QUANDO NOS TOCAMOS
BY DAMA 9.
Nota: Os personagens de Saint Seya não me pertencem, apenas Atreu, Sora, Heitor e Harmonia são criações únicas e exclusivas minhas para essa saga.
Boa leitura!
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Capítulo 4: Shun, Hades e o Destino.
(...) Porque cada vez que nos tocamos,
eu tenho essa sensação
E cada vez que nos beijamos,
eu juro que posso voar... (...)
.I.
Estavam conversando há horas sobre tantas coisas, o ambiente tranquilo e sereno da Fonte lhes dava a sensação de que o tempo havia simplesmente parado, era como se uma vida houvesse passado entre o momento que conquistara a armadura de Andrômeda na ilha, até o ponto em que haviam enfrentado Ártemis e Apolo.
Ainda havia tanto o que falar sobre os últimos meses, mas estava inquieto e agitado, algo lhe oprimia o coração e não conseguia se concentrar.
-Está tudo bem, Shun? –June perguntou pousando a mão delicadamente sobre a dele.
-Ah! Sim, estou sim... Me desculpe; ele respondeu com o mesmo sorriso radiante de que se lembrava.
Observou-o atentamente, ele parecia bem recuperado e pelo que se informara através dos outros, Shun já poderia ter partido a muito tempo da Grécia, mas decidira ficar um pouco mais. Não podia culpá-lo, tudo ali era encantador; ela pensou contendo um suspiro.
Agora os tempos eram outros, não haveria mais guerras e tudo poderia voltar ao normal. Não via a hora de voltar com ele para Andrômeda para reconstruírem a vida que tinham lá.
-Acabei me distraindo; Shun completou laçando um olhar de soslaio ao seu redor, tentando identificar de onde vinha a energia que o deixava tão inquieto.
-Não posso culpá-lo, esse lugar é incrível; June falou indicando tudo a sua volta.
-Eu já tinha passado um tempo aqui depois da batalha contra Poseidon, mas na época não tive oportunidade de usufruir de toda essa beleza e tranquilidade; comentou igualmente deslumbrado com a paisagem ao seu redor. Embora existissem lugares dentro da Fonte que lhe eram desconhecidos, a 'enfermaria' de Asclépio, como as divindades chamavam, era um dos lugares mais lindos que já vira, provavelmente esse fosse um dos segredos a respeito das propriedades curativas da fonte. O famoso balsamo para a alma.
-Mas agora os tempos são outros; ela o relembrou.
-Sim, são...; o cavaleiro falou com o olhar vago. –Ahn! June você se importaria em descer e ficar no templo, está na hora do Shaka chegar e ele costuma ser um pouco chato se o 'momento de meditação' é interrompido; ele brincou fazendo o sinal de aspas.
-Não, sem problemas; a amazona respondeu sorrindo. –Nos vemos depois?
-Claro; ele respondeu levantando-se e estendendo a mão para que ela pudesse se apoiar.
Houve uma época que o menor toque, ou um fugaz olhar era o suficiente para lhe disparar o coração, foi uma época em que mesmo vivendo sob tanta pressão, viu-se sentindo algo por ela que ia além da amizade e companheirismo que nascera durante seu período de convivência, mas agora sentia-se inquieto por olhar para ela e não sentir aquilo novamente.
Era como se aquele fogo brando que sempre queimara entre eles houvesse se apagado. Sempre gostara de June, sentindo-se feliz por tê-la a seu lado, mesmo quando ela insistia irritantemente em lhe proteger. Antes as sensações que surgiram eram estranhas, mas bem-vindas. Só que agora; ele ponderou. Elas não estavam mais ali, era como se visse a amazona apenas como alguém com quem compartilhava um passado, apenas isso...
Puxou-a para cima, até ela firmar os pés no chão. Seus olhares se encontraram. Azuis e verdes. Límpidos! Esperou o coração disparar, ou até mesmo a face corar, mas não houve nada. Uma onda de frustração o assolou, aquela inquietação que sentia oprimia-lhe o coração e o impedia de pensar. Franziu o cenho impaciente, incomodado com a sensação de que estava no lugar errado.
-Tem certeza de que está bem? –June perguntou, aproximando-se de tal forma que seus lábios facilmente iriam se tocar.
Fitou-a demoradamente, June era uma mulher muito bonita, não mais a amazona reprimida pela máscara de prata, era alguém com uma personalidade forte, uma guerreira determinada, mas também uma mulher carinhosa. Tudo nela transpirava a força, mas aquela imagem delicada da jovem de melenas negras voltou em sua mente seguida por uma avalanche de emoções e era como se algo dentro de si gritasse tão alto que estava no lugar errado, que foi impossível não estremecer.
-Sim, estou ótimo; Shun forçou-se a responder, embora a mentira tenha saído com naturalidade. Era perturbador como isso estava se tornando normal para si nos últimos dias.
-Então nos vemos depois; a amazona falou e para surpresa de ambos, ergueu-se na ponta dos pés e pousou um rápido beijo sob seus lábios, antes de se afastar, seguindo até o décimo terceiro templo.
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Afastou-se da Fonte correndo, as lágrimas embaçavam sua visão e nesse momento, tudo que queria era a paz que os Elíseos poderiam dar as almas como a sua, a paz que almejava ao fechar os olhos e nunca mais acordar.
