Novembro de 993:

Não tinha mais cartas do Dragon, todas já estavam abertas e isso me deixava chateada. Fiz de tudo para não as ler rapidamente, mas acabei as lendo sem nem mesmo perceber.

Todas as cartas estavam espalhas na minha cama, na minha nova cama, já tinha semanas que estava no meu novo quarto.

Preferia ele, gostava dele e era meu, e não de Rowena.

Esse quarto tinha duas paredes com estantes de livros e os livros que queria sempre estavam lá, mas as outras duas paredes eram neutras, brancas com detalhes em dourado.

Até mesmo tinha um candelabro médio no meio do quarto, contendo velas que nunca se apagavam, algo que gostei bastante.

A cama era de casal e era bastante espaçosa, era minha... Tinha algo que poderia ser chamado de meu, sem ser a minha bolsa e as coisas que continham nela.

Também tinha um armário, mesas de cabeceira, janelas que ficavam ao lado banheiro e uma mesa que tinha o meu vira-tempo, o segundo vira-tempo.

Consegui ouro na sala precisa, já que a Melissa sumiu por alguns meses, porém, esse vira-tempo era um vira-tempo normal, ainda tinha que transfigurá-lo para outra coisa.

Cutuquei uma carta com o meu dedão do pé, a vendo amassar, elas eram frágeis, como os meus sentimentos e não tinha nada para me tirar desse estupor de sentimentos.

Queria mais cartas, ele fez tantas, mas foram tão poucas... Ele deveria ter feito pelo menos umas dez mil, não iria reclamar.

Já li todos os diários da tia Cisa, sei quem traiu e quem amou. Também li os livros que o Dragon me deu, foram interessantes, me tirou um pouco do tédio. Sim, tédio.

Hogwarts já estava aberta desde setembro e todos estavam ocupados demais e não ligava muito para isso, só me sentia solitária.

Acabei me acostumando a ter pessoas em minha volta e era estranho quando não tinha mais nada além de livros e meu diário.

Mas sabia que todas as crianças estavam em suas devidas casas e o chapéu era muito mais fofo do que pude imaginar. Adoro chamá-lo de "Senhor Seletor", ele fica todo envergonhado.

Mas nenhum Merlim apareceu, isso era um pouco triste...

Juntei as cartas que estavam espalhadas na minha cama e as coloquei na bolsa novamente.

Meus dias aqui já estavam acabando e acho que era melhor assim.

Levantei-me da cama, indo até a minha mesa e vejo a última coisa que escrevi no meu diário. Um diário que agora tem um feitiço que ninguém além de mim, pode tocar, aqui contém tudo, até as minhas lágrimas.

Já tinha feito os meus experimentos e pedi ajuda dos duendes para me ajudarem, e eles me ajudaram com muito prazer.

Claro, tive que pagar uns cinquenta galeões, mas isso não é nada. Pelo menos consegui completar tudo que queria fazer.

Entretanto, fiz os experimentos com as imperdoáveis, apenas duas delas, já que a maldição da morte não precisava ser testada. Todos sabiam o que essa maldição podia fazer e eu sabia muito bem...

Alisei os cortes, relembrando de coisas que não queria lembrar, mas tudo bem. São apenas lembranças, elas machucam, mas não podem mais me ferir como antes.

Sentei-me na cadeira e relembro os meus experimentos.

O primeiro experimento foi as imperdoáveis, na verdade, foi com Crucius e ele me deu muita dificuldade.

Em apenas dois dias matei dez pessoas, a metade morreu e a outra metade ficou em estado vegetativo. Os duendes me ajudaram a entender que precisava achar a intensidade adequada.

Mas quem disse que consegui de primeira? Toda vez que proferia o feitiço, via Potter na minha frente e só queria matá-lo...

Acho que isso era normal, bom, consegui realizar o primeiro experimento e deu certo. Crucius fazia realmente os nervos voltarem ao normal.

Foi estranho ter que sequestrar pessoas para fazer essas coisas, mas não me importei e ainda não me importo.

Para conseguir realizar o procedimento do Crucius, precisava de pessoas com deficiência, mas isso era fácil. Apenas tinha que deixá-los deficientes e no final tudo deu certo, menos os gritos, aqueles gritos eram horríveis.

Teve um que até tentou morder sua língua para se matar, mas não conseguiu e aquelas pessoas valeram um bom preço, já que tinha mais de 100 pessoas naquele lugar que os duendes me emprestaram.

Era um galpão espaçoso e ficava em um lugar totalmente isolado, mas era o lugar perfeito para fazer essas experiências.

