprontar alguma coisa e era algo tão divertido. Ele me levou para o seu quarto e me fez sentar na cadeira que arrastei ontem.

Fiquei o olhando pegar dois potinhos e me olhou.

_ O quê?

_ Passe apenas o seu dedo por cima desse potinho e depois no outro. - Franzi a testa, mas não fui malvada e logo fiz o que me pediu.

Passei o meu dedo indicador no primeiro potinho, fazendo o conteúdo do potinho se encolher e se não fosse pela tampa, teria fugido para bem longe.

_ O senhor está fazendo uma varinha?

_ Sim, quero tentar fabricar uma varinha para mim.

_ E sou a cobaia por qual motivo?

_ Bom, sua magia requer um núcleo e madeira altamente fortes, e quero uma varinha poderosa o bastante para aguentar feitiços por um longo tempo.

_ Por isso que sou a cobaia perfeita.

_ Sim.

_ Mas você não...

_ Se eu testar, acabarei com uma varinha fraca e talvez igual à minha, mas quero algo potente.

_ Mas a varinha não vai te respeitar.

_ Posso criar uma que me respeite, apenas usando o melhor dos ingredientes. Agora, continue.

_ Tudo bem. - Passei o dedo pelo último potinho e aconteceu o mesmo que o outro potinho. _ Seu experimento acabou de fracassar.

_ Tenho tempo para achar outros núcleos, agora vamos para essas madeiras.

Deixou os potinhos em cima da mesa e entregou uma madeira como marfim, mas ela começou a pegar fogo e a entreguei rapidamente.

_ Acho que nada gosta da minha magia.

_ Eu gosto. - Colocou a madeira na mesa. _ Ela é intrigante como você.

_ Levarei isso como um elogio. - O vejo sorrir de lado.

Olhei para fora e a luz do dia já estava se indo, mas meus pés começaram a bater rapidamente no chão, Salazar percebeu e logo fez as velas do quarto se acenderem.

_ Só precisamos acender as velas e tudo ficará bem.

_ Mesmo as acendendo, as memórias e as marcas não irão embora com a luz trêmula dessas velas. - Largou a madeira que estava em sua mão e se agachou no chão, segurando minhas mãos.

_ Leesa, não sei exatamente o que aconteceu no seu passado, mas saiba que mesmo estando morto em seu futuro, sempre irei querer o seu bem e a protegerei de qualquer mal. Até que você tenha uma pessoa que seu coração, corpo e alma escolheu confiar.

_ Não terá essa pessoa, nunca mais. - Alisou minhas mãos.

_ Nunca diga nunca, Leesa. - Beijou minhas mãos. _ Queria que você ficasse para sempre, mas não acho que você irá abandonar tudo devido a um pedido egoísta e idiota. E eu respeito isso, tenho que respeitar... - Encostou sua testa na minha mão e ficamos assim.

_ Você é uma pessoa maravilhosa, Salazar. E você merece o mundo, mas o mundo não merece você.

_ Não, o mundo me merece, eu que não mereço o mundo... - Sussurrou.

_ Antigamente pensava que você tinha criado pessoas apenas para serem vilãs. - Ficou sem entender.

_ O que quer dizer?

_ Salazar, no futuro, a sua casa vai ser retratada como a casa dos vilões e todas as pessoas que vão para a sua casa, se tornam vilões. Bom, a grande maioria.

_ E isso é mal? Não vejo problema nenhum nisso.

_ A Sonserina é a casa dos gloriosos, são das lendas... - Peguei o seu rosto para que me olhasse. _ Você criou pessoas poderosas, Salazar. E você merece o mundo apenas por ser você, seja egoísta e queira o mundo e depois pise-o como se ele não fosse nada do que um grão de areia em seus sapatos caros, é isso que estou tentando dizer.

_ O mundo que você quer que eu pise, não merece isso, mas o mundo real, sim. Ele merece que o esmague até não sobrar nada. - Levantou-se e olhou a vela que queimava. _ Matei os meus pais apenas por puro egoísmo e capricho... - Ele me olhou e me levantei. _ Sou um monstro por isso?

_ Um dos mais belos que já conheci. - Fui até ele e alisei o seu rosto. _ As pessoas julgam aquilo que elas acham errado, mas elas sempre dizem que errar é humano. Mas quando erramos, elas apontam seus dedos imundos para nós. - Segurou minha cintura e pegou uma de minhas mãos, dançando comigo pelo quarto.

_ Ou quando você está no lado deles, eles te chamam de herói, o glorificam e dizem que os meios que você usou não foram errados, se para isso acabou com a maldade do mundo. - Me girou no lugar.

_ Mas quando sua opinião muda, os seus conceitos e ideais diferem daquelas mentes pequenas e retrógradas. Eles começam a dizer que você enlouqueceu, a chamam de débil mental e que está no caminho errado da salvação. - Completei. _ Somos um bando de vilões perante o mundo, mas prefiro ser a vilã a sorrir para aqueles que me machucaram.

_ O mundo poderia explodir...

_ Farei isso, que pena que você não poderá ver e rir comigo. - Rimos enquanto continuávamos dançando. _ Verei todos como traidores, Salazar. Verei todos como os meus inimigos quando pisar naquele futuro.

