CAPÍTULO XXII

Deitado no sofá da biblioteca, Kol conteve uma gargalhada.

— Eu lhe disse para não ir à casa dos LaRue esta noite. Avisei que seria aborrecido e que se arrependeria.

— Aborrecido? Estou mais do que arrependido!

— Ainda não é meia-noite. A sra. Crawford deve ter seu salão cheio. Aposto que ficará feliz com sua presença.

Marcel dirigiu-se à porta.

— Vem comigo?

— Hoje não. Aproveite!

— Até amanhã!

— Ah! Recebi uma carta de minha irmã. Rebekah estará conosco em breve.

Marcel sorriu satisfeito com a novidade, mas não pediu maiores detalhes ao amigo.

O som da porta se fechando indicou a Kol que ele estava sozinho. Marcel sabia quando ele preferia a solidão. Como um bom amigo, ele o conhecia bem. Melhor do que qualquer outra pessoa. Melhor até do que sua própria família exceto, talvez, por Rebekah.

Kol aprendera a ser discreto, a guardar seu verdadeiro caráter e seus sentimentos quando se tornou um vampiro. Ele desligou o interruptor de sua humanidade. Assim era menos doloroso. Ainda podia lembrar o menino que desejara... necessitara da atenção e do afeto dos pais e dos irmãos. E que pouco recebera deles. Mikael e Esther Mikaelson não hesitavam em exibir os filhos aos elogios dos moradores da vila e aos visitantes, todos eram belos e habilidosos, embora distintos. Alguns, como Kol, tinham magia e isso era o mais valioso. Mas amor em si, apenas a mãe lhes dedicava em algumas ocasiões. Apesar de que fora por amor que ela os transformara em vampiros, monstros, e por isso quis destruí-los depois. Seu pai abominava demonstrações de afeto.

Depois da transformação eles se separaram, pelo menos Kol se separou de seus irmãos quando jogou sua humanidade fora. Ao longo dos séculos ele foi se acostumando a estar só, buscando a companhia de bruxas, devido ao seu passado com magia, sempre flertando e nunca tendo um relacionamento sério.

Kol e seus irmãos cometeram atrocidades, Kol principalmente. Mas agora ele tinha certeza de que seria superado por Niklaus. Seu irmão tinha sede de poder e eliminava qualquer um em seu caminho. Klaus queria se tornar um rei.

Pensando em Klaus ele se lembrou de Elena. Klaus era uma ameaça à vida dela. E embora Kol nunca tivesse se sentido atraído por Tatia ou Katherine, com Elena era diferente, ela despertou nele o sentimento mais forte que ele sentira em toda a sua vida. Elena o fizera voltar a sentir.

Desde que a viu pela primeira vez, Elena inspirou nele a necessidade de contar a ela sobre si, inspirou a vontade de contar toda a sua história de vida de maneira honesta e direta. Ele queria ser verdadeiro, queria que ela o aceitasse como ele era. Ele queria ser com ela e para ela o melhor possível.

Ele sabia que tinha uma fama, assim como toda a sua família. Ele cometera algumas atrocidades... Uns assassinatos... Mas a maioria de suas experiências ganhara um caráter fantástico por conta dos boatos que cercavam sua existência livre. Mas no fundo, ele era sim um vampiro psicótico. Entretanto, Elena o fizera lamentar seu estilo anterior de vida, de vampiro psicopata e frio. Ele quis ser bom para ela.

Agora, pensava que se não houvessem sido interrompidos no jardim interno dos LaRue, certamente teria expressado seu pesar por ter dito o que disse a ela, por ter agido como agiu em todos os cinco anos em que esteve longe dela. Mas… por que pensava em seu estilo de vida? O que havia mudado? Não tinha intenção de alterar ou explicar seu comportamento para ninguém, nunca mais. Nem pediria desculpas por seus atos. Estava choramingando como um tolo fraco, como fizera há cinco anos. E nunca mais sofreria daquela maneira. Ele prometera a si mesmo.

No passado, Elena havia jurado amá-lo e soara sincera. Um mês depois de seu pai ter recusado uma proposta de casamento do vampiro original que correspondera ao seu suposto amor, ela se casara com outro. Acreditara nela, ligara a humanidade por ela. Tivera certeza de que ela o esperaria até que tivesse feito o suficiente para merecê-la diante dos olhos de seu pai. Teria sido capaz de jurar que a conhecia, mas ela transferira a afeição doce e leal por um vampiro psicótico e sem posses, para um vampiro tão sanguinário quanto ele, mas que era um latifundiário.

Não iria ao baile dos Saltzman. Não devia ter ido à casa dos LaRue. Beijá-la fora tolice. Como deixara-se comover por suas lágrimas? Prometera a si mesmo que não se deixaria envolver por seus encantos femininos, porque sabia que Elena era capaz disso. Jurara que não a tocaria enquanto não a tivesse instalado em uma casa na cidade, onde ela estaria sempre disponível, mas cedera à tentação e, assim, voltara a experimentar a tortura de uma paixão intensa e incontrolável. Talvez, casar-se com Davina fosse uma boa solução.

Kol esvaziou o copo de uísque de um único gole e levantou-se. Ela aceitaria seus termos antes de voltar a Mystic Falls, estava certo disso. Não havia mulher capaz de recusar sua generosidade e a julgar pela reação dela, ela ainda era atraída por ele.

