Capítulo L
— Enviou um presente para meu pai? — Elena indagou incrédula.
Uma semana depois do casamento, Elena e Kol estavam na beira do lago, estendidos sobre um cobertor depois de terem saboreado um delicioso piquenique. Kol havia anunciado o casamento nos jornais e todos em Nova Orleans e Mystic Falls sabiam das bodas.
— Ele disse que gostaria de ter cães de caça. Achei que o faria feliz com um presente.
— Oh, sim, com certeza ele ficará feliz! Mas...
— O que foi?
— Klaus vai mandar meu pai e minha tia para outra cidade...
— Estou ciente dos planos de meu irmão. Conversamos ontem. Mas não há necessidade, se você não quiser. Nosso casamento põe fim aos boatos e eu posso garantir que sua família fique segura.
— Realmente?
— Sim, eu prometo. — Kol beijou a mão de Elena.
— Para mim é o bastante.
— Bem, eu a levarei para casa agora, antes que não consiga mais conter-me. Só de tocar você... Não me canso de tê-la. Quero mostrar a você que fazer amor é prazeroso. Vou mostrar de todas as formas o quanto a amo e fazê-la feliz, para apagar aquela primeira lembrança.
Elena suspirou, corando, pelo que Kol prometera. Ela não se lembrava do que já tinha experimentado com Klaus, então, para ela Kol fora seu único amante.
O híbrido original fora muito generoso ao fazê-la esquecer, porque ele sabia que Elena se sentiria desconfortável por esconder isso de Kol. Eles, Klaus e Elena não poderiam manter um segredo assim, seria uma tortura para ambos, e ele considerou que seria melhor se fosse apenas para ele. Klaus sabia como lidar com um segredo.
— Desculpe se fui ousado.
— Não há o que desculpar. — Elena olhou para as mãos.
— Você parece preocupada. Há algo que queira me dizer? — Kol a avaliava.
— Sim… tenho uma pergunta a fazer.
— Pergunte tudo o que quiser. Prometo ser sincero.
— Conhece alguma mulher chamada Rose-Marie? Ela foi amante de meu marido?
— Sim, ela era a amante de Damon Salvatore.
— Então é verdade.
— Sim, querida. Mas como você soube?
— Klaus me contou.
— E como ele soube? Eu mesmo só tomei conhecimento da ligação entre ela e seu marido quando estava verificando suas contas.
— Foi ela quem contou para Klaus que não estávamos juntos.
— Não posso crer… Como ela...
— Parece que ela andou por Mystic Falls. Esse também foi um motivo para Klaus me trazer para Nova Orleans quando soube que eu estava grávida. Ele temia que ela fizesse algo contra mim.
— Niklaus realmente me surpreendeu por isso.
— A mim também. Eu o considerava um demônio, mas no fim ele foi como como um anjo!
— Não o exalte tanto! Mas já que estamos falando sobre coisas santas, seu pai mencionou que a mandou para um convento anos atrás.
— Sim. É verdade que fui a um convento. — As duas semanas que passara trancada em uma cela ainda povoavam seus pesadelos.
John Gilbert dissera às freiras que sua filha cometera um pecado. A salvação de sua alma era imperativa, e assim tivera início um purgatório indefinido. No final do quinto dia de clausura, quando o corpo sofria os efeitos da fome e do frio, Elena percebera que o pior castigo era o isolamento. Tremendo, Elena relatou seu suplício.
— A princípio meu pai simplesmente mandou-me para longe. Quando percebeu que eu não estava arrependida e que jamais o esqueceria, ele me enviou para o convento. Mas por que quer saber disso agora? Você sabia do meu sofrimento e não se incomodou com ele quando escrevi suplicado por sua ajuda. Nunca respondeu às minhas cartas.
— Cartas? Não recebi uma única linha sua depois que parti em busca de meu irmão. Foi você que não esperou muito para se casar com outro vampiro.
— Do que você está falando? — Elena o encarava atônita.
— Eu estava voltando para você, Elena. Havia prometido que viveríamos juntos, qualquer que fosse a reação de seu pai à minha proposta. Eu a amava! Devia saber que precisava de dinheiro e da promessa de Klaus antes de pedir sua mão novamente.
— Sim, eu sabia, e teria esperado por você, se soubesse que voltaria. Teria sofrido todos os suplícios, desde que tivesse ao menos um sinal, uma certeza de que não me considerava apenas uma paixão passageira. Escrevi dizendo estar disposta a fugir, a viver a seu lado em quaisquer circunstâncias… Naquela época, meu amor e minha confiança eram tão grandes, que estava preparada para perder tudo: família, amigos, reputação… Sim, estava disposta a ser sua amante. Mas não recebi resposta. Dias depois eu soube que tinha deixado o país.
— Juro, Elena, que não recebi suas cartas. E só fiquei em Londres o tempo suficiente para convencer meu irmão a me dar minha parte na herança da família e prometer que não a machucaria porque você seria minha mulher. Quando retornei, soube de seu casamento... Tem certeza de que as cartas foram postadas? Você mesma as levou?
Elena estava confusa e chocada.
— Não… — murmurou. — Era impossível escapar da vigilância de meu pai. Tia Jenna não podia se aproximar de mim, porque meu pai a acusou de ser uma acompanhante negligente que havia me dado liberdade excessiva. Damon levou as cartas e jurou que as enviaria.