Ouviu Athena lhe chamar, mas não parou, continuou a correr até o momento que bateu contra algo, passou a mão nervosamente pelos olhos tentando estancar as lágrimas que não paravam de cair, quando braços calorosos lhe envolveram o corpo. Sentia-se tão frágil dentro daquele abraço, que era como se o tempo pudesse parar e nada mais faria diferença.
-Calma; Shun sussurrou, estreitando os braços em torno dela, ouvindo um soluço agudo escapar-lhe da garganta.
Sabia que havia alguma coisa errada, pudera sentir isso como se fosse seu próprio coração a sangrar, afagou-lhe as melenas negras que caiam como um véu de noivas pelas costas esguias, as mãos alvas e delicadas seguravam sua túnica com força e desespero. Pobrezinha, como os deuses permitiam que uma deidade tão etérea quanto aquela sofresse tanto.
-Hei! O que aconteceu? –ele perguntou num sussurro terno, deslizando a mão suavemente pelos fios negros dos cabelos dela.
Ouviu-a murmurar algo e erguer os olhos em sua direção, olhos tão verdes quanto jades intensas e nebulosas, poderia perder-se olhando para ela. As últimas lágrimas em forma de gotas de cristal correram pela face alva, tocou-as delicadamente extinguindo-as como se assim fosse capaz de impedi-las de caírem novamente.
-Desculpe, eu...; Cora balbuciou com a face levemente rosada.
-Não há por que se envergonhar; o cavaleiro falou, distraidamente afastando uma mecha negra que caiu ao lado da face da jovem e com a ponta dos dedos, prendeu-a atrás da orelha. –Todos nós precisamos extravasar nossas emoções às vezes, de uma forma ou de outra;
-Mas não adianta nada chorar pelo que não vai voltar; a jovem falou desviando o olhar, enquanto os orbes marejavam novamente.
-Não, o que passou não vai voltar, principalmente quando o tempo nos é roubado; Shun falou, tocando-lhe a face delicadamente, fazendo-a erguer a cabeça em sua direção. –Mas se e quando acontecer, podemos agarrar as novas chances com as duas mãos, para que elas não nos escapem;
-Não existe segunda chance pra mim...; Cora sussurrou tencionando se afastar, mas sentiu os braços dele estreitarem-se mais e quando notou, estavam tão próximos que a respiração quente do cavaleiro arrepiava-lhe a pele.
-Sempre há! - Shun sussurrou, fitando-a intensamente.
Novamente aquela sensação. Saudade! Perda! Necessidade! Amor... Tudo era tão estranho, porque justamente ela era capaz de lhe evocar tantas sensações ao mesmo tempo, a intensidade daquilo que sentia pelos irmãos, Athena e os amigos, em nada se comparava ao que ela lhe fazia sentir, mas era como se faltasse algo, uma pequena peça naquele quebra-cabeça que não sabia onde buscar as respostas.
-Venha comigo a um lugar; ele falou por fim, tomado pela intensa necessidade de sair dali o quanto antes.
-Uhn? –ela murmurou confusa.
Segurou-lhe a mão delicadamente, antes que a jovem pudesse indagar algo mais, os dois já haviam desaparecido.
.II.
Por todos os deuses, as coisas não deveriam ser tão complicadas. Aliás, deveria existir uma regra de como agir sobre isso; ela pensou, enquanto percorria todos os lugares possíveis daquele imenso jardim atrás de Cora. Apesar da relação entre as duas não ser das melhores, esperava realmente que a divindade pudesse aproveitar o tempo que passava na Fonte, se curando também. Entretanto, realmente havia subestimado a intensidade do que ela sentia e acima de tudo, de sua dor; Saori pensou melancólica, recostando-se em uma árvore qualquer, recobrando o folego.
Deixou os olhos correrem por toda a parte procurando-a, mas não conseguia encontrá-la, estava começando a cogitar a possibilidade de Cora ter saído do templo quando sentiu um cosmo conhecido se aproximar vindo em sua direção.
-Aioros!
-Olá; ele a cumprimentou sorrindo, mas arqueou a sobrancelha ao notar uma certa tensão emanada dela. -Tudo bem?
-Claro! Tudo está bem; ela respondeu rápido demais para que ele realmente acreditasse nisso.
-Vim ver como o Shun estava; o cavaleiro falou cautelosamente estudando as reações dela. –Parece que tem uma mocinha bastante impaciente lá embaixo esperando por ele; ele comentou, indicando o caminho que fizera.
-É June; Saori falou dando um baixo suspiro.
Pelo visto a amazona ainda ficaria um bom tempo esperando o cavaleiro, pois agora tinha certeza de que sentira o cosmo dele desaparecer do jardim e algo lhe dizia que ele não havia apenas ocultado o mesmo e sim, deixando o local.
-Ela e Shun treinaram na ilha de Andrômeda e foram pupilos de Albion; Saori explicou, enquanto afastava-se da árvore.
Agora estava realmente em dúvida do que fazer, se descesse até o templo principal June entenderia que poderia voltar ao jardim e não encontraria Shun, em contrapartida, se ficasse ali serviria como álibi do cavaleiro e evitaria que ambos tivessem que responder uma série de perguntas. Embora a segunda alterativa soasse muito atraente, não sabia se deixar June esperando mais tempo seria o certo. Maldição, também deveria existir uma regra para esse tipo de coisa; ela pensou, franzindo e cenho.
