QUANDO NOS TOCAMOS

By Dama 9

Nota: Os personagens de Saint Seya não me pertencem, pertencem a Masami Kuramada e a Toei Animation.

-x-

Importante!

Dama 9 e amigos incentivam a criatividade e liberdade de expressão, mas não gostamos de COPY CATS. Então, participe dessa causa. Ao ver alguma história ou qualquer outra coisa feita por fã, ser plagiada ou utilizada de forma indevida sem os devidos créditos, Denuncie!

Boa Leitura!

-x-

Capítulo 5: Tempo.

(...) Você pode sentir meu coração bater mais rápido?

Eu quero que isso dure,

Preciso de você do meu lado. (...)

.I.

Desceu as escadas com passos lentos e nem um pouco motivado, queria ter permanecido mais tempo no Coroa do Sol, mas lembrara-se que June estava lhe esperando, respirou fundo enquanto terminava de descer os últimos lances. Nunca fora adepto de mentiras, tampouco gostava de ser evasivo, mas naquele momento alguma força maior o motivara a praticamente sair correndo e ir encontrar Cora. Não entendia muito bem o que estava sentindo ou de onde vinha àquela urgência em estar perto dela, como comentara com Shaka alguns dias atrás. Entretanto, sentir aquela necessidade de estar com ela parecia tão natural quanto respirar. Mais alguns passos e já podia ouvir as vozes de Saori e June, estava prestes a entrar na sala de visitas quando ouviu algo que o fez estancar.

-Saori, tem certeza de que ele está bem? –June perguntou.

-Shun tem se recuperado muito bem desde que chegou aqui; a jovem respondeu em tom neutro.

-Ele me parece bem, por isso não entendo o porquê de ele ainda continuar na Fonte; a amazona falou levemente impaciente.

-Permanecer aqui foi escolha dele, June. Shun precisa de um tempo para descansar e se decidiu ficar, que mal há nisso? –Saori rebateu fitando-a com um olhar de desafio velado.

-Pensei que ele quisesse voltar logo para Andrômeda? -a jovem resmungou amuada.

-Já conversou com ele sobre isso? –Saori indagou casualmente.

Não obteve uma resposta direta, mas o leve tremor nas mãos da jovem deixou claro que ela obviamente não falara com Shun. Uhn! Isso ainda iria dar problemas; Saori pensou preocupada.

-Ele está diferente; June falou quase num sussurro.

-Diferente como? –ela perguntou cautelosa. Pelo visto ela não estava tão alheia ao que acontecia ao seu redor quanto pensara; a jovem concluiu observando atentamente as mudanças de expressão da amazona.

-Não sei, sinto uma força muito grande vinda dele, uma energia tão forte que parece querer me repelir; a amazona explicou voltando-se para Saori. –Mesmo ele aparentando estar calmo, é como se houvesse uma tempestade se formando dentro dele;

-Devido à necessidade de atingir o sétimo sentido o cosmo dos cavaleiros continua se expandindo, mesmo agora que não existe mais a tensão de uma batalha. É algo natural que eles não têm como impedir de acontecer, no caso de Shun seu cosmo sofre algumas oscilações, por isso ele vem treinando com Shaka para aprender a controlar essa variação; Saori explicou em tom neutro. Não adiantava explicar a ela que isso era muito mais complexo na prática.

-Entendo; June respondeu embora não fosse verdade, não estava satisfeita com o fato de o cavaleiro ter motivos demais para ficar no Santuário.

-Cheguei; Shun falou entrando por fim na sala de visitas. –Desculpem a demora; ele falou com um sorriso cristalino, porém mesmo Saori a distância, pode notar a nuvem negra que nublara os olhos verdes e a tensão que o rodeava, criando quase um campo estático ao seu redor.

-Que bom! – June falou animada ao vê-lo.

Não era apenas a variação de cosmo; Saori pensou observando-o com atenção. Ela bem sabia o que estava ocasionando isso, mas por hora, era melhor deixar as coisas seguirem seu próprio fluxo e administrar qualquer crise quando ela chegasse; Saori concluiu, enquanto Shun sentava-se em uma das muitas poltronas espalhadas pela sala, embora não tenha passado despercebido que ele deixara uns bons metros de distância entre ele e a amazona.

