8. O aniversário
— Alice, você sabe por acaso onde está o Cullen? Desde cedo eu tento ligar para ele. É um folgado mesmo que não quer mais trabalhar para nada — reclamei quando ela apareceu me lembrando de almoçar.
Estava a manhã toda telefonando em sua sala, mas ninguém atendia. Nem Jasper. Era sexta-feira e tínhamos uma semana para trabalharmos no caso, ainda não estava segura que podíamos provar a inocência de Angela.
— Ah Bella, hoje ele tá de folga.
— De folga? Por que? Ele tá bem?
Será que estava doente? Lembrei dele passando mal no dia que fomos ao presídio. E se tivesse piorado?
Eu deveria tê-lo arrastado pelos cabelos para o hospital.
Por que eu estava tão preocupada com ele, afinal?
— Deve tá bem. Hoje é o aniversário dele, não sabia?
— Ah, não sabia — fingi indiferença.
Eu era muito trouxa. Eu pensando se estava doente, enquanto com certeza deveria estar festejando em algum lugar. Maravilha, Bella.
— É, nós até tentamos convencê-lo a irmos jantar em um restaurante mais tarde, mas Jasper disse que todo aniversário ele some, parece que não gosta de comemorar.
Meu cenho se franziu e veio uma lembrança nebulosa na minha mente. De quando nos encontramos no bar e eu contei da minha noite com Mike.
— Essa é a pior história de aniversário que já ouviu? — eu ri.
Ele pareceu forçar um sorriso.
— Quase a pior.
Perguntei-me se ele teria alguma história triste no dia do seu aniversário ou era só eu pensando demais?
— Ah… Bem, então depois eu falo com ele. Vou trabalhar em outro caso enquanto isso.
Ela assentiu e saiu da sala.
Peguei meu celular e abri a conversa com ele, nós só tínhamos nos falado a respeito do trabalho. E sempre formalmente, sem trocar provocações nem nada do tipo. Abri meu instagram, antes de me lembrar que ele não tinha rede social nenhuma, o que era estranho.
Pensei se seria demais mandar uma mensagem de felicitação. Ele tinha me desejado feliz aniversário no meu.
Abri a conversa, digitei, mas apaguei.
Bloqueei o celular e joguei na mesa, encostei minha cabeça na cadeira e encarei o teto branco.
Precisava parar com isso, precisava parar de pensar nele.
Ele já tinha deixado claro que não queria ser meu amigo. Então, precisava continuar o odiando em meu coração.
…
O elevador parou no andar e caminhei decidida até a porta do meu apartamento, porém ao invés de me virar e abri-la, apertei a campainha da porta de Edward.
Segurava uma embalagem de pizza em uma mão.
Apertei de novo e nada.
Eu era tão idiota porque mesmo achava que ele estaria em casa? Com certeza tinha saído para se divertir com alguém.
E porque mesmo eu tinha decidido presenteá-lo com uma pizza?
Eu não sabia o que estava pensando desde meu aniversário. Não conseguia parar de pensar no Cara Azeda. Deveria ter algo errado com minha cabeça. Talvez eu precisasse fazer uma ressonância e procurar um neurologista. Além é claro do cardiologista.
Um check up completo seria o ideal. Assim descobriria o que tinha de errado comigo e curaria isso de vez.
Equilibrando a embalagem só com uma mão, consegui pegar minha chave na bolsa e abri minha porta.
Estava girando a chave na porta, quando escutei o elevador parar no andar e Edward surgiu.
Ele estava sem seu look de advogado, vestia uma calça jeans e uma blusa verde musgo simples. A cor parecia deixar seus olhos ainda mais claros.
— Ei, o que faz aí?
— Nada — respondi apenas.
— Isso é pizza?
— Hum… sim… quer?
— É claro, estou com fome, não comi quase nada o dia todo. — pegou a embalagem de minhas mãos e entrou dentro do meu apartamento.
Era estranho, mas aquele jeito dele de agir como se sentisse bem na minha casa me confortava. Era bom ter alguém ali além de mim mesma.
Fechei a porta.
— É de brócolis e bacon? — falou surpreso.
Coloquei minha bolsa no sofá e caminhei para a cozinha pegando o ketchup e um refri.
— Alice mencionou que era seu aniversário… eu na verdade comprei para você — admiti.