-Deu para notar que ela se preocupa muito com o Shun; Aioros comentou tentando puxar assunto, enquanto andava ao lado da jovem que permanecia em silêncio. –Mas algo me diz que as coisas não vão ser como o planejado, não é? – ele indagou, chamando-lhe a atenção.
-Como? –Saori perguntou tentando aparentar tranquilidade.
-As coisas não são mais as mesmas; Aioros falou, vendo-a assentir, confirmando sua suposição. –Shun não é mais a mesma pessoa que partiu da Ilha de Andrômeda e tampouco, o cavaleiro que as Deusas do Destino predestinaram para ser a reencarnação de Hades;
-Onde quer chegar com isso, Aioros? –ela perguntou cautelosa, retesando-se com o que ele falara por último.
-Talvez os sentimentos não sejam mais os mesmos, ou talvez, jamais tenham sido aquilo que se imaginava; o sagitariano comentou hesitando antes de prosseguir. – June pode acabar se decepcionando se veio até aqui encontrar o Shun que ela guarda na memória, sem considerar que talvez essa pessoa agora só exista lá; ele completou vendo Saori assentir, enquanto sentava-se em um banco próximo de onde estavam.
-É possível; ela murmurou, inquieta.
-Tem algo mais, não é? – ele perguntou, sentando-se ao lado dela.
-Desculpe se não me sinto confortável falando sobre isso Aioros, mas...;
Dentro de tudo que soubera sobre o que cada um dos amigos vivera em seu período de treinamento, não se sentia confortável em compartilhar isso com alguém, era como se traísse um código de confidencialidade. Mesmo que a pessoa a sua frente fosse Aioros, que tinha certeza de que jamais levaria para fora dali o que conversassem.
Entretanto a situação de June e Shun era bastante delicada. Não duvidava que ela gostasse muito dele, mas era difícil categorizar esse sentimento, porque desde o início ela tinha aquela necessidade de protegê-lo, impedindo-o de lutar por medo de que ele se machucasse, Shun havia lhe confessado que nas semanas antes de passar pelo teste do 'sacrifício' para conquistar a armadura, tivera de enfrentar Leda e Spica – outros dois aspirantes a cavaleiros - em uma batalha de correntes.
June fora enfática ao pedir que ele desistisse, pois iria morrer. Shun não desistiu e era triste pensar que June, justo ela, vendo tudo pelo que ele passara e lutara, pedisse algo assim, mas quem era ela para julgar; Saori pensou olhando distraidamente para suas mãos sobre o colo.
Sentia a expectativa do cavaleiro a seu lado aumentar, gostaria realmente de falar com ele, mas não era algo que lhe dizia respeito. Poderia ser apenas maternalismo da amazona, ou não... de qualquer forma, June poderia se magoar até que estivesse certa de seus sentimentos, ou pior, como o próprio Aioros dissera, ela poderia estar tão fixada na lembrança que tinha da 'vida antes das guerras' que não notaria o quanto ele mudara, aliás, todos eles haviam mudado.
-Ela ainda não está preparada para entender que o Shun não precisa ser protegido. Ele apenas tem que aprender como seguir em frente agora que as guerras terminaram; Aioros falou por fim, tentando não se sentir incomodado pelo fato dela não se abrir com ele, da mesma forma que fazia com Saga ou até mesmo com Shion.
-Se fosse só isso; Saori murmurou, enquanto sentia uma leve pulsação de energia chegar até si, era sutil e tão suave que o cavaleiro a seu lado parecia não ter notado, mas foi suficiente para que soubesse que as engrenagens do destino estavam se movendo novamente.
-Saori! – o sagitariano falou, chamando-lhe a atenção alguns minutos depois, notando o silêncio prolongado dela, como se a mente da jovem houvesse viajado para milhas longe dali.
Não era como se Saori estivesse lhe ignorando, nem nada do gênero, mas havia percebido que sempre que o assunto em questão era sobre algum dos cavaleiros de bronze ela se distanciava, evitando apresentar sua opinião sobre algo relacionado a eles mesmo quando Shion perguntava sobre. Agora não era diferente, sentia o quanto ela estava inquieta desde que chegara ali e mencionara June. Achou que ela iria prontamente descer ao salão principal, mas ela não parecia com pressa de deixar o jardim.
-Desculpe, você veio aqui porque queria falar sobre algo, não é? – Saori falou, tentando mudar de assunto.
-Bem... não quero parecer enxerido; ele falou, vendo-a arquear a sobrancelha fina de forma insolente. -Tudo bem, mas em minha defesa, aviso que não sou o único curioso;
-Então?
-Shun é o único que permanece aqui ainda e eu tenho notado uma garota sempre por perto ajudando Asclépio a cuidar dele; Aioros continuou vendo-a empalidecer e serrar os punhos sobre o colo. -É ela, não é? –ele perguntou ficando sério.
-É; Saori respondeu em tom frio, esperando desencorajá-lo de questionar mais, mas deveria saber melhor que Aioros simplesmente não iria deixar passar.
-Porque exatamente ela está aqui, Saori? – o cavaleiro perguntou intrigado.
