_ Você tem uma boa mãe, ela parece amar muito você. - Fiquei chocada e sorri.
_ Acha que ela é a minha mãe? - Concordou. _ Também queria que fosse, mas a minha mãe não é ela, infelizmente.
_ Sabe, não precisa ser mãe de sangue para ser mãe. - Sorriu e me confidenciou algo. _ A considero uma irmã que não verei depois daqui.
_ Não sumirei.
_ Mas é isso que você deu a entender quando mandou o diário por uma coruja, a consideramos muito, Leesa.
_ E já disse que eu...
_ Mesmo se meu pai a pagou, nossa família ainda a considera muito. - A música ficou calma. _ Passei quase a minha adolescência inteira pensando o que aconteceria com a minha família se você não tivesse intervindo, e não gostei de pensar naquelas coisas. - Suspirou.
_ Não sou uma santa.
_ Para a nossa família você é como uma deusa que veio nos salvar. - Vejo um garçom de máscara que passava carregando uma bandeja de um líquido dourado e brilhante.
_ O que seria aquela taça? - Cassiopeia se virou e quando viu a bandeja, fez uma careta.
_ É uma droga para os bruxos se sentirem mais poderosos, ela vicia tanto, que pessoas podem morrer por abstinência. - Ficou me encarando. _ Só é encontrada no submundo e é muito difícil ter condições para ter uma taça, imagina tantas de uma vez só.
_ E onde é vendida isso?
_ Não sei, por quê? - Ficou desconfiada.
_ Apenas me lembrei de uma pessoa que fazia essa droga. - Salazar, não descumpri a minha promessa.
Não procurei essa droga, ela veio até mim de bandeja, literalmente. Devo conversar com o papai sobre onde ele conseguiu essa droga.
A música acabou e os dois vieram até nós.
_ Não quero que você se aproxime daquela pessoa. - Disse quando chegou até nós.
_ Poderia ter me dito com todas as letras e não com os olhos, não sei entender enigmas. - Falei.
_ Não poderia fazer isso com um seguidor, pelo menos a senhorita Black a salvou, iria pedir a Vinda para resgatá-la.
_ Mas viu que a Cassiopeia me salvou e chamou a Vinda para dançar. - Sorri e concordou. _ Os meus pés estão doendo, vamos?
_ Tenho que voltar. - Cassiopeia tentou sair, mas a impedi.
_ Cumprimentarei a sua família. - Sorriu e foi à frente.
_ Antes de ir. - Falei os olhando. _ Por que você está drogando os seus seguidores?
_ Para serem fiéis a mim? - Sorriu. _ Tenho que usar quaisquer meios.
_ Somos tão parecidos. - Até demais. _ Onde conseguiu os núcleos para fazer a bebida? - Estranharam.
_ Mon bijou, como sabe o que tem nessa droga?
_ Segredo. - Sorri ainda mais.
_ Espero que não tenha tomado essa droga, ela ainda não tem antídoto. - Papai me olhou seriamente. _ E matei pessoas e muitas delas tem núcleo mágico. - Olhou em volta.
_ Entendo, poderia me ensinar como fazê-la? - Sorriram.
_ Um dia. - Disseram e não liguei muito.
_ Chame-os para se sentar conosco, será bom ter pessoas que não estão compactuando exatamente com a minha ideologia. - Concordei e fui até os Black.
Algumas pessoas me olhavam e sussurravam, mas não estava me importando com isso.
_ Papai, quero isso... - Cygnus apontou para o camarão.
_ Estou atrapalhando? - Com toda a certeza, não é, Leesa?
Você disse três dias atrás que queria distância deles, até mesmo foi repreendida pela Cassiopeia por mandar o diário em uma coruja, algo que falei que faria.
Mas agora estou aqui, na frente da família Black.
Sou um poço de contradições, só falta me casar com o little lord... Eca, bate na mesa três vezes.
_ Leesa. - As seis pessoas disseram o meu nome e as crianças ficaram me observando.
_ Claro que não. - Violetta sorriu. _ Fiquei maravilhada pelas palavras de seu pai, ele realmente sabe dialogar. - Manipular.
_ Papai ficará muito feliz de saber disso. - Olhei para todos. _ Os convido para se sentar na mesa principal, vocês são os meus convidados e por isso devem ter a melhor recepção possível.
Cygnus e Violetta se olharam, mas Pollux tomou a decisão.
_ Por que não? Vamos? - Levantou-se e fechou o único botão do blazer.
Veio até mim e segurou minha mão com delicadeza e a beijou.
_ Está encantadora essa noite, Leesa. - Sorri.
_ Nas outras não estava? - Largou minha mão e me olhou envergonhado.
_ Não, quero dizer, sim... - Ri, o fazendo me olhar. _ Pareço um idiota, não é?
_ Sim, mas é fofo. - Todos se levantaram e as crianças também. _ Por favor, me acompanhem. - Fui à frente e todos estavam olhando a família Black.
_ Ela conhece a família Black? Como? - Dá para escutar vocês.