— Jura? Obrigado, Bella.
— Deveria ter comprado um bolo.
— Ainda bem que não comprou — fez uma careta.
— Bem… você me fez companhia no meu aniversário… acho justo fazer no seu.
Nós sentamos de frente um para o outro e comemos a pizza.
— Então o que fez no dia de hoje?
— Nada na verdade, dormir até meio dia, nem lembrava a última vez que isso aconteceu.
— Nossa que aniversário chato! Deveríamos ir comprar um bolo e cantar parabéns. Você gosta de qual sabor?
— Ah, não! Eu realmente não gosto de comemorar esse dia então, não. — balançou a cabeça sério.
— Por que não? É seu aniversário, deveria comemorar.
— E estou comemorando com você — bateu seu copo de refri no meu.
Não era nem uma dose de tequila. Eu não tinha nenhuma garrafa de Jack, mas tinha vinho.
— Deveríamos beber algo melhor então? Tem vinho e…
Ele sorriu.
— Na verdade, eu não bebo.
— Como assim não bebe? Você bebeu no meu aniversário — eu não estava doida. Lembrava dele bebendo comigo.
— Era seu aniversário — deu de ombros.
— E o que isso tem a ver? Edward! — Bati em sua mão que estava pegando seu terceiro pedaço de pizza.
— Aí mulher, porque você gosta tanto de me bater, hein?
— Responde minha pergunta.
— Eu respondi. Eu não podia deixar você beber sozinha no seu aniversário — deu de ombros.
Ele falava aquilo como se não significasse nada para ele, mas significava muito para mim.
— Por que você age assim?
— Assim como?
— Às vezes age como se fosse meu amigo, me ajudando a mentir para minha família, bebendo comigo e até me comprando sandálias e em outras age como se eu fosse a pessoa que mais odeia na face da terra — coloquei as cartas na mesa.
Não aguentava mais aquela dupla personalidade dele. Por mais que eu odiasse admitir, eu gostava do Edward que me fez companhia na noite do meu aniversário, que ria das minhas bobagens e me provocava. Mas quem ele era de verdade?
— Eu não seria um bom amigo para você, então é melhor continuarmos sendo somente colegas de trabalho e inimigos mortais.
Balancei a cabeça.
— Quem tem que decidir isso sou eu e não você. Quando você não está com a cara azeda até que fica mais legal, sabia?
Eu já tinha percebido isso, geralmente ele sempre estava com a cara séria no trabalho, mas fora dali parecia um pouco mais relaxado e era o Edward mais legal.
— Você é como a lua e tem fases?
Ele sorriu.
— Algo assim.
Eu terminei de comer, para fazer a pergunta que mais queria saber:
— Por que você não comemora seu aniversário? Acho que mereço saber, eu te contei sobre minha noite terrível no dia do meu.
Edward ficou com o olhar perdido por um momento.
— Lembra quando você disse que foi o pior dia do seu aniversário?
— Sim.
— Bem… o meu pior aniversário foi vinte anos atrás.
— O que houve?
Ele suspirou parecendo triste. Não gostei nada de vê-lo com aquela expressão.
— Eu nunca contei isso para ninguém.
— Você não precisa contar se não quiser.
— Não é isso… não é exatamente um segredo. Eu só… — deu de ombros. — Foi no meu aniversário de onze anos. Resumindo, meu pai casou com a secretária dele e me tiveram… mesmo não precisando, mamãe nunca deixou de trabalhar para ele. Eles tinham um evento para ir aquela noite e fiquei com raiva porque prometeram que iriam passar o dia comigo. Eles disseram que voltariam o mais rápido possível…
Senti um aperto no peito percebendo para onde aquela história iria.
Seus olhos verdes brilharam de tristeza.
— Eu fiquei esperando e quando me ligaram dizendo que não iriam, eu fiquei com raiva, gritei e chorei com eles no telefone. Vovô estava comigo em casa e tentou me alegrar, mas não quis saber de nada e me tranquei no meu quarto. No dia seguinte, acordei com a notícia que eles tinham ido para casa, mesmo com a nevasca forte que estava tendo. Eles sofreram um acidente e morreram.
— Eu sinto muito, Edward, sinto muito — sem pensar, levantei da minha cadeira e me aproximei dele o abraçando.
