4 de janeiro de 1927:
_ Eu te amo, por favor, não me abandone mais uma vez. - Uma voz melodiosa entrou pelos meus ouvidos e me fez arrepiar.
_ Sua burra! - Gritei enquanto chorava. _ Você teve duas pessoas, duas pessoas se declararam para você como se o mundo fosse acabar no minuto seguinte. - Meus soluços não queriam cessar e Vinda me entregou alguns lenços, mas também estava chorando.
_ Marietta, não a amo. - Sabia! Ele sempre a maltratou.
_ Por quê? Por que ela não consegue enxergar a mulher maravilhosa que ela é? Ela poderia ficar com o Daniel ou com o Nicolau. - Falou enquanto olhava o rádio que estava passando o nosso mais novo passatempo. Novela.
Mas não é uma novela qualquer, é sobre a Marietta, uma pessoa que fez tudo de ruim para a vida das pessoas, mas quando iria se desculpar com a sua família por todas as atrocidades que fez.
Acabou sofrendo um acidente de navio e no mesmo segundo, se arrependeu por não ter tempo para se desculpar com todos.
Porém, como se o destino estivesse zombando de sua vida medíocre, ele a faz retornar alguns anos no passado e com essa oportunidade, se tornou uma pessoa melhor.
Mas quem disse que a "boazinha" iria deixar isso acontecer? Os papéis foram trocados, a vilã virou a mocinha, mas que ninguém levava a sério, mas a mocinha virou a vilã, a pessoa que todos idolatrava.
Esperava que essa idiota morresse!
_ Nós, mulheres, preferimos aqueles que nos maltrata, que não está nem aí para nós. - Tento secar as minhas lágrimas.
_ Diga-me, Pierre. O que posso fazer para você me amar?
_ Marietta, não me coloque em uma situação dessas, não posso amá-la, já que amo outra. - Vinda soltou um suspiro incrédulo.
_ Aposto que é a Vanessa. - Concordou. _ A mocinha sempre tem o coração...
_ Quem, quem você gosta? - Marietta perguntou com a voz falha.
_ Diana. - Meu queixo caiu e Vinda não sabia o que fazer, se chorava ainda mais, ou gritava. _ Amo a Diana.
_ A madrasta? - Gritamos, até a protagonista gritou junto.
_ Talarico! - Gritei para o rádio. _ Como pode querer a esposa do seu pai?
_ Nunca imaginaria isso acontecendo. - Entregou-me alguns doces e mordi um deles.
_ Ela não é apenas a minha madrasta, ela já foi a minha ex. - O doce caiu da minha boca, e tivemos que nos levantar pela revelação bombástica.
_ O quê? - O pai que era o talarico?
_ Como isso é possível, Pierre? Diana é apaixonada pelo seu pai. - Faço de suas palavras as minhas, Marietta.
_ Diana iria se casar comigo, mas... - O chiado se fez presente no cômodo. _ Voltamos amanhã com o próximo capítulo de "Amor ao Sol".
_ Filho de uma... - Gritei tentando quebrar o rádio, mas a Vinda me segurou. _ Como ele pode terminar a novela assim? Ele iria contar algo mais surpreendente que ser apaixonado pela mulher do pai.
_ Essa novela quer nos matar do coração. - Deu batidinhas no peito. _ Uns segundos atrás estávamos chorando pela morte do pai da Marietta... - Secou as lágrimas. _ Ele não merecia aquele final, ele era tão bom.
_ Até o cachorro tentou entrar na frente para proteger o seu dono. - Sentei-me tentando não chorar. _ O Dodô morreu em vão. - Sentou-se e concordou.
_ Agora, em vez de chorar. - Observou o rádio que informava as notícias do dia. _ Estamos com raiva e curiosas. - Comeu um dos biscoitos.
Não estávamos ouvindo novela feita na França e sim, feita em Londres. Ainda não entendia muitas coisas que os franceses diziam e por isso que não colocamos na estação francesa.
Bom, com um pouco de magia e isso se tornou realidade.
_ Não posso ficar mais aqui, tenho que ir. - Não queria ir, queria ficar aqui e esperar até amanhã para saber qual era o motivo do Pierre amar a Diana.
_ Mas... - Ficou triste, mas pegou minhas mãos. _ Tudo bem, entendo que você precisa ir para o lugar que você disse que deveria ir. - Deu batidinhas na minha mão e observei aquilo. _ Mas sentirei saudades, é chato viver em uma casa que a maioria são homens. - Fez uma careta.
