CAPÍTULO XXIII

— Pensei que não me importaria com esta noite, mas estou agitada. E então? — Josie perguntou ansiosa, girando em torno de si mesma para que a amiga pudesse analisar todo o conjunto.

— Você está linda! — Elena anunciou. — Aposto que sua mãe não estava junto quando comprou esse vestido. É simples, elegante e discreto, mas o tom de rosa realça sua pele de maneira perfeita!

— É verdade, estava sozinha quando escolhi este vestido. Liz estava com mamãe na hora, então pude escolher o meu em paz. E você também ficou linda de verde.

— Ótimo! Agora que já trocamos elogios, é melhor descermos. Seus convidados começaram a chegar já faz meia hora!

Nesse momento, Josette Saltzman entrou no quarto, seguida da outra filha, Liz.

— Josie, o que está esperando? Os LaRue já chegaram, os Sinclair... Oh, Sophie Sinclair está usando o mesmo tom de rosa que você. Eu disse que a cor era comum. Deveria ter usado uma cor mais envolvente, exótica, como sua irmã. Liz está simplesmente perfeita!

Elena e Josie trocaram um olhar. Para quebrar o clima, Elena sorriu, elogiou a aparência da dona da casa e da jovem filha que a acompanhava, e passou por elas a caminho da escada. Na entrada do salão, parou para cumprimentar a tia, que analisava a festa com ar crítico.

— Devo dizer que desta vez Josette excedeu-se.

Elena assentiu. A decoração do salão era linda, e uma pista de dança fora criada bem no meio do aposento, cujos tapetes haviam sido removidos. Muitas cadeiras eram ocupadas por convidados elegantes e sorridentes. O som de risadas e vozes excitadas aquecia a atmosfera. Na sala de jantar, uma mesa grandiosa oferecia todo o tipo de delícias ao paladar.

— Não quer se sentar, tia Jenna, antes que todas as cadeiras sejam ocupadas?

— Não. Não vamos esconder sua beleza entre almofadas. - Apesar de tudo, Jenna ainda não desistira do sonho de encontrar um homem rico, decente e poderoso, um herói que pudesse salvá-las da ruína.

— Tia…

— Por favor, Elena! A propósito, você está linda nesse novo vestido. O desenho do decote valoriza o contorno perfeito de seus ombros. O cabelo cacheado também está lindo.

Numa reação instintiva, ela levou a mão ao colo.

— Acha que devo usar um broche ou algo que possa manter o decote mais fechado?

— É claro que não! Você está simplesmente perfeita!

— Tia Jenna, o que eu faria sem seus elogios? — Elena sorriu para a tia.

— Não são elogios. Estou apenas constatando a verdade.

— Mesmo assim, obrigada. Já viu o bolo?

— Sim, é impressionante. Se Josette não conseguir encontrar um marido para as filhas depois desta festa, será melhor mandá-las para um convento... Ou fazer uma poção do amor.

— Não diga uma coisa dessas, tia! — Elena a repreendeu! Oh, veja! O Sr. Gerard acaba de chegar. — Os olhos buscaram o cavalheiro que certamente o acompanharia, mas quem o acompanhava era uma bela jovem, de cabelos castanhos e olhos verdes.

— Sra. Salvatore… Sra. Sommers… é um prazer revê-las. Esta é minha tutelada, Davina Clair.

— É um prazer conhecê-la. — Elena saudou a jovem, dando-lhe a mão. A jovem sorriu para Elena e sua tia.

— Posso reservar uma dança em sua caderneta, Sra. Salvatore, antes que ela seja totalmente preenchida?

— Não dançarei esta noite, Sr. Gerard.

— Oh, lamento é claro.

— Ah, aqui está nosso querido Sr. Gerard. — Josette apontou entusiasmada. — Quem é esta bela jovem? E onde está seu bom amigo? Também veio, ou virá mais tarde?

— Lamento, mas creio que meu amigo não conseguiu desvencilhar-se de compromissos assumidos anteriormente. É claro que ficou muito desapontado… E esta é minha tutelada, Davina.

— Oh… Bem, nesse caso, sejam bem-vindos! Estou certa de que minhas filhas terão prazer em levá-los para ver o bolo de aniversário. A decoração é uma obra de arte, e os homens raramente apreciam certos detalhes. Creio que Davina tem idade próxima de minhas filhas, então será bom que se conheçam.

— Tem razão, Sra. Saltzman — Marcel admitiu com um sorriso irônico, os olhos fixos nas aniversariantes. — Devo admitir que sou um novato nesse assunto. E sim, Davina tem 16 anos.

— Quase 17 — A jovem declarou com orgulho.

— Você também é uma bruxa? — Liz questionou, ao que Davina balançou a cabeça confirmando.

O grupo composto por Marcel, as aniversariantes e sua tutelada, desapareceu em direção à sala de jantar. Josette Saltzman convidou Jenna para irem cumprimentar alguma conhecida. Elena se viu sozinha. Mas por pouco tempo.

— Tem certeza de que não quer dançar, Sra. Salvatore? Nem mesmo uma quadrilha? — Um homem desconhecido perguntou, aproveitando para chegar ainda mais perto. — Não fomos devidamente apresentados. Sou o Sr. Lucien Castle.

— Obrigada, Sr. Castle, mas não. Não dançarei esta noite. — Elena ofereceu um aceno.

— Ouvi dizer que é uma espécie de parente dos Mikaelsons.

