CAPÍTULO VII
Quando todos se foram e Elena pôde, finalmente, se recolher aos seus aposentos, a cabeça latejava com o eco das palavras que julgara ter esquecido, mas que nunca pudera apagar da memória. As palavras que seu pai dissera a ela quando ela ficou noiva de Damon. "— Ele queria comprá-la… e disse que o faria. Queria comprar minha filha como se ela fosse uma prostituta qualquer. Aliás, é com esse tipo de mulher que ele está acostumado. E é só isso que você significa para ele… Ele ia entregá-la para o demônio de seu irmão, porque família é o mais importante para eles"
As palavras proferidas pelo pai há cinco anos eram como trovões em sua mente perturbada. Desprezara cada uma delas como simples mentiras. Elena sabia que tudo o que ouvira sobre Kol e sua família tinha um fundo de verdade, mas muitas coisas eram apenas rumores maldosos.
A família Mikaelson era a família original, extremamente poderosa, isso gerava medo e histórias. Ao longo do tempo eles tinham feito muitas coisas ruins, mas ela sempre acreditara em Kol, que embora ele não tenha sido um bom vampiro no passado, era um novo agora. Ele sempre fora um cavalheiro com ela.
Seus amigos temiam o relacionamento. Stefan e Damon chegaram a insinuar que o interesse de Kol por ela era falso, que era uma estratégia para atraí-la e levá-la até Klaus. Mesmo sua tia Jenna tentara preveni-la sobre o perigo de envolver-se com Kol Mikaelson. Mas Elena se recusara a ouvir. Estava obcecada pelo homem que a seduzira com uma paixão cativante sem nunca ter tentado coagi-la ou tirar vantagem de sua inocência.
Durante o romance de seis meses, Kol mostrara mais afeição, gentileza e respeito do que qualquer homem ou vampiro que conhecera. Até mesmo mais do que seu próprio pai.
Elena suspirou, lembrando de quando expressara esse pensamento diante de John Gilbert. Fora castigada com uma bofetada e banida de Mystic Falls para Grove Hill. Seu pai abominava os vampiros, especialmente a família Mikaelson, porque era a razão de tudo, a origem de todos os vampiros. Ele jamais permitiria que Elena se casasse com Kol. E quando o pai dissera que Kol a queria comprar e depois levá-la até Klaus, ela não conseguira acreditar. Kol Mikaelson não era um canalha, um hipócrita capaz de jurar um amor que nunca sentira. Mesmo ele sendo um Mikaelson, mesmo tendo massacrado uma aldeia, mesmo tendo se comportado como um psicopata, mesmo sendo irmão de Klaus, ela acreditava no melhor dele.
Foi por isso, por acreditar e confiar no amor de Kol, que ela escrevera duas cartas para ele, esperando que ele fosse resgatá-la. Ela sabia que seu pai a queria longe dele, queria ela longe dos Originais, mas Elena o amava com todo o seu coração e confiava nele. Nas cartas que escrevera a ele, falara de seu amor por ele e da disposição de fugir, de segui-lo para qualquer lugar, desde que pudesse ter seu amor e estivessem a salvo de Klaus, assim como sua família e amigos. Mas semanas haviam se passado sem resposta ou resgate…
Então, certa tarde, quando o pai se afastara de casa, Jenna fora a seu quarto para contar que Kol havia partido, deixara o país. Ele tinha ido à Inglaterra e não tinha previsão de retorno. Aquela notícia causou desespero em Elena. Ela questionara Jenna, sobre como ela sabia, e sua tia informara que Elijah, irmão de Klaus e Kol, havia contado a ela por meio de uma carta.
E foi, então, que naquela tarde de outono, Elena finalmente perdera a esperança de ser salva por seu príncipe encantado. Dias vazios se arrastaram numa sucessão melancólica. Seu pai a forçara a um compromisso com Damon... Ele alegou que, embora odiasse os vampiros, os Salvatore eram vampiros de bem, que poderiam cuidar dela e protegê-la de Klaus Mikaelson...
A proposta de Damon era de um casamento de conveniência, onde ele a tomaria como esposa, mas não exigiria dela amor ou o que mais se esperava de uma mulher. Elena relutou. Ela não conseguia imaginar uma vida sem Kol, um casamento sem amor.
