Bem que você poderia me dizer quem é o nosso pai, não é? Não teria tanta dor de cabeça e não desconfiaria de cada homem que passará por mim em 1935.

Mas sei que ela não vai me contar, não essa Leesa. Talvez a primeira me conte ou acabe descobrindo sozinha.

Ou talvez apenas esqueça que tenho um pai que provavelmente nunca soube de mim, ou soube e não quis me assumir.

Tanta coisa para fazer.

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Eu era uma boa peça de xadrez e fiz tudo com perfeição na primeira vida, a fiz voltar a ficar com o nosso pai, o nosso verdadeiro pai.

Era isso que a Byella queria e fui tão ingênua. Mas não se preocupe, podemos matar ela, podemos até mesmo matar a nossa avó.

Você deve estar se perguntando, se fizermos isso, deixaremos de existir, não é? Não, não vamos.

Leesa, nós não existimos.

Fomos para um passado que não deveria existir nenhuma Leesa Avery. Somos uma pessoa inexistente no mundo, mas podemos ser lembradas, mas isso não significa que existimos.

Isso pode doer, não sei quantos anos você tem, mas sempre teremos quinze anos.

O que isso quer dizer? Se você também foi para o passado com quinze anos, você "morreu" no futuro e virou um fantasma no passado.

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Respirei fundo e tento de tudo não jogar esse diário na cabeça da pessoa que o escreveu e não, não fui eu. Então, irei até a maldita realidade dessa pessoa e jogarei esse diário na cabeça dela.

Talvez, talvez mesmo, ela coloque os miolos de sua cabeça no lugar.

Vamos, Leesa. O que falei em ser concisa?

Como você pode escrever que não existo? O que sou? Um livro? Me poupe.

Vamos tentar entender o que você quer me dizer, porque não sou inteligente o suficiente para entender enigmas e palavras jogadas em um papel. Não sou Rowena.

Vamos por partes, sim?

Leesa, as duas, provavelmente não sabiam que elas nunca iriam voltar para o passado de sua realidade, mas, sim, ir para outro.

Vamos colocar números para ser mais fácil, estou na realidade 14 - lembrando, estou na 8.

A minha verdadeira realidade é a 13, aquela que conheci Dragon e a minha família. Bom, tem a realidade da titia... Talvez aquela seja a 12 ou é a que estou, a 14.

Continuando.

O que a ameba está tentando dizer é que, como fui para um passado/realidade, que não existo. Porque nasci em 1991 e estou em 993, então para o tempo não existo.

Mas aí vem o "X" da questão, e se eu passar de 1991? Não voltaria a existir? Não, porque estou em uma realidade diferente da minha verdadeira.

Por isso que posso matar a Byella e a Laverne, porque nessa realidade ainda não existo e não existirei. Sou uma intrusa que o tempo ainda não descobriu e não vai.

Não existo.

Mas se ela sabia disso, por que fez Horcrux? Provavelmente não sabia disso quando a fez.

Posso até mesmo matar a Leesa que eventualmente irá existir nesse mundo.

Mas se eu fosse para a minha verdadeira realidade e matasse as três, iria sumir. Porque lá existo, mesmo se fosse matar a Laverne em 1945, um ano em que nem tinha nascido ainda.

Porém, no meu futuro que virou o meu passado, já existo... Porque não tem como mudar algo que já aconteceu, mas podemos trocar de realidade e mudar algo que vai acontecer.

E uma pessoa que não é dessa realidade pode mudar o passado e reescrever o futuro.

Odeio viagem no tempo, manda essa merda de lógica se foder.

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Seu corpo irá parar de crescer, de evoluir. Mas não se preocupe, você pode tomar a poção da vovó, ela tem um gosto nojento, mas é melhor que nada.

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Vou, vou, sim, como se quisesse engravidar em menos de cinco segundos.

Dai-me paciência, você deveria ter se perguntando o motivo da nossa avó ter criado essa poção.

Bom, pensando por esse lado. A vovó queria essa poção para engravidar mais rápido por qual motivo?

Espero que 1935 tenha essa resposta.

E bom, pelo menos fiquei na minha verdadeira realidade até os meus vinte e oito anos. Então, a poção que tomarei, vai me fazer envelhecer até os vinte e oito, depois disso continuarei exatamente igual.

Alguma coisa de bom tinha que sair disso tudo.

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Somos um fantasma, Leesa. E não importa se matamos nossa avó ou nossa mãe, ou até mesmo se matamos o nosso pai, o verdadeiro. Continuaremos não existindo.

Mesmo se passarmos de 1998, continuaremos exatamente iguais. Somos quase imortais, não iremos envelhecer, morrer por veneno ou algo do tipo.

Mas podemos morrer devido ao Lorde, podemos morrer devido à espada, então fique longe dela.

Você é de verdade, você é humana e sentirá frio, medo, tudo. Você é real, mas não existe no passado. Compreende? Ou minhas palavras estão dando voltas em sua cabeça?

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Suas palavras são confusas demais para compreender com um QI normal, mas, se eu começar a raciocinar corretamente, consigo entender o que você quer dizer com suas palavras estranhas.

Viagem no tempo é uma bosta.

Agora, Leesa. Diga-me o real motivo de você ter feito o juramento, me conte tudo, ou não conte nada.

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Espero que você tenha entendido, mas você deve estar se perguntando o motivo de eu ainda ter as minhas memórias e de você futuramente também as ter.

Isso é devido ao feitiço proibido. Não é um feitiço, é mais como um pedido, uma oferenda ao deus do tempo.

O feitiço estava em um templo antigo na Albânia e nele dizia que a única coisa que o Deus do Tempo poderia querer em troca, era o sangue do nosso corpo. Nossa vida.

