Notas iniciais - Olá pessoal! Essa história promete acontecimentos totalmente incomuns com interação entre personagens mais incomuns ainda, então estejam preparados para muitas surpresas. Boa leitura! PS: atualizações todos os sábados (assim eu espero)


Capítulo 2 - Aproximação incomum

Era quase 9 horas da noite. Kukkaku se encontrava praticamente desmaiada na cama do jovem que gentilmente a salvou de sua bebedeira. Ele a envolveu com sua capa de chuva, pois aquele mínimo pedaço de tecido vermelho que ela usava como blusa não era nada adequado para o clima chuvoso e de ventania que fazia. Ele a trouxe até em casa coberta, tentando evitar que a mulher pegasse um resfriado. Depois de dormir algumas horas, Shiba recuperou a consciência aos poucos, quando um delicioso cheiro invadiu suas narinas trazendo-lhe conforto.

Ela não reconheceu o lugar, mas provavelmente aquele deveria ser o quarto do rapaz que a ajudou naquela situação tão deplorável. Kukkaku se levantou com um pouco de dificuldade, e tentando não fazer nenhum tipo de ruído, decidiu investigar a causa do aroma maravilhoso de comida que se espalhava por todo o apartamento e invadia suas narinas, fazendo seu estômago reclamar, clamando por alimento. Ela parou ao lado da porta da cozinha, de onde pôde ver o jovem de cabelos prateados de costas, cortando algumas verduras com extrema habilidade, enquanto algo fervia em duas panelas dispostas no fogão ao lado dele. Com um avental preso por cima da camisa cuja tonalidade se igualava a de seus cabelos, e com as mangas das mesmas dobradas, aquela pessoa de aparência tão misteriosa parecia bastante concentrada no que fazia.

- Que bom que acordou. - diz com um discreto sorriso no rosto, mesmo estando de costas para ela - Você deve estar com fome, então espere apenas mais um pouco que logo estará pronto. Deveria voltar para a cama enquanto isso.

Kukkaku arregalou os olhos e piscou várias vezes. Como ele sabia que ela estava ali, se tinha tomado todo o cuidado para não ser ouvida? E ele estava de costas. Será que ela ainda estava bêbada, e tudo aquilo não passava de um sonho louco onde ela foi salva por um homem jovem, lindo e cheio de talentos? Será que a própria existência daquele garoto tão gentil e prestativo era outro sonho causado pelo excesso de álcool? Se assim fosse, ela não desejava acordar tão cedo. A morena então acatou a sugestão do desconhecido sem protestar, e voltou a se deitar.

Dez minutos depois, toda a refeição estava disposta na pequena mesa de centro ao lado da cama. Embora o apartamento não fosse tão pequeno e tivesse uma sala com um sofá e outra mesa, o rapaz achou melhor não fazer a moça se esforçar mais, e levou toda a refeição para a mesa de seu próprio quarto.

- Sente-se, por favor. Precisa se alimentar bem para recuperar as forças. - ele sorri mais uma vez.

A ex-nobre se senta no tapete fofo em volta da mesa e observa toda a comida. Uma refeição tipicamente japonesa e bastante colorida. Ela não estava muito acostumada com o tipo de comida do Mundo dos Vivos, mas tudo parecia tão delicioso.

- Parece um pouco receosa. Aqui temos missoshiro com tofu, cebolinha e udon, acompanhado de uma tigela de arroz com carapau grelhado e salada de hijiki. Espero que goste. - explica gentilmente, pegando seu par de hashi e começando a comer sua própria parte.

Alguns segundos depois que seu anfitrião começou a comer, Kukkaku se sentiu mais segura e fez o mesmo. Ela adorava comida, e tinha que admitir que aquele garoto sabia cozinhar divinamente bem, pois estava tudo delicioso. O caldo de missô trazia um confortável calor para o interior de seu corpo, e o sabor suave era divino, bem como todo o resto da comida.

Ao terminar, ela ficou olhando para o chão. Sentia vergonha por ter se embebedado de novo, mas ao mesmo tempo, seu coração experimentava um novo tipo de emoção que ela não conseguia explicar, mas que era muito agradável: a simples ternura de ser ajudada por alguém.

- Obrigada… por tudo. - ela quebra o silêncio ao surpreendê-lo - Estou envergonhada por ter causado problemas para você. Acho melhor eu ir embora agora.

Kukkaku se levanta bruscamente, e o rapaz acompanha seu movimento, mas ela se desequilibra ao sentir uma forte vertigem. Os reflexos incríveis do garoto fazem com que ele a ampare em seus braços e a coloque cuidadosamente sobre a cama.

- Não é muito prudente sair por aí no estado em que está. - disserta em tom extremamente calmo - Uma intoxicação por álcool não deixa o organismo em tão pouco tempo. É melhor descansar aqui nem que seja por esta noite. - conclui ajustando seus óculos contra o rosto, antes de complementar seu pensamento - Você precisa de uma boa xícara de café forte e amargo, mas é melhor deixar para amanhã, caso contrário, não poderá dormir.

