- Você está certo sobre isso? - Thomas perguntou gentilmente ao filho.
Harry sabia que estava na hora. Ele podia deixar isso rolar por muito tempo. Sabia também que se não fosse logo, ele não conseguiria enfrentar essa situação.
Draco estava sentado em uma namoradeira ao lado de Harry no quarto dele. Era um conversa e tanto, mas por ser família e pelo seu próprio conforto, Harry pediu que fosse no quarto.
Thomas apareceu pensando ser apenas mais um momento pai e filho e quando Draco começou a sair do quarto de Harry, ele pediu para que ficasse. Harry confiava nele e isso bastava.
Ele tem ciência de que Severus é o pai de Jacques. Ele tem ciência de que foi Severus quem terminou esse relacionamento, e dado o pouco que Harry disse, não foi em bons termos.
Agora, com a família, Harry estava florescendo. Ele falava mais, ria mais, brincava mais... O tanto que ele mudou com o apoio deles foi enorme e Draco estava feliz por ser parte disso.
- Sim, pai. - Harry suspirou enquanto inconscientemente pegava a mão de Draco para conforto. Thomas percebeu, mas não falou.
- Severus é um tanto possessivo. - Thomas comentou por cima. - Você acha que ele vai ficar bem com isso?
Draco fez um careta para isso, mas não comentou.
- Ficando bem ou não, isso não me importa. O que importa é o que eu quero e o que eu vou fazer. - Harry disse firme. - Não posso mudar o fato de que ele é o pai biológico do meu filho, nem posso mudar o quanto o amei.
- Você não iria querer isso, mas ainda sabe que ele terminou tudo pelo seu bem, pela sua segurança. - Thomas ressaltou. - Agora que a guerra acabou, ele espera que vocês reatem.
Draco conhecia Severus, sabia do que ele era capaz, mas também sabia que faria o que for preciso para que Severus não machucasse Harry. Até o manteria distante, se esse fosse do desejo de Harry.
- Não vou mentir e dizer que meus sentimentos por ele desapareceram, mas o que ele disse foi imperdoável. As palavras que ele me disse... Isso eu não posso esquecer, mesmo sabendo que era para o meu bem. - Harry pensou muito naquela noite, naquelas palavras.
- Eu não falo isso porque espero que vocês reatem, meu filho. Mas digo isso para que você saiba que ele não vai te deixar ir tão facilmente. - Thomas suspirou um tanto cansado. - Eu gostos de Severus, mas sei que ele é tão possessivo que ele poderia acabar te machucando apenas para você não o afastar.
- Se Harry colocar uma distância entre eles, o que você acha que ele poderia fazer? - Draco perguntou um tanto curioso.
Harry olhou para o pai, assustado com as palavras de Draco. Thomas apenas respirou fundo, pensando no que dizer. Ele não pode mentir para o filho, ou dar falsas esperanças.
- Ele poderia forçar uma convivência juntos, já que por direito ele pode ficar com Jacques e sabe que você não o deixaria sozinho. - Ele sabe que isso pode ser um problema no futuro. - Ou ele pode querer reivindicar todos os direitos do filho e tomar a guarda dele, já que você ainda é muito jovem e, tecnicamente, está em fase escolar.
Draco não gostou dessas possibilidades. Como alguém que ama pode fazer isso?
- Supondo que ele tente fazer isso, você tem alguma solução? - Draco perguntou, já tentando pensar em formas de proteger Harry e Jacques.
- Ele não pode fazer isso. Isso só me afastaria dele.
- Sim, te afastaria. Mas ele te conhece. Sabe que você nunca deixa um dos seus para trás. Isso te deixaria desesperado ao ponto de fazer qualquer coisa para ter seu filho, até mesmo estar junto com ele. - Thomas fez uma careta. - Eu vou falar com James sobre direitos familiares, apenas para estarmos seguros, mas não acredito que ele tente fazer isso agora.
Harry se recostou na namoradeira, seus pensamentos em turbilhão. A conversa com seu pai o deixou agitado, suas emoções flutuando entre a incerteza e o medo do futuro. Seus olhos desviaram para Draco, que ainda estava sentado ao seu lado, oferecendo uma presença constante e reconfortante. Draco também parecia perturbado pelas palavras de Thomas, e Harry sabia que ele estava considerando todas as possibilidades, calculando cada risco, como sempre fazia.
Thomas se levantou, seus movimentos deliberados e calmos, mas com um peso evidente em seus ombros. Ele se aproximou de seu filho, tocando suavemente sua mão.
- Eu vou deixar vocês a sós. - A voz estava suave, mas carregada de preocupação. - Lembre-se, filho, estou aqui para você, não importa o que aconteça. Vamos passar por isso juntos.
Harry assentiu, apertando a mão de seu pai antes que Thomas se afastasse. O quarto ficou em silêncio por um momento, o único som era o leve farfalhar das cortinas ao vento. Draco ainda estava ali, e Harry podia sentir a tensão no ar, uma mistura de sentimentos não ditos e preocupações silenciosas.
Draco finalmente quebrou o silêncio, sua voz baixa e hesitante.