-As estações mudaram. Então, Nikki pediu a ela que viesse para cá ajudar a cuidar dos feridos na Fonte; Saori explicou tentando parecer o mais neutra possível. Não cabia a si fazer qualquer julgamento sobre a situação de Perséfone, mesmo que a relação das duas não fosse das melhores. –Mas não se preocupe, Cora não causara problemas; ela afirmou mais para si do que, para ele.
-Agora, só há um pequeno problema; o cavaleiro comentou, dando-se por satisfeito com a afirmação dela sobre a Imperatriz.
-Qual? –ela indagou curiosa.
-Que desculpa dar a June, quando ela perguntar sobre o paradeiro do Shun? - ele completou vendo-a assentir.
Talvez não houvesse nenhuma, quem sabe poderia permanecer ali mais um pouco e deixar as coisas simplesmente seguirem seu curso; ela pensou dando de ombros por fim. Não existiam regras cunhadas para lidar com isso, então, não iria nadar contra a corrente. O que tivesse que acontecer, iria de qualquer forma.
.III.
Segurou a mão delicada entre a sua, enquanto andavam pela grama macia, passando vez ou outra por pilares tombados. A brisa fresca trazia até eles o cheiro do mar, mesmo estando a vários metros de distância da Encosta de Bejunte.
Ao seu redor, várias touceiras azuis de belas emílias e hibiscos vermelhos enfeitavam o local, criando um imenso jardim, formado pelo tempo e pelas forças da natureza.
-Onde estamos? –Cora perguntou confusa.
Ainda se sentia atordoada pela mudança brusca de ambiente. Estava confusa, não sabia que aquele cavaleiro tinha aquele poder, como era mesmo que se chamava? Ah! Sim... Telecinese.
-Você vai ver; Shun respondeu com um fino sorriso nos lábios, enquanto subia em um pilar tombado e em seguida, ajudava-a para que ela pudesse fazer o mesmo. -Olhe; ele falou indicando-lhe a paisagem que tinham a frente.
Embora o Templo da Coroa do Sol oficialmente fizesse parte do Santuário de Athena, durante séculos fora considerado um local sagrado e proibido para todos, desde cavaleiros até amazonas.
No topo do Monte da Dignidade, próximo a Encosta de Bejunte, erguia-se o último templo dedicado ao filho dourado do Senhor dos Céus, enquanto era rodeado por outros nove templos, cada um representando um planeta do sistema solar*. Quando uma das mais ferrenhas batalhas fora travada naquele pequeno pedaço de paraíso, tudo fora destruído e apenas ruínas sobraram e aquela área não fora alterada quando Apolo e Artêmis haviam tomado o Santuário de Athena.
-Tem uma lenda antiga que conta, que um dia Apolo e Possêidon se rebelaram contra Zeus. Apolo dizia ser mais poderoso do que o pai e por consequência, deveria herdar não apenas o reino dos céus, mas o mundo mortal também. Já Possêidon não admitia que o controle da Terra fosse dado a Apolo e sim, que ela fosse coberta de água e passasse a integrar seu próprio reino, mesmo que isso matasse toda vida que existia na superfície; Shun falou, ajudando-a a desviar de uma vala no chão enquanto caminhavam.
De onde estavam podiam ver as ondas quebrando na encosta, golfinhos saltitantes mergulhavam e emergiam das águas tão claras quanto cristais, definitivamente aquele era um pedacinho de Elíseos na Terra. Embora não pudesse ver o mar de sua casa, a sensação que tinha ali era a mesma de quando contemplava os vastos campos; a jovem pensou nostálgica.
-Mas, como diz aquele velho ditado árabe 'o inimigo do meu inimigo, é meu amigo'*. Eles se uniram e decidiram fazer um motim contra Zeus, mas fracassaram obviamente; o cavaleiro comentou sem esconder o sarcasmo na afirmação. - Então o Senhor dos Deuses os baniu em exílio para a Terra. Foi quando Apolo ergueu o Coroa do Sol, mesmo que Possêidon não fosse muito brilhante, ele via em Apolo um bom aliado contra o irmão e no futuro, contra a própria Athena, que já se mostrava uma pedra no caminho. Os dois juntos tinham que estar preparados;
-Preparados? Como assim? –Cora perguntou confusa. Já ouvira falar dessa história, embora ouvi-la da perspectiva do cavaleiro fosse bem mais interessante.
-O Santuário de Athena fica atrás de uma barreira mágica que se inicia nos limites do Parthenon, é como se existisse uma outra Atenas além dos limites da barreira. Pessoas comuns não podem ver a entrada do Santuário e os poucos que não são cavaleiros e amazonas que vivem ali, vêm de muitas gerações e não estão acostumados a deixar a proteção do Santuário para uma vida conturbada lá fora, além daqueles que simplesmente não querem também; Shun explicou pacientemente. –Mas o Santuário fica entre o Coroa do Sol e o Templo de Possêidon.
