CAPÍTULO V
— Beba isto – Bonnie sugeriu à amiga e cunhada, segurando um copo de vinho.
Elena ofereceu um sorriso grato e continuou observando a porta, esperando ver o rosto conhecido. Ela escrevera convidando-o para o funeral, como Damon exigira, e não fora capaz de recebê-lo de maneira adequada. Damon teria ficado horrorizado com sua falta de hospitalidade.
— Quer que eu traga algo para comer? — Caroline, sua também amiga e cunhada, esposa do irmão de Damon, Stefan, questionou, preocupada com a amiga.
— Não, obrigada! Estou sem fome.
— Damon não gostaria que você deixasse de comer. Vai ficar fraca.
— Eu sei. Prometo comer alguma coisa depois que todos forem embora.
Caroline olhou para Bonnie. Um olhar que dizia que ela não acreditava em Elena e que as duas teriam de ficar de olho. Elena estava alheia as amigas. Sentia-se negligente e indelicada. Seus pensamentos estavam centrados em Kol Mikaelson. Em vez de cumprimentá-lo e demonstrar gratidão por sua presença, apenas o encarara como uma tola idiota. Esperava que ele fosse até sua casa para descansar e beber alguma coisa antes de partir. Depois da viagem desde Nova Orleans, devia estar cansado e faminto.
Jenna, tia de Elena, entrou na sala com um copo de vinho em cada mão.
— Sua tia parece estar bem — Bonnie comentou. — Mas você não. Damon teria odiado vê-la nesse estado, minha amiga. Esqueceu as promessas que fez?
Elena sorriu para a tia e depois olhou para o cavalheiro acomodado perto da lareira. Ele parecia estar confortável.
— Bonnie, Caroline, vocês podem cuidar de meu pai enquanto verifico se todos estão sendo bem servidos? Essas pessoas precisam comer e beber. Faz frio lá fora e algumas vieram de longe. Temos que manter as aparências!
Ao receber uma resposta afirmativa das amigas, ela se afastou. Ia em busca de Kol Mikaelson. Em seu trajeto, as pessoas se aproximavam para oferecer conforto e condolências, mas Elena não se detinha por muito tempo. Não queria mais mentir, dizendo que Damon morreu por uma tuberculose. Poucos na cidade sabiam da existência de vampiros.
Elena estava ansiosa, buscando por Kol. Teria ido embora? Elena se perguntou. A ideia de que ele podia desaparecer antes mesmo de trocarem algumas palavras a fez correr. Segurando a saia de crepe preto, entrou no hall e parou ao vê-lo conversando com o Reverendo Kieran. O coração batia disparado. Os dois a viram ao mesmo tempo.
Elena se aproximou, refletindo sobre a atitude do religioso. Sem dúvida havia notado o estranho em meio ao grupo e decidira ir recebê-lo. As pessoas em Mystic Falls eram naturalmente hospitaleiras. Como passara a ser uma delas e era uma das maiores proprietárias de terras da região, tinha a sensação de que deixara de cumprir um dever moral. E o dever era algo que Elena sempre encarava com seriedade.
— Sr. Mikaelson — ela o cumprimentou com firmeza, estendendo a mão protegida pela luva. — Fico muito feliz por estar aqui. É uma honra que tenha viajado de tão longe para comparecer ao funeral de Damon. Seja bem-vindo! Desfrute do calor do fogo! Há comida sobre a mesa da sala e vinho, se desejar.
— Ótima ideia, Elena. — respondeu o Reverendo Kieran O'Connell, aceitando a sugestão sem hesitação.
O Reverendo seguiu para a sala, e Elena percebeu que estavam sozinhos no hall gelado. Com esforço, ofereceu um sorriso firme ao encarar o visitante, e a visão a fez perder o ar. Ele era exatamente como em sua lembrança: os traços firmes e másculos, a mandíbula bem-marcada, os olhos castanhos, os lábios finos. Os cabelos castanhos estavam mais longos e cobriam a gola do casaco.
— Por favor, acompanhe-me! - Elena disse com esforço. — Não pode deixar minha casa sem ao menos beber alguma coisa. Temos bolsas de sangue. – Elena sussurrou, temendo que alguém ouvisse.
— Não quero ofendê-la, Sra. Salvatore. Aceito uma bebida, um uísque apenas, obrigado!
A jovem viúva sorriu com uma inconsciente e doce familiaridade que o fez lembrar aquele breve período no passado. Por um momento deixou-se dominar por uma emoção intensa e desconhecida e, erguendo os dedos, levantou o véu negro que cobria seu rosto. A confiança e o sorriso de Elena desapareceram. Nervosa, esperou que ele desse alguma indicação de como terminaria o inesperado encontro, mas o silêncio se prolongava tenso e incômodo.
Kol fechou os olhos por um instante, tentando manter o controle. Imaginara que Elena estivesse gorda, velha, descuidada. Quão enganado estava! Elena era tudo o que lembrava e muito mais. Os olhos eram mais vivos, os cabelos, mais brilhantes. E havia uma intensa doçura em sua natureza, uma melancolia que ela tentava disfarçar e que despertava nele o desejo de fazer algo idiota, como confortá-la, tomá-la nos braços como fizera no passado…
Kol suspirou. Quanto antes saísse melhor. Não devia ter vindo. Uma simples nota de condolências teria sido suficiente. Aceitaria um copo de uísque e iria até a cidade, onde encontraria alguma diversão capaz de lhe alimentar e ocupar seu corpo e sua mente até o retorno a Nova Orleans, na manhã seguinte.
Incapaz de suportar o silêncio incômodo, Elena se deu conta de que o tratara de maneira imprópria, ela retomou a palavra:
— Oh, deve desculpar-me. Agora é Lorde Mikaelson, não? Que falta a minha ter esquecido. Já sabia é claro. Ouvi sobre como sua fortuna aumentou, como se tornou um homem de negócios, como... — E calou-se, temendo ter se comportado como uma jovem tola e inconveniente.
— Lorde Mikaelson? — Uma voz masculina indagou incerta. Elena e Kol sentiram-se gratos pela presença que serviu para quebrar a tensão entre eles.
Sir Jeremy Gilbert irmão de Elena, acabara de entrar na casa dos Salvatore.