- Você está bem? - Ele perguntou, seu olhar fixo em Harry, estudando cada expressão.
Harry respirou fundo, tentando processar tudo. Ele ainda segurava a mão de Draco, e só agora percebeu o quanto aquele toque era reconfortante.
- Eu pensei que estava. - Harry admitiu, sua voz tremendo um pouco. - Mas agora, eu... Eu não sei. Parece que tudo está desmoronando ao meu redor, e eu não sei se consigo lidar com isso.
Draco assentiu, seus olhos suavizando com empatia. Ele não disse nada por um momento, apenas apertou a mão de Harry, transmitindo silenciosamente o apoio que ele precisava.
- Você não precisa passar por isso sozinho. - Draco disse finalmente. - Estou aqui para o que você precisar.
Harry desviou o olhar, sentindo uma onda de emoções. Ele sabia que Draco estava sendo sincero, mas também sabia que a situação era complicada demais para ser resolvida tão facilmente. Ele se lembrou de Severus, do que eles tinham compartilhado e do que ele havia perdido. Por mais que Draco estivesse ali, oferecendo apoio e conforto, Harry sabia que ainda estava ferido demais para considerar qualquer outra coisa além de cuidar de si mesmo e de seu filho.
- Draco, eu aprecio isso. - Harry começou, sua voz baixa e cheia de emoção. - Mas eu preciso ser honesto. Eu não sei se posso... Se posso pensar em qualquer coisa além de Jacques agora. Severus... ele foi importante para mim, e ainda é, de certa forma. Mas o que ele disse... Eu não consigo esquecer.
Draco assentiu novamente, compreendendo perfeitamente o que Harry estava tentando dizer. Ele sabia que Harry ainda estava emocionalmente ferido, e que qualquer movimento precipitado poderia piorar a situação.
- Eu entendo. - Draco disse suavemente. - Eu não espero que você faça nada que não esteja pronto para fazer. Estou aqui, Harry, e estarei esperando até quando você me permitir. Não vou pressioná-lo para nada.
Harry se sentiu tocado por aquelas palavras, uma leve onda de gratidão passando por ele. Ele sabia que Draco estava sendo sincero, que ele estava disposto a esperar e dar o tempo que Harry precisava. E embora houvesse um sentimento ali, algo que pairava entre eles, Harry sabia que não podia deixar isso crescer sem resolver primeiro as questões em sua mente.
- Obrigado. - Harry sussurrou, seus olhos encontrando os de Draco. - Eu... eu realmente aprecio isso. Mas você sabe que isso não será fácil. Severus... Ele é uma pessoa complicada. Ele não teve uma vida fácil, e isso o tornou do jeito que ele é. E eu... Eu ainda sinto algo por ele, mas sei que não podemos continuar assim. Nenhum de nós está bem o suficiente para um relacionamento.
Draco assentiu, compreendendo a profundidade das palavras de Harry. Ele sabia o quanto Severus significava para ele, e sabia também que, por mais que Severus quisesse uma família com Harry, o peso de tudo o que aconteceu estava sobre eles, impedindo qualquer avanço.
- Você está certo. - Draco concordou. - Severus teve uma vida difícil, e isso o moldou de maneiras que talvez nunca possamos entender completamente. Mas você também não precisa carregar esse fardo sozinho. Severus é forte, mas ele também precisa de ajuda, assim como você.
Harry suspirou, sentindo a verdade nas palavras de Draco. Ele sabia que precisava de ajuda, que Severus precisava de ajuda. E embora houvesse algo entre eles, algo que nunca havia desaparecido completamente, Harry sabia que não era o momento de reviver o passado. Ele tinha um filho agora, e isso era sua prioridade.
- Eu só quero fazer o que é certo para Jacques. - Harry disse finalmente, sua voz firme. - E talvez, no futuro, eu possa pensar em algo mais.
Draco sorriu, um sorriso pequeno mas cheio de compreensão.
- Eu estarei aqui.
O silêncio voltou a cair sobre o quarto, mas dessa vez era um silêncio reconfortante, carregado de compreensão e apoio. Harry sentiu um peso sair de seus ombros, sabendo que, independente do que acontecesse, ele não estaria sozinho.
- Eu sei.
Draco assentiu, seus olhos ainda fixos nos de Harry, enquanto uma conexão silenciosa se formava entre eles. Não havia pressa, não havia pressão. Apenas duas pessoas, tentando encontrar um caminho através das dificuldades, um passo de cada vez.
Draco então se levantou, quebrando o contato visual, mas ainda mantendo aquela conexão silenciosa, Ele sabia que Harry precisava de espaço, mas também sabia que ele estaria lá, esperando, quando o tempo fosse certo.
- Vou deixar você descansar. - Draco disse, sua voz baixa. - Se precisar de mim, sabe onde me encontrar.
- Obrigado, por tudo. - Harry sorriu, um sorriso pequeno, mas genuíno.
Draco apenas acenou antes de sair do quarto, deixando Harry sozinho com seus pensamentos mas com um novo senso de paz e compreensão. Ele sabia que o caminho à frente não seria fácil, mas pelo menos, agora, ele sabia que não estaria sozinho.