_ Mas existe a mulher que quer transar com o papai. - Fingiu vomitar.
_ Ela não tem classe. - Sorrimos. _ Quando você voltará?
_ 1935.
_ Nove anos, por nove anos não poderei mais ver você. - Alisou meu rosto. _ Sentirei saudades, mon bijou. - Mesmo fazendo isso como se fosse uma obrigação, não sentia isso.
Sentia que ela gostava realmente de mim, que realmente sentiria saudades de mim.
Segurei sua mão e a abracei, seu corpo ficou rígido por alguns segundos, mas logo me abraçou de volta, me fazendo constatar que era quentinha e macia.
Beijou o topo da minha cabeça e sorri pelo ato.
_ Você quer algum presente? - Alisou os meus cabelos. _ O seu pai me contou que você irá para Hogwarts, então, o que você quer como presente? - Sua voz era tão calma que senti vontade de dormir.
_ Precisarei de um bichinho em Hogwarts, se você quiser me dar alguma coisa, irei agradecer. - Deve ter concordado.
_ E-eu... - Gaguejou. _ Quando você voltar, poderei visitá-la?
_ Claro, você pode me visitar a qualquer momento. - Gosto de você, Vinda.
Era o que queria dizer, mas não falei, talvez só esteja criando uma história em minha cabeça e tudo isso não passasse de uma fantasia. Talvez ela nem gostasse de mim.
_ Você sabe o mês que você irá aparecer? - Sua voz... Gostava de sua voz. _ Não quero ficar batendo à porta daqueles trouxas.
_ Acho que agosto, o que acha? - Riu e a sinto concordar.
_ Contarei os dias para poder te ver novamente, mon bijou. - Esperava que essas palavras fossem verdadeiras.
Separei-me dela, a fazendo crispar os lábios.
_ Voltarei antes que você perceba.
_ Espero que sim. - Suspirou e se levantou, mas falei:
_ Antes de ir, você sentiu alguma coisa quando tocou o meu anel? - Já tinha tempo que as pessoas tocavam minha mão e não sentiam nada.
Mas não percebi isso, apenas percebi agora com a Vinda com os dedos tão próximos do meu anel.
Lembrei de todas às vezes que as pessoas seguraram a minha mão e não sentiram nada. Salazar, papai e agora Vinda.
_ Não, por quê? - Aproximou-se e peguei a sua mão, a fazendo encostar no meu anel.
_ Sentiu algo?
_ Não. - Soltei sua mão e fiquei pensando no motivo, mas a única coisa que veio na minha cabeça era sobre o meu sangue.
Ele conseguiu fazer o que eu queria, mas acabou anulando o feitiço que tinha aqui. Felizmente o meu vira-tempo estava intacto e esperava que continuasse assim.
Porém, será que existia apenas esse feitiço no anel? Como descobrirei isso?
Não quero pensar nisso, dessa vez seguiremos o fluxo do destino.
_ Bom, vou deixá-la a sós, odeio despedidas.
_ Não mate aquela mulher, não suje as suas mãos com uma pessoa insignificante.
_ Será você quem irá sujar? - Cruzou os braços.
_ Minhas mãos estão sujas o suficiente para me importar com algo assim. - Estalei os meus dedos e todas as roupas que comprei foram direto para a bolsa.
_ Às vezes me esqueço que você não é uma pessoa comum. - Observou-me pela última vez. _ Tome cuidado em sua jornada, mon bijou. O caminho que você irá percorrer não é como você deve estar imaginando. - Saiu do quarto e sorri pelas suas palavras.
_ Nunca imaginei que o meu caminho era um mar de rosas, Vinda. Ele nunca será. - Suspirei e lembrei da descoberta sobre a minha família.
Estupro...
Quem diria, não é? Ainda repenso nas palavras que falei sobre o meu avô, o chamei de tantas coisas infantis apenas por escutar uma única versão.
Ele sempre foi a vítima, mas aquela mulher, a pessoa que me colocou no mundo me manipulou tão bem, que me ceguei diante de suas palavras e lágrimas.
Tive pena dela, era tão ingênua e infantil. Queria voltar no tempo e dizer para não acreditar nela, para não sentir empatia pelas suas lagrimas e palavras sofridas.
