CAPÍTULO XVI

— Felizmente Josette sugeriu que usássemos sua carruagem — Jenna suspirou satisfeita. — Não quero nem pensar onde acabaríamos, caso George estivesse nos conduzindo.

Elena tentou sorrir. Sabia que a tia queria distrai-la do propósito da visita que fariam naquela tarde, mas era impossível esquecer.

— Josette pensa que vamos comprar algum presente para as meninas, por isso ela nem mencionou a possibilidade de vir conosco. Caso contrário, não sei se…

— E inútil tia! Não posso prosseguir com o que estamos fazendo. — Elena declarou em pânico.

— Pode e deve! Tudo que o homem pode dizer é não. E se ele te recusar nós saberemos que é um tolo e que você teve sorte por escapar de um homem assim.

Elena refletiu. Dispunha de uma semana em Londres, e nesse período teria de encontrar um marido, caso Kol a rejeitasse. Era humilhante, degradante, mas era a realidade. Ao longo dos séculos, muitas mulheres haviam recorrido à mesma estratégia para escaparem da penúria. Não era a primeira, nem seria a última. Muitas outras em todo o país eram suas companheiras na luta por um marido. Mas, ao contrário dela, muitas tinham o que oferecer, algumas favorecidas pelo destino, e poucas estabeleciam padrões tão elevados.

Poucas, também, pensavam em um segundo casamento tão cedo, dois meses depois de terem enterrado seus maridos. A sociedade ficaria escandalizada. Mas Elena não era qualquer mulher. Ela era a doppelganger. Seu sangue era o que tinha de mais precioso e Klaus Mikaelson queria para si. E não apenas ele. Sua vida estaria sempre em perigo. Logo, as dívidas e ameaças a impediam de cumprir as convenções sociais, e se voltasse à Mystic Falls sem a promessa de um casamento, Logan Fell seria sua única esperança. E o pai e a tia, assim como seus amigos e irmão, teriam que viver distantes. Ela teria de vender tudo e não restaria muito para recomeçar, mas ele cuidaria dela e ela teria o Conselho para protegê-la e proteger a seus entes queridos.

Entretanto, Kol Mikaelson ainda era sua melhor alternativa. Era rico, bonito, um vampiro original, irmão de Klaus, e havia se interessado por ela no passado. E Elena ainda sentia algo por ele… Mas afastou da mente o último pensamento. As emoções não deviam fazer parte do quadro. Ele era bem-sucedido, rico e com seus próprios negócios, como descobrira através de Josette Saltzman na noite anterior. Além disso, era um vampiro poderoso e bem relacionado com os seres sobrenaturais, especialmente as bruxas, visto que ele fora um quando humano. Então, Elena pensou em lidar com isso como uma proposta de negócios. Só isso. Kol poderia interessar-se pelo acordo ou rejeitá-lo.

Caso não conseguisse convencê-lo a aceitar sua proposta, teria de rezar para que o baile dos Saltzman fosse uma oportunidade para conhecer outros homens ricos e disponíveis, em busca de uma esposa pobre com uma propriedade caríssima e dispendiosa, sem contar que tinha um vampiro psicopata em seu encalço. Talvez devesse simplesmente tentar um acordo com Klaus, seu sangue pela segurança de sua família. O absurdo da ideia causou uma onda de desespero que a fez enterrar o rosto entre as mãos...

— Seu pai ficará orgulhoso de você…— Jenna comentou com tom encorajador. — Sabia que se animaria e veria o sentido de tudo isso.

O rosto do pai invadiu sua mente. O médico havia explicado que, apesar da fragilidade mental, o mais preocupante era a saúde física de John Gilbert. O ataque que ele sofreu, o tinha afetado bastante. Não era esperado que ele vivesse por muitos anos. Então Elena queria garantir que seus últimos anos de vida fossem felizes para o pai, ela queria cumprir seu dever filial, mesmo ele não tendo sido um pai amoroso no verdadeiro sentido.

— Já viu algo mais imponente? — Jenna perguntava com tom encantado.

Elena virou a cabeça e viu o lacaio parado ao lado da carruagem. Atrás dele erguia-se a mais imponente construção que já tivera oportunidade de ver. O luxo da mansão e das propriedades vizinhas a empurraram contra o encosto do banco. O que estava fazendo, afinal? Aquele vampiro não precisava de uma viúva miserável. Ele podia desposar a filha de um duque, se quisesse, uma bruxa poderosa, ou qualquer mulher. Ele era poderoso, não mais o vampiro perdido que ela conhecera cinco anos atrás.

— Você precisa… — Jenna observou a pose derrotada da sobrinha.

— Eu sei tia Jenna.

Forçando um sorriso, Elena reuniu toda a coragem que tinha e agarrou-se à dignidade que ainda lhe restava. Era tarde demais para recuar. O lacaio vestido de azul e dourado já segurava a porta da carruagem para ajudá-la a descer.

— Vamos tia!

— Não tema. O que ele pode fazer de tão terrível? O que pode dizer? Apenas não.

