Quase três meses se passaram desde que ele fugiu de Hogwarts. Ele conseguiu uma cabana bem escondida no mundo trouxa e gastou bons galeões com as proteções dos goblins ao redor de sua casa. Os únicos que poderiam encontrá-lo seria sua família de sangue, uma pena para todos eles que os Dursley estariam contentes por saber que ele nunca mais apareceria em suas vidas.

O tempo passou com certa lentidão. Ele não tinha com quem conversar, ele se recusou a receber cartas - outro agradecimento aos goblins. Ele saía para caminhar entre as árvores, tomar um banho na cachoeira e até mesmo quando decidiu começar um jardim nos fundos, mas nunca foi à cidade. Todas as compras necessárias para a casa eram feitas por Dobby, quem jurou manter seu segredo.

Então, depois de todo esse tempo monótono, ele tinha razão em se assustar quando ouviu alguém bater em sua porta. Ele estava no meio do nada, sem nenhum vilarejo por perto. Ele até mesmo se certificou que a cabana ficasse longe das trilhas. Com cuidado, mas sabendo que não tinha o que temer, já que seus parentes jamais ajudariam Dumbledore, ele abriu a porta com cuidado, curioso para saber quem era a pobre alma que estava perdida.

Harry olhou a pessoa do outro lado da porta e não reconheceu imediatamente, mas algo em seu rosto e em sua magia parecia familiar. Tão familiar que o deixou desconfortável.

- Pois não? - Ele perguntou baixo.

- Harry? - O homem o encarou e Harry devolveu o olhar. Bem, ele sabia seu nome, mas não era de se estranhar, toda a Inglaterra bruxa o conhecia.

- Eu não sei como você me encontrou, mas saía e diga a quem te mandou que eu não estou com humor para os seus planos. - Harry tentou fechar a porta, mas foi impedido quando o homem esticou a perna.

- Bem, não foi tão difícil quando eu percebi que só tinha uma maneira de te encontrar. Você deveria saber que não tem como fugir de mim por tanto tempo.

Aquele tom de voz fez algo clicar em sua mente.

Voldemort.

Mas como isso foi possível, eles compartilharam o sangue em seu quarto ano, mas agora, depois de mais de um ano, era impossível seu sangue ainda estar correndo pelas veias do bruxo que tentou matá-lo repetidas vezes.

- Veio terminar o seu trabalho? - Harry desistiu de fechar a porta. Agora ele sabia que não tinha mais chance, principalmente com sua magia tão descontrolada por causa da gravidez.

- Vim para conversar. Acredito que estamos adiando essa conversa por muito tempo. - O homem adentrou a casa, observando tudo ao seu redor, mas não tinha nenhum toque pessoal, ele não estava com humor para isso no momento.

- Devo ressaltar que você não faz esse tipo de coisa, apenas mata sem piedade. - Harry fechou a porta e se sentou de volta no sofá, onde estava inicialmente.

- Isso foi antes, durante a minha... loucura, podemos dizer assim. - Voldemort se sentou em uma poltrona e cruzou seus olhares. - Devo admitir que não estava em boas faculdades mentais, mas agora estou melhor e pretendo mudar algumas coisas.

- Aprendi a não confiar em palavras, então me diz, por que devo acreditar em você? Não acredito que você vá mudar as coisas, muito menos que vá parar de tentar me matar, agora que sabe a profecia completa.

Harry já se sentia cansado. Tudo o que ele queria era ir para a cama e dormir, fingir que nada disso estava acontecendo, mas ele junca teve o que desejou, então continuou onde estava.

- Que tal fazermos assim, eu falo e você ouve.

- Novidade... - Harry soltou um bufo. Claro que seria assim. Ele nunca teve permissão para falar.

- Eu quero contar a minha história, a história que poucas pessoas conhecem. Depois, se você quiser que eu saía, eu saio. Mas quero fazer isso dessa forma porque você sabe detectar a mentira em minha voz. - Ele não sabia se Harry sabia o que aquilo significava, mas sabia que o garoto podia sentir quando ele estava contando uma mentira.

- Bem, então comece. - Ele procuraria se atentar as palavras.

- Essa história começa há muito tempo atrás... Muito antes de minha sanidade se quebrar. - Voldemort sabia que deveria começar por aqui, era a única forma do menino realmente ouvi-lo. - Eu era casado, tinha uma família, eu era feliz...

Harry não conseguia imaginar Voldemort feliz se não fosse matando alguém, mas obedientemente ficou quieto absorvendo a história.

- Quando eu ainda estava em Hogwarts, encontrei uma maneira de permanecer vivo por muitos anos. Eu queria enganar a morte, então fixei partes de minha alma em objetos e os escondi.

Ele sentiu vontade de vomitar com essa informação. Como alguém pode ser capaz de fazer isso? Ele era um bruxo das trevas, mas quão longe ele estava disposto a ir?

- Meu marido soube, eu não podia esconder muita coisa dele. Então ele me fez prometer que procuraria um forma de reverter essa situação. E eu tentei. Eu o amava, faria qualquer coisa pela felicidade dele.

Talvez essa informação não seja tão importante, mas Voldemort era casado com um homem? E onde estava esse marido? Também era louco como ele?

- Eu encontrei uma passagem em um antigo livro que dizia que eu precisava, primeiro, encontrar essas peças. O meu erro foi não ter lido tudo e tentar invocar os objetos. - Voldemort parou e o encarou por um breve momento. - Eu devia ter ido pessoalmente buscar essas peças. Sabe por quê?