-Mas...;
-As costas do Santuário estão voltadas para um rochedo escarpado, mas isso não impede que recebamos um ataque vindo do céu, já o Coroa do Sol mesmo fazendo parte do Santuário não é um lugar que algum de nós foi autorizado a estar ao longo de todos esses séculos, por isso Apolo o construiu no Monte da Dignidade. Temos também o mar e o templo de Possêidon que tem uma longa extensão da praia como território; Shun explicou. –Possêidon e Apolo sabiam que para entrar em guerra contra o Santuário a posição geográfica seria uma vantagem inestimável, mesmo porque, a diferença numérica entre os exércitos era gritante;
-Entendo, mas é difícil acreditar que um lugar assim tenha sido feito para guerrear; Cora falou olhando extasiada as flores e eras que se erguiam entre os poucos pilares que permaneciam em pé. Parecia uma paisagem rústica, mas a delicadeza com que as flores e as árvores estavam dispostas ali, davam uma sensação de serenidade aquele lugar.
Conteve um suspiro, enquanto instintivamente apertava a mão do cavaleiro entre a sua, parecia tão banal. Parando para pensar agora não se lembrava da última vez que se permitira isso, apenas caminhar por um jardim agradável, vendo o tempo passar sem se preocupar enquanto ouvia histórias sobre seus parentes pouco inteligentes; ela concluiu com pesar.
Levou muito tempo para entender o porquê Athena lutava tanto por aquela Terra, fora arrogância pensar que apenas nos Elíseos poderia encontrar paz, estava errada e prova disso era aquele momento que vivia.
Sentia o coração mais leve a cada passo que dava, as magoas antigas pareciam ter se dispersado e nesse momento, não pensava nas ruínas do castelo, nos espectros que perderam suas vidas naquela batalha insana e nem mesmo, que em breve teria de enfrentar seus medos e retornar aquele lugar lúgubre que um dia chamara de lar.
Dizem que lar é onde o coração está, então onde estaria seu coração agora? Quando perdera o companheiro e uma parte importante de si fora com ele. Seu coração! Então onde Hades estivesse, ele estaria e ao que tudo indicava, jamais voltaria;
-Os Deuses têm formas estranhas de agir; Shun falou distraidamente, abaixou-se para colher uma pequena emília que crescia ao lado de tantas outras numa touceira a seus pés, antes de voltar-se para ela com a flor e lhe estendê-la. –Possêidon acreditava que Athena não era capaz de cuidar da Terra, por isso queria assumir o controle, primeiro colocando tudo de baixo dágua e depois reconstruindo do seu próprio jeito;
-Idiota; ela resmungou.
-Como disse? –ele perguntou voltando-se para ela.
-Obrigada; Cora corrigiu-se com um sorriso nervoso indicando a flor azul em suas mãos.
A verdade era que Possêidon era outro grande idiota. Ah! Se pudesse encontrá-lo agora, não perderia tempo em pegá-lo pelo pescoço e torcê-lo. Por causa de pensamentos tão estúpidos quanto aquele, até mesmo seu marido acabara se deixando envolver por aquela insanidade de dominação e destruição do mundo.
-Já Hades era um pouco diferente; Shun falou enquanto voltavam a andar. –Ele acreditava que a alma do ser humano era corrompida por maldade e que nós mesmos iríamos destruir essa Terra;
-Mas...; ela falou com a voz tremula assustada por ele mencionar o marido.
-Mas também, ele acreditava em evolução; ele completou.
-Como? –Cora perguntou surpresa.
-Veja bem, não o estou defendendo; o cavaleiro adiantou-se, pensando ser isso o que a alarmara tanto. -Nós, seres humanos temos a capacidade de cometer pequenos milagres com nossa fé, coragem e determinação. Entretanto, existe um pequeno problema, muitos de nós acabam se acomodando e esquecem que o mundo nunca para de girar, as horas passam, meses, dias e anos se findam, mas do que adianta toda uma existência de nada? E quando você chegar ao fim da vida e perguntar 'O que eu fiz que valeu a pena?' você vai concluir que não fez nada, nada pelo que valesse ser lembrando; ele falou com o olhar perdido nas águas lá embaixo.
-Shun; ela sussurrou, tocando-lhe o braço hesitante.
-Na última guerra a duzentos anos atrás, Alone, Sasha e Tenma* eram amigos. Quando tudo aquilo aconteceu, graças a Alone ele compreendeu o propósito que o destino lhe dera; Shun falou sentando-se em um pilar tombado. –Ele jamais venceria uma batalha contra Athena, não porque ele não fosse capaz de conseguir, mas por quê não era o destino do mundo ser destruído pelos deuses, e sim, que eles o ajudassem a evoluir;
-Não entendo; Cora falou sentindo-se inquieta.
-As pessoas têm um tempo certo para evoluir, já outras não buscam por evolução, às vezes é necessário forçá-las a isso, não há um caminho fácil ou atalho. Por mais difícil que seja é necessário; Shun falou, os orbes verdes pareciam perdidos em algum ponto entre o céu e o mar. –Eu sei que isso parece cruel e doloroso, mas as guerras forçam as pessoas a evoluírem, Darwin não estava errado ao pensar que para sobreviver você precisa se tornar mais forte, se adaptar, usar todos os recursos que têm para continuar a existir e fazer sua existência valer a pena;
-Mas ainda sim é triste ver tantas pessoas morrendo; ela murmurou melancólica.
O cavaleiro concordou com um aceno. Entretanto, ele mais do que ninguém sabia o quanto o peso de saber aquilo era perturbador. Talvez a única outra pessoa que compartilhasse o fardo desse conhecimento fosse Saori.