.II.

Deixou o corpo afundar na água quente, enquanto encolhia os joelhos e os abraçava de forma que pudesse encostar a testa neles, estava confusa, agora mais do que antes. Como Shun poderia saber que Hades não sobreviveria aquela guerra? Não era como se o companheiro fosse fraco ou coisa do tipo, pelo contrário, Hades era tão poderoso quanto as forças da natureza, ele simplesmente não escolheria perder.

Impossível! Como ele podia dizer isso? –ela se perguntou enquanto um soluço lhe escapava pela garganta. Havia pedido, implorado até para que o marido desistisse daquela insanidade, mas não, Hades estava decidido a ir até o fim e para que? Para morrer no final, a troco de que?

Evolução. Por mais que Shun houvesse usado essa justificativa, valera a pena no final?

-Nem sempre somos capazes de compreender o que pesa em cada coração; uma voz conhecida soou a suas costas.

Virou-se rapidamente surpresa, pensou que estaria na sala de banhos sozinha.

-As Deusas do Destino são sádicas na maioria das vezes; a jovem de melenas esverdeadas falou aproximando-se, vestindo uma túnica branca esvoaçante, que deixava os ombros à mostra.

-Nikki!

-Harmonia esta certa quando diz que fazemos nosso próprio destino; a Deusa da Vitória falou calmamente. –Mas também, temos de ter consciência de que qualquer caminho que decidamos tomar, não estaremos sozinhos e há consequências para cada uma das escolhas que fazemos; ela completou de maneira enigmática, enquanto sentava-se em um banco próximo as escadas, que levavam a enorme piscina de mármore rosado.

-Nem todos pensam nisso quando escolhem o próprio caminho; Cora respondeu com pesar.

-Mas tudo é aprendizado Cora, mesmo as coisas ruins pelas quais passamos; ela falou calmamente.

-As coisas poderiam ser menos complicadas; a divindade resmungou contrariada.

-Talvez! Todavia, o que você aprenderia se tudo viesse até você servido em uma bandeja de prata? –Nikki indagou lhe lançando um olhar solidário antes de desaparecer e deixá-la novamente sozinha com seus pensamentos.

-x-

Seguiu-a com passos lentos, deixando-a ir na frente, logo cairia à noite, mas aquele frescor de uma tarde de primavera ainda tinha o poder de apaziguar seus pensamentos conturbados. Suspirou pesadamente, uma hora ou outra teria de contar a June que não pretendia voltar a ilha de Andrômeda. Entretanto, como se antecipasse tal conversa, a amazona sempre mantinha a conversa em um nível ameno e seguro.

-O que fica no topo daquela colina? –June perguntou, conforme iam ultrapassando um campo aberto, na divisa entre o Santuário e o Coroa do Sol.

-É o Jardim dos Deuses; Shun explicou guiando-a até lá. –Dezoito anos atrás, um mestre escultor de Rodório esculpiu doze estatuas em mármore para o Grande Mestre, as estatuas representavam os deuses do panteão olímpico;

-Nossa! - ela exclamou surpresa quando ultrapassaram os portões de arcos dourados e depararam-se com as estatuas em meio a um imenso jardim, mesmo tendo sido negligenciado nos últimos anos, várias eras erguiam-se nos pedestais das estatuas, as flores ali tinham cores vivas e intensas.

-Impressionante, não? –ele falou seguindo em frente.

-Muito; June respondeu sorrindo. –Talvez possamos construir um jardim assim quando voltarmos a Andrômeda; ela falou animada.

-Ahn! June...; Shun hesitou, passando a mão nervosamente pelos cabelos. –Essa é uma das coisas que preciso falar com você;

-Saori me contou que você já esta melhor; a jovem o cortou enlaçando-lhe por um dos braços e puxando-o consigo. –Ah! Shun, vamos poder fazer tantas coisas lá, que mal posso esperar;

-June, espere; ele falou aflito, desvencilhando-se do braço dela como se seu toque o queimasse.

