CAPÍTULO LI
— Bom dia, senhora — Kaleb a cumprimentou. — Um homem chamado Logan Fell veio entregar isto aqui. Ele já foi embora.
Elena sentiu uma profunda gratidão pela retirada estratégica de Logan Fell, não queria vê-lo. Tomando o pacote das mãos do criado, examinou-o curiosa. Assim que ficou sozinha, quebrou o lacre e rasgou o papel do embrulho.
Os dedos se detiveram ao reconhecerem uma produção própria. Dedos trêmulos recuperaram as duas cartas que caíram sobre suas pernas. Ela desdobrou a única folha de pergaminho que as acompanhava. A caligrafia de Damon encheu seus olhos de lágrimas, e Elena dobrou o papel para impedir que a preciosa mensagem se perdesse em borrões incompreensíveis. Limpando as lágrimas, começou a ler.
Então, minha querida, ele se casou com você? Creio que sim, porque deixei instruções claras para que Logan só entregasse esta mensagem, a última que redigi, um mês depois de ter mudado de nome mais uma vez… e conquistado um título, espero. Se não cometi um erro de julgamento, estou certo de que o dever superou o temor e você o convidou para o meu funeral. Como consequência, agora já deve estar desfrutando da verdadeira felicidade que jamais pude lhe oferecer. Sei que só o amor pode torná-la uma verdadeira esposa; se posso reclamar algum mérito, é o de ter sido um bom provedor.
Seu senso de dever para com a família não deve jamais empurrá-la para a busca da segurança em um casamento outra vez. Espero em assim seja, essa certeza é minha única chance de paz…
Elena ergueu os olhos da carta para secar uma nova enxurrada de lágrimas. Depois, retomou a leitura.
O propósito desta carta é pedir seu perdão. Como já deve saber, minha querida Elena, lamento imensamente ter mentido para você. Jamais enviei aquelas cartas. Eu as mantive comigo… e agora as devolvo.
Passemos aos motivos de minha terrível arrogância. A história é baseada em preconceitos e ilusões. Defeitos meus, receio, não de Kol Mikaelson. Ele é muito mais nobre que eu.
Enfim, por razões que me envergonham, embora não sejam totalmente más, não queria que ele a tivesse naquele tempo. Eu tinha conhecimento das histórias sobre ele, seu comportamento devasso, seus crimes, mas também sua beleza, seu poder. Pessoalmente, não só o admirava por seus feitos escandalosos, como o invejava, como tantos outros vampiros. E quando ele foi capaz de conquistar seu coração, senti-me no dever de pôr um fim a essa relação. Na época, eu estava apaixonado por você.
Aproximei-me de seu pai e o influenciei em sua opinião sobre Kol. Fiz o possível para afastá-la de seu primeiro e único amor. Eu me julgava no direito de escolher o que era melhor para você, e pensava que o melhor era eu. Mas agora, quando luto por ar e forças para concluir esta carta, lamento… oh, como lamento não ter deixado a vida ter seguido seu curso. Porque, há três anos, com dois anos de atraso, descobri que você estava certa. Ele é um homem que a ama de verdade, capaz de ser honrado. Entregá-la aos cuidados de tal criatura teria sido melhor atitude, minha e de seu pai.
Lembra-se que por um tempo me dediquei ao comércio, adquirindo e vendendo mercadorias? Tinha esperanças de obter lucro rápido trazendo bens orientais pela rota mais barata, usando embarcações inadequadas. Certa vez aconteceu um desastre. Tempestades contínuas marcaram a última viagem, e tudo que eu tinha a oferecer aos mercadores era um punhado de seda manchada e especiarias apodrecidas. A falência era certa, pois eu tinha investido todo o meu dinheiro nessa transação. Tentar vender as mercadorias arruinadas se mostrava um exercício inútil, mas seu marido arrematou meu estoque sem valor num leilão que, desesperado, decidi promover. Ele perseverou mesmo depois de eu ter encerrado os lances, certo de que sua intenção era zombar de mim e envergonhar-me diante daquela plateia ávida por acontecimentos chocantes. Esperava que ele retirasse a proposta depois de divertir-se às custas de minha desgraça. Mas Lorde Mikaelson não olhou em minha direção uma única vez, nem buscou gratidão ou reconhecimento depois de selada a transação. Desde então, nunca mais conversamos. Mesmo quando nos encontrávamos por acaso, ele apenas acenava com a cabeça a fim de reconhecer minha presença.