Mas como já estava morrendo, ter o sangue negro drenado não seria de tão ruim.

Porém, quando estava fazendo isso, sentia o meu vira-tempo coçando e doendo. Ele nunca fez nada, mas naquele momento fez.

Você tem o vira-tempo em suas costas? Em minhas duas vidas o tive, mas na minha primeira vida não me importei para saber o seu significado.

Mas nessa segunda vida quero saber de tudo. Sobre o meu sangue, a cobra, o vira-tempo. Tudo.

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Sim, tenho o vira-tempo, mas ele nunca ardeu ou coçou, apenas brilhou.

Você não encontrou uma resposta para isso? Ou você encontrou e em vez de escrever naquele livro, você escreverá aqui?

Tenho que esperar quantos anos para poder finalmente saber essa resposta? Espero que seja pouca, odeio esperar.

Agora você poderia me dizer o motivo de você ter feito o juramento com o sem nariz?

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Espero que você conheça a Melissa, mas se não conhecer, tudo bem. Ela não poderá mostrar as memórias que mostrei a ela.

Ela poderá te ajudar a entender algumas coisas do meu passado, mas tem coisas que ela não vai contar, e existem dois motivos.

O primeiro motivo é que ela não viu toda a minha vida, mesmo estudando em Hogwarts e morrendo aqui. Ela não sabe sobre o meu feitiço proibido ou do meu juramento.

E o segundo motivo, é que pedi a ela para não contar se eu eventualmente morrer.

Quero que você entenda e compreenda o mundo do seu modo, sem intervenções de lembranças do meu passado, quero que você faça o seu futuro e quero que você seja feliz. Quero que você faça tudo com calma, diferente de mim.

Estou presa no passado devido ao pó de vira-tempo, mas não tem problema, consigo sair daqui, mas o problema é que quero sair o mais rápido possível e me encontrar com ele. Meu marido.

Deveria fazer várias coisas aqui, deveria conversar com os duendes, tentar destruir a espada que Godric planeja ter.

Mas, não consigo. Quero sair daqui o mais rápido possível e não pensar nas consequências.

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Ok, entendo sobre isso. Deve ser difícil amar alguém e querer estar com ela o mais rápido possível.

E não estou ligando muito para as consequências que o mundo terá, mas me preocupo com as consequências que terei.

Por isso que sempre penso em vários jeitos de fazer uma coisa simples, tenho que ver se aquilo trará consequências para mim e se for para o mundo, não ligo muito.

Sou diferente de você, Leesa. Mesmo sendo a mesma pessoa, somos diferentes em pensamentos e caráter.

Você quis vingança devido aos seus pais, mas quis vingança pela minha família. Você fez esse feitiço estúpido por amor, mas não faria um feitiço desse tipo.

Respeito a sua decisão, respeito você ter feito esse feitiço para continuar com o seu amado. Mas você se prendeu ao Lorde.

E agora como você morreu, porém, quem está presa a ele, sou eu.

Você deveria ter pensado nas consequências que trariam para você, e não para o mundo ou para o seu amado. Deveria ter pensado primeiro em você e depois nos outros.

Deveria ter sido egoísta, deveria ter sido hipócrita e uma vadia purista.

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A última coisa que escreverei nesse ano é sobre o juramento. Não fui eu que o encontrei, foi o Lorde.

Ele o encontrou em algum momento quando estávamos no quinto ano. Lembro que estava empolgado e disse que aquele juramento seria algo que poderia nos ajudar a vencer a guerra que se aproximava.

Então fiz.

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Por quê? Por que você fez esse juramento? Você tinha o direito de dizer não.

Olha o que você fez!

Você destruiu a minha vida...

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Jurei que iria salvá-lo e ele jurou que sempre me ajudaria...

Não sabíamos na época se havia dado certo ou não, mas descobrimos isso em 1998. O salvei e ganhei a cobra, mas não sei se ele ganhou alguma marca, talvez também tenha uma cobra.

Leesa, com certeza apagarei as suas memórias se eu morrer, então, apenas saiba de uma coisa.

Vamos fazer justiça, você quer isso, não quer? Você não quer justiça para esse mundo? Você não quer ver a glória que o mundo terá quando o Lorde for o único dono desse mundo?

Vamos fazer justiça, Leesa. Afinal, quem faz a justiça são os vencedores.

Alia-se ao Lorde e você será invencível. Seremos invencíveis.

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Comecei a rir pelas últimas palavras dessa mulher.

_ Não, querida. Sou invencível por conta própria e farei a minha própria história. Não será você e suas memórias, o Lorde com esse juramento e feitiço, ou o mundo, que irão me impedir de conseguir o que quero.

Fecho o diário e fico observando o feitiço, o feitiço que está me prendendo ao Lorde. Que grande bosta!

Agora preciso pensar se quero matar a minha avó também, uma pessoa que nunca conheci na vida, bom, penso isso depois.

Abro a bolsa que estava ao meu lado e coloco o diário nela, vendo algo de relance.

Era o vidrinho de memórias do Dragon e não verei essas memórias. Nunca.

Elas continuarão no fundo da minha bolsa. Apenas quero me lembrar dele como um irmão carinhoso e amoroso.

E não como uma pessoa que me amou tanto que ficou na frente daquele feitiço. O amo, mas não do jeito que ele queria.

Sinto muito, Dragon. Mas não verei as suas memórias e não aceito os seus sentimentos, não nessa realidade.

Baguncei os meus cabelos e olho em volta, preciso arrumar a bagunça desse quarto e vê se estou esquecendo de algo.

Afinal de contas, os presentes dos meus amigos já foram entregues e isso quer dizer apenas uma coisa. Adeus