Capítulo 2 - O Beco Adormecido
Londres estava envolta em uma atmosfera de tensão à medida que a tarde avançava. As ruas, normalmente movimentadas, carregavam um ar de inquietação, com nuvens pesadas no alto ameaçando chover. Um vento frio varria os becos, levantando folhas secas e pequenos detritos. Poucos transeuntes, tanto trouxas quanto bruxos apressados, caminhavam rapidamente, sentindo a urgência crescente no ar.
Dentro do Caldeirão Furado, o contraste era marcante. O pub, normalmente acolhedor, estava cheio de bruxas e bruxos murmurando nervosamente. Todas as mesas estavam ocupadas, e o barulho de conversas sussurradas misturava-se com o tilintar de copos e o som ocasional de cadeiras sendo arrastadas. A iluminação suave das velas projetava sombras nas paredes de pedra, aumentando a sensação de tensão.
Ron Weasley estava sentado perto da entrada, mastigando chiclete impacientemente. Seus olhos frequentemente se voltavam para a porta. Ele se mexia constantemente na cadeira, sua inquietação visível em cada gesto. Os outros frequentadores, igualmente tensos, lançavam olhares furtivos para Ron, curiosos e preocupados.
O barman, com uma expressão séria, continuava a limpar copos e atender os pedidos com eficiência mecânica, tentando manter a normalidade em meio à atmosfera carregada. O som distante do trânsito de Londres e o murmúrio contínuo da cidade lá fora só reforçavam a sensação de que algo significativo estava para acontecer. A atmosfera, geralmente aconchegante, estava agora imbuída de uma antecipação ansiosa, deixando claro que a frágil paz poderia ser rompida a qualquer momento. O ar estava preenchido com o cheiro familiar de cerveja amanteigada e ensopado de carne, mas havia uma inquietação perceptível entre os clientes. Olhares preocupados eram trocados enquanto todos pareciam tentar entender o que estava acontecendo no Beco Diagonal.
Uma bruxa de meia-idade, com o rosto marcado pela preocupação, aproximou-se de Ron. "Sr. Weasley, você é um Auror, não é? Posso ir com você? Minhas duas filhas estavam no Beco Diagonal quando aconteceu, preciso vê-las," disse a mulher.
Ron respirou fundo, tentando manter a calma. "Sinto muito, senhora, mas por enquanto apenas pessoal autorizado pode entrar. Mas ouvi dizer que todos estão bem, apenas dormindo."
A mulher pareceu aliviada, mas a preocupação ainda permanecia em seus olhos. "Obrigada, Auror Weasley. Por favor, encontre minhas meninas."
Ron assentiu, tentando transmitir uma confiança que não sentia completamente. Ele sabia que o tempo era crucial e que a situação no Beco Diagonal precisava ser resolvida o mais rápido possível.
Quando a mulher se afastou, a porta do Caldeirão Furado rangiu ao abrir, e Alastor "Olho-Tonto" Moody entrou, seu olho mágico girando enquanto observava a cena. Sua presença imediatamente silenciou alguns dos murmúrios no bar, e ele foi diretamente até Ron, com uma expressão séria e determinada.
"Vamos, Weasley. Não temos tempo a perder. O Beco Diagonal nos espera" disse Moody.
Com um aceno, Ron seguiu Moody, seu coração acelerado enquanto se preparavam para enfrentar o mistério que os aguardava.
Ron seguiu Moody até a parede com a passagem secreta para o Beco Diagonal. A passagem estava aberta, e dois Aurores montavam guarda.
"Todas as lareiras estão temporariamente inacessíveis em todo o Beco Diagonal, e ninguém está conseguindo aparatar dentro do perímetro também" relatou Ron, mantendo o ritmo com Moody.
Moody, movendo-se rapidamente, perguntou: "Você entrou?"
"Dei uma olhada rápida, mas preferi esperar pelo senhor" respondeu Ron. "Aparentemente, todos estão dormindo e não conseguem ser despertados sem magia. Também usaram rastreamento de energia mágica para verificar de onde veio um feitiço tão poderoso."
Moody parou abruptamente e se virou para Ron. "E?"
Ron respirou fundo antes de responder. "Aparentemente, de lugar nenhum, senhor. Toda a energia mágica parece ter sido drenada do Beco Diagonal."