As pessoas que consegui reabilitar os seus movimentos foram vendidas e as que morreram, bom, sua carne foi vendida. Nessa época, as pessoas comiam de tudo, tudo mesmo.

Bom, Imperius foi o mais fácil, só tinha que entrar na cabeça de qualquer pessoa e destruir a sua mente.

Porém, quando destruí, usei Imperius e a própria pessoa refez sua mente, algo que foi muito satisfatório.

Virei a página e alisei os desenhos dos homens, queria uma câmera fotográfica, seria mais prazeroso do que os meus desenhos.

Mas, tudo bem, pelo menos lembrarei de como os nomeei. Cada pessoa tinha um número em sua testa e os que tinham mais de dois números, eram os que gritavam mais. Foi divertido marcar aquelas pessoas como gado.

Contudo, gostei mais do número dez, ele era bastante comportado e não ligava para nada do que fazia com ele. Não gritava, não chorava, ele me fazia lembrar de uma pessoa. De mim.

Acho que foi por isso que refiz suas memórias, o curei e o deixei ir e esperava que ele não se lembrasse de nada, mas se lembrasse, nada aconteceria comigo.

O segundo experimento que fiz foi com os abortos, tinha que testar algumas poções e ainda bem que fiz isso, ou acabaria matando pessoas.

Já que de dez poções, apenas duas estavam boas o suficiente, as outras pareciam ótimas, mas acabaram destruindo o núcleo de oito pessoas e elas acabaram morrendo por insuficiência mágica.

Os duendes me ajudaram a fazer novas poções e só tive que pedir mais sangue para Salazar e ele me deu sem perguntar o motivo daquele pedido.

Entretanto, tive que mostrar a fórmula para os duendes para me explicarem o que fiz de errado e eles fizeram.

Coloquei sangue do basilisco demais e meu sangue de menos, mas nem reparei nisso e bom, pelo menos fiz esse experimento antes.

Contudo, os dois abortos que conseguiram magia tive que ficar com eles por algumas semanas, para ver se acontecia alguma coisa. E felizmente não aconteceu e os matei depois de comprovar que nada aconteceria.

Virei mais uma vez a página e lá estava o resultado dos novos experimentos.

Depois que refiz as poções, tive que sequestrar mais abortos e nessa época eles quase não existiam com abundância, mas consegui achar alguns e eles ganharam sua tão aclamada magia...

Que pena que não puderam usufruir como sempre desejaram.

Pelo menos eles não foram vendidos e usados para algo que não quero nem imaginar, afinal, sou uma boa pessoa.

Mas o mais interessante dessa poção, era que só podia fazer uma poção de cada vez, devido ao sangue do basilisco.

Ele é algo corrosivo e isso acabava com os caldeirões, mas por algum motivo, meu sangue gostava do sangue de basilisco, e devido a isso, o meu sangue não destruía os caldeirões.

Queria saber o motivo disso.

Passei mais uma vez a página e tinha os dois experimentos que fiz comigo, o Crucius e o Veritaserum, já que não dava para testar aquele novo feitiço da Horcrux comigo ou com outros, já que se desse certo, eles viveriam para sempre.

Tinha chances altas de fracassar, mas também tinha chances altas de acabar fazendo duas pessoas se tornarem imortais.

Algo trágico demais para mim e para os meus planos, então não, não irei fazer esse feitiço.

Irei à sorte, só esperava que o little lord realmente se apaixonasse e a outra pessoa também, ou algo terrível aconteceria.

E claro, não faria os outros dois feitiços de Horcrux, então deixaria isso para uma ocasião melhor.

Porém, o primeiro teste comigo foi com o Crucius e tive que induzir uma das pessoas que estavam presas a usar esse feitiço.

Nas primeiras vezes não deram muito certo, mas nas outras... Só queria que acabasse e me deixasse ali.

Foi torturante e queria dormir para esquecer a dor, esquecer das lembranças de quando o vovô usava esse feitiço em mim. Odiava me lembrar dessas coisas, me fazia sufocar.

Entretanto, agora é passado e não vai acontecer mais, assim espero...

Esse experimento deu certo e não sinto mais dor e isso era uma grande conquista, os dias de dor valeram a pena.

E sobre a poção da verdade, foi gratificante não ter que vomitar sangue ou algo do tipo, mas escrevi tudo que os duendes podiam me perguntar.

Nos primeiros dias tentei usar Oclumência, mas não deu certo e sempre falava. Então tentei usar magia negra, mas também não consegui e, se estivesse no ministério, não poderia usar magia.