Não podemos confiar em ninguém e aquele sentimento de desconfiança de antes está tentando voltar. Já tinha esquecido desse sentimento, esqueci ele com o Dragon...
Ri e belisquei o meu braço para ver se a dor pararia esses pensamentos. A dor sempre me ajudava, acho que passei a gostar um pouco dela... Não, ainda odiava sentir dor causada por outros.
Levantei-me e olhei para as duas coisas que estavam em cima da cama com a minha bolsa.
Era a poção que deveria tomar, a poção que me faria uma pirralha de dez anos, que me faria retroceder. Finalmente!
Porém, antes de tomar essa poção, precisava ir ao Gringotts, realmente quero ter a casa em Hollow seguindo a lei e não posso aparecer como uma criança naquele banco.
Um tempo que sequestrar crianças era muito fácil e a guerra já estava se aproximando. Aquele tempo era tão difícil.
Pego a poção e a coloco na bolsa, examinando pela última vez o quarto que passei alguns dias. Provavelmente quando o papai voltar, não será mais essa casa e sim, outra.
Ou ele vai para Nurmengard.
Tanto faz, não vou morar com ele mesmo. Pego a bolsa e a deixo atravessada no corpo, vendo se estava esquecendo alguma coisa e não, não estava.
Arrumo a alça da minha bolsa, pegando a chave de portal que me levaria para Londres novamente, mas o tempo que passei na França foi interessante.
Ativo a chave de portal e desapareço daquele lugar, aparecendo em um beco qualquer.
Acho que estou passando a gostar de becos e na maioria das vezes sempre estou em um.
Dou de ombros e destruo a chave de portal, ela não iria servir para mais nada mesmo. Olho para o começo do beco e vejo se alguém apareceria, mas ninguém apareceu.
Observo a minha mão e mexo no anel, colocando a última data que iria viajar. Meu coração estava acelerado e minha boca estava seca, estava ansiosa e com medo.
Minhas mãos estavam tremendo um pouco e tive que respirar fundo. Tudo bem, Leesa. Tudo ficará bem.
Eu só preciso tocar o display e desapareceria desse mundo novamente, você consegue. Consigo?
Mordi a luva até que se rasgou devido aos meus dentes, isso não deveria estar acontecendo, deveria apertar esse maldito display e sair daqui.
Então por que o meu corpo está reagindo assim? Você não teve medo de ir para três tempos diferentes, então por quê? Por que estou assim?
Encostei-me na parede do beco e olhei para o céu cinza que não era nada propenso a ter um sol.
Estou com medo? Mas de quê? O que tem naquele tempo que estou com medo?
Corpo idiota! Você tem que reagir, por que você está com medo? O que tem naquele lugar que você não quer ir? Você poderia falar? Então me mostre!
Fico com raiva e aquilo me fez apertar o meu vira-tempo, saindo de 1927.
Escuto uma buzina e abro os meus olhos, vendo vários carros tentando desviar de mim, que grande merda.
Corro indo na direção do passeio e algumas pessoas gritavam, me chamando de louca, mas tentava raciocinar o que estava acontecendo.
Não deveria ser um beco? Não deveria estar em um beco? Por Merlin, quase morri atropelada e de infarto.
_ A senhorita está bem? - Olho para o lado e concordei com a cabeça. _ Londres está muito caótica, não se importe muito, entendemos o motivo de você tentar se matar. - Era só o que me faltava.
_ Ok. - Saio sem olhar para trás e tento passar pela multidão de londrinos.
Estava tão cheio e quente, estava muito quente e odiava calor.
Olho para os lados tentando saber onde estava e não tinha nenhuma placa me indicando o nome da rua, ou algo do tipo.
Preciso sair desse tumulto, urgentemente.
_ Com licença. - Digo passando pelas pessoas. _ Obrigada. - Falo, entrando em uma rua menos movimentada e me sinto aliviada. _ Quero os tempos antigos agora.
Mas falando em tempos antigos, meu cérebro ainda não entendeu que não verei mais Salazar e os outros.
Ele ainda não deu um pane no sistema e me impediu de fazer as coisas, mas sei que ele vai parar em algum momento.
Contudo, enquanto ele não faz isso, continuarei fazendo o que devo fazer e não posso parar a minha vida para lamentar pessoas que já estão mortas há mais de mil anos.
Eles eram importantes, mas a minha vingança é muito mais.
Olho para os lados e aparato no Beco Diagonal, não queria morrer sentada no Nôitibus.