Moody franziu a testa, claramente intrigado. "Drenada? Isso é muito pior do que eu pensei. Precisamos encontrar a origem disso e rápido. Vamos."
Com um aceno, Ron seguiu Moody pelo Beco Diagonal. A visão era desoladora: bruxas e bruxos jaziam no chão, espalhados pelos paralelepípedos, todos imersos em um sono profundo. Um cheiro floral preenchia o ar, tornando a atmosfera ainda mais desconcertante.
Moody parou e olhou ao redor, girando 360 graus para observar a impressionante cena. Ele então se virou para Ron. "Alguém notou o padrão?" perguntou Moody.
"Que padrão, senhor?" perguntou Ron, confuso.
Moody apontou para uma mulher deitada no chão. "Pela posição em que estão, todos se ajoelharam antes de adormecer."
Ron olhou mais de perto e percebeu que Moody estava certo. Todos os bruxos no chão pareciam ter se ajoelhado antes de sucumbir ao sono profundo, suas posturas sugerindo uma rendição súbita e coletiva.
"Por que todos se ajoelhariam antes de desmaiar? Não faz sentido" perguntou Ron.
Moody balançou a cabeça, apreensivo. "Ainda não sei, Weasley, mas parece que temos mais um adorador das trevas querendo mostrar seu poder."
Enquanto observavam a cena, uma jovem Auror se aproximou deles, segurando um dispositivo com um cristal brilhante. Bruna Nichols, que parecia ter saído recentemente da escola, aproximou-se com um ar de urgência. Sua pele morena brilhava sob a luz fraca das ruas, e seu cabelo preto e liso caía solto até a cintura, balançando enquanto se movia.
"Sr. Moody" chamou ela.
Moody tentou esconder um suspiro de exasperação. "Não tenho tempo, Nichols. Conversamos depois."
"É importante, senhor" ela insistiu. "Fiz algumas modificações neste dispositivo, agora ele pode indicar a quantidade de energia mágica usada."
Moody, ainda caminhando rápido, disse: "E aparentemente nenhuma magia foi usada, certo?"
Ela sorriu, animada. "Mais do que isso, senhor. Este dispositivo pode detectar energia mágica negativa. Descobri essa função por acaso e decidi mantê-la. Acontece que aquela loja" ela apontou para o Olho de Cristal, "está repleta de uma quantidade absurda de magia negativa, comparável a um engarrafamento de trouxas no final do dia. O que é altamente incomum para uma loja que vende itens mágicos."
Moody parou, intrigado, mas claramente tentando dispensá-la. "Bom trabalho, Nichols. Wesley e eu entraremos na loja. Nichols, leve este dispositivo para o Auror no perímetro externo do Beco Diagonal agora. Precisamos encontrar quaisquer vestígios de magia drenada e descobrir para onde o atacante fugiu."
Ela suspirou e disse: "Eu havia sugerido isso, senhor, mas ele me mandou ir acordar os afetados."
Moody xingou baixinho, pegou a máquina de Nichols com relutância e disse: "Deixe-me falar com ele."
Virando-se para Ron, ele comandou com uma expressão resoluta. "Weasley, entre na loja. Não podemos perder tempo. E leve Nichols com você, toda precaução é necessária."
Caminhando lado a lado em direção à loja, Nichols nervosamente apertava as mãos e olhava para Ron com um brilho de admiração nos olhos. "Sr. Weasley" começou ela, sua voz carregada de respeito e um toque de nervosismo, "só queria dizer que sou uma grande admiradora de todo o seu trabalho contra... Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado. Ter a oportunidade de trabalhar ao seu lado é uma grande conquista para mim."
"Obrigado, Nichols" Ron sorriu, ligeiramente embaraçado pela admiração sincera.
Juntos, eles seguiram em direção à loja, atravessando uma cena sombria: bruxos e bruxas deitados por toda parte, adormecidos pelo feitiço misterioso que havia varrido a área. Curandeiros apressados moviam-se entre eles, tentando reverter os efeitos com suas varinhas.
O caminho estava silencioso, exceto pelos murmúrios daqueles que despertavam confusos e pelos comandos dos curandeiros. Quando chegaram à porta da loja, Ron e Nichols pararam, varinhas em mãos, trocando um olhar de determinação. Estavam prontos para enfrentar o que quer que estivesse atrás daquela porta, preparados para quaisquer surpresas que a noite ainda lhes reservava.