-O que foi? –a amazona perguntou hesitante diante da forma brusca como ele recuara.

-Eu sinto muito; Shun falou desviando o olhar por alguns segundos. –Mas eu não pretendo voltar a Andrômeda;

-Mas...; ela murmurou chocada.

-Quando eu estive na ilha, sempre deixei claro que, quando partisse, não voltaria mais; Shun ressaltou. –Você e mestre Albion são pessoas muito importantes para mim, mas minha vida é com meu irmão e no Japão agora;

-Eu pensei que...; June falou com os orbes marejados.

-Nunca quis te decepcionar June, mas não posso ser aquilo que você deseja; Shun falou segurando-lhe as mãos entre as suas. –Eu... Nesse momento, mal sei quem sou, não acho justo transferir as confusões da minha vida para você;

-Mas Shun...; a jovem falou aflita. –Não posso voltar sem você; ela falou desviando o olhar.

-Você tem um caminho novo a seguir pela frente June, buscar um propósito para viver agora que as guerras acabaram e não existe mais a necessidade de se levar à risca as velhas regras do Santuário, só depende de você. Existem "N" possibilidades a serem exploradas, mas sinto muito, elas não serão comigo; ele falou diante do olhar de desalentado dela.

-Mas eu te amo; ela falou tentando convencê-lo a mudar de idéia.

Desviou o olhar, sentindo um nó formar-se em sua garganta. Céus! Aquilo estava ficando mais difícil do que imaginara. Não queria magoá-la, pelo contrário, se pudesse fazer algo que evitasse isso, faria de olhos fechados sem hesitar, mas não era justo iludi-la, não quando não tinha certeza dos próprios sentimentos e dos caminhos que iria seguir.

-Por favor; Shun sussurrou, com a voz embargada. –Eu não mereço... Eu, desejo que você seja feliz June; ele falou acariciando-lhe a face ternamente. –Você merece mais do que eu posso oferecer;

-Shun; ela falou aflita quando ele deu um passo para trás, afastando-se.

-Sinto muito, se eu pudesse voltar no tempo, talvez fizesse as coisas diferentes; o cavaleiro falou encarando-a com os orbes cintilantes e marejados. –Ou talvez não... Não sei, de qualquer forma, eu desejo que você seja feliz June e que-...; ele parou respirando fundo. –Possa encontrar quem mereça seus sentimentos;

-O que está acontecendo Shun? –June perguntou tentando se aproximar, mas ele recuou.

-Nesse momento eu mal sei quem sou; Shun respondeu lembrando-se das coisas estranhas que vinha sentindo nos últimos dias. –Aqui dentro está dividido; ele falou apontando para o coração. –Não sei se tudo aqui, pertence a mim;

-O que quer dizer? –ela indagou confusa.

-Parece loucura; ele falou com um riso seco. –Mas ainda ouço a voz dele na minha cabeça... É insano, eu sei... Só que elas vêm e vão, não posso controlar... Por isso é melhor ficarmos afastados;

-Mas...;

-Acima de qualquer coisa June, somos amigos; Shun falou fitando-a com um olhar triste. –Espero que possa me perdoar por não ser aquilo que você queria, mas nesse momento, eu também não sei o que eu quero para mim. Não sei que caminho seguir, ou o que fazer da minha vida. No começo, eu pensei que depois que as guerras acabassem, poderia ter uma vida normal, sem guerras e tudo o mais, mas as coisas estão acontecendo e eu não posso prever como vai ser amanhã;

-...; ela assentiu silenciosamente, sentindo as lágrimas rolarem por sua face, mesmo tentando detê-las.

-Às vezes me sinto fora da minha própria pele; ele confessou angustiado. –Eu vou começar um novo treinamento com Shaka e não sei quanto tempo mais vou permanecer por aqui, por isso estou sendo franco com você;

-Quando você voltar ao Japão, nós, bem...; June começou.

-Nada é certo em minha vida nesse momento June e eu jamais lhe pediria para esperar; ele falou seriamente.

-E se eu quisesse? Hein Shun, e se eu quiser esperar? –ela perguntou desesperada.