–Ele sabia que não seria fácil, muitas vidas iriam se perder, mas uma nova Era precisava ser erguida;
-Você não está dizendo que-...; ela parou temendo concluir o pensamento.
-Toda história precisa de um vilão... Ele sabia que não 'deveria' vencer, mas decidiu lutar mesmo tendo tanto a perder; Shun falou, apoiando os braços sobre o colo, inclinando-se um pouco, tentado aliviar o peso e a tensão que sentia tomar conta de sua coluna vertebral. -O Destino às vezes é irônico, a história não nos conta o que acontece nos bastidores; o cavaleiro completou com o olhar perdido na paisagem a sua volta.
-Como assim? – Cora indagou, incerta.
-Quando Hades se apaixonou por Perséfone por exemplo, ele a sequestrou porque achou que essa seria a única forma de ter a atenção dela; Shun comentou casualmente.
-Se ele houvesse se aproximado, não precisaria ser tão radical; Cora reclamou cruzando os braços na frente do corpo de maneira indignada.
-Radical? ... De fato. Se isso acontecesse hoje talvez as coisas fossem bem diferentes. Num cenário ilusório Perséfone não seria a filha superprotegida de uma das deusas mais poderosas do panteão olímpico e Hades quem sabe, na partilha do universo tivesse ficado com o domínio dos sete mares, ou até mesmo com a Terra; Shun começou.
-Mas isso seria impossível! - Cora exasperou, pensar em algo assim não fazia o menor sentido.
-Claro, porque já conhecemos uma versão da história; ele respondeu dando um meio sorriso diante do olhar confuso dela. -Mas e se passássemos uma borracha no que já sabemos sobre as lendas e começássemos agora, do zero. Pense no cenário que disse agora, Hades como o recém coroado Deus dos Mares e Perséfone sendo apenas uma ninfa dos bosques. Como eles se conheceriam? – Shun perguntou.
-Não sei...; ela murmurou sem entender aonde ele queria chegar.
-Pense um pouco, como as pessoas se conheciam na Era de Ouro? – ele a instigou.
-Naquela época existiam festivais em comemoração a mudança das estações, os mortais sempre comemoravam de tudo, uma boa colheita, casamentos, nascimentos. Quando Apolo e as musas criaram a música e as artes do entretenimento, parecia que tudo era motivo para festas e aí, veio Dionisio com o vinho, enfim...; ela comentou divagando.
-Certo, um festival. Era normal muitas divindades se passarem por mortais. Vamos supor que, em um desses festivais a ninfa Perséfone e Hades – Senhor dos Mares se encontrassem no meio da multidão e se conhecessem. Como a história seguiria seu curso a partir daí?
-O que quer dizer? – Cora perguntou voltando-se para ele. -Não sei, talvez eles simplesmente seguissem sua vida como se a existência de um para o outro não significasse nada; ela completou num sussurro, quem sabe se fosse um cenário diferente como ele disse, não sentisse aquela dor que lhe resgava o peito cada vez que imaginava que o marido jamais voltaria.
-É possível, Hades então voltaria para os mares, se casaria com Tétis ou talvez até mesmo com Leuce, a bela filha de Oceano; Shun continuou, quando a jovem ao seu lado virou em sua direção com um olhar afiado, visivelmente hostil.
-Nunca!
-Como? - ele perguntou, surpreso com a tensão dela. Os olhos cor de jade haviam adquirido um brilho quase assassino agora; ele notou engolindo em seco.
-Ah! Quero dizer, hipoteticamente falando, não acho que Hades e Leuce ficariam juntos nessa nova versão; Cora apressou-se em corrigir, recuando ao notar que seu poder ameaçara subir a superfície.
-Talvez sim? Talvez não? Todavia estamos falando de um universo em que ele é o Senhor dos Mares, não o Imperador do Reino dos Mortos; Shun continuou com mais cautela dessa vez.
-Eu sei, mas...;
-Pelas lendas que conhecemos, sabemos que isso seria impossível. Hades amava Perséfone demais para sequer pensar em qualquer outra mulher, ou homem; Shun completou calmamente.
-Bem...; ela murmurou desviando o olhar, corada com o comentário dele. Respirando mais calma agora, sentindo aquela tensão que ameaçara eclodir se dissipar aos poucos.
-Nem mesmo as flechas de Eros são capazes de criar um sentimento tão forte e intenso quanto o que ele sentia, embora muitas lendas atribuíssem a Eros os créditos; Shun continuou relembrando tudo que já estudara sobre isso. - Mas, nesse universo paralelo, talvez ele se casasse com Leuce e Perséfone seguisse sua vida, alheia as guerras de poder entre os deuses e um dia encontrasse alguém para amar e unir-se para o resto da vida. Sem que seus caminhos voltassem a se cruzar;
-Talvez; ela resmungou. Pensando agora, talvez se Deméter não fosse tão superprotetora consigo, não teria escapado do templo da mãe e fugido para os bosques com aquele grupo de ninfas e quem sabe, jamais houvesse cruzado seu olhar com o escuro e sombrio de Hades.
-Mas acho que isso não importaria de qualquer forma; Shun continuou chamando sua atenção.
-Como?
