Capítulo 13 — Problema

— Yuu, você sabe quando surgiu isso aí? — perguntou Kai analisando a tatuagem. Estavam os cinco numa sala pequena, Aoi sentado no sofá pequeno sem sua camisa enquanto seus amigos e namorado analisavam a pele marcada.

— É como a minha — Uruha murmurou analisando mais de perto pensativo.

— Pois é, você sumiu na festa por um tempo, foi nesse meio tempo? — perguntou Ruki já com um pensamento em mente.

— Eu... Não me lembro muito — respondeu Yuu tenso. Não se lembrava com muita clareza, é verdade, mas as marcas de seu corpo, o relaxamento pós-orgasmo e todas as outras provas que teve sobre o ocorrido, o faz ter uma noção.

— Oh! Deus! Você transou com alguém. — Assim que falou, espremeu os lábios e arregalou os olhos, um clima tenso se espalhou pela sala e com a exposição daquele fato todos esperavam a reação do mais alto da sala.

— Talvez essa tatuagem seja parte de um culto satânico, e toda vez que um de nós é manipulado ganha isso! E se o Yuu também tiver transado com uma lunática que quer filhos? — Kouyou despejou tudo de uma vez, pensava em mil teorias e tentava com toda suas forças ignorar o fato da noite: havia levado um par de chifres. E todos sabiam.

Estava focando somente na sua teoria sobre o ritual, as tatuagens e seu possível filho.

— O quê? — Yuu se levantou e virou para olhar se o outro realmente falava sério — Ritual satânico? Kouyou, de verdade, você tá paranóico — exclamou estressado.

Se sentia um merda, queria sentar e chorar por ter traído o amor de sua vida, e a negação do outro lhe deixava mais tenso ainda. Sem falar da plateia, não queria olhar para seus amigos, muito menos Kai, que fez os dois jurarem que o relacionamento iria ser para sempre, para não afetar a banda.

— Paranóico?! Yuu, olha o tanto de coisa que aconteceu, desde aquela noite, as tatuagens, a música, o meu choque e mais isso agora! Não é possível que só eu esteja achando isso tudo estranho. — Kouyou deu a volta no sofá para ficar de frente ao moreno que passou as mãos no cabelo nervoso.

— Kouyou, por favor, o que você quer? Está fazendo joguinhos mentais, é isso? — Já se sentia pressionado, não era possível que o loiro fosse tão, tão lerdo. Ele estava querendo o quê? Que falasse com todas as letras? Que assumisse em alto e bom som? Já não doía demais assim?

— O quê? Mas... Do que está falando!? — Kouyou se colocou na defensiva automaticamente.

Reita, Kai e Ruki se olharam espantados com o desenrolar da conversa, Reita se levantou e se colocou ao lado do maior, tocou seu ombro pedindo calma e sorriu tentando remediar a situação.

— Ei, vamos lá, não briguem — murmurou descontraído com o apoio de seu líder.

— Não, não! Quero que me fale o que quis dizer. Que joguinhos mentais? Estou falando que tem algo de muito errado aqui, inferno, você acha normal aparecermos com tatuagens depois de uma noite na fogueira com pessoas satânicas?

— Está mesmo se fazendo de desentendido? Ou está realmente colocando fé no que está falando? Pessoas satânicas? — Riu exagerado — Você quer o quê? Que eu fale com todas as letras? Uruha, eu te traí! Te deixei numa festa sozinho, fui para uma sala qualquer com uma mulher qualquer e transei! É isso que queria ouvir! E adivinha: não teve intervenção satânica nenhuma nisso! Não seja louco! — Depois de terminar de discursar, seus olhos asiáticos se arregalaram.

Todos pararam chocados durante os segundos que a lágrima solitária escorreu sobre a pele maquiada do mais alto, quando esta se perdeu no pescoço pálido e Kouyou saiu da sala como um raio.

Yuu sentiu suas pernas falharem e seu coração se apertou de uma forma que ele pensou estar enfartando.

Aquela discussão havia ido para caminhos que não deveriam ter ido.

(...)

A volta para casa na van foi tensa, Uruha não quis sentar ao fundo junto do seu namorado Aoi, pediu para trocar de lugar com Kai. Não mencionou uma palavra o caminho de volta, somente encostou a cabeça no vidro e ficou assim, só ouvia ele respirando fundo e umas lágrimas eram vistas caindo por sua face.

