CAPÍTULO III

Kol sentiu-se acalmar enquanto contemplava o esplendor palaciano de seu lar por alguns instantes, até que seus olhos avistaram um casal entrando em sua propriedade.

Marcel Gerard, vestido de maneira exuberante, caminhava para sua residência como se não tivesse uma única preocupação no mundo. Pendurada em seu braço estava a amante de quem ele tentava livrar-se.

A mulher era bonita e uma condessa, esposa de um conde de prestígio, embora sem recursos, e uma bruxa muito poderosa. Mas Kol não estava disposto a suportar sua presença na casa naquela manhã.

Sophie Deveraux já tinha sido sua amante, antes de seu amigo tomá-la para si. A bruxa sabia que seu relacionamento com Marcel estava chegando ao fim e tentava encontrar um substituto igualmente rico. Isso quando não estava tentando seduzir Kol, a quem suas constantes e patéticas tentativas de sedução despertavam repugnância em vez de desejo.

Marcel era seu mais querido e próximo amigo, um verdadeiro companheiro, com gostos e hábitos similares. Um vampiro que compartilhava de boa parte de sua história, de seu tempo e de seus vícios. Sentindo que era observado, Marcel ergueu a cabeça e sorriu diante da expressão aborrecida do amigo na janela do escritório.

Kol decidiu se livrar de Sophie e convidar o amigo para irem ao Russeau jogar cartas, dardos ou outra coisa qualquer. Mas antes disso ele tinha de concluir a reunião de trabalho com seu secretário. Os negócios estavam sempre acima de tudo agora.

— Certifique-se de que o tal contrato seja devolvido ainda hoje e cuide dos outros assuntos que discutimos. Pode ir agora, Kaleb. E não se incomode com aquela mensagem de condolências. Eu mesmo a transmitirei a Sra. Salvatore durante o funeral.

Kaleb levantou-se devagar, os braços ocupados pelos papéis que o manteriam ocupado por todo o dia. Nesse momento, o mordomo da casa aproximou-se da porta do escritório para anunciar a chegada do Sr. Marcel, que entrou no aposento acompanhado da amante.

Ao sentir o ar gelado que vinha do corredor, Kol foi pôr mais lenha na lareira. Havia sido um longo e rígido inverno, e as manhãs de abril ainda eram geladas. Ele viu seu amigo, com os cabelos úmidos pela neve, procurar um lugar perto do fogo, assim como a mulher que o acompanhava.

— Que bom que veio meu caro amigo, eu estava mesmo escrevendo para você a pouco. Ia convidá-lo a me acompanhar ao Russeau. — Kol declarou.

— Mas que maravilha. Vamos agora mesmo!

— E eu? – A bruxa se manifestou, sabendo que não poderia ir com os homens porque o lugar era privado, somente para cavalheiros.

— Infelizmente, terá de ir para outro lugar. — Kol comentou com ironia.

A mulher suspirou irritada.

— Não precisa ser grosseiro. Já fomos muito próximos.

— Você tem razão. Fomos, no passado. — Kol respondeu sorrindo ironicamente.

— Tudo bem. Deixe-me no parque, a caminho. — Ela pediu.

— Com todo o prazer. — Kol sorriu para ela.

Dali a alguns minutos os dois amigos, estavam na carruagem de Marcel, rumo ao bairro francês. Sophie havia sido despachada sem cerimônia.

— Não entendo como uma mulher bonita pode irritá-lo tanto! — Marcel instigou.

— Pode ter beleza física, mas não tem interior. Não é uma boa pessoa e você sabe.

— Sim eu sei, mas enquanto eu puder aproveitar a beleza física, estou satisfeito em ignorar a feitura interior.

— Faça bom proveito!

— Não me censure, você tem suas amantes. — O moreno riu. — Algo que eu acredito, nunca mudará. Mesmo que você arrume uma esposa.

— Não pretendo me casar.

— Eu sei que não, mas eu sim. Basta apenas que a bela dama aceite.

— Rebekah não vai se deixar enganar por você. Ela o conhece muito bem.

— Então, ela deve saber que sou o que sou porque ainda não a tenho como esposa.

— E nem terá se continuar se portando assim. Precisa fazer a corte corretamente.

— Eu sei, e estou me preparando para isso. Assim que Davina sair do colégio, eu me tornarei um tutor responsável. Espero mostrar para sua irmã que sou digno dela.

— Davina? — Kol sorriu recordando a jovem bruxa sob a tutela de Marcel. Quase uma filha para seu amigo.

— Ela é apaixonada por você. Sonha em ser sua esposa. Temo que terei de partir-lhe o coração.

— Não o faça. Não ainda. Ela é uma jovem encantadora, uma bruxa poderosa e uma boa garota. Talvez haja uma esperança para mim afinal.

— Nada me deixaria mais feliz. Claro, depois de me tornar marido de sua irmã.

— Não se importa com quem eu sou?

— Justamente por isso eu a entregaria a você. É um vampiro bom, Kol. Apesar do seu passado. Todos tivemos momentos ruins na eternidade, mas isso não nos define. Nossas escolhas o fazem. E você decidiu se tornar um vampiro trabalhador, rico, poderoso, apenas com seu esforço. Isso eu admiro. Além do mais, você já não é mais um psicopata.

Kol o encarou, agradecido.

— Fico feliz que sejamos amigos. Espero que nos tornemos cunhados.

— E eu, que você se torne meu genro. — Declarou Marcel.

Os dois vampiros chegaram ao bar, onde encontraram outros amigos. Eles passaram uma tarde e noite animada, entre jogos e bebidas.