Edward não me repeliu como achei que pudesse fazer, na verdade envolveu minha cintura com seus braços e enterrou a cabeça na curva do meu pescoço. Eu o confortei, abraçando forte e acariciando suas costas. Por que ele parecia tão bem ali, nos meus braços?
Sua voz saiu embargada:
— Eles morreram por minha causa no dia do meu aniversário, eu sei que faz tempo, mas ainda dói como se fosse ontem. Como se eu ainda fosse um garotinho acordando depois de uma noite terrível com a notícia que nunca mais veria seus pais. É por isso que nunca comemoro esse dia. Eu sou o culpado da morte dos meus pais. O dia que eu nasci é o dia da morte deles.
Pensei em um Edward mais novo, em um garotinho assustado e se sentindo triste por ter perdido seus pais, meus olhos arderem só em pensar em como ele deveria ter se sentido esse tempo todo.
— Não foi por sua causa, foi uma fatalidade! Você era só uma criança, Edward.
Ele fungou balançando a cabeça e me olhando.
— Eu sabia que estava nevando, mesmo assim fiquei com tanta raiva. Eu gritei com eles no telefone… eu disse que os odiava.
— Ninguém tinha como saber o que iria acontecer. Você era só uma criança chateada. Eles sabiam do risco, não foi culpa sua ou deles. E eu tenho certeza que eles não iriam querer que vivesse sem comemorar sua vida.
Ele fungou me soltando e passou a mão no rosto.
— Eu não tenho muitos motivos para comemorar.
— Então arrume, Cara Azeda. Você tem muito para viver ainda, qual é? — bati em seu ombro me separando dele.
Ele deu um riso, mas não foi de alegria.
— E se eu não tiver?
— Não tiver o quê?
— Muito tempo de vida… o que eu deveria fazer?
Franzi o cenho com sua pergunta.
— É claro que você tem muito tempo ainda. Você está fazendo quantos anos? 98?
— 31.
Ah, eu pensei que ele fosse mais velho um pouquinho.
— Tá vendo, ainda vai viver muito.
— Mas a gente nunca sabe o que pode acontecer… eu posso morrer amanhã, sabia?
Não gostei nada de ouvir aquilo, mas não queria pensar nesse sentimento que parecia esmagar meu peito, só em pensar que ele poderia morrer. Como tudo tinha mudado tão rápido assim:
No fundo sabia que ele estava certo. Nós não éramos donos do nosso destino. Uma hora podíamos estar aqui sentados trocando confidências e no outro dia embaixo da terra.
Uma coisa que nunca poderia ser controlada era a morte e ela um dia chegaria para todos.
— É por isso mesmo que devemos aproveitar o tempo que temos agora, nesse instante. De uma forma ou de outra a vida aqui é passageira, não importa se a pessoa é rica ou pobre, todo mundo um dia vai morrer. Então temos que viver cada segundo da nossa vida como se fosse o último. Nós só temos uma oportunidade de viver e só temos que seguir nosso coração e fazer o bem.
Ele me encarou por um momento, sua expressão se suavizando.
— Acho que tem razão, Swan.
— Eu sempre tenho — sorrimos um para o outro, nossos olhares conectados.
Fiquei feliz de ver que ele parecia mais alegre, seus olhos claros me encaravam tão intensamente, mas de certa forma não me sentia desconfortável com seu olhar.
— Sabe se um dia decidir largar a carreira de advogada acho que se sairia bem como filósofa ou psicóloga.
— Ai, para com isso! — fiz uma careta.
Ele riu.
— Então só devo seguir meu coração e fazer o bem?
— Exatamente.
— Isso parece mais fácil falar do que fazer.
— Se fosse fácil não teria graça — pisquei.
— E se meu coração estiver mandando eu beijar você?
Meus olhos se arregalaram e por um momento pensei ter ouvido errado.
Mas ele viu minha cara e riu com vontade.
— Você acreditou?
Balancei a cabeça.
— É claro que não! Você é tão boboca. Nunca vai ter a oportunidade de me beijar de novo.
— Você que nunca vai ter a oportunidade de beijar esses lábios aqui de novo — fez um biquinho.
— Como se eu fosse querer — revirei os olhos e fiz um gesto como se fosse vomitar.