-Não vou pedir... Porque não quero que faça isso; Shun falou veemente, fazendo-a encolher-se diante do brilho frio que cruzou os olhos esverdeados por alguns segundos. –As coisas podem mudar de uma hora para outra, hoje temos um pensamento, amanhã tudo pode estar diferente. Não quero que você se machuque ao se apegar a algo intangível;

-Eu já estou Shun; a amazona falou com pensar. –Esperei por tanto tempo; ela murmurou desviando o olhar. –Fiquei desesperada ao acordar naquele hospital e saber que você e os outros haviam partido para o Santuário e poderiam estar mortos;

-Como eu disse, talvez tudo tivesse sido diferente, ou não... Respeito seus sentimentos June, mas nesse momento, eu seria um canalha se te prendesse a falsas promessas; ele completou taxativo.

Detestava admitir, mas novamente ele estava sendo o mesmo Shun gentil e cavalheiro de sempre, pena que tudo isso vinha acompanhado de um "Adeus", não de um "Eu te amo", como desejara ouvir desde que chegara; ela pensou, assentindo pesarosamente.

-Sinto muito; ele falou antes de se afastar e retornar pelo caminho que fizeram inicialmente.

Viu-o desaparecer no final da colina, atravessando os portões de ferro. Deixou-se cair de joelhos na grama, as lágrimas corriam copiosamente por sua face enquanto tentava entender como tudo dera tão errado. Quando chegara ao Santuário para visitá-lo, jamais pensou que isso poderia acontecer.

.III.

Os intensos orbes azuis correram pelo imenso jardim com um brilho curioso, o som calmo das águas do chafariz era acolhedor, avançou lentamente pelo jardim e seus orbes detiveram-se sobre uma figura que estava sentada embaixo de uma árvore parecendo perdida e melancólica, os longos cabelos negros esvoaçaram levemente com uma brisa suave, a face alva estava corada pelo calor e as mãos pousadas delicadamente sobre o colo imploravam para que um artista eternizasse aquela imagem em um camafeu.

-É de partir o coração ver uma moça tão bonita com olhos tão tristes; ele falou parando ao lado de Cora.

-Uhn? –ela murmurou, virando-se e deparando-se com o cavaleiro tão perto de si, que sentiu a face enrubescer imediatamente.

-Assim esta melhor; Milo falou com um largo sorrido, enquanto ficava de cócoras e tocava-lhe a maçã rosada do rosto com a ponta dos dedos. –Bem melhor;

-Ahn! Quem é você? –Cora perguntou tentando recuar, mas sentia-se paralisada, diante do brilho intenso daquele olhar. Muitos cavaleiros haviam deixado a Fonte quando chegara ali da primeira vez atrás de Nikki, então não sabia exatamente quem era aquele.

-Milo; ele falou com um fino sorriso curvando os lábios bem desenhados. –Milo de Escorpião... E você, minha bela ninfa, qual sua graça?

-Afaste-se dela, Milo; uma voz intensa ecoou pelo jardim, fazendo o cavaleiro se retesar quase caindo para trás.

As árvores a sua volta tremularam prenunciando uma tempestade antinatural para aquele pequeno paraíso afastado do mundo real.

-Não era para você estar com aquela loirinha, Shun? –o escorpião brincou em tom de provocação ao vê-lo se aproximar com um olhar nada amigável. O que era uma grande surpresa vindo dele, que sempre se mostrara cordial e gentil com todos.

-Eu mandei se afastar; o cavaleiro continuou em tom frio.

-E se eu não quiser, pirralho; o Escorpião provocou acreditando que o cavaleiro estava sendo apenas um pouco ranzinza graças a convivência prolongada com Shaka, mas no segundo seguinte ofegou ao sentir uma mão invisível fechar-se em seu pescoço. Arregalou os olhos sentindo a passagem de ar de fechar com força, a única coisa que via a sua frente era o olhar sombrio do jovem a sua frente. Não havia mais aquele brilho cativante e conhecido, ele havia se apagado completamente, não reconhecia mais o antigo Shun, ele parecia-se mais com...

-Hades; o Escorpião ofegou chocado em meio a um fio de voz enquanto o ar deixava completamente seus pulmões.