_ Eles se deram tão bem, queria estar no lugar deles.
_ Aquele ali é tão bonito, será que é solteiro? - Quem está arrasando corações?
_ O outro não é de se jogar fora, será que peço divórcio e tento me tornar uma Black? - A pessoa riu.
_ Até as crianças são bonitas, a genética Black é invejável. - Isso não posso negar.
_ Por favor. - Mostro as cadeiras para os Black e se sentaram.
Sentei-me ao lado do papai, já que o outro estava ocupado pela Vinda.
Olhei para os lados e vi a Byella conversando com alguém que não conhecia. Estranho, ela está quieta demais, ela aprontará alguma coisa.
_ Black. - Papai sorriu. _ É um prazer conhecer os outros membros da tão estimada família Black.
_ É um prazer conhecer o senhor. - Cygnus falou devagar. _ Essa ao meu lado é a minha esposa.
_ Um prazer conhecê-lo. - A mulher sorriu.
_ A gente você já conhece. - Dorea sorriu e todos a olharam. _ O quê? Odeio cordialidades. - Deu de ombros e começou a comer com os seus irmãos.
_ Desculpe-me, ela ainda é nova demais para entender certas circunstâncias. - Cygnus falou a olhando de esguelha.
_ Não, não tem problema. A senhorita Black é uma jovem encantadora e vejo que ela aprecia muito a minha filha. - Tomo um pouco de vinho.
_ Não só ela. - Cassiopeia o respondeu. _ A nossa família deve muito a Leesa, senhor.
_ Percebo que são quase devotos a minha filha.
_ Acho que a palavra certa seria fiel. - Marius opinou. _ Somos fiéis ao que ela acredita e se ela acredita que o senhor é o melhor para o mundo, então aceitaremos isso.
_ Ela não acha isso. - Comentou e todos ficaram confusos. _ E aposto que ela está me chamando de idiota e cacatua em sua cabeça. - Perdeu a aposta.
_ Gostei do apelido, usarei futuramente. - Cacatua, hilário. _ E realmente não acho que o meu pai seja o melhor, mas até agora é o que temos. - Dou de ombros e como um camarão, vendo Cygnus, não o Cygnus grande, mas... Tenho que arrumar um apelido para ele.
O Cyg estava olhando os camarões e fiquei o observando por alguns segundos.
_ Ele pode comer camarão? - Pergunto para o Pollux que olhou o filho.
_ Pode. - Entreguei o pratinho para ele que ficou animado.
_ Obrigado. - Tinha alguns dentes faltando.
_ Não fique com vergonha, você pode comer o que quiser, entendeu? - Concordou.
_ O que quer dizer com "o que temos"? - Cygnus perguntou.
_ Você acha que poderá ter outro que alcançará a grandeza? - Marius fez outra pergunta.
_ É claro, no mundo sempre existirá uma pessoa com mania de grandeza e o outro com síndrome de herói. E com toda a certeza eles irão se confrontar e outra guerra irá se iniciar. Nada é para sempre, nem mesmo o Lorde das Trevas. - Mas o farei ser para sempre.
_ Você já tem alguma ideia de quem... - Cassiopeia olhou para o meu pai. _ Desculpe.
_ Não, por favor, continuem. Acho interessante como a Leesa fala sobre a pessoa que ela protege, e é admirável ver como os olhos dela brilham apenas por falar daquele homem. - O olhei e fiquei sem entender. _ Você deveria ver o seu rosto, princesinha. Você fica animada quando está falando dele.
_ Mas não estou falando dele.
_ Então você pensou nele? - Desvio o meu olhar e continuo comendo. _ Sabia.
_ Até agora não entendi isso, existe alguém que pode superar o senhor? - Dorea falou coma boca cheia. _ Olha em volta, tem milhares de pessoas aqui, e não imagino ninguém nascendo e superando esses números, essa coisa grandiosa que estou presenciando. - Ela me olhou. _ Existe alguém que pode ultrapassar o seu pai? Os números que estão aqui?
Bebo todo o vinho e olhei para as pessoas que me observavam.
_ Sim, será maior e mais grandioso que isso aqui, mas não terá apenas bruxos lutando, terá seres das trevas lutando ao lado daquela pessoa.
Ficaram em silêncio por alguns instantes.
_ Se a pessoa que você protege conseguiu convencer aqueles sem cérebro, então... - Pollux começou a dizer. _ Não posso virar as costas para essa pessoa e se você acredita nele, acredito em você.
_ Você quer ser o melhor, não é? - Dorea perguntou. _ Vai se fantasiar de cavalheiro de armadura dourada para salvar a princesa em perigo? - Zombou.
_ Papai será um cavalheiro? Vai ter cavalo branco também? - Walburga perguntou animada.
_ Vai, mas não terá princesa. - Dorea deu a língua para o seu irmão.
_ Em casa a gente conversa. - Falou sério.
_ Merda. - Falou baixinho.
_ Se fodeu. - Marius cutucou a bochecha da irmã e percebi que tinha uma pequena trança lateral, aposto que foi a Cassiopeia que fez.
