CAPÍTULO XV
Dez minutos mais tarde, a carruagem se detinha diante da elegante residência de Josette Saltzman. A mulher as esperava na porta vestida com um elegante vestido preto, a expressão perturbada indicando que o atraso não passara despercebido.
Kol Mikaelson saltou do banco do condutor, onde viajara ao lado de George, e foi abrir a porta para as três mulheres.
— Quanta gentileza… — Jenna comentou sorridente. Depois olhou para a amiga com ar triunfante.
Josette Saltzman balançou a cabeça. Não podia acreditar…
— Lorde Mikaelson teve a bondade de orientar nosso cocheiro no trajeto até aqui — Jenna explicou, alimentando o espanto da anfitriã.
Josette estava mais do que surpresa! Convidara o lorde para vários de seus saraus, e ele nunca se dera ao trabalho de aproximar-se de sua casa. E agora ali estava… tarde da noite, sem aviso prévio.
— É maravilhoso vê-la, Jenna - Josette cumprimentou a amiga. — Fiquei preocupada quando não chegaram às seis como era previsto. Passei as últimas três horas perto das janelas. Por favor, vamos entrar. Devem estar cansadas! — O convite foi dirigido ao grupo como um todo, mas o sorriso açucarado visava apenas o vampiro.
Assim que Jenna e Elena sentaram-se na sala de estar, Kol anunciou sua intenção de partir. A Sra. Saltzman reagiu de imediato.
— Oh, meu lorde, deve ao menos tomar um copo de vinho. Conheço cavalheiros que odeiam chá. Na verdade, meu marido é um deles. Meu querido Sr. Saltzman prefere porto ou conhaque. Se soubesse que receberíamos sua honrosa visita, ele não teria se recolhido tão cedo. Vou mandar o criado chamá-lo e…
— Por favor, não perturbe o descanso de seu marido. Estou mesmo de partida.
— Ao menos aceite um copo de vinho. — A dona da casa correu até a porta da sala e trocou algumas palavras com alguém do lado de fora.
Elena evitava encarar a tia. Sabia que, quanto maior fosse o esforço de Josette para reter Kol, mais Jenna se divertiria. Elena decidiu deixar a xícara de chá sobre a mesa ao lado da cadeira onde estava sentada, e olhou para as filhas da mulher: Liz e Josie. Liz era loira e com grandes olhos azuis. Era esbelta e muito vaidosa, com os cabelos, a roupa e a maquiagem impecáveis. Tinha os olhos vidrados em Kol, e isso incomodou Elena. Já Josie era pálida, esbelta e muito bonita de corpo, tinha cabelos negros e volumosos na altura dos ombros, olhos de um tom castanho claro que beirava o verde e parecia bastante entretida com o livro que mantinha aberto sobre os joelhos. Seu interesse pelo ilustre visitante era nulo.
Elena olhou para Kol. Ele exercia um efeito poderoso sobre as pessoas, sem contar sobre os seres sobrenaturais. A estatura elevada, a sofisticação e a beleza sempre atraíam olhares. Sem falar que ele era um vampiro original, distinto de todos os outros e muito poderoso. Josette Saltzman não era a primeira mulher a ficar nervosa em sua presença, e Elena sabia que ela era uma bruxa.
Kol nem se dava conta do que acontecia a sua volta. Segurando a taça que a anfitriã colocara em sua mão pouco antes, ele a girava entre os dedos como se estudasse um plano de fuga. A certa altura ele ergueu a cabeça e encontrou os olhos de Elena, que não conseguiu conter um sorriso. O homem sabia lidar com seres da pior espécie, mas mães bruxas e interessadas no futuro de uma filha solteira estavam além de sua capacidade de ação. Ele retribuiu o sorriso, reconhecendo o humor da situação. Depois se aproximou e, sem nenhuma cerimônia, abaixou-se diante da cadeira em que Elena estava sentada, fitando o rosto cansado e abatido. A taça foi esquecida ao lado da xícara de chá sobre a mesa.
— Ainda não terminamos nossa conversa, Sra. Salvatore. Disse que veio a Londres procurando por mim. Muito bem, se puder ir visitar-me amanhã à tarde na Mansão, teremos tempo e privacidade para falarmos sobre o assunto que a trouxe aqui. Aceita o convite? Mas leve apenas sua tia. Por favor, não inclua sua anfitriã no grupo.
— Devo levar as filhas dela?
— Não tenho interesse em jovens debutantes.
Elena sentiu seu coração acelerar. Não que ela fosse uma jovem debutante, mas se sentia ainda muito jovem e imatura diante dele, que era um vampiro de mil anos e muito experiente. Não sabia como lidar com ele, mas flertava abertamente e considerava sua atitude natural, familiar.