-SHUN! - Cora gritou, chamando-lhe a atenção. Em uma fração de segundos Shun franziu o cenho levando as mãos a cabeça.

Pontos pretos surgiam diante de seus olhos, sentia-se atordoado, caiu de joelhos no chão, enquanto pouco a pouco o ar voltava a ser bombeado para os pulmões. Assustado, voltou-se para ele e encontrou o virginiano em estado febril, apoiado em uma árvore, ofegante e tremulo.

-Shun; Cora chamou novamente segurando-o com força, enquanto sentiu-o fraquejar, caindo de joelhos na grama. Levou uma das mãos a testa dele, sentindo-a queimar.

-O que está acontecendo afinal? –Milo perguntou afastando-se, confuso. Sentindo a pele em volta da garganta formigar, tinha quase certeza de que se olhasse no espelho agora veria a forma perfeita de dedos marcando a pele.

-Por favor, chame Athena; ela pediu aflita para o escorpião, antes de puxar Shun até uma das esteiras.

O cavaleiro assentiu, enquanto deixava a Fonte apressado, aquilo fora muito bizarro, por alguns segundos vira o próprio Imperador ali bem na sua frente. Tudo bem que Shun era a reencarnação de Hades, mas depois da última batalha, qualquer resquício do Imperador deveria ter desaparecido, não é? –ele indagou-se confuso, enquanto voltava ao salão principal atrás de Athena. E afinal, quem era aquela jovem e o porquê Shun ficara tão perturbado quando o vira próximo a ela?

Droga, essa era uma das muitas perguntas que não teria a resposta tão logo, quando subira até o jardim mais cedo, fora apenas com a intenção de passar o tempo e de repente encontrar algumas das ninfas misteriosas que trabalhavam com Nikki no jardim, nunca pensará que aquilo fosse acontecer quando encontrasse justamente com aquela ninfa de cabelos negros.

-x-

Deitou-o sobre a esteira de vime, aflita olhou para a entrada do jardim esperando Athena chegar, colocou a mão sobre a testa de Shun sentindo os dedos ficarem úmidos pelo suor que começava a formar-se sobre sua pele.

-Calma; ela sussurrou, tentando acalmá-lo.

Até Athena chegar, o melhor que poderia fazer era arrumar um pano úmido que pudesse colocar sobre a testa dele e tentar combater aquela inexplicável febre; ela pensou ameaçando se levantar, mas sentiu uma mão firme fechar-se sobre seu pulso. Virou-se para o jovem e estremeceu ao encontrar os orbes verdes serrados e a respiração entrecortada.

-Minha deusa; ele sussurrou.

-Shun, você está delirando; Cora murmurou assustada.

-Sinto tanto sua falta; o jovem continuou como se não lhe ouvisse. –Os dias passam tão lentos, enquanto eu posso apenas observá-la de longe;

-Hades; ela balbuciou com a voz tremula, pousando a mão sobre a dele que ainda lhe segurava. –Agápi mou...; Cora sussurrou sentindo as lágrimas rolarem por sua face.

-Porque esses olhos lindos estão tão tristes, kyría?

-Ah! Hades, por quê? –Cora indagou em meio a um gemido estrangulado, ao apertar a mão dele com a sua sentiu-a excessivamente quente e pouco à pouco ela foi perdendo força até cair sobre a grama verde ao seu lado.

-O que está acontecendo Cora? –Saori perguntou aproximando-se correndo.

-Athena; a jovem falou aflita, segurando fortemente a mão do cavaleiro entre as suas. –Ele... Hades... Não sei o que fazer; ela falou descontrolada.

-Deixe-me ver; ela falou acenando para ela se afastar, mas Cora negou com um aceno e segurou-o ainda mais forte junto a si, lançando-lhe um olhar estreito e perigoso, como se a desafiasse a demovê-la dali.

-De repente, ele ficou com febre e começou a delirar; Cora explicou, empertigada como uma leoa defendendo seu território.

-Sabe o que causou isso? - Saori perguntou, colocando a mão sobre a testa dele, sentindo-o queimar, enquanto Asclépio chegava logo atrás de si.

