CAPÍTULO XXVII
— Sr. Fell, que prazer vê-lo aqui.
— O prazer é meu, Sra. Salvatore.
Elena interrompeu a tarefa de cozinhar para receber o visitante.
— O que o traz aqui?
— Soube que havia retornado de sua viagem à Nova Orleans no início da semana, mas decidi esperar até que descansasse da viagem antes de pressioná-la por uma decisão.
— Refere-se a sua generosa proposta de casamento?
— Não, Sra. Salvatore. Neste momento, a questão de maior urgência é a venda da propriedade. As propriedades terão de ser negociadas para o pagamento das dívidas. Odiaria ter de revelar o valor exato, mas…
— Cem mil libras — Elena resumiu com o rosto pálido.
— Exatamente. O banco revelou o valor? Sabe também qual é a porcentagem de juros cobrada sobre essa quantia? Quanto antes puder vender as propriedades, mais certeza terá de poder cobrir toda a dívida com o que for apurado.
— O banco não recebeu o pagamento? — Ela havia imaginado, não? Conhecia os riscos. Kol Mikaelson era um lorde, mas também um empresário astuto. Fora tolice tentar enganá-lo. — Pode entrar em contato com o banco, Sr. Fell, e indagar se meu benfeitor manifestou a intenção de saldar a dívida do finado parente, conforme prometeu fazer?
— Está dizendo… que o Lorde Mikaelson prometeu pagar a dívida?
Elena apenas assentiu.
— E por que ele faria tal coisa? — Logan Fell persistiu incrédulo. — Eles eram parentes de o quê? Quinto grau? Eles passaram anos sem manter nenhum contato! Sei que seu finado marido preferia viver longe dos Mikaelsons. Por acaso ele estipulou uma data para efetuar o pagamento?
— Não.
— Por que o lorde Mikaelson seria tão generoso, Sra. Salvatore? Houve algum tipo de… acordo entre vocês?
— Sim, Sr. Fell — Elena agitou os pés, esperando que o homem não fizesse mais perguntas.
— E ele deixou de cumprir sua parte, presumo.
— Faça o que pedi, Sr. Fell, e entre em contato comigo assim que tiver uma resposta do banco.
O homem se retirou e Elena suspirou irritada. Se Kol não a ajudasse, ela perderia tudo. Fora tola ao imaginar que poderia enganar um vampiro milenar como ele, mas no fundo, havia esperado que ele honrasse sua palavra pelo que eles tiveram anos atrás. Secretamente desejara descobrir que ainda era importante para ele como fora há cinco anos.
— O que Logan queria? — Caroline, perguntou a cunhada, após o jantar.
— Recordar-me de que preciso vender as propriedades para quitar as dívidas.
— Mas você disse... — Bonnie começou a falar, mas foi interrompida por Elena.
— Que Kol ia pagar tudo, mas aparentemente ele não cumpriu com a palavra.
— Não posso acreditar...
— Bem, saberemos em breve, porque pedi ao Sr. Fell que verificasse junto ao banco a informação.
— Se ele não pagar a dívida, o que fará?
— Não pensei sobre isso, mas creio que terei de ir a Nova Orleans novamente, para tentar persuadi-lo.
Elena estremeceu com aquele pensamento, porque isso significava que ela se entregaria a Kol, que jogaria fora a sua honra e engoliria seu orgulho ao se tornar a amante dele.
— Isso significa...
— Que farei o que for necessário para garantir a nossa segurança, seja contra a pobreza, seja contra Klaus.
Bonnie e Caroline não comentaram nada, apenas encararam a amiga com olhos conhecedores e indulgentes. Nenhuma delas se sentia feliz com a situação, com Elena sendo o cordeiro do sacrifício, mas não havia nada que pudessem fazer, além do que já tentaram. Bonnie havia recorrido as bruxas, Caroline aos vampiros, assim como Stefan e até Jeremy. Eles tinham pesquisado formas de eliminar Klaus, mas não encontraram nenhuma. Sobre o dinheiro, poderiam compelir pessoas, pegando delas pequenas quantias até terem exatamente o que precisavam, ou poderiam compelir as pessoas no banco, mas Elena se recusava a permiti-lo, pois além do risco que corriam, no caso de descobrirem que eram vampiros, ela ainda se tornaria uma ladra. E isso seria desonroso.
— Eu só peço que guardem isso em segredo. Jeremy e Stefan, ou meu pai, não precisam saber. Tia Jenna sabe das intenções dele, mas julga que eu não cederei.
— Se compelirmos... — Caroline sugeriu mais uma vez.
— As pessoas aqui tomam verbena, Caroline, é muito arriscado. Não posso me arriscar a perder vocês. E não quero pegar o dinheiro de ninguém.
— Você prefere se sacrificar — Bonnie afirmou.
— É meu problema Bonnie, sou eu quem tem que resolver. Não vejo uma solução melhor, por enquanto. E se Kol for cuidadoso o bastante, talvez ninguém nunca venha a saber desse arranjo.
— Ele quer que você se mude para Nova Orleans, as pessoas comentarão.
— Farei um novo acordo com ele. Não quero mudar para lá. Talvez possamos definir algumas datas, um período, talvez uma vez ao mês, onde eu faça uma visita ou ele o faça. Só peço que por favor, não falem sobre isso com mais alguém.