Elena amava verdadeiramente Kol, ela sabia que ele a defenderia de seu irmão, que a amaria e respeitaria, que cuidaria dela. Mas no fim seu pai venceu. A dolorosa decisão tivera de ser tomada. Ela aceitara unicamente para agradar a seu pai. Embora seu coração sempre fosse de Kol, ela acreditava que ele a abandonara e a iludira. Pensava que ele só tinha brincado com seu coração. Ele não viera resgatá-la.
Elena alisou as saias do vestido incomodada. Não devia estar pensando em Kol Mikaelson ou no passado que viveram. Acabara de enterrar seu marido vampiro, que tinha sido bom e generoso. Um vampiro que havia sido assassinado a mando do irmão daquele homem de seu passado. Klaus faria tudo para tê-la.
Durante os cinco anos que passara com Damon, sua bondade despertara sua culpa inúmeras vezes. Elena nunca o amou como amaria a um marido, apenas como a um irmão. Ela sempre dizia que ele podia ter se casado com outra mulher para tentar a felicidade do casamento, mas Damon sorria e respondia que o amor só acontece uma vez na vida e que nunca tivera essa sorte… até conhecê-la, e que mesmo que ela não o amasse, a amizade que ela lhe dedicava muito importava para ele.
Nos dias em que permanecera casada, estivera sempre preocupada com a ameaça de Klaus a sua vida e a vida de seus amigos, assim como outros que queriam seu sangue. Elena não tivera tempo para pensar em Kol. Aceitara que nunca mais o veria e que seu amor tinha sido desprezado. Agora, no entanto, desde que Damon pedira que escrevesse para ele, ela não conseguia tirá-lo da cabeça.
Na mesma cidade, Kol Mikaelson não tinha deixado de pensar em Elena um só minuto desde que deixara a pensão Salvatore. Estava perdido em meio às lembranças. Ele não queria pensar nela ou se importar com ela, mas a ameaça de seu irmão Niklaus não poderia ser ignorada.
Klaus queria o sangue de Elena para se tornar mais poderoso. Ela era a cópia da mulher cujo sangue os transformara em vampiros, e tinha o sangue que Klaus precisava para fazer mais seres como ele, um exército de híbridos. Agora que ela estava sozinha, sem Damon para protegê-la, temia que ela fosse um alvo fácil. Não queria que ela fosse vítima de seu irmão. Era bonita demais para morrer tão jovem.
Cinco anos haviam se passado, mas Kol não esquecera tão encantadora beleza. O rosto delicado de Elena Salvatore sempre o encantara, assim como seu corpo esguio, mas de belas curvas... Para sua própria paz, pensou Kol, era melhor não pensar nela. Assim que chegasse à Nova Orleans, esqueceria dela para sempre nos braços de outras mulheres, suas amantes bruxas.
Kol mantinha duas jovens amantes, uma em cada extremo da cidade de Nova Orleans. Assim que terminava seu trabalho ou se sentia entediado, ele tinha sempre um corpo disposto a aquecê-lo e saciá-lo. Quando os cabelos fartos e a pele morena de Astrid, e o charme rosado emoldurado pelos caracóis louros de Mary-Alice não despertavam seu interesse, deixava-se envolver pelo encanto profissional das jovens da rua ou pela experiência de mulheres casadas e viúvas que disputavam o privilégio de desfrutar de seus carinhos.
Ele era tão popular entre as mulheres, que podia escolher. Além de rico, bonito, poderoso e um vampiro original, Kol tinha uma aura perigosa que atraía as mulheres. Ele podia ter quem ele quisesse. Além de excelente amante, era um vampiro muito atraente. E kol se beneficiava disso, sempre tendo por amante aquela que lhe despertava o interesse, sendo que ele preferia as bruxas.
Fora com essa aura perigosa que chegara até Elena. Fora Kol quem descobriu o mais novo doppelganger, irmã de seu amigo querido, Jeremy. Ele contou para Klaus. Mas então se encantou pela jovem e pediu que seu irmão ficasse longe.
Ao contrário do que sempre acontecera, ele encontrou em Elena uma mulher diferente, uma que despertou nele desejos que ele nunca pensara serem ser possíveis. Kol se apaixonou por ela, decidido a transformá-la em sua esposa e se dedicar exclusivamente a ela pela eternidade. Que tolo fora! Essas lembranças sempre despertavam a raiva e o rancor de Kol. Elena o enganara, preferindo casar-se com Damon Salvatore. Ele não pensaria mais nela ou em sua vida. Que fosse ao inferno!