Não deveria ter escolhido agosto para voltar no tempo, agosto era o mês de compras dos alunos e professores. Tão cheio, tão barulhento.
_ Mamãe, quero aquela coruja e não me importo com o preço, eu a quero. - Olho para o lado e vejo uma garota que não deveria ter mais que dez anos, fazendo birra.
_ Levaremos. - A mulher sorriu.
Tão estúpidos.
Continuo andando no meio daquela rua torta com uma multidão estressante, tentando não surtar com o calor e com a falação.
Porém, antes de subir os degraus do banco, meu braço foi puxado para trás, me fazendo bater meu rosto no peito de alguém. Nossa que forte.
Olho para cima e vejo um homem de olhos castanhos e de cabelos pretos ondulados nas pontas.
_ O senhor poderia me deixar ir? - Sorriu de lado e vejo aparecer uma covinha no canto de sua boca.
_ Parece que a senhorita está no mundo da lua e acabaria atropelando aquela criança. - Apontou para a frente e olhei para trás, realmente tinha uma criança de menos de três anos olhando para os lados.
_ E tenho culpa que uma criança de menos de três anos está desacompanhada dos pais? - Riu.
_ Não disse que a senhorita tem culpa, só disse que está no mundo da lua. - Chato.
_ Então, poderia me soltar, tenho mais coisas para fazer.
_ Não me reconhece? Mudei tanto assim? - Deveria conhecê-lo?
_ Irmão Pollux, por que você correu? - Puta merda! Esse é o Pollux? _ Irmão, o que houve? - A menina de tranças castanhas me olhou e ficou surpresa. _ Leesa? Minha nossa, você não mudou nada. - Santo Merlim.
_ Cassiopeia? - Concordou. _ Quanto tempo.
_ Sim, pelo menos uns dez anos, quase dez anos. - Sorriu. _ Como tem estado?
_ Bem. - Retiro a mão do garoto do meu braço. _ Vocês já devem ter terminado Hogwarts, então por que vocês estão no Beco Diagonal no mês que os alunos estão comprando materiais?
_ Irmão Marius e nem a irmã Dorea terminaram os estudos. - Ah, sim, Marius vai terminar os estudos em 1936 e a Dorea em 1938.
_ Bem lembrando, tinha me esquecido.
_ Sem problema, você deve ter feito muitas coisas nesses anos. - Na verdade, não.
_ Apenas o necessário. - Concordaram. _ Foi para a Sonserina? - Pergunto para a Cassiopeia.
_ Sim, e com a ajuda dos meus irmãos conseguimos desvendar as palavras da quinta fundadora. - Como eles descobriram que foram eu?
_ Como vocês descobriram que as palavras são...
_ Por que não conversamos em um lugar mais reservado? - Pollux me interrompeu.
_ Isso, vamos conversar. - Tenho coisas para fazer...
_ Tenho que ir ao Gringotts primeiro, posso encontrá-los...
_ Tudo bem, estaremos na sorveteria Florean Fortescue. Sabe onde é, não sabe? - Cassiopeia perguntou em dúvida.
_ Claro, e acho que é uma boa, estou morrendo de calor. - Olharam-me de cima a baixo.
_ Acho que não devemos usar blusa de lã no calor. - Cassiopeia opinou.
_ Onde estava não estava calor e sim, frio, muito frio. - Não falou nada e logo mais duas pessoas apareceram.
_ Vocês nos largaram sem dizer nada, até parece que viram um fantasma. - A menina loira falou irritada e me olhou. _ Quem é essa? Mais uma pretendente do irmão Marius? Papai não se cansa? - Marius ficou irritado e apertou a bochecha da irmã. _ O que falei de errado?
_ Acho que essa não é uma pessoa qualquer, irmã. - Marius estava muito bonito.
Estava alto, não tão alto quanto o seu irmão mais velho, mas seus cabelos continuavam exatamente iguais e seus olhos o mesmo.
_ O que quer dizer? - Dorea me olhou de cima a baixo. _ Leesa? - Sorri para ela. _ Por Merlim, você não envelhece? Poderia me passar a marca dos seus produtos de beleza? Acho que preciso deles. - Como falo que não envelheço devido à viagem do tempo?
_ Acho que o produto que uso não será útil para o que você quer fazer e tenho que ir, vejo vocês na sorveteria. - Não digo mais nada e subo os degraus do banco.