_ Come e cale a boca. - A menina pegou comida e a empurrou a goela abaixo na garganta de seu irmão. _ Não se engasgue.
_ Você quer me matar? - Marius estava vermelho e tossia sem parar. _ Sua louca, vou interná-la no manicômio.
_ Tente e irei atrás de você para vender os seus órgãos. - Adorei ela.
_ Irei a assombrar por toda a sua vida.
_ Como se tivesse medo de fantasma. Mamãe. - Violetta a olhou. _ Devemos cortar a mesada do Marius esse mês, ele precisa ficar de castigo.
_ Sua pirralha melequenta, eu...
_ Marius. - Pollux apenas falou o nome do irmão, o fazendo se calar.
Ele parecia pai e mãe, ao invés dos seus pais. Ele cresceu tão rápido, será que teve um pouco de infância antes de se tornar o homem perfeito para a sua família? Será que ainda existe aquele garoto que conheci?
Talvez exista, mas esteja apenas embaixo dessa casca toda, talvez ele só queira se deitar e chorar, talvez só precise de alguém para desabafar.
Ele é apenas uma criança com o coração e alma ferida, era como eu, mas não parecia ter ninguém que o abraçaria e diria:
"Estou aqui, estou aqui para você."
Espero que ele encontre essa pessoa e seja feliz...
Sempre desejo que as pessoas sejam felizes, mas nunca desejei isso para mim, não que me lembre. Devo começar a pensar nisso.
Vejo Pollux alisar os seus cabelos para trás e sorrir para algo que alguém falou, nunca percebi que seus olhos ficavam curvados quando sorria.
Pegou a taça de vinho e tomou um gole, me olhando em seguida e sorriu, mas continuou conversando com alguém que não sabia quem era.
Estavam conversando sobre exportação e não ligava muito para isso, porém, antes de conversar com as meninas.
Minha garganta começa a formigar um pouco, me fazendo pegar mais um pouco de vinho e o colocar na taça.
Bebo o líquido, mas a minha garganta continuou pinicando, como se algo estivesse presa nela.
Pego um guardanapo e tusso, mas sinto gosto de sangue na minha boca, me fazendo suspirar. Não fico alarmada e lambo devagar os meus lábios, não queria que as pessoas os vissem negros, penso no meu sangue e sinto um pouco de ardência em meu corpo.
Mudou de cor.
Retiro o guardanapo da boca e vejo o sangue negro no pano, mas a pergunta ficava: o que estava acontecendo?
Será que fui envenenada? Como analisarei isso?
Sinto uma pontada no meu coração e prendo a respiração por alguns segundos, já que se for veneno, é muito forte, já que está fazendo efeito em questão de segundos.
É como se meu corpo estivesse me dando um aviso. Primeiro foi o sangue e agora a pontada no meu coração, o que será em seguida? Vou desmaiar?
Não estou ligando tanto por causa daquele diário, nele dizia que não iria morrer por veneno, então não me importo de sofrer um pouquinho.
Mas não quero alarmar ninguém sobre a minha condição, porém, quero saber quem fez isso. Será que a pessoa já foi embora? Ou o veneno deveria ser para o meu pai?
Será que todos aqui já estão à beira da morte? Ou foi a Byella? Tentei ver se estava ali, mas não a encontrei.
Será que ela envenenou o camarão?
Olhei para o Cyg que comia com gosto os frutos-do-mar. Estranho, Cyg também comeu do mesmo camarão que eu, e não está passando mal, ou algo do tipo.
Pensa mais um pouco, Leesa. Temos que descobrir o que está acontecendo conosco.
Tento sentir meu sangue e ele parecia lento, mas não tinha nada nele, o que me fazia voltar para o ponto de partida.
Coloquei o guardanapo no colo e cocei o meu pulso que deveria ter as minhas cicatrizes.
Fiquei olhando para aquele lugar e algo passou na minha cabeça e merda...
Fiz o guardanapo virar pó e me levantei da cadeira.
_ Tenho que ir à toalete, com licença. - Sorrio, mas por dentro estava ansiosa.
Levanto a barra do meu vestido e ando devagar até o final do salão, algo que demorou alguns segundos.
Vejo a porta de vidro que daria para o jardim e apresso os meus passos, saindo do salão.
O ar frio da noite bateu no meu rosto, fazendo meu corpo querer expulsar o que tinha nele. Examino os lados e retiro meu sapato, o jogando em qualquer lugar.
Olho em volta e tudo estava apagado, mas meu corpo ficou ainda mais tenso apenas por ver isso, tenho que sair daqui.
Faço a barra do meu vestido diminuir, me sentindo fraca e zonza... Preciso sair daqui preciso...
Caio de joelhos no chão e vomitei na grama aparada, mas não era comida ou vinho que saia de mim. Era sangue, meu sangue, mas vermelho.
Meu corpo estava suando e queria tirar o meu vestido para me jogar em uma banheira de água fria e com gelo. Calor, estou sentindo tanto calor.
Merda, merda, merda, merda...