Kol passou as mãos pelos cabelos numa reação de incredulidade e desespero. A fúria em seus olhos era assustadora.
— Não… — Elena protestou. — Não foi como está imaginando. Damon nunca teve um desejo real de se casar comigo. Ele só queria ajudar-me, porque era… — As palavras bom e decente não ultrapassaram a barreira dos lábios dela.
Kol a encarava em silêncio, esperando que prosseguisse com seu discurso. Ela respirou fundo.
— Damon sugeriu o casamento como um truque, uma forma de me tirar do convento. Meu pai já revelava os primeiros sinais de insanidade. Estava inflexível, e nada parecia capaz de demovê-lo da ideia de punir-me. A questão era simples: ou eu me casava com Damon, ou ficaria para sempre no convento. Damon havia jurado que nunca quis se casar porque seu coração pertenceria para sempre a uma jovem moça, seu primeiro e único amor. Ele gostava de mim como um irmão mais velho. E eu estava desesperada, sozinha, amargurada… Você não me queria… tinha ido embora...
— Nunca mais diga isso! — Kol a abraçou com desespero. — Se eu soubesse que você estava sofrendo, que me queria de verdade, jamais teria partido. Teria ficado a seu lado. Teria matado qualquer pessoa que se colocasse em nosso caminho… inclusive seu pai e Damon Salvatore. Teria enfrentado Niklaus.
— Kol...
— Eu também estava sofrendo. Quando voltei e soube que estava casada, deduzi que havia se dobrado às exigências de seu pai e esquecido nosso amor. Tudo que fiz, tudo que realizei, o grande espetáculo de poder e riqueza… foi por você. Para mostrar que eu era melhor do que seu marido.
— Oh, Kol, senti sua falta… Minha dor assustava Damon. Ele tentou consolar-me, mas não sabia como…
— Esqueça, Elena. Nenhum de nós teve culpa. Sobrevivemos a todos os horrores porque o destino decretou que teríamos nossa chance… nossa oportunidade. Não vamos mais falar nisso. Não há nada a lucrar no passado e no que não pode ser alterado. Quando penso que poderíamos estar casados há cinco anos, com uma família numerosa…
— Você tem razão. É inútil pensar no passado. As cartas se perderam. Por falar nisso, você disse que não queria uma família.
— Eu menti quando disse aquelas coisas horríveis. Foi para puni-la, porque sofri ao ouvi-la dizer que não me queria como um marido de verdade. Naquela tarde, quando esteve em minha casa propondo um casamento, eu a teria aceitado sem pensar, desde que houvesse manifestado o desejo de viver realmente a meu lado, como marido e mulher.
— O quê? Realmente?
— Sim, mas esqueça. Vamos viver o aqui e agora. — Kol levantou-se e ajudou Elena a fazer o mesmo.
Depois de recolher as sobras do piquenique e guardá-las na cesta, eles caminharam pela beira do lago.
— A propósito, você quer continuar morando em minha casa ou prefere morar em outro lugar.
— Quero viver ao seu lado, onde quer que você queira. Quero transferir as propriedades que Damon me deixou para o seu nome, como um presente de casamento. Assim, posso devolver todo o dinheiro que você gastou comigo.
— Não me importo com esse dinheiro. Mas não quero me sentir ligado a seu primeiro marido, por mais que ele a tenha ajudado. Poderá visitar sua família em Mystic Falls sempre que quiser, porque estaremos próximos, mas prefiro continuar em Nova Orleans, perto de minha família. E você pode manter as propriedades. Ah, tenho uma casa em Londres, que construí nesse meio tempo em que estivemos separados, é onde fico quando vou à Inglaterra.
— Kol, deve ser uma propriedade encantadora!
— Em breve você irá conhecê-la.
— Mal posso esperar. — Ela estava sonhando com uma viagem a Londres.
— Tem mais uma coisa que quero falar. — Kol lembrou — Damon não deixou nada para a amante. Nada além de dívidas. Tudo que ela quer é um pouco de dinheiro. Eu cuidarei disso.
— Creio que ela espera que você cuide dela.
— Precisa confiar em mim, Elena. Certa vez me disse que um marido deve ter o respeito da esposa. Quero sua confiança e seu respeito, como você tem os meus.
— E suas... amantes?
— Não tenho mais ninguém. Desde que você esteve em minha casa, meses atrás, não estive com nenhuma outra mulher.
— Oh, realmente? E aquela jovem bruxa?
— O máximo que eu fiz foi beijar e abraçar Davina, nada mais. Já disse que você é a única mulher que quero.
Elena sorriu, satisfeita com a resposta de Kol. Embora ela mesma tenha tido uma aventura com Klaus, ambos concordaram em esquecer o ocorrido, pelo bem de todos. Klaus a compeliu a nunca revelar que estiveram juntos, ou que ele bebeu dela.
— Os comentários em torno de um enlace tão precipitado foram inevitáveis. Escandalizamos a sociedade. Afinal, Damon morreu há pouco tempo e eu estou grávida. — Elena disse.
— Escandalizar a sociedade é minha especialidade, querida. Não podíamos esperar um ano para o casamento, como reza o protocolo.
— Até lá você já estaria grávida do nosso segundo filho!
— Kol!