-Eu, bem...; Cora balbuciou incerta de como responder aquilo. –Pode não ter nada a ver, mas um de seus cavaleiros se aproximou de mim e de repente Shun apareceu, mas ele estava diferente; ela falou baixando os olhos para a face antes serena do cavaleiro, mas que agora franzia-se pelo calor sufocante que envolvia seu corpo. –Por um minuto pensei que ele estivesse mesmo aqui;

-Por hora, é melhor mantemos algumas compressas de água fria sobre a testa dele e esperar para ver se a febre baixa; Asclépio falou, segurando o pulso livre do cavaleiro, sentindo os batimentos mais elevados que o normal.

Olho atentamente para a forma como Cora o olhava, lançou um olhar de alerta para Athena, que discretamente assentiu.

-Vamos descer Cora, Asclépio pode cuidar de Shun a partir de agora; Saori falou levantando-se.

-Não! Não vou sair daqui; Cora respondeu agressiva.

-Cora, ele não é o Hades; Athena a cortou em tom forte fazendo a jovem encolher-se. –Você não tem o direito de se apegar a ele, usando-o como consolo pela perda de outra pessoa;

-Não estou fazendo isso; a divindade se defendeu ferozmente. –E não vou me afastar dele; ela completou.

-Deixe-a Athena, nada a tirara daí; Nikki falou se aproximando. –Por hora ela não causara mal algum a ele, tampouco a si mesma;

-Mas...;

-Paciência, menina... Alexandria não foi construída em um dia. Não podemos impedir que sentimentos que existem há séculos, se modifiquem, apenas por conta de alguns percalços da vida; ela completou com um sorriso carinhoso, enquanto passava por ela com uma bacia de água fria nas mãos e deixava-a próxima a Cora, acenando para que Asclépio também se afastasse.

Com um suspiro impaciente, Saori recuou. Incerta como proceder, essa era mais uma das situações em que gostaria de ter a resposta certa de como proceder. Deveria no mínimo existir um livro com as respostas, porque, por um lado se compadecia da dor de Cora, mesmo seu companheiro sendo Hades. Por outro lado, temia que essa proximidade dela com Shun, deixasse o amigo perturbado justamente naquela fase delicada em que estava.

Por hora, iria deixar isso nas mãos de Nikki, mas não quer dizer que não faria algo caso Cora o magoasse de alguma forma; ela concluiu, deixando o jardim, pensando agora como iria controlar a língua afiada do escorpião, que parecia bastante perturbado quando fora lhe buscar.

-x-

Recostou-se melhor no sofá, de forma que pudesse apoiar o livro sobre um dos joelhos, distraidamente levou a pontinha do indicador aos lábios, umedecendo-a rapidamente, antes de virar uma das páginas. Concentrado, mal notou a porta do templo abrir-se até que o amigo nada discreto, jogou-se no acento a sua frente.

-O que quer dessa vez, Escorpião? –Kamus perguntou, apenas arqueando uma das sobrancelhas, enquanto continuava a ler.

-Uma coisa muito bizarra aconteceu lá em cima; Milo falou, deitando-se no espaçoso sofá recebendo em troca um olhar enviesado do amigo, sorrindo sem graça, deixou os pés para fora do estofado, não queria correr o risco de deixar uma marquinha de pó no sofá imaculadamente limpo do aquariano e acabar encerrado num esquife de gelo como quase ocorrera da primeira vez.

-O que foi dessa vez? Alguma das criadas preferiu o Afrodite em vez de você de novo? –ele indagou mordaz.

-Hei! –Milo falou indignado.

-Diga logo, se não percebeu estou tentando me concentrar; o aquariano falou indicando o livro.

-O que está lendo? –o Escorpião perguntou curioso, remexendo-se no sofá e descansando a cabeça numa almofada.

-O Conde de Monte Cristo; Kamus respondeu, marcando com um dos dedos a página que parara, desistindo da leitura, sabia que enquanto Milo não tivesse atenção exclusiva, ele não falaria o que estava acontecendo, tampouco lhe daria sossego.

-De novo? –Milo falou dando um suspiro trágico. –Quantas vezes você já leu esse livro? Oito?

