CAPÍTULO XXI

Elena girou para encará-lo a beira de lágrimas.

— Como sabe de tudo isso? Esteve bisbilhotando meus assuntos pessoais?

— É natural que me interesse pelos problemas da viúva de meu parente distante.

— Eu sei quais são as suas reais intenções. Saiba que me arrependerei amargamente de ter te reencontrado no funeral de Damon, até o último de meus dias. Com licença. Deixe-me passar, ou serei forçada a pedir ajuda e…

Braços fortes a enlaçaram e interromperam o discurso inflamado. O vampiro original se aproximou dela.

— Eu não faria isso, Elena. Se você acha que aquelas mulheres foram cruéis em seus comentários, não vai sobreviver ao que dirão depois disto.

Kol a beijou. Elena ficou imóvel. Ela sentiu os lábios dele, suaves e macios e não resistiu a vontade de corresponder. O beijo era como o último que recebera há cinco longos anos. Um beijo de ternura e paixão contida, um beijo repleto de promessas e esperança, podia quase ouvir os planos para o futuro, o pedido de casamento…

As lembranças provocaram lágrimas que Elena não pôde conter. Ao sentir a umidade em seus lábios, Kol abraçou-a com mais força sem interromper o beijo, como se assim pudesse apagar seu sofrimento, sua mágoa… como sempre fizera.

Elena se lembrou de como havia sido o último beijo, a última vez em que o vira ou tivera notícias dele até o funeral de Damon. Sem soltá-la, Kol afastou os lábios dos dela.

— Quer saber de que me arrependo, Elena? — murmurou. — Lamento ter ido atrás de meu irmão, há cinco anos, para pedir que ele me desse a minha parte da herança e que a deixasse em paz de uma vez por todas, para poder voltar e me casar com você.

— O quê? — Elena perguntou surpresa.

— Sim. Deixei Mystic Falls para ir até meu irmão, de quem eu queria distância, para pedir que ele buscasse outra forma de fazer híbridos que não fosse utilizando você, porque eu a amava. Aproveitei para pedir minha herança, porque queria meu próprio dinheiro. Eu queria ter o mínimo para voltar a Mystic Falls de cabeça erguida e repetir minha proposta de casamento. Ou tentar comprá-la, como seu pai dizia. Ele queria o dinheiro, a despeito de tudo o que alegava sobre minha origem e espécie. Eu sabia que ele precisava. E a outra justificativa era que eu sou um original como Klaus, que ameaçava sua vida. Então eu precisava ir até Klaus, que detinha minha fortuna e que ameaçava você.

— Por que você não me disse? — Elena estava agoniada.

— Eu decidi fazer isso assim que deixei sua casa, quando falei com seu pai. Fui direto ao meu irmão e, como era de se esperar, ele me adornou por um tempo. Rebekah foi quem conseguiu me libertar e pedir a Klaus que me ouvisse, por nossa família. Depois de uma conversa eu consegui que ele me desse o que era meu de direito, e na ocasião, Klaus me prometeu que se eu me casasse com você, ele buscaria outra maneira de ter seu exército. No entanto, só consegui voltar a Mystic Falls dois dias depois de seu casamento com Damon Salvatore.

Elena estremeceu ao ouvir a espantosa declaração. Ela jamais imaginara que isso acontecera.

— Mas… Como ele poderia ter atendido ao seu pedido?

— Klaus queria controle, como sempre, e tinha assumido o acesso a todos os fundos dos Mikaelsons. Ele nos tinha despertado a pouco tempo, queria a família reunida. Essa era uma maneira de nos manter por perto. Ele nos deu só o necessário, para não ficar tão evidente as suas intenções. A parte do dinheiro não foi fácil, mas consegui convencê-lo de que não iria embora. Agora a parte que cabia a você foi uma batalha. No fim, ele entendeu que eu realmente queria viver com nossa família, mas junto da mulher que eu amava.

Elena ficou muda de surpresa, mas antes que pudesse voltar a dizer algo, uma voz se fez ouvir.

— Aqui tem várias flores bonitas.

A voz feminina penetrou na atmosfera quieta do jardim. Assustada, Elena afastou-se de Kol no exato instante em que Josie surgia apressada, seguida de Marcel. Aflita, ela segurou o braço do visconde e pediu:

— Demonstre um mínimo de interesse, meu lorde, por favor.

Kol teria pedido explicações, mas Marcel já havia levado Elena para o outro canto do jardim, e os dois olhavam para cima como se houvesse ali algo de grande interesse. Antes que pudesse protestar ou tentar compreender a inusitada situação, Kol percebeu a presença de Josette Saltzman no jardim, acompanhada da filha Liz.

— Mamãe, que bom vê-la aqui! — Josie exclamou. — Estava tentando convencer o visconde de que aquilo é uma orquídea, mas ele insiste em dizer que é um lírio.

Josette não conseguiu esconder o espanto. Os donos da casa buscavam em vão localizar os ilustres convidados, e ali estavam eles, com sua filha e a jovem sobrinha viúva de Jenna. Josette correu ao encontro da filha, temendo que os anfitriões entrassem no jardim.

— Josie, creio que Lorde Mikaelson está certo. — disse incomodada.

Pietra LaRue chegou ao local e não disfarçou o ressentimento diante da cena. Odiava ver aquelas jovens usurpando os privilégios de suas filhas. Um vampiro original e o rico amigo dele finalmente compareciam a uma de suas festas, para simplesmente serem distraídos pelas jovens intrusas! Depois de tão grande conquista, não permitiria que os ilustres visitantes passassem todo o tempo em companhia das duas jovens convidadas.

— Fauline! — chamou. — Você é uma especialista em flores. Por favor, mostre a Lorde Mikaelson todas as espécies que cultivamos aqui. Eva… Talvez o Sr. Gerard queira ver a fonte.

Josie e Elena trocaram um olhar aliviado, e Josie notou a umidade no rosto da amiga.

— Ah, aí estão vocês! — disse Jenna. — Elena, minha querida, o que houve? Josie disse que estão com dor de cabeça… — Ao se dar conta da presença de Kol Mikaelson, ela assumiu uma expressão severa. Ninguém tinha o direito de recusar sua bela sobrinha, especialmente aquele vampiro, que nunca fora bom o bastante para ela, por maior que fosse sua fortuna e seu poder. Ao ver os sinais de pranto em seu rosto pálido, Jenna olhou com ódio para o vampiro original.

Elena caminhou com sua tia e as mulheres Saltzman para longe do grupo. Agora ela se sentia confusa. Há menos de meia hora, tudo que desejava era inventar uma desculpa qualquer e escapar da casa dos LaRue. E agora, apesar de estar mesmo com uma terrível dor-de- cabeça, não queria partir.

Elena desejava desfrutar de mais tempo com Kol. Queria saber mais sobre o que ele havia dito. Mas era inútil. Não teriam outra chance de conversarem a sós naquela noite. Talvez não houvesse sido tola, afinal. Talvez o que viveram, os sentimentos que ele declarou sentir por ela, fossem realmente verdadeiros.

Kol desejava o mesmo que Elena. O momento que tivera fora mágico, especial, quase como nos velhos tempos. Ela parecera tão surpresa com o que ele dissera, que queria questionar o quanto ela sabia sobre as intenções dele e a conversa que tivera com o pai dela.

Infelizmente para ambos, teriam que aguardar uma nova oportunidade para conversarem novamente.