-Hades seria Hades mesmo sem ser Imperador do Mundo dos Mortos, estar em outro reino não mudaria sua essência, tampouco seu destino; ele explicou. -Também acho que ele jamais ficaria com Leuce; o cavaleiro continuou, quando Cora virou-se para ele. – A partir do momento que ele visse Perséfone mesmo que só uma vez, seria o bastante para ele ter a certeza de que ela seria a única em sua vida;
-Mas você disse...;
-Não se engane... Podemos até imaginar um cenário diferente, em que as coisas teriam acontecido de outra forma, mas a realidade é que, não importa qual versão criemos, a partir do momento em que eles se encontraram pela primeira vez, não iria existir outra para ele; completou, dando de ombros. -Hades amava Perséfone, seja no mar ou no inferno, ele só achou que essa seria a única forma, então a sequestrou;
-Mas...;
-Você falou que ele não precisaria ser tão radical, mas acha mesmo que ela se aproximaria voluntariamente e se permitiria conhecê-lo, sabendo quem ele era e sendo filha de Deméter? –o cavaleiro indagou, voltando-se para ela.
-Como? – Cora indagou confusa, diante do questionamento dele.
-Ele era o Senhor dos Mortos, aquele que reinava sob um mundo de dor e desolação, acha mesmo que uma deidade acostumada com os campos ensolarados da Grécia, mimada pela mãe superprotetora, iria aceitar viver em um lugar assim? –ele rebateu. -Poucas pessoas se lembram que os Elíseos também estão lá;
Desviou o olhar, sentindo a face aquecer-se levemente, não podia nem ao menos ficar brava com ele por levantar essa questão, porque sabia que era verdade. Se Hades houvesse usado os meios comuns de flertes e namoro, jamais estariam juntos, isso era lógica - pura e simples. Entretanto, como ele mesmo dissera no começo, alguém tinha que ser o vilão da história e o companheiro durante séculos carregara sozinho o peso disso sem nunca se queixar, mesmo com todos os erros que ambos haviam cometido, ele jamais a julgara, enquanto ela... Por mais de uma vez perdeu a fé.
-Talvez na visão dele fosse um castigo divino por eles não poderem conceber um filho, já que Perséfone estava presa entre os dois mundos; Shun continuou, enquanto apoiava a cabeça em uma das mãos. –Antes eu achava apenas interessante essas lendas... no sentido de curioso, quero dizer, mas não tinha preocupação em estudá-las a fundo; ele confessou. –Mas algumas coisas fazem bastante sentido agora;
Ela concordou silenciosamente. Embora nem tudo fosse da forma como ele falou, as lendas tinham sua própria forma de fincar raízes e mudar as versões conforme os séculos se passavam. Depois de tanto tempo isso simplesmente deixara de importar. Quem fez o que? Ou como determinada coisa realmente aconteceu? Afinal, mudar as palavras escritas de um livro era muito mais fácil do que a realidade que eles viveram.
Pela primeira vez em muitos séculos, gostaria de contar como as coisas haviam realmente acontecido, mas talvez aquele não fosse um bom momento. O que Shun diria se dissesse que ela era aquela que ele chamava de Perséfone? –a jovem se perguntou cautelosa.
-Dizem às lendas que ele era implacável e frio, mas acredito que isso era apenas reflexo da dor que sentia, ele sabia que era egoísmo fazê-la viver a seu lado naquele mundo, mas não tinha forças para lutar contra o que sentia; Shun falou num tom vago como se sua mente estivesse à milhas dali. –Houve vários momentos em que ele quis desistir, mas Harmonia o fez lutar e não deixou que o orgulho ferido o vencesse;
-Ela era uma boa amiga; Cora murmurou, obrigando-se a admitir isso.
-Eles sabiam que estariam em lados opostos, embora o propósito fosse o mesmo; Shun continuou. –Havia muita coisa em jogo... E só uma escolha a ser feita;
Não compreendia por que ele estava lhe falando todas aquelas coisas, embora soubesse que aquilo era verdade, era bem típico do marido achar que deveria agir sozinho, mas espera... Aquilo não estava em nenhum livro de história. Aliás, até onde sabia, a relação de Hades e Harmonia nunca fora registrada; ela pensou olhando em choque para o cavaleiro que parecia completamente compenetrado ao olhar para um ponto além do horizonte.
-Shun; Cora murmurou observando-o atentamente. Sabia que ele fora o mais prejudicado com as coisas que Hades fizera, mas ele não parecia odiá-lo, pelo contrário, era como se entendesse o que Hades queria conseguir com tudo e simplesmente... Aceitasse!
Mesmo depois de tanta dor e sofrimento que sentira ao ver os amigos lutarem e perecerem, entre o Inferno e os Elíseos, ele não parecia alguém conformado e sim, alguém que entendia que se fosse diferente, os mesmos resultados não seriam atingidos, como isso era possível?
-Há mais coisas entre o céu e a terra do estamos preparados para saber e suportar; ele falou chamando-lhe a atenção. –Tem coisas que simplesmente acontecem e não foram feitas para que as entendamos, pelo menos, não agora; o cavaleiro completou levantando-se.
-...; Cora assentiu, seguindo-o.
-Espero que esteja mais calma agora? –Shun perguntou voltando-se para ela com um sorriso cálido.
-Estou, obrigada; ela respondeu sorrindo, mal percebera o momento que seu coração ficara mais leve.