-Doze, mas qual o problema com isso? –ele indagou com os orbes estreitos fazendo a temperatura do templo baixar drasticamente.

-Ta certo! Ta certo! Esqueça isso; Milo adiantou-se.

-Diga logo o que aconteceu Milo? –Kamus falou impaciente.

-Fui dar uma volta na Fonte; ele começou. –A propósito, você ficou sabendo que a namoradinha do Shun está no Santuário?

-Até onde eu sei, eles são apenas bons amigos, parece que treinaram juntos, quando Shun foi enviado até a ilha de Andrômeda; Kamus falou impassível, lembrando-se do que Hyoga mesmo lhe contara sobre o assunto.

-Amigos! Não sei não, ela parece querer bem mais do que isso; Milo falou torcendo o nariz.

-Isso é da sua conta, por quê? Kamus indagou, aborrecido diante da fofoca.

-Hei! – o escorpião reclamou indignado. –De qualquer forma, pior para ela, ainda mais depois do que eu vi lá em cima;

-O que?

-Tinha uma garota nova na Fonte; Milo falou com um sorriso travesso, mas que logo esmoreceu. –Parecia triste;

-E o Don Escorpião, logo tratou de ir consolá-la; Kamus provocou, fazendo referência ao livro de Lord Byron a respeito de um libertino espanhol.

-Basicamente essa era a ideia; Milo falou dando de ombros, confirmando a suspeita do outro. –Mas não consegui nem saber o nome dela, porque o Shun chegou e...; ele falou enquanto engolia em seco. –Nunca vi ele daquele jeito;

Kamus arqueou a sobrancelha, prestando mais atenção no cavaleiro agora, ao ver a mudança em Milo, ele não era de se abalar por pouca coisa, mas a forma como passara a mão sobre a garganta demonstrando inquietação, era algo estranho vindo dele.

-Eu só estava perto dela, mas ele surgiu do nada e mandou eu me afastar da moça, pensei que ele estivesse brincando, mas não... Eu, bem... Senti uma mão apertando meu pescoço de repente e quando virei para ele. Não era mais o Shun ali; o cavaleiro falou sentando-se no sofá e cruzando as pernas sobre ele, esquecendo completamente que não poderia sujar o móvel. –O aperto era tão forte que eu não conseguia respirar; ele murmurou com um olhar perturbado.

-Como assim, não era o Shun? –Kamus perguntou preocupado.

-Ele ..., havia algo em seus olhos... Quero dizer, os olhos não eram mais do Shun; Milo falou gesticulando nervosamente. –Pareciam mais com o...; respirou fundo antes de encarar o amigo. –Não estou ficado louco Kamus, mas eram os olhos do Hades;

-O que aconteceu depois?

-Ele começou a queimar de febre e desmaiou. Fui chamar Saori porque a menina me pediu, mas isso é muito estranho e eu... Odeio admitir, mas fiquei com medo; Milo confessou, levando a mão novamente ao pescoço.

-Saori falou alguma coisa sobre isso? –Kamus indagou curioso.

-Não, não disse nada; ele respondeu suspirando pesadamente. –Eu só gostaria de saber quem era aquela garota e porque ele fez isso. Céus, ele reagiu como se eu a estivesse agarrando, ou coisa pior e eu nem tinha tocado nela... Ainda, eu confesso; ele completou com um sorriso travesso. –Mas foi muito bizarro;

-Vamos esperar Saori dizer alguma coisa, ela vai saber melhor como proceder nessa situação. Além do mais, não sabemos o que pode ter acarretado isso e fazer especulação, vai gerar comentários demais no Santuário e isso não é bom; Kamus aconselhou.

-Tem razão; ele murmurou, pensativo.

Talvez em algum momento devesse perguntar a Shaka, afinal, era sobre o sucessor dele que estavam falando; o cavaleiro pensou, não querendo deixar o assunto de lado tão facilmente, afinal, eram bem poucas as coisas que poderiam perturbá-lo, mas naquele momento, por uma fração de segundos, sentiu que se aquele aperto aumentasse iria realmente morrer e dessa vez, não haveria volta.

Continua...