Kukkaku estava cada vez mais confusa. O quão mais aquele jovem desconhecido ainda ia surpreender? Seu rosto estava levemente ruborizado, e ela sente a mão dele pousar sobre sua testa por alguns instantes.

- Provavelmente deve ser uma febre de 39ºC causada por algum estresse emocional intenso ou recorrente, somado ao vento que pegamos agora há pouco.

- Intoxicação por álcool? Febre? - a morena pensa impressionada, piscando várias vezes - Por acaso você é médico?

A pergunta seca e direta não altera a expressão neutra do rapaz, que acaba notando vários cortes e arranhões no joelho direito da moça, e esses ferimentos se espalhavam até sua canela, que ele apenas percebeu por conta da fenda da longa saia que ela vestia. Em silêncio, ele coloca a mão sobre a área atingida, e uma energia de cor verde passa a fluir por ela para o corpo de Kukkaku. Ao fazer uso de seu Chakra, os olhos de Kabuto assumem uma coloração dourada, como os olhos de Orochimaru, sendo a única sequela deixada em seu corpo depois que seu antigo mestre pegou seu DNA de volta. Assim que ele começa a usar seu Ninjutsu Médico, os pequenos cortes desaparecem quase instantaneamente, fazendo a mulher assumir uma expressão de puro choque, que só não foi maior por ele estar com o rosto virado para o lado oposto, não permitindo que ela visse a mudança em seus olhos, que voltaram a ser negros assim que ele terminou.

- De fato… acho que posso dizer que sou um médico.

- Qual o seu nome?

- Yakushi… Kabuto Yakushi. Desculpe a indelicadeza de não ter dito antes, embora o correto seria você dizer o seu nome antes de perguntar o meu. - responde com tranquilidade, mantendo sua expressão amigável.

- Foi mal, Doutor. - coça a cabeça um pouco sem jeito - Meu nome é Kukkaku Shiba. Mas seu nome não explica o que acabou de fazer. Por acaso você é um Shinigami? - indaga apreensiva, mas ele não pareceu se impressionar com aquela pergunta que mais parecia uma acusação.

- Shiba-san, certo? - começa a reunir os utensílios usados por eles para comer - Receio ter que desapontá-la, mas eu não sou o que acaba de chamar de "Shinigami".

- Mas como não? O que você fez agorinha mesmo não foi um kido de cura?

- Kido? Não consigo entender com clareza o que está tentando me dizer, mas pode ser por causa da febre que está sentindo agora. - o platinado rebate com firmeza - Ao invés de se preocupar se eu sou ou não o que você acha que eu sou, seria mais lógico priorizar a sua própria recuperação. Recomendo que durma por agora. - diz tranquilamente enquanto dá a ela um comprimido para febre e um copo de água, que Shiba acaba tomando sem questionar.

- Esse cara definitivamente é um médico… falou igualzinho a um. - pensa consigo, enquanto fecha os olhos.

Quando Kukkaku finalmente adormece, Kabuto coloca um adesivo para febre na testa dela, a fim de potencializar os efeitos do medicamento. Depois, ele toma um banho quente, veste um pijama confortável de mangas compridas e se deita no sofá para descansar, pois certamente aquele foi um longo dia…

...:::~X~:::...

O portão da imponente mansão Ishida se abre, para que assim o carro adentre nesta. Ao colocá-lo na ampla garagem, o dono da propriedade segue para o hall principal, subindo as escadas em direção ao seu quarto. Lá chegando, pendura seu paletó em um tripé ao lado de um amplo closet, retirando a gravata e abrindo a camisa azul. Relaxado, deita-se na king-size, pondo-se a refletir sobre o que vira antes de chegar em sua casa.

Seu filho, Uryuu, estava feliz, e aparentemente bem. Não sabia que estava namorando, sendo que ambos vivem separados, mas naquela noite, resolveu seguir o jovem às escondidas, pois a cerca de uma semana, sentiu uma espécie de mau presságio sobre ele, uma angústia repentina, e decidiu verificar se seu único filho estava bem.

Ao concluir que Uryuu mantinha um relacionamento amoroso, sentiu um misto de alívio e receio, isso porque, embora vê-lo feliz fosse bom, também poderia ser o caso daquela relação não dar certo no futuro, causando a costumeira decepção que cada um deve viver em sua vida. Refletir sobre isso levou Ryuuken Ishida ao ponto mais delicado: seu próprio interior.

Lembrou-se de que nunca em sua vida se apaixonou verdadeiramente, e mesmo estando viúvo há anos, se preocupava mais em manter sua profissão do que conhecer pessoas, envolvendo-se raramente com mulheres pelas quais não se interessava, somente para suprir suas esporádicas necessidades sexuais. Nesse ensejo, notou como sua vida era vazia e sem graça, sem nada que o preenchesse por completo além de sua árdua missão de salvar vidas em seu hospital.

Deixando de lado tantos pensamentos que a lugar algum o levariam, o platinado foi até o banheiro de sua suíte, onde relaxou nas águas mornas da sua hidromassagem, para em seguida desfrutar de uma tranquila e merecida noite de sono.

Continua…