Então, depois de dias tentando o meu melhor, comecei a me drogar, fiz seringas e com elas, apliquei a poção em minhas veias. Aquilo queimava tanto que era quase pior que levar Crucius.

Teve dias que simplesmente apaguei e não acordei por dias ou horas. Ingerir era uma coisa totalmente diferente do que injetar essa poção diretamente na sua veia.

Era doloroso.

Mas não desisti, não podia desistir, não queria estar nas mãos daquelas pessoas novamente.

Deveria proteger ainda mais as minhas memórias, mas não me importava muito, elas estavam protegidas devido a minha mãe. Então ninguém conseguiria acessá-las.

Bom, depois de semanas me drogando, consegui burlar a poção. Escrevi novas perguntas e todas elas fingiam não poder falar ou falava mentiras que pareciam convincentes.

Então, sim, consegui vencer essa poção da verdade, mas do meu jeito. Como sempre.

Fechei o diário e fiquei olhando para ele.

Também descobri que meu sangue não vai me matar, então não preciso de poções para desabilitá-lo e sobre ele ficar vermelho era bem simples.

Apenas precisava pensar na cor que queria que ele ficasse e se desmaiasse, ele iria se adequar a melhor cor para o momento. Simples, não?

Mas se fosse simples, já teria o motivo do meu sangue ser assim, de ter essa marca nas minhas costas, da cobra ter falado ou de como ela sabia que Salazar roubou o núcleo. Tenho tantas perguntas ainda...

Um livro caiu no chão e levantei minha cabeça para ver o que aconteceu para esse livro cair. Havia colocado um feitiço nas estantes para nenhum livro cair. Será que o feitiço não deu certo?

Levantei-me da cadeira, indo até o livro e quando me abaixei para pegá-lo, ele se abriu, me mostrando algo que estava procurando há anos.

Era sobre minha marca ou tatuagem, mas prefiro chamar de marca. Peguei o livro do chão, caminhando até a cama e me sentando nela, quase me deitando.

Sempre pensei que a minha maldição fosse algo que acabei tocando, ou lendo algo amaldiçoado em alguma época da minha vida e acabei esquecendo por algum motivo.

Mas, se for considerar o que estava escrito aqui, então, não. Não foi minha culpa, necessariamente.

Foi da minha mãe.

Ela traiu realmente o papai? Devo chamá-lo de papai? Quem era o meu pai? Ou não sou filha de nenhum...

Não, se não fosse filha de Byella Avery, o livro teria me falado quando escrevi o meu nome nele, mas ele mudou para o meu verdadeiro, quase verdadeiro.

Porém, não faz sentido, posso ter sido adotada e não sei, mas que confusão.

Será por isso que eu tinha aquelas barras oblíquas? Com certeza.

Isso parecia mais real do que tudo, não sou filha do meu pai... Devo começar a chorar, ou começar a procurar meu verdadeiro pai?

Será que realmente sou filha de Dumbledore? Não, mamãe odiava muito aquele velho e ela não iria para o passado e transaria com ele. Então, quem? Mínima ideia.

Bom, o livro dizia que o vira-tempo em minhas costas era devido a uma junção. Uma junção de uma pessoa do passado com uma do futuro e aí nasce uma criança com a maldição do tempo.

Então, se eu tiver uma família e acabar engravidando, os meus filhos também terão esse sangue e o vira-tempo em suas costas, como se fossem gados sendo marcados por uma maldição.

Que alegria... Queria pegar o Deus/Deusa do Tempo e matá-lo.

Respira e não pira, você só está na primeira página ainda, tem várias...

Você não pode surtar como antes, você é uma pessoa mudada, com capacidade mental o suficiente para não destruir o seu quarto. Isso, boa garota, você está indo bem, Leesa.

Voltando ao assunto, o vira-tempo era devido a minha mãe que no final traiu o meu pai indo para o passado fazer alguma coisa, mas o meu sangue negro era exatamente por isso, era devido minha mãe e porque fui gerada no passado. Sou uma pessoa amaldiçoada por causa dela.

Mas, a cobra era um assunto diferente e isso me deixava confusa e com dor de cabeça.

A cobra era do meu juramento, um juramento de herdeiro. O que isso significava?

É que fiz um juramento com o próprio Lorde das Trevas e não com a minha mãe... Mas, não lembro de ter feito isso e só me lembro de ter feito o juramento de magia com a minha mãe quando era uma criança.

Foi isso que fiz, não foi? Então por que aqui está dizendo que não? Até o motivo do meu sangue gostar do sangue basilisco era por causa desse juramento.