Bonnie e Caroline garantiram que não diriam nada, porque não era algo delas para contar. Elena relaxou. Ela sabia que poderia confiar nas cunhadas. Partiria seu coração ver o desprezo nos olhos do irmão, ou mesmo nos de Stefan. Ela rezaria para que eles se convencessem de que Kol fizera apenas uma boa ação por um parente muito, muito distante, e que como agradecimento, ela o visitaria de vez em quando e o receberia também em casa.
Depois disso, Elena aguardou ansiosa por uma visita de Logan Fell, mas o que recebera foram duas cartas. Elena olhou para a carta que havia sido entregue dez minutos antes com outro envelope. Ela escolheu a que desejava abrir. Reconhecera a caligrafia de Rebekah e ansiava por perder-se nas novidades relatadas pela amiga. Mas os olhos eram atraídos pela outra mensagem, pela letra corrida e confusa que cobria o envelope. Devia ser a resposta para a carta que enviara a Kol Mikaelson na semana anterior, após a visita do Sr. Fell.
Disposta a abrir a correspondência em seu quarto, estava se aproximando da escada quando batidas na porta a detiveram. Matt passou por ela para ir atender ao chamado. Segundos depois, Logan Fell entrava no hall e a encarava com ar sério.
— Como vai, Sra. Salvatore?
— Bem, obrigada. Não quer me acompanhar até a biblioteca, Sr. Fell?
Assim que se acomodaram em lados opostos da mesa, Elena deixou as cartas sobre a superfície polida e aguardou.
— Prometi que viria informá-la assim que tivesse notícias do banco, Sra. Salvatore. Esta manhã obtive uma resposta para minha comunicação.
Ele entregou a ela uma carta que retirou do bolso.
— De acordo com a mensagem, o Visconde Mikaelson fizera um depósito numa conta especial, cujo montante quita toda a sua dívida e o banco já a considera quitada. No entanto, ele pediu que o banco aguardasse suas instruções para finalizar a papelada e dar baixa definitiva na dívida deixada pelo seu finado marido.
— Entendo...Obrigada por ter vindo trazer este comunicado. Gostaria de um refresco… antes de partir?
Logan Fell se recostou na cadeira e sorriu, os olhos sobre os envelopes que ela deixara ao alcance da mão.
— Vejo que o lorde Mikaelson escreveu. Que honra! Pelo que eu soube, seu secretário é encarregado de lidar com toda a correspondência.
Elena olhou para ele e a para a carta, confusa sobre como ele sabia que se tratava de uma correspondência de Kol.
— O jovem Mikaelson tem uma caligrafia única. Pude reconhecê-la facilmente depois de ter analisado documentos comerciais que ele autorizou ao longo dos anos.
— Acabei de recebê-la. — Elena tentou disfarçar a apreensão. — Ainda não tive oportunidade de examinar minha correspondência, mas espero poder abri-la em breve. A outra carta é de Rebekah Mikaelson, creio que a conhece também, a irmã do lorde Mikaelson e minha amiga. — Elena empurrou a cadeira para levantar-se.
Logan ignorou o sinal.
— Talvez tenha me precipitado ao deduzir que ele tenha se recusado a cumprir sua parte no acordo. Agora acredito que foi você quem não cumpriu com o combinado. Lorde Mikaelson parece estar se mostrando muito tolerante, o que é incomum, permitindo que reflita e tenha tempo para compreender qual é a decisão mais sensata.
Elena sentiu o rosto queimar sob o olhar ousado. Ela sabia que o homem a sua frente não era tolo, que conhecendo a reputação de Kol, ele ligaria os pontos e adivinharia a natureza do acordo que ela havia feito. Mesmo assim, ele não era ninguém para julgá-la e ela não permitira que ele a tratasse com desrespeito.
— Imagino que sua proposta de casamento tenha sido retirada, Sr. Fell, já que parece estar representando os interesses do Sr. Mikaelson.
— Naturalmente, casamento está fora de questão, Sra. Salvatore. — O homem comentou. — Além do mais, por que me aceitaria? Não posso cobrir uma oferta como ele fez. Lorde Mikaelson é um dos homens mais ricos do país. Sua família toda o é, além de serem os vampiros originais, os primeiros, os mais poderosos. Estou ciente. No entanto, talvez no futuro haja um tempo… em que poderemos manter um relacionamento menos formal.
Elena tentou se conter, mas não conseguiu se impedir de dar uma resposta furiosa e explosiva ao homem.
— Terá de ser um homem muito paciente, Sr. Fell, porque esse tempo ainda está muito distante. Tenho consciência de que alguns homens organizam uma fila pelas sobras dos Mikaelsons, então terá de esperar sua vez. — E caminhando até a porta, ela a abriu e esperou que ele saísse. — Tenha um bom dia, Sr. Fell!
Depois, sozinha, Elena se arrependeu do que dissera, pois suas palavras só confirmaram ao advogado que ela estava ciente de como se davam as coisas referentes às amantes de Kol. Ele certaria consideraria um indicativo de que ela seria, se já fosse, uma das amantes de Kol Mikaelson.