Josette aproximou-se com uma jarra de vinho e, notando a atmosfera de intimidade entre a jovem viúva e o visitante ilustre, decidiu agir. A última coisa que esperava era que sua amiga chegasse acompanhada por uma jovem e adorável viúva cuja beleza rivalizava com os encantos de suas filhas.
— Aceite mais um pouco de vinho, meu lorde — ela insistiu, despejando a bebida na taça sem esperar por uma resposta.
Kol levantou-se devagar e sorriu. Levando o copo aos lábios, esvaziou-o com dois ou três goles e deixou-o sobre a mesa.
— Agora devo partir, Sra. Saltzman. Agradeço por sua hospitalidade.
Com uma cortesia dirigida a todas as damas, ele se dirigiu à porta seguido por Josette.
— Faremos uma festa de aniversário para as meninas no próximo sábado. Deve lembrar-se de que enviei um convite para você e sua irmã. Sei que o declinou por conta de compromissos assumidos anteriormente… E que ela está em viagem... Mas espero que possa ao menos brindar-nos com uma hora de seu precioso tempo. E traga aquele seu encantador amigo, o Sr. Marcel. Teremos boa comida, vinhos finos, música e entretenimento e, é claro, as mais belas parceiras de dança.
Kol olhou para Elena. Josette Saltzman interceptou o olhar.
— A Sra. Salvatore e minha querida amiga, Jenna, vieram de Mystic Falls especialmente para o evento.
Kol assentiu, embora não conseguisse lembrar de ter recebido o convite. Kaleb o conhecia tão bem, que tomava a liberdade de examinar e separar sua correspondência em aceitos e rejeitados, e confiava de tal forma no secretário que nem examinava a segunda pilha. Para ser honesto, até o dia anterior, não teria sequer pensado em aceitar o convite da Sra. Saltzman.
— Será um prazer comparecer por uma ou duas horas, se for possível. E transmitirei seu convite ao meu amigo. Estou certo de que seus sentimentos serão como os meus. Caso Rebekah já tenha chegado, eu a trarei também.
Josette vibrou de excitação com a simples ideia de os poderosos Mikaelsons prestigiarem sua festa. Isso seria um feito social, visto que eles pouco frequentavam alguma casa, preferindo fazer festas na grande mansão, o Abbatoir. O fato de comparecerem ao aniversário traria um enorme prestígio à família Saltzman.
Kol partiu depois de despedir-se com uma mesura rápida. Ele pensou em ir para casa, mas não queria, não conseguia tirar Elena da cabeça e sentia que precisava esquecê-la com outra mulher. Decidiu ir até uma de suas amantes regulares, no mesmo bairro, mas quando olhou para a casa, com a janela iluminada, ele praguejou. Ele pagava muito bem pelos serviços da mulher que ocupava aquela casa, que era sua, mas não se sentia disposto a entrar. Astrid o esperava, certamente, e não mediria esforços para expressar sua alegria em vê-lo. Era uma bela bruxa, filha de um tapeceiro local, ela e os pais sabiam apreciar e demonstrar gratidão por sua atenção e proteção. Astrid era sensual e apaixonada, e naquela noite precisava de uma mulher. Mas essa mulher não era ela.
A mulher que Kol desejava se retirava para dormir a menos de cinco minutos dali. Ele não podia deixar de praguejar contra a proximidade. Era como se visitar a amante naquela noite representasse uma imperdoável infidelidade. Kol riu sem humor. Fidelidade? O que era isso? E por que pensava nessas tolices? Não havia isso em seus relacionamentos, ele pensou. As mulheres eram uma fonte de diversão para ele e nada mais. Mal podia esperar para ter Elena à disposição. Ele tinha confiança de que faria o melhor arranjo com Elena. Sabia que no dia seguinte chegariam a um acordo.
Um sorriso distendeu seus lábios. Planejara a viagem à Mystic Falls para o final da semana, mas fora poupado do esforço. Sabia que a situação de Elena era precária, o que o tornaria ainda mais poderoso para ditar todos os termos. Não que tivesse alguma intenção de ser econômico ou negligenciar as vontades dela. Longe disso. Ele sabia que ela possuía familiares, pessoas com quem ela se preocupava. Ele garantiria que tivessem uma vida confortável e longe de ameaças, especialmente de Klaus. Isso faria com que ela cedesse a todos os seus desejos.
Kol olhou mais uma vez para a casa onde encontraria conforto, prazer e satisfação, mas decidiu seguir em frente para sua mansão.