Elena olhou em volta incomodada, esperando que Jenna surgisse para resgatá-la da incômoda atenção do desagradável cavalheiro.

— Meu finado marido era um parente distante dos Mikaelsons.

— Eles são uma família de sorte por ter uma jovem tão fascinante aos seus cuidados…

— Eles não cuidam de mim, Sr., em nenhum sentido. Com licença, mas minha tia está acenando para mim.

Rápida, Elena afastou-se e foi buscar refúgio em um corredor silencioso. Posicionada atrás de uma coluna de mármore, apoiou a testa no material frio e tentou acalmar-se. Sabia exatamente o que aquele homem odioso insinuava e porque a olhava com tanto desrespeito. A culpa era de Kol Mikaelson.

Com um suspiro resignado, Elena afastou-se do pilar para voltar à festa, mas a presença de Alaric Saltzman obrigou-a a voltar ao esconderijo, assim como o homem, Lucien Castle, que procurava alguém… E Elena sabia que esse alguém era ela.

— Alaric! — ele exclamou. — Viu a pobre viúva por aí? Agora entendo por que o Mikaelson tem se mostrado tão possessivo.

— É melhor guardar seus pensamentos para si mesmo, Castle, ou vai se arrepender. Ouvi dizer que lorde Mikaelson cravou uma estaca em alguém há alguns dias, e por um motivo bem menos importante.

— Pois afirmo que me sinto arder por aquela mulher. Para onde ela foi? Acha que o Mikaelson vai me dar uma chance quando se cansar dela? Sei que ele tem recebido diversas propostas dos homens que se interessam por Mary-Alice, agora que parece não a querer mais. Ofereci uma ótima quantia, além de uns antigos objetos ocultos, para tê-la em minha cama, e é bem provável que ele aceite a proposta. São objetos de magia negra, e sabemos que ele adora esse tipo de artefato. A propósito, não vi o visconde por aqui. Pensei que ele estaria aqui esta noite.

— E está… imagino — Alaric confirmou rindo. — Lorde Mikaelson deve estar a alguns metros, aqui mesmo no bairro, dedicando um pouco de seu precioso tempo àquela morena tentadora. Suspeito de que a divina Astrid Malchance tenha conseguido atraí-lo, afinal. Soube que ele a tem negligenciado ultimamente, assim como a Mary-Alice. E adivinhe por quê? Os dois homens riram e caminharam juntos de volta ao salão.

Dois minutos mais tarde, Elena ainda permanecia apoiada na coluna fria, incapaz de respirar. Agora sabia exatamente o que pensavam a seu respeito. Também sabia que compromisso Kol fora incapaz de cancelar. Estava com uma de suas amantes, e bem perto dali. Uma morena…

Era assim que as coisas funcionavam? Elena se perguntou. Se houvesse aceitado a proposta de Kol, também seria leiloada, uma vez esgotado o interesse de Kol? Ou pior, ela seria entregue a Klaus? Era um detalhe em que não havia pensado. Ser vendida, trocada por um objeto de magia negra, ou entregue a um sanguinário... Era difícil sufocar a humilhação e a dor.

Elena suspirou. Estava descobrindo novas facetas de Kol Mikaelson e de seu sórdido estilo de vida. E apesar de todas as provas, recusava-se a acreditar no óbvio, lutava para encontrar desculpas para as ações dele. Ela fizera isso desde que o conhecera. Sempre soube de seu passado, mas deu a ele uma chance de ser diferente.

Era estúpido e fútil, ela decidiu, limpando as lágrimas que nem percebera estar derramando. Ele a teria destruído se tivesse aceitado sua proposta. Porque estaria perdida quando ele se cansasse do passatempo e partisse, abandonando-a. No fim, estaria sozinha e empobrecida de qualquer jeito, teria que vender as propriedades e cuidar de sua família, sem a proteção dele. Teria de escapar de Klaus e garantir que ele não machucasse seus entes queridos. Nenhum outro homem a quereria para esposa depois dela se tornar uma amante, a menos que fosse por seu sangue de doppelganger. Ele queria se aproveitar dela, de sua situação, de sua necessidade. E quando não estivesse mais com ela, Klaus não teria mais que cumprir sua promessa, se é que prometera de fato não a machucar se ela estivesse com Kol...

De repente, Elena pensou que sua única possibilidade de casamento era o jovem advogado de Mystic Falls. Mas ela não o amava, e não se casaria novamente por conveniência. Kol Mikaelson era sua única possibilidade, ele garantiria seu sustento financeiro, a protegeria de Klaus e de outros inimigos, permitiria que ela continuasse com sua família e seus amigos. Mas ela não queria se entregar a ele.

Elena sentiu que a vingança era uma necessidade crucial. Kol a beijara. Falara do passado com ternura e a fizera chorar, lamentar pelo que poderia ter sido. Havia despertado sentimentos que ela pensou estarem mortos, mas que estavam apenas adormecidos. E, no entanto, ela não significava mais nada para ele. Era apenas um corpo a ser usado e descartado.

Elena pensou que podia seguir as mesmas regras e tirar proveito dele sem dar nada em troca. Ele merecia. Faria com que Kol Mikaelson saldasse todas as suas dívidas e garantisse que Klaus a deixaria em paz com seus entes queridos. Depois, ela fugiria para Mystic Falls sem que ele tivesse tempo para tocá-la uma única vez. Pediria que Bonnie a escondesse e arrumaria uma desculpa... Ela o faria crer que ficaria com ele, mas não tinha a menor intenção de dar a ele o que ele queria.