O que não faz nenhum sentido, já que o meu sangue não tem nada a ver com o juramento, ou tem?

As páginas começaram a se virar e ela parou onde eu queria, na resposta da minha pergunta não falada.

A cobra precisava de sangue e ela gostava muito de sangue parecido com o de seu dono, vulgo, Lorde das Trevas.

Mas isso também não fazia sentido, já que o Lorde não tem sangue de basilisco em suas veias, ou isso era por que ele falava com cobras?

Posso tentar isso com Salazar, já que ele é ancestral do little lord, e sempre uso Salazar para as coisas mais estranhas...

Volto a ler e percebo que meu juramento não era apenas por alma, era por alma, magia, sangue e corpo. No final, estaria fodida se pensasse por um milésimo de segundo não fazer o que sou obrigada a fazer.

Nunca poderia ter fugido com Dragon, nunca poderia ter ficado com a titia e nunca, em hipótese nenhuma, poderia ficar aqui.

Eu só podia seguir um caminho, nunca poderia seguir caminhos que nunca me levariam a uma pessoa. A ele, ao Lorde das Trevas.

Posso fazer desvios, mas no final... Essa marca em minhas costas sabia que eu estava no caminho certo e sabia de minhas intenções, por isso que não morri ainda.

Queria chorar, mas isso não vai resolver que em algum momento da minha vida, um momento que não me lembro, acabei fazendo um juramento com o Lorde sem nariz e isso me impedia de tudo, mas, e se não impedisse?

O juramento dizia para salvá-lo, isso deve estar certo ainda, não é? Devo confiar nisso ainda, ou não?

Já nem sei mais, em poucos segundos descobri que não sou filha daquele homem e sofri por anos na infância por puro egoísmo da minha mãe de continuar acobertando sua traição.

Nem me parecia com aquelas pessoas, nem para fazer um feitiço ela conseguiu. Acho que estou entrando em uma crise existencial e as odiava.

Vamos lá, não comece um escândalo, Leesa. Você já sofreu coisa pior, saber que seu pai não é seu pai e seu avô que te maltratou da pior maneira que você se lembra... Não é nada.

Continuei lendo e vejo que o motivo do vira-tempo ter brilhado era porque estou no passado e estou fazendo tudo que... Que já fiz antes...

Peguei o livro e o joguei longe, se não ler, quer dizer que não é verdade.

Estou em uma merda de loop temporal? Sempre irei morrer, renascer e esquecer que um dia já fiz tudo aquilo antes?

Sempre verei Dragon morrer, me despedir do Scorpius, me despedir da titia e nunca dar uma chance a Salazar?

Então, o que preciso fazer? O que preciso fazer para não acontecer isso? O que fiz na minha vida passada que me fez voltar?

Não salvei o Lorde...

Tudo se resume a ele, tudo se resume a salvá-lo e desde o começo da minha vida é tudo ele, ele, ele, ele, ele, ele, ele.

Quero que ele se exploda!

Pensa, por favor, pensa, você só precisa salvá-lo e depois você pode ir embora.

Isso, você só precisa que ele sobreviva até 1998 e depois... Depois você pode fazer o que você quiser, entendeu, Leesa? Sim, estou falando comigo em terceira pessoa, isso me relaxa.

Já era o meu terceiro surto em menos de trinta minutos e olha, acho que estou melhorando nisso, não destruí um quarto, não tentei retirar as minhas memórias ou pensei em pessoas morrendo.

Estou apenas chateada e brava, isso é um bom sinal, não é?

Faço minha magia pegar o livro, o abrindo onde havia parado.

Agora iria ler sobre a cobra e o motivo dela não estar girando mais.

Mas era simples, era porque estava demorando no passado em vez de fazer o meu juramento, mas ela não fala mais, porque ela precisa de sangue mágico para falar e prefere sangue ofidioglota para falar por mais dias.

Como falei, Salazar será uma ótima cobaia novamente.

As páginas se passaram novamente e lá estava a minha última pergunta, como a cobra sabia sobre o núcleo que Salazar roubou, e a resposta era... Sangue.

A cobra precisa de sangue mágico para falar e devido a isso, ela tem uma ligação com o corpo por pelo menos cinco minutos e ela saberia de tudo. Até mesmo se o núcleo da pessoa foi roubado.

E devido a isso, tudo se unia perfeitamente.

A minha magia sentia saudades de uma pessoa, mas essa magia está ligada ao meu sangue e o meu sangue está ligado ao meu corpo e... O meu corpo está ligado ao juramento e o juramento está ligado a pessoa que a minha magia sente falta.

Tudo se resumia a ele, ao little lord.