-Vamos voltar então; o cavaleiro falou estendendo-lhe a mão.
-...; a jovem assentiu.
Segundos depois os dois haviam desaparecido, mal notando uma figura imponente materializar-se no local onde eles estiveram. Os orbes prateados fitaram as águas lá embaixo, pouco antes de voltar-se para trás, vendo um rapaz de longas melenas negras se aproximar silenciosamente.
-Pelo menos um ainda acredita nos desígnios do destino; a entidade suprema do cosmos falou levemente sarcástico.
-Não, isso não é destino; o rapaz respondeu, levando as mãos aos bolsos da calça, descansando a tensão dos ombros. –Existem coisas que acontecem porque deixamos acontecer e coisas que tem de acontecer, independe de nossa vontade, mas não quer dizer que seja destino;
-E você chamaria do quê, garoto irritante e cético? –ele exasperou, enquanto os olhos prateados oscilavam para uma gama variada de cores.
Os orbes verdes correram pelas planícies, vendo árvores e flores crescendo entrelaçadas na mais perfeita harmonia, aquilo é o que chamaria de certo, algo que deve acontecer independe da vontade de terceiros.
Como a história de Hades e Perséfone, não fora o destino que atara seus laços e sim uma força bem maior que os conectara no primeiro olhar e impulsionara o sempre equilibrado e frio Imperador a contrariar toda sua natureza estoica e sequestrar da Terra a bela ninfa que roubou seu coração. Da mesma forma que não fora o Destino que empurrará Perséfone para a romãzeira cujas sementes selaram sua permanecia ao lado do Imperador.
-Coincidência ou Livre-arbítrio talvez...; o rapaz falou com um sorriso provocativo nos lábios bem desenhados.
-Bah! Eu lavo as minhas mãos; Caos falou, gesticulando nervosamente. –Mesmo depois de vinte anos você continua a insistir em não acreditar em destino;
-Acha que foi o destino que lhe fez aparecer para mim tantas vezes, para tentar me convencer do contrário? – Emmus perguntou casualmente, embora a provocação estivesse implícita em seu olhar.
-Óbvio que não, isso foi uma decisão minha; Caos falou prontamente.
-Então você admite que as Deusas do Destino não são tão precisas, já que você as contrariou vindo aqui, essa conversa não estava destinada a acontecer já que você, em matéria de poder, está acima delas?! - ele afirmou em tom de provocação.
-Raios! –O Onipotente resmungou aborrecido antes de voltar-se para a encosta novamente.
-Mas admito, que o que está escrito, está escrito; Emmus completou de maneira enigmática. Havia formas e formas de destino. Embora, houvesse uma que ele jamais fosse acreditar ou aceitar.
-Podem se passar anos e nunca vou entender você; Caos falou, erguendo os orbes para o céu dando aquele round por perdido. –Se fosse qualquer outro seria fácil, mas você é tão complicado quanto eu mesmo; ele completou de maneira enigmática.
-Como? –Emmus indagou confuso ao voltar-se para a divindade.
-Longa história... Talvez eu te conte no próximo café; a entidade falou de maneira enigmática enquanto sua imagem se desvanecia pouco a pouco, até se perder entre os raios de sol desaparecendo completamente, como se nunca houvesse estado ali, deixando-o sozinho com suas conjecturas.
Continua...
N/A: Em 2006 Plutão deixou de ser considerado um planeta do sistema solar pela IAU (Uniao Astronômica Internacional), que o classificou como um planeta anão, consequentemente, sem as mesmas propriedades biológicas e atmosféricas que permitiam a vida humana em sua superfície. Porém, o filme "A Lenda dos Defensores de Athena" que nos apresenta a estrutura do Templo "Coroa do Sol", nos mostra os nove templos representando os planetas do sistema solar. Lembrando que o filme, embora tenha chegado tardiamente ao Brasil, no Japão foi lançado em 1988, portanto, Plutão ainda não havia deixado de ser um planeta, então seu 'Templo' ainda pretense a estrutura de nove templos dentro da saga de Saint Seya, mesmo que não seja uma obra canônica eu escolhi acolhê-la na 'minha' saga.
*Bela Emília (vide google imagens) – é uma flor azul bem delicada, sua formação é por touceiras, semelhante a hortênsia e os gerânios. Essa flor é originaria do mediterrâneo e como muitas outras, foram exportadas para o mundo e hoje, estão tão entranhadas em nossa flora e fauna, que parecem existir aqui desde que o mundo começou. Essa flor pode ser encontrada no Brasil também.
*'O inimigo do meu inimigo, é meu amigo', embora a frase apareça em muitos livros árabes, essa frase apareceu primeiro em livros em sânscrito do século IV A.C. (4 antes de Cristo).
*Sânscrito – dialeto Indo-áricos, ou seja, dialetos que surgiram no norte da Índia, arrastando-se por parte do oriente como Paquistão, Bangladesh e países vizinhos.
N/A: *'O que está escrito, está escrito' – ou seja, o que foi escrito (no livro da vida) está escrito (ou cunhado), não pode ser mudado. O que está escrito precisa acontecer, de uma forma ou de outra, mas tais ações moverão outras forças e vontades que indiretamente, tem o poder de mudar isso (o que foi escrito) ou o destino.