Kai havia sentado com o moreno que também estava inconsolável, não acreditava que tinha falado daquele jeito com o namorado, não conseguia entender por que Uruha dizia que foram enfeitiçados e estavam sendo manipulados, sua teoria não fazia sentido algum.

Mesmo que aquelas malditas tatuagens que aparecem neles, fosse algo sem explicação, pessoas satânicas observando eles era demais para sua cabeça. Eram restritos e o grupo de pessoas que trabalhavam para eles eram de confiança, era difícil suspeitar que alguém pudesse estar usando eles, pois aquele segredo era somente deles.

Ruki quebrou aquele clima de enterro que estava na van, falando sobre a viagem e como estava contente em visitar novamente a América do Sul, os latinos estavam muito empolgados, gostava muito da energia e explosão deles nos shows.

Conseguiu arrancar alguns risos, lembranças e comentários sobre as visitas anteriores e o memorável tombo do Uruha no Brasil, fazendo o mais alto sorrir um pouco, mas logo viu Aoi tentando lhe falar, fechou a cara voltando a encarar a estrada.

A van fez uma parada deixando eles, Ruki e Reita desceram juntos e foram para o apto do Reita, se despediram para se encontrarem só no aeroporto daqui a dois dias. O próximo a descer seria Uruha, pois sua casa era a mais distante, então depois o motorista faria a volta deixando Kai e Aoi por último perto do centro de Tóquio.

Antes da van parar, Aoi tentou falar com Uruha, ele ainda estava o ignorando desde o acontecido na rádio.

— Shima-san, olha para mim, precisamos conversar.

— Yuu, não tenho mais nada para conversar, você já deixou bem claro a sua posição.

— Gomen, eu estava nervoso, não devia ter falado daquele jeito, nunca foi minha intenção lhe trair.

— Mas falou em alto e bom som todos ouviram, Kai-san é testemunha.

— Por favor, não me coloquem nessa confusão de vocês, só não quero que isso interfira na nossa turnê.

— Não se preocupe Kai-san, sou profissional e sei separar os meus sentimentos do serviço.

— Uruha, por favor me escute, eu não queria ser rude, mas sua teoria de pessoas satânicas vai além da lógica.

— Não me venha com lógica, Shiroyama. Essa tatuagem aparece do nada, depois você transar com uma mulher é super normal.

— Kai-san fala com ele. Que essa história de feitiço e manipulação é fora da realidade.

— Yuu-san, não vou dizer nada, pois nem eu não sei o que está acontecendo, está tudo muito complicado, mas vocês brigarem por isso também não tá certo.

— Agora deu nem Kai-san. Acredita em mim. Só analisar os fatos desde aquela festa, coisas estranhas acontecem, lapsos de memórias, choque sem saber de onde veio e essas tatuagens aparecendo na nossa pele.

— Kouyou-san calma, respira, vai passar mal se alterando desse jeito. Não precisa ficar nervoso, estou tentando acreditar.

— Que passar mal nada! Esqueçam o que falei, só não digam que não avisei se acontecer de novo. Já chegou na minha casa, minha vez de descer.

— Shima-san, me espere! Não podemos ficar assim, descerei contigo.

— Não, Shiroyama! Preciso ficar sozinho, vá para sua casa, arrumar suas malas, temos uma turnê pela frente, vamos focar no trabalho. Adeus. Oyasumi Kai-san.

— Uruha, gomenasai… Eu te amo... Mas não vai embora assim.

— Yuu-san, deixe ele ir. Vocês não vão resolver nada de cabeça quente, dê um espaço para ele pensar.

— Kai-san, será que ele vai me perdoar? Porque eu fui abrir minha boca e falar besteira!

— Só o tempo dirá Yuu-san, espero que seja logo.

A van seguiu viagem, deixando os outros membros em suas residências, para buscá-los outra vez somente no dia da viagem para o Aeroporto, assim continuariam sua turnê.

Dois dias depois... 10 nov

A banda segue seus compromissos continuando sua World Tour, agora com destino a América do Sul. Enfim eles se encontraram novamente no Aeroporto, com suas bagagens de mão e malas, agora serão muitos dias