Harry acenou negativamente. Não. Ele não sabia. Ele ainda estava confuso sobre toda essa história, ele não estava bem para pensar em coisas tão difíceis agora.

- Quando invocamos um objeto, nós o invocamos por completo, nossa magia o envolve. O livro dizia que eu devia checar pessoalmente as peças porque se estivesse com alguém ou com algum feitiço, as duas magias ricocheteariam e o que quer que tivesse sido lançado nessas pessoas, recairia sobre meu corpo.

Bem, ele estava começando a entender o erro dele. Mas o que isso significava. Nada fazia sentido ainda.

- Uma maldição foi lançada em algumas peças. Essa maldição mexeu com a minha mente e eu me perdi na minha própria loucura. Era como se meu corpo fosse um fantoche e eu estivesse observando tudo o que fazia. Em um raro momento de lucidez, escondi os objetos novamente e consegui fazer com que meus seguidores escondessem meu marido que se recusava a sair do meu lado, mesmo com nosso filho praticamente pronto para nascer.

Essa não foi uma história feliz sobre matança, como ele pensou que seria. Harry não conseguia imaginar o que ele faria em uma situação dessa. Ele faria qualquer coisa pela segurança de seu filho, então ele conseguia se ver nos dois lados da moeda.

- E eles ficaram bem? Digo, seu marido e filho. - Harry perguntou timidamente. Mesmo esse sendo um assassino em sua frente, ele podia ver que ele também faria qualquer coisa pela sua família.

- Sim e não. - Voldemort sussurrou, uma emoção indecifrável passando por seus olhos rubi. - Eu só me lembro de ouvir que meu marido estava supostamente casado com a madrinha de nosso filho. Em meio a loucura e a raiva, eu fui atrás deles. No momento em que cheguei a casa, meu marido estava morto na sala. Eu subi as escadas, minha magia estava descontrolada. Eu encontrei a madrinha do meu filho morta no quarto dele. - Voldemort suspirou pesadamente, ele odiava relembrar esse dia. - Eu vi o menino ali, no berço, mas ele era completamente diferente do meu filho. A raiva tomou conta da minha mente outra vez e eu lancei a maldição da morte na criança.

Harry sentiu um arrepio subir por sua espinha. Ele inconscientemente envolveu seus braços ao redor de sua barriga que tinha um leve inchaço, já sendo proeminente aos 4 meses por conta de sua magreza.

- Por que essa história não me é estranha? - Harry sussurrou mais para si do que para o bruxo das trevas. Era uma pergunta retórica e ele se recusava a ouvir o óbvio que nadava em sua mente.

- Porque você, Harry James Potter, nasceu Hadrian Salazar Peverell. Filho de James Fleamont Peverell e Thomas Marvolo Peverell.

Harry sentiu um aperto em seus pulmões, sentindo a dificuldade de puxar ar o suficente. As bordas de sua visão começaram a escurecer.

Não. Isso não pode ser verdade. É impossível! Ele é filho de James e Lily Potter. Dois membros da Ordem da Fênix que lutaram contra Voldemort, o impiedoso mago das trevas.

Em meio ao caos que sua mente e seu coração estavam, ele podia sentir uma pequena luz tentando alcança-lo. Querendo apenas sair de onde estava, ele lutou bravamente e seguiu aquele calor reconfortante.

Minutos depois ele conseguiu abrir os olhos e percebeu que Voldemort, pelo visto seu antigo inimigo, estava ao lado dele, o abraçando enquanto formava um casulo. Ele respirou fundo e tentou entender porque aquilo era tão confortável quando não deveria ser.

- Mesmo sendo tão difícil de aceitar, sua magia sabe que pode confiar em mim. Ela sabe que, de alguma forma, estamos ligados. - Voldemort, ou melhor, Thomas, explicou.

- Isso não pode ser real. - Harry fechou os olhos novamente, pedindo que isso fosse apenas mais um sonho estranho. Ele queria gritar. Queria chorar. Por que essas coisas só aconteciam com ele? Por que sua vida era uma bagunça?

- Eu sei que você não confia em mim, mas eu quero propor que você fique com os Malfoy. - Thomas sussurrou, querendo apenas tirar seu filho daqui e levar para algum lugar que ele sabia ser confiável. - Eu só quero ter certeza de que você está protegido.

Harry pensou nisso. Ele havia conseguido uma trégua com Draco Malfoy e, relutantemente, confiava nele. Mas ele deveria negar. Ele não confiaria nos outros Malfoy.

- Esse lugar é protegido e agora você sabe onde estou. - Harry se afastou do casulo, ainda sem entender como agir depois dessa cena. - Os goblin enfeitiçaram todo o terreno e eu gosto daqui. Gosto de estar em contato com a natureza e do silêncio que isso traz.

Thomas não queria aceitar, mas sabia que não podia sobrecarregar seu filho, principalmente quando ele sabia que seu filho ainda não confiava nele, mesmo depois desse inesperado abraço.

- Tudo bem, mas quero que Draco fique aqui com você. Pelo menos isso.

Harry pensou nessa condição. Ele poderia simplesmente não aceitar. Mas se essa fosse a verdade, se ele for realmente seu pai, ele vai tentar. Ele está cansado de lutar, cansado de ficar sozinho. Um dia, ele penou que faria de tudo para ter uma família, e se essa fosse a sua família agora, ele tentaria.

- Ele pode vir para cá, mas ninguém mais.

Thomas sentiu seu coração afundar com isso, mas aceitou. Ele esperava que com o tempo, seu filho aceitasse sua companhia.