Elena encarou a tia em um silêncio chocado e tenso no interior do veículo. Não podia recuar agora. Avaliando o conjunto, Kol era sua melhor esperança, mas no fundo Elena sabia que o considerava apenas por ainda sentir algo por ele. Seu amor por ele, apesar de toda a dor que ele causou, não tinha diminuído.

Dentro da mansão, Kol aguardava Elena. Marcel Gerard estava com o amigo.

— Está cometendo um erro, Kol. — Marcel disse com firmeza. — Pessoalmente, quando conheci Elena, tive a impressão de que era uma garota boa e honesta, compassiva e sempre disposta a ajudar os outros. A menos que tenha mudado muito, ela jamais será amante de homem algum.

— Eu sei. E é isso que a torna ainda mais interessante. O desafio de corrompê-la. — respondeu o vampiro.

Marcel recordava vagamente de Elena Salvatore e sua doçura. Ficara surpreso com a rapidez e a facilidade com que ela conquistara seu amigo. Do dia para a noite, Kol abandonara a vida devassa e psicopática que ele levava, para entregar-se ao amor de uma virgem humana, de corpo esguio e olhar terno. E esse era o centro do problema. Apesar da paixão fulminante que unira o casal, outro homem a tivera primeiro e seu amigo jamais havia superado o golpe, apesar da aparência indiferente.

Marcel conhecia Kol a muitos anos e sabia que ele era um vampiro frio, indiferente. Poucas coisas o afetavam. Ainda humano, não tivera o amor de um pai, visto que Mikael Mikaelson era um homem bruto. Sua mãe era amorosa, e essa era a única referência que ele tinha de sentimentos. No entanto, quando Henrik, o irmão mais novo, morreu e eles foram transformados em vampiros, seus irmãos o abandonaram, e a dor do abandono e da perda do irmão o fizeram desligar a humanidade e se tornar um vampiro psicótico, assassino.

Kol realizara massacres e fora um vampiro impiedoso. Chegara a planejar um ataque contra Klaus, e isso fez seu irmão colocá-lo para dormir por um longo período. Mas depois de uns anos, Klaus queria a família de volta, justamente quando encontrou um meio de quebrar a maldição do sol e da lua. Ele trouxe os irmãos e a mãe.

Entretanto, Kol continuou o mesmo, mesmo reunido a família. Quando ele conheceu Elena Gilbert, ironicamente a mulher que seu irmão queria desesperadamente, Kol se apaixonou por ela e parecia ser correspondido. Ele fora contra Klaus para ficar com a humana doppelganger, mas o maior obstáculo era o pai dela, John Gilbert, que nunca o aceitara como pretendente de Elena, alegando que ele era um tipo vil.

Por ironia, ela acabou se casando com outro vampiro, tão ruim quanto Kol no passado, fazendo seu amigo mergulhar no desespero. Nessa época, Marcel temeu que o amigo desligasse a humanidade novamente, mas ele conseguiu superar o acontecimento com esforço e disciplina, e se transformou no maior sucesso do mundo das finanças. Sua riqueza e seus investimentos causavam inveja em muitos humanos e vampiros. Além disso ele era um vampiro original, imortal e tinha muito conhecimento sobre magia.

— Não entendo o que você quer.

— Simples. Eu a quero como amante.

— Para quê?

— Saciar meu desejo por ela, só isso. Para que servem as amantes? Não me diga que caso você venha a se casar um dia, você vai deixar de ter uma amante!

— Se eu tiver a sorte de me casar um dia, será com sua irmã Rebekah, e ela será única para mim.

— Bem, nesse caso, boa sorte! De minha parte, manterei amantes enquanto achar conveniente. Cada uma tem algo que aprecio. De Elena, não pretendo nada além de disfrutar de seu corpo por um tempo. Aliás, estou considerando uma união formal com sua tutelada.

— Mesmo? — Marcel questionou com surpresa.

— Sim. Davina é uma jovem encantadora, além de uma bruxa incrível. Confesso que ela inspira os melhores sentimentos em mim e me faz recordar como ainda existe algo de bom neste mundo. Talvez ela seja minha salvação.

— Não posso evitar de me sentir surpreso. É algo que eu gostaria, mas não pensei que aconteceria em breve.

— Sim. Talvez eu me case, finalmente.

— Isso me deixaria muito feliz, mas não consigo entender essa sua obsessão por Elena. Diga-me, o que ela inspira em você? — Marcel perguntou sério.

— Elena me inspira luxuria e vingança.

Marcel ia dizer algo, mas Kaleb abriu a porta para anunciar a presença da Sra. Salvatore e sua tia no salão azul.

— Sirva o chá dentro de dez minutos — Kol ordenou. Depois se virou para o amigo. — Não devemos deixar as damas esperando.

Kol tinha um sorriso irônico nos lábios quando se virou para deixar o escritório. Resignado, Marcel o seguiu pelo corredor que levava ao salão, pensando que o amigo estava cometendo um grande erro.