_ Estarei com você, mesmo que seja apenas um fantasma.

_ Serei a destruição, Sly. Vou ser a vilã daquele mundo em vez da pessoa que sou obrigada a salvar, você ainda ficará comigo? - Apertei sua mão.

_ Sempre. - Sorriu e continuamos dançando.

Não sabia o motivo dele querer dançar comigo, mas não era tão ruim assim. Era bom, era como se estivéssemos pisando nos destinos de cada pessoa que eu iria manipular e matar.

Essa dança não tinha música, mas poderia escutar uma bela melodia na minha cabeça.

Não aquela que aquele homem colocou em todas as minhas torturas e fez que minha cabeça só pensasse naquela música.

Era outra, uma mais melódica e envolvente, e que fazia meu corpo ansiar pelo futuro e de me desconectar do meu passado.

_ Salazar? - Rowena bateu na porta e paramos de dançar. _ Já está tudo pronto, só faltam vocês.

_ Já estamos indo. - Disse me olhando. _ Depois podemos continuar com o meu experimento.

_ Adoraria. - Sorri, me distanciando dele. _ Essa dança será uma memória inesquecível, obrigada. - Faço uma mesura para ele.

_ Me conceda mais danças enquanto você estiver aqui.

_ Claro. - Fui até a porta, mas ele me chamou antes que saísse.

_ Você é incrível, Leesa. Não se esqueça disso nem por um segundo.

_ Com você me dizendo isso, sou incapaz de esquecer. O vejo no andar de baixo.

_ Ok. - Saio do seu quarto e vou para o primeiro andar.

Rowena estava carregando uma cesta e Godric carregava pelo menos três cestas. Helga não estava aqui ainda, mas provavelmente também levaria uma cesta.

_ Posso ajudar? - Cheguei perto deles.

_ Preferimos que você tome conta do nosso rabugento favorito. Às vezes ele some do nada e quando vamos ver, ele já está no terceiro sono em sua cama. - Rowena riu enquanto falava.

_ Não sei o motivo dele concordar em querer ir com a gente, ele sempre some. - Godric resmungou.

_ Fico cansado e não aguento. - Descia a escadaria enquanto falava. _ Sou um velho que gosta da minha casa, ao invés de sair e beber como idiotas. - Ri. _ Não concorda comigo?

_ Claro. - Revirou os olhos.

_ Estou pronta, vamos. - Helga apareceu carregando uma cesta.

Saímos de casa e fomos andando na direção oposta do mercado que, na verdade, não era tão longe ou era e não reparei.

Porém, nesse lado não tinha tantas casas como do outro lado, apenas colinas e um pasto sem fim. Era como se fosse outro mundo, um mundo sem civilização.

_ Devo pedir desculpas por usá-la para ganhar a galinha de graça.

_ Está tudo bem, me diverti. Apenas não sei como você reverterá essa situação quando me for.

_ Posso falar que você morreu no parto e o bebê também, ou posso dizer que alguém assassinou você.

_ Todas as suas escolhas me envolvem morrendo.

_ Preciso ganhar condolências e mais coisas de graça. - Por Merlim.

_ Usarei isso futuramente. - Concordou.

_ E não quero falar coisas que podem acabar com sua reputação, então não falarei que você fugiu ou encontrou outra pessoa.

_ Agradeço.

_ Odeio subir esse morro. - Gritou Rowena. _ Godric, me carregue.

_ Estou carregando nem a mim, imagina você. - Entregou uma cesta para cada uma delas e só ficou com uma. _ Suba. - Agachou-se no chão e vejo Rowena e Helga se sentando nos braços de Godric. _ Foi mal, Leesa. Não dá para te levar.

_ Está tudo bem, prefiro andar. - Concordou e subiu o morro com elas em seus braços. _ Ele é tão forte.

_ Quer que eu te carregue também?

_ Não, obrigada. Prefiro andar. - Olhei para o céu que já estava completamente escuro e faço um lumos sair dos meus dedos. _ Odeio a escuridão devido aos meus dias de tortura. Às vezes via pessoas e elas tentavam me matar, não conseguia dormir e uma música sempre tocava na minha cabeça.

_ E você com certeza quer vingança dessas pessoas, não é? - Concordei sorrindo.

_ Mas se ele não tivesse morrido, não iria pensar nisso. Perdi um grande amigo para a morte, mas perdi minha família para o tempo. Tenho que ficar com raiva, não é?

_ Você não tem que justificar nada, Leesa. Se você quer matar e destruir o mundo, só posso concordar e te apoiar. - Segurou minha mão e a apertou.

_ Isso me deixa mais confortável e aceita nessa era.

_ Tento fazer o meu melhor. - Continuamos subindo, mas sinto-o alisar o meu dedo anelar. _ Seu dedo é tão pequeno e fino.

_ Nunca pensei por esse lado.

_ Você muitas vezes não pensa por muitos lados.

_ Acho mais fácil, pensar cansa e dói a cabeça, prefiro fazer uma coisa de cada vez.

_ Mas sempre do seu jeito.

_ Exatamente, acha que sou muito controladora?

_ Não. - Iria dizer algo, mas preferiu não falar.

_ Vocês são lerdos demais. - Godric já estava sentado no chão comendo um cacho de uva.