Ele sorriu.
— Obrigado, Bella. Acredite ou não esse foi o melhor aniversário que tive em vinte anos.
— Ano que vem, temos que fazer algo melhor.
Eu mordi minha língua ao perceber o que disse e ele me encarou arqueando sua sobrancelha.
Merda.
Eu e minha boca grande.
Será que ele tinha achado que foi uma sugestão de nós fazermos algo juntos? E se realmente foi?
Edward riu, relaxado.
— Combinado, Swan — concordou batendo seu copo no meu.
Eu sorri com isso.
Percebi então, pela primeira vez, o que estava sentindo de verdade.
Talvez eu não precisasse de um médico.
Bem que diziam que do ódio ao amor só havia um passo e eu tinha dado ele.
EDWARD CULLEN PDV
Eu sorri fechando a porta.
Aquele com certeza era o melhor aniversário que tive em vinte anos, apenas porque estava com Bella.
Ela não sabia como tinha poder em minha vida.
Como só de estar com ela fazia tudo valer a pena.
Pela primeira vez eu estava me sentindo mais leve. Eu queria tanto viver uma vida com ela, será que eu podia fazer isso?
Eu caminhei até a prateleira na sala, tinha algumas fotos ali, peguei o retrato meu com meus pais. Foi o último que tiramos juntos.
Será que eles poderiam me perdoar?
Nunca conseguiria parar de me sentir culpado por aquele acidente que os levou. Porém, sabia que Bella estava certa.
Mamãe sempre amava comemorar meu aniversário e ela e papai faziam de tudo para me ver feliz.
— Me desculpem, por favor — sussurrei. — Eu amo vocês, sempre vou amar.
Meu telefone vibrou em meu bolso. Eu sabia que não tinha como fugir mais dele.
— Edward, filho — foi bom escutar sua voz depois de tanto tempo.
— Oi, vô.
— Feliz aniversário!
— Obrigado.
— Quando você vai voltar? Isso já está indo longe demais, Edward.
Eu suspirei, sabia que ele não demoraria muito para começar aquele assunto.
— Eu já disse que não vou voltar.
Ele suspirou do outro lado da linha.
— Você tem que voltar, eu não tenho mais a idade que tinha e...
— O senhor pode estar velho, mas sei que tem mais saúde que eu.
— Você tem ido ao médico? Como está?
— Está tudo bem, não se preocupe — menti.
— Edward, volte para casa e assuma com sua responsabilidade. Preciso de você aqui.
— Para que? O senhor sabe o que vai acontecer.
— O dr. Kilton disse que há um novo tratamento e…
— Não, por favor nem começa. Vou desligar. Nos falamos depois.
Desliguei a chamada.
Eu respirei fundo, três vezes. Inspirei e expirei lentamente.
Levei a mão ao meu pescoço sentindo meu pulso.
Lembrei das palavras de Bella.
Viver cada segundo da nossa vida como se fosse o último, isso era o que eu mais fazia.
Nós só temos uma oportunidade de viver e só temos que seguir nosso coração e fazer o bem.
Seguir nosso coração e fazer o bem.
O mais difícil com certeza seria seguir meu coração.
Ele estava cheio dela.
Mas e se desse certo? E se eu pudesse fazê-la feliz?
Se ela estivesse disposta, eu com certeza queria tentar.
Nota da Autora:
n/a: aiai esses dois, o que a gente faz? haha
O que acharam do capítulo?
Espero que tenham gostado amores.
Finalmente descobrimos mais um pouco sobre o passado do Edward e a Bella já percebeu que o sentimentos por ele mudaram... como será que vai ser esses dois:
No próximo, eles vão fazer uma viagem atrás de Stven... alguém adivinha o local? hahaha LV
E como a maioria já percebeu, o Edward tem uma doença sim por isso ele fica relutante em ficar com a Bella, mas vamos descobrir mais sobre isso no decorrer da história ainda nem escrevi essa parte direito kkkkk e só confiem em mim ok? Eles podem sofrer um pouquinho, mas no final tudo dar certo. Ou preferem um final triste? nunca fiz um será...? vocês decidem ;)
Continuem comentando amores, teve menos comentários capítulo passado e isso desanima um pouco, então comentem por favor e façam uma autora feliz
Beijos e até mais!
