Marguerith estava sentada sobre as pernas dobradas em cima da cama. Observava atentamente o quarto que havia sido seu refúgio durante parte da infância e da adolescência.

A moça deixou os olhos verdes percorrem cada detalhe do aposento. Cada pequena estátua, cada pintura postada na parede, coisas que optara por deixar para trás agora que iniciaria uma nova fase de sua vida.

Ela sentiu uma leve melancolia embolando-se na altura do peito. Suas lembranças a levaram até a figura da mãe que se foi há tantos anos antes. A moça não pôde deixar de se perguntar como seria ter Rosette ao seu lado naquele dia tão importante.

Marguerith apertou a barra da toalha em que estava enrolada. Suspendeu a respiração por alguns segundos, tentando afastar aquelas saudades. Leves batidas foram ouvidas na porta, mas ela não conseguiu responder ao chamado ainda imersa em suas recordações. No instante seguinte, viu o rosto de Hesper aparecer na porta. Um delicado sorriso se formou nos lábios de Marge. Estava grata por ter a tia ali com ela para ajudá-la a se preparar. Poderia ter pedido a uma profissional, mas, queria compartilhar aquele momento com alguém que lhe era íntimo. Infelizmente Betelgeuse só poderia chegar na hora da cerimônia.

- Boa tarde, minha querida. - a mulher sorriu docemente, antes de aproximar-se - Eu trouxe seu vestido de noiva.

Hesper sentou-se à frente dela, desembrulhando um pacote de papel de seda. Pouco depois, surgiu aos olhos de Marguerith um longo vestido de seda branco, com delicados bordados em fios de ouro. Um cheiro adocicado despreendia-se do tecido, leve e gracioso, exatamente como a roupa se apresentava.

- Eu pedi que acrescentassem as pequenas rosas douradas. Suas flores favoritas. Eu espero que você goste. Cada detalhe dele foi feito pensando em você.

- Obrigada, tia. - Marguerith respondeu, deixando finalmente que a voz se desprendesse da garganta e ganhasse o ar, grata não apenas pelo vestido, mas pela presença da mulher ali.

Hesper apenas sorriu de volta.

- Agora, levante-se, vamos, eu quero poder vesti-la. Você vai ficar linda. Perfeita como uma verdadeira Black, ou melhor, Black-Thorne, deve ser.

Marge obedeceu ao comando de Hesper, mas, quando a mulher se virou para pegar o estojo de maquiagem e os outros apetrechos para prepará-la, a moça puxou a mão da matriarca dos Black. Hesper parou de chofre esperando o próximo movimento da sobrinha. A jovem deixou que seus braços perpassassem o pescoço da tia em um abraço.

Nenhuma palavra foi trocada entre as duas. Não era necessário. Hesper passou a mão de leve pelos cabelos soltos da sobrinha, encarando-a com ternura. Marge soltou-se da tia, e depositou um beijo carinhoso nas faces da mais velha.

Ainda sem pronunciar palavra alguma, a caçula das gêmeas sentou em um pequeno divã que havia no aposento, esperando que as mãos hábeis de Hesper fizessem seu trabalho.

A matriarca dos Black ainda tinha suas dúvidas sobre a decisão de Marguerith em continuar com o casamento, porém ela tinha o consolo de que, ao contrário de Sirius, Pericles era um homem aparentemente correto. Esperava que, com o tempo, Marge pudesse aprender a amá-lo.


Ela estava impecável. Parecia uma bonequinha de porcelana feita por um meticuloso e dedicado artesão. Cabelo preso com esmero, o rosto pintado quase em forma de arte em uma maquiagem tradicional. Pericles parecia completamente embevecido, não conseguia tirar os olhos de sua esposa. Quando noivaram, ele a achou estonteante, agora quando a viu caminhando até o altar, palavras lhe faltaram para adescreve-la.

Embora Marguerith estivesse ligeiramente apreensiva ao começar uma nova vida, parte dela estava tranquila. Sem nem perceber, ela buscou a mão do marido e a enlaçou por baixo da mesa. Um dia, ela iria amá-lo, com certeza.

No amplo salão de festa, toda a família Black estava presente. Também compareceram pelo menos um representante de cada uma das demais famílias tradicionais do Mundo Bruxo. Marge sentia feliz, estava com um bom homem ao seu lado. E vivia um momento de triunfo diante de seus pares. Seria, finalmente, respeitada.

Palmas animadas soaram despertando-a de volta para a realidade. Sirius Black acabara de se levantar, pedindo a atenção dos presentes para si. Tão entretida estivera em observar tudo e todos ao seu redor que Marge sequer percebera o avançar da hora ou o término do jantar.

-Muito bem, agora que todos já estamos satisfeitos, em nome dos Black e dos Thorne... - nesse ponto, ele fez uma breve mesura para Aribeth, que respondeu com um meio sorriso. - Eu gostaria de convidá-los para dar um passeio pelos jardins, onde uma surpresa nos espera para comemorarmos o enlace dos nossos estimados sobrinhos!

Ao mesmo tempo em que Marge se levantava, sentiu alguém puxar ligeiramente a cadeira, auxiliando-a. Virando-se, Marguerith deparou-se com os olhos castanhos de seu agora marido, e um sorriso pacífico. Sem dizer nada, ele estendeu o braço para ela, que aceitou, também em silêncio. Os dois seguiram para os jardins, onde um bruxo contratado por Sirius subiu numa pequena plataforma, segurando a varinha.

Os olhos verdes da noiva acompanharam o homem enquanto ele regia uma orquestra invisível, milhares de fogos começando a explodir do nada, iluminando magicamente os jardins. Ao mesmo tempo em que dragões, sereias e outras figuras mitológicas voavam pelos ares, ela estava consciente do braço de Pericles ao redor do seu, sentindo-se segura com aquele toque e acreditando que o futuro deles seria promissor.