Minha credibilidade e meu capital foram restaurados às custas dele, e todos os presentes especularam, mas não ousaram perguntar por que ele comprou destroços de um naufrágio. Refletindo muito, concluí a terrível realidade por trás de seus motivos, e desde então tenho sido consumido pela culpa. Ele ainda a amava, e era um sentimento tão incondicional, tão absoluto, que Kol Mikaelson garantiu-me dignidade por conta dele. Deve perguntar a ele, Elena, qual foi a utilidade daquela carga encharcada de água do mar.
Todos esses anos eu vivi envergonhado, pois eu jamais me comportaria com tal altruísmo. Perdoe-me por tê-la impedido de ser feliz por cinco anos. Perdoe-me por pensar que eu fiz isso por amor. Perdoe-me...
A carta terminava aí. Elena olhava para o papel, a força de Damon finalmente o abandonara. Ela se levantou e caminhou até a janela para observar a noite. Elena viu o marido chegando depois de mais um dia de trabalho. Era sempre assim. Naquela mesma hora, Kol passava pelos portões da propriedade e, acompanhado por Kaleb, caminhava na direção da entrada com passos confiantes e um sorriso entusiasmado, os olhos fixos na janela onde, sabia, ela o estaria observando. Elena foi encontrá-lo na biblioteca. Depois de beijá-lo, ela comentou:
— Logan Fell esteve aqui.
— Eu sei. Kaleb me contou.
— Ele veio trazer uma encomenda, mas não quis ficar.
— Por que será?
— Por que ele não quis ficar? Kol, você sabe por quê. Ele pensou que estivesse em casa. Quero que leia a carta que ele trouxe… É de Damon.
Elena deixou os envelopes sobre a mesa diante dele. Depois aproximou-se da janela para esperar enquanto o marido lia a mensagem. Com os olhos perdidos no céu escuro e as mãos sobre a barriga de cinco meses, soube o exato momento em que ele terminava.
— É verdade? — perguntou. — Você nos resgatou da falência.
— Sim.
Elena encarou-o com os olhos cheios de lágrimas.
— Por que nunca disse nada? Podia ter me contado quando o encontrei em Nova Orleans.
— Foi só um impulso, uma tolice…
— Fez isso por mim?
— Sim, foi por você. Mas, na época, preferi não perceber, e Marcel, meu eterno amigo, guardou silêncio.
— Sabe de uma coisa, Ko, as vezes tenho medo de que tudo seja um sonho. Nunca pensei que seria digna de viver algo assim, de amar e ser amada, de ter minha própria família. Sinto que vou explodir com a força deste amor. E mesmo assim, sou capaz de amá-lo mais a cada dia.
— Eu sinto o mesmo, querida. Nunca fui tão feliz. Tenho certeza de que isso só é possível com você.
Kol a beijou docemente.
— Por falar nisso, tem algo que eu quero dizer a alguns dias...
— O que foi? Você sabe que pode me contar tudo.
— Eu quero me transformar. Em uma vampira. — Elena afirmou.
— Verdade? — Kol sorriu.
— Sim, não hoje e nem amanhã. Daqui a alguns anos, quando tivermos outro filho. Quero passar a eternidade com você.
— Não pensei que você quisesse outra criança, mas fico feliz em saber. Venho de uma família grande e tivemos uma infância feliz. Mas mais feliz ainda eu estou por saber que você quer dividir a eternidade comigo.
— Eu amo você, Kol, e vou amar por toda a vida. — Elena o abraçou, encostando a cabeça no peito do marido.
— Eu te amo mais, querida, por toda a eternidade. — Kol beijou o topo da cabeça da esposa.