Kol sorriu satisfeito. Elena não o repelira por beijá-la, ela gostou do contato dele, ele pôde senti-la. Ela tinha de pensar em sua vida, em seus familiares e nos bens que herdara do marido. Tinha que pensar na segurança deles, também. Sabia que tais responsabilidades despertariam seu bom senso...

Longe dali, Elena estava no quarto que dividia com a tia, na casa dos Saltzman.

— Ele já está arrependido, é evidente, mas não ceda tão cedo. O homem merece sofrer.

Elena girou o corpo sobre a banqueta diante da penteadeira e fitou a tia que, de robe, acabara de entrar no quarto.

— Do que está falando, tia Jenna?

— Do pedido do lorde Mikaelson. Deixe que ele espere enquanto você finge refletir… Talvez possa aceitar o pedido de desculpas.

— Não houve nenhum pedido de desculpas, tia. Nem haverá. Nunca. E quanto ao outro pedido… Já disse que o Sr. Mikaelson pretende continuar solteiro ou se casará com uma jovem que não sou eu.

— Josette comentou que ele raramente frequenta ocasiões sociais convencionais, como fez nos últimos dias, e sempre onde você está. É evidente que está atrás de você. Ah! E ele anunciou em seu clube que tem um interesse especial em seu bem-estar.

— Ele fez o quê? — Elena arregalou os olhos.

— De acordo com Alaric, todos os cavalheiros do Russeau's entenderam a mensagem. Kol Mikaelson deixou claro que tem certos direitos sobre você.

Elena foi tomada pela raiva. Então, Kol andava pela cidade anunciando seu interesse? Não queria se casar com ela, mas também não desejava que outro a desposasse, porque um casamento arruinaria seus planos. Publicando suas intenções, ele a privara de outras ofertas respeitáveis que pudessem surgir. Além disso, só alimentava os boatos maldosos sobre ela.

Ela respirou fundo, tentando se acalmar. A reputação de mulherengo e o estado civil confirmado com tanta veemência traduziam com clareza o tipo de interesse que ele tinha nela. Seria perseguida por todos os cavalheiros de Nova Orleans, pensando que poderiam tratá-la da mesma forma… ultrajando-a, afrontando-a… E quando as esposas desses homens ouvissem os rumores em torno de seu nome, passariam a desprezá-la.

Socialmente ela estava arruinada, e temia chamar mais atenção por estar sob o interesse de um Mikaelson. Todo ser sobrenatural em Nova Orleans sabia do interesse de Kol por ela. E se houvesse algum inimigo dele que quisesse machucá-la? Elena se perguntou. E sua querida tia Jenna, em sua inocente ignorância, acreditava nas nobres intenções de Lorde Mikaelson.

— Quando ele a pedir em casamento…

— Já disse que não haverá um pedido, tia. Ele não quer se casar comigo. Lembra-se de quando se recusou a me contar um determinado episódio da vida do visconde? Pois bem, ele sugeriu que eu… que eu fizesse parte de tais episódios.

— Ele quer que você sirva sangue nua? — Jenna gritou atônita.

— O quê? Então foi isso que ouviu sobre uma de suas amantes?

— Uma? Não. Eram três. E não eram amantes, mas aspirantes ao posto. As três mulheres disputavam a atenção de Lorde Mikaelson em um salão privado de reputação duvidosa. Dizem os boatos que uma delas era uma condessa e que outra era uma herege. Cada mulher julgava ser a de figura mais atraente, e por isso decidiram provar que eram capazes de seduzi-lo com suas curvas exuberantes e seus sangues, para deleite do público masculino. Ninguém pode censurar o visconde, porque a ideia não foi dele…

— Quem foi a escolhida? — Elena perguntou com voz trêmula, incapaz de disfarçar a dor.

— Nenhuma delas. Kol Mikaelson partiu com uma… novata na profissão... Preferia que não soubesse, Elena…

— Por quê? Se ele estivesse disposto a se casar comigo, essa história seria aceitável? Oh, como me arrependendo por ter vindo! Ele quer que eu seja sua amante!

— Oh! — Jenna ficou em choque.

— Foi uma enorme tolice pensar que a solução de nossos problemas era tão simples. — Elena sentiu as lágrimas se formando em seus olhos.

— Oh minha querida, não fique assim. Eu não imaginei que ele seria capaz... Como vocês já tiveram um relacionamento antes, pensei que ele ainda nutria sentimentos por você, e que assumiria um compromisso sério...

— Não tia, ele não tem mais sentimentos por mim... — Elena falou com tristeza.

— Partiremos na manhã seguinte ao baile dos Saltzman e daremos um jeito. Também lamento tê-la convencido a vir comigo. Pensar que foi insultada…

— Pelo menos serviu para eu deixar de ser tão tola! Creio que saberei lidar melhor com certos… cavalheiros.

— Oh minha querida — Jenna caminhou até Elena e a abraçou.

— Foi bom testemunhar seu reencontro com a Sra. Josette e conhecer suas filhas. Não vamos deixar que as circunstâncias destruam tudo o que aconteceu de bom durante nossa estadia na capital. Venderei as propriedades, mas certamente restará algum dinheiro para o nosso sustento. Não terei de me casar com ninguém, e continuaremos vivendo a vida, de maneira modesta e com segurança.

Elena sabia que não seria assim, mas não queria sucumbir ao desespero.