CAPÍTULO XVIII

Quando Jenna e Marcel chegaram, o silêncio era constrangedor, eles notaram que havia algo errado. Mas antes que algum deles pudesse comentar alguma coisa, Kol agiu. Ele queria continuar sua conversa com Elena, e para isso fez uma sugestão em tom seco ao amigo.

— Marcel, por que não leva a Sra. Sommers para conhecer os outros aposentos da casa?

— Já vimos todos eles, Lorde Mikaelson — Jenna respondeu, analisando a postura tensa da sobrinha. — Esta é a casa mais opulenta que já visitei. Deve precisar de um exército de empregados, e a cozinha...

— É enorme e bem suprida, por que não vai conhecê-la?

— A cozinha? — Marcel espantou-se.

— A cozinha. É enorme. Vão levar algum tempo para conhecê-la.

— Ah… Creio que seja um lugar interessante. E depois, podemos ir até os jardins. — Jenna falou, dando um último olhar para a sobrinha, antes de sair de braços dados com o Sr. Gerard. Ela percebeu que Kol queria mais um momento a sós com Elena.

Elena mantinha a cabeça baixa, tentando esconder a humilhação. Tivera uma chance de escapar com um mínimo de dignidade, mas acabara de perdê-la quando viu sua tia sair e deixá-la a sós com Kol. Já dissera tudo o que tinha a dizer. Não restava nada… ou quase nada a oferecer ao vampiro a sua frente.

— Então, você fica com meu dinheiro e eu adquiro o direito de usar sua propriedade. É isso?

A forma como ele colocava as coisas, a incredulidade sarcástica no tom de voz do vampiro despertou sua ira. Ela levantou a cabeça e seus olhos refletiram orgulho.

— Também poderá se beneficiar da respeitabilidade conferida pelo casamento e terá uma esposa que não fará exigências… que não tentará interferir em sua vida. Ficarei grata se puder demonstrar um mínimo de discrição e decoro em suas… em sua maneira de viver. Verá que sua reputação só terá a ganhar com o arranjo. – Ela ofegava, o rosto avermelhado.

Kol riu e sentou-se diante dela. Elena olhou-o sustentando o olhar cheio de orgulho, embora tremesse.

— Por que acha que quero melhorar algo tão pouco importante, Sra. Salvatore? Minha reputação há muito se perdeu para mim. De fato, desde que me tronei um vampiro que não a tenho. Mas não me importo com isso. Tenho um título e mais dinheiro do que posso gastar, tenho conhecimento de magia e boas relações com bruxas e outros seres sobrenaturais, sou um vampiro original, imortal, e tais coisas garantem impunidade e uma boa acolhida em qualquer lugar, apesar de meu comportamento.

— Compreendo... Pensei que quisesse uma casta esposa, uma imagem...

— Não. Houve um tempo em que me preocupei com esses detalhes, mas hoje é diferente. Deve ter ouvido o que dizem sobre minha devassidão, sobre minhas amantes. Se eu vier a me casar, será pelos motivos certos. Um casamento tem que me trazer algum benefício. Em resumo, só o que me interessa nas mulheres é que sejam experientes como você, que já conhecem os prazeres da carne e das relações com um vampiro.

Elena o encarou chocada e assustada com a demonstração de imoralidade. Ela não era como ou quem ele imaginava, não era uma mulher experiente. Kol nem tinha consciência do próprio erro. Se ele soubesse...

— Como estamos sendo dolorosamente honestos esta tarde, Sra. Salvatore, quero que saiba que sua proposta é a terceira que recebo esta semana. E devo confessar que as outras foram mais convincentes, mais baratas e mais interessantes. Também devo confessar que não tenho intenção de casar-me com nenhuma das proponentes. Há um jovem bruxa que tem minha atenção e caso eu venha a me casar, será com ela.

Elena teve a sensação de ter mergulhado em um lago gelado. Depois, com a mesma rapidez e intensidade, a raiva a tomou de assalto, fazendo ferver o sangue em suas veias.

— Posso dar-lhe meu sangue...

— Não sou meu irmão... Não tenho um interesse especial nele...

Elena se sentiu desolada. Ela não tinha mais o que oferecer... O homem a induzira ao erro, permitira que se humilhasse, e agora dizia que fora tudo em vão! Triste, ela se levantou, gesto que foi prontamente imitado pelo dono da casa.

— Se houvesse dito antes, Sr. Mikaelson, eu não teria vindo e nós teríamos sido poupados de uma tarde perdida. Como já disse, só disponho de uma semana em Londres e devo fazer bom uso de meu tempo. Lamento tê-lo incomodado, mas tenho que ir fazer outras visitas...

Elena aproximou-se da porta enquanto falava, mas dedos fortes agarraram seus braços antes que ela pudesse sair, prendendo-a a porta.

— Outras visitas? Vai percorrer todas as casas de Nova Orleans em busca de um marido com cem mil libras? Ou vai estender suas visitas a outras cidades?

— Exatamente! — mentiu. — Só comecei por sua casa porque fui convidada a vir.

— Pois eu garanto que não vai encontrar ninguém disposto a cobrir minha oferta. Você já estabeleceu seus termos, agora, é hora de ouvir os meus. Estou inclinado a saldar suas dívidas, manter suas propriedades, garantir a segurança de seus entes queridos e defendê-la de meu irmão, mas em troca quero que se mude para NOLA. Terá a casa que quiser, os empregados que escolher, uma mesada generosa e… e tudo mais que queira estipular.

Elena o encarou sem entender.

— Tudo o que precisa fazer é estar disponível quando eu for visitá-la.

Ao se dar conta do significado das palavras, Elena teve de morder o lábio para conter a mágoa e a vontade de chorar. Kol não a considerava uma mulher digna, mas uma prostituta. Ele não a queria como esposa, mas como amante... Furiosa, tentou livrar-se das mãos que a seguravam, mas ele só aumentou o aperto sobre ela. Elena tinha certeza de que teria hematomas até o final do dia.

— Por favor, quero ir ao encontro de minha tia. É hora de irmos. — Ela anunciou.

— Não tem mais nada a dizer enquanto gozamos de total privacidade, Sra. Salvatore?

— Oh, sim, eu tenho. Sua arrogância e sua atitude libertina me fazem lamentar o momento em que nos reencontramos. E devo confessar que está certo em um aspecto, Sr. Mikaelson. Não espero que nenhum outro cavalheiro cubra sua oferta. Estou certa de que muitos terão algo melhor a propor. Na verdade, um certo cavalheiro já fez uma oferta mais interessante. Antes de vir para cá, recebi uma proposta de casamento de um homem bom e decente.

— Bom e decente… Mas sem muito dinheiro. Quem vai escolher? O decente, ou o rico, o que só conhece o sobrenatural através de livros, ou um dos primeiros vampiros que existem? — Kol sorriu irônico — Nós dois já sabemos a resposta, não é mesmo, Sra. Salvatore? Ou não estaria aqui.

— Deixe-me sair!

— Sem ao menos me dar uma resposta?

— Oh, então quer uma resposta clara? Pois bem, prefiro recorrer ao seu irmão e entregar-lhe minha vida do que aceitar a sua proposta.

— Está recusando minha proposta, meu dinheiro, minha proteção? Pensa que Klaus aceitaria qualquer acordo com você? Ele seria capaz de aprisioná-la e matar todos de sua família um segundo depois.

— Por favor, solte-me! Devo partir. — Elena estava tentando manter a compostura, precisava sair dali o quanto antes, ou choraria na frente do vampiro sem coração.

— Quando voltar, no final da semana, implorando por uma segunda chance, não terá mais as mesmas regalias. No momento, estou disposto a aceitar todas as suas exigências. Sustentarei seu pai, sua tia, suas propriedades, seus outros familiares, o que quiser...

— Quer dar-me uma casa em Nova Orleans e ainda manter tudo? - ela indagou incrédula.

— Exatamente. Você continuará com tudo o que tem, mas terá de morar aqui. Afinal, eu não poderia ir a Mystic Falls sete noites por semana. — ele riu — Tem um dia para refletir. Pense com cuidado antes de recusar minha oferta, Sra. Salvatore.

— Não preciso de tempo para pensar, Sr. Mikaelson, porque não pretendo voltar a vê-lo. Nunca mais. De qualquer maneira, agradeço a chance de tê-lo conhecido como realmente é. Na juventude, cheguei a enfrentar pessoas queridas por você.

— Elena?

A voz da sra. Sommer encerrou a discussão.

— Tia Jenna — ela respondeu apressada, aproveitando o momento para escapar.

Kol não tentou retê-la. Pelo contrário, o visconde afastou-se segundos antes da entrada dos recém-chegados.

Marcel e Jenna estavam suados e corados depois da visita à cozinha, onde dois fornos eram mantidos acesos por quase todo o dia. Temendo que Lorde Mikaelson encontrasse outra maneira de mandá-los embora, Elena decidiu que era hora de fugir.

— Podemos ir, tia Jenna? — Sem esperar por uma resposta, ela executou uma cortesia polida para os dois cavalheiros. — Sou grata por sua hospitalidade, Lorde Mikaelson. Adeus Sr. Gerard.

Elena deixou o escritório e a mansão sem olhar para trás, certa de que a tia a seguia. Assim que entraram no coche, Jenna perguntou:

— E então?

Elena cobriu o rosto com as mãos numa tentativa de sufocar o desespero.

— Não — respondeu com um fio de voz, enquanto as lágrimas escorriam por seu rosto.

Kol viu o movimento de Elena da janela do escritório. A carruagem partiu e ele ficou olhando para a entrada vazia.

— Eu tentei preveni-lo… — Marcel comentou olhando o amigo.

— Preciso de um drinque. Vou servir uma bebida para nós. — Kol o ignorou.