CAPÍTULO II
Em Nova Orleans, Kol Mikaelson avaliava as correspondências recebidas e dava ordens ao seu secretário e faz-tudo: Kaleb. De repente, ele interrompeu o ditado para sorrir. A demonstração de humor era tão rara que Kaleb parou de escrever para fitar o nobre.
Recostado em sua cadeira de couro, Kol analisava a fonte de diversão, um cartão preenchido por algumas linhas escritas em tinta preta. Assim como o sorriso apareceu, ele rapidamente se apagou. O cartão foi jogado sobre a mesa e escorregou para perto de Kaleb.
— Envie condolências e as habituais desculpas por não poder comparecer.
Kaleb leu o cartão. O que podia haver de tão divertido em um cartão anunciando a morte de um homem? A viúva o convidava para o funeral.
— Que triste… — ele comentou, esperando descobrir mais detalhes. O comentário foi ignorado. Kol Mikaelson demonstrou impaciência enquanto examinava um documento.
— Mande este contrato de volta ainda hoje. Informe que qualquer alteração nos termos e condições acarretará o cancelamento do negócio.
Sem obter resposta, Kol encarou o secretário, que mantinha os olhos fixos no cartão.
— Anotou tudo que eu disse?
— Que triste… — Kaleb insistiu. — Pobre Sra. Salvatore. Casada há menos de cinco anos! Ouvi falar sobre ela. Que é uma jovem encantadora, compassiva. Não é a mesma jovem que seu irmão quer a todo custo para um propósito nada bom?
Kol ignorou o secretário. Ele conhecia a encantadora Sra. Salvatore. Sim, ela era encantadora e compassiva, mas não tinha importância. Desejava que ela fosse para o inferno com seu finado marido. E sim, ela era o objeto de desejo de seu irmão, Klaus, desde que ele tomou conhecimento da existência dela.
Mas Kol não queria pensar sobre ela. Deixara de pensar nela há cinco anos, quando seu pai, John Gilbert, recusara sua proposta de casamento e o desprezara por sua ousadia.
O velho homem odiava vampiros, mas Kol sempre soubera que esse não era o maior motivo. A reputação de jovem psicopata e a linhagem a que ele pertencia, fora o que o impedira de desposar a mulher que escolhera. John Gilbert jamais permitiria que sua filha se casasse com um vampiro original, um dos primeiros vampiros, aquilo que ele queria aniquilar.
Em sua defesa, tudo o que Kol tinha a dizer era que, durante os seis meses que passara cortejando a jovem Elena Gilbert, seu comportamento havia sido impecável. Não podia ser culpado pela conduta de seus pais e irmãos. E quanto a sua conduta, ele não era mais o mesmo, ele tinha mudado por Elena.
Kol relembrou que nos dias distantes de sua infância, fora totalmente leal aos pais e próximo dos irmãos. Ele fora um bom garoto, um bruxo de destaque, inclusive. Até o dia em que foram transformados. Depois disso tudo mudou, a família se dissipou. Ele foi abandonado, impactado pela culpa da morte do irmão mais novo. Seus três irmãos mais próximos se uniram e seguiram suas vidas. Ele ficou sozinho.
Com o passar dos anos, a necessidade de atenção e amor familiar foram aos poucos diminuindo, até que se extinguira por completo. Kol desligou a humanidade, e foi quando ele se tornou violento. Estava sempre buscando fortes emoções. Ele caçava e matava todos que iam contra ele, e muitas vezes o fazia apenas por divertimento. Isso até conhecer Elena Gilbert, a doppelganger de Tatia e Katherine.
Por seis meses acreditara na salvação, vivera à luz do dia e com serenidade. Mas um mês depois de sua proposta de casamento, a única mulher que amara em sua longa vida havia se casado com Damon Salvatore, um vampiro que, por ironia do destino, era parente distante dos Mikaelson. Algum descendente de seu pai se casara com alguém do clã Salvatore. Mas o mais irônico era que Damon Salvatore era da linhagem de sangue de Klaus.
A devastação causada pelo casamento de Elena Gilbert era apenas uma lembrança amarga. Passara os seis primeiros meses tomado pela dor, frustrado e sozinho. Para esquecer-se dela ele fora até seu irmão, recuperando sua parte da fortuna, aproximando-se da família. Klaus era uma espécie de rei e Kol tornou-se um príncipe em Nova Orleans.
Com sua herança, Kol focou nos negócios, o que o levou a prosperar. Ele multiplicou sua fortuna e obteve o respeito e a admiração de todos, incluindo sua família. Ele não tinha mais desligado a humanidade. Aquilo o deixava orgulhoso.
Kol agora tinha dinheiro, prestígio e posição, e queria colher os frutos do trabalho duro. Sua reputação de vampiro rico e generoso atraía mulheres que viviam do interesse dos homens. Ele não se orgulhava, mas aproveitava isso e tinha a mulher que queria em sua cama, especialmente as bruxas, que eram suas preferidas.
Em resumo, tinha uma vida satisfatória, embora devassa, e nenhuma intenção de mudar ou moderar seus impulsos. Era bem diferente agora do que fora cinco anos atrás. Naquela época ele estava no auge do idealismo quando julgara encantador cortejar e casar-se com uma virgem bela e delicada, além de humana. Que tolo fora!
— Não vejo nenhum humor em funerais. — O secretário insistiu.
— Kaleb, se não terminarmos de atualizar a correspondência nos próximos cinco minutos, terá de encontrar humor em procurar outro emprego, e sem nenhuma recomendação.
Kol levantou-se e caminhou até a janela, de onde podia contemplar a elegância serena dos jardins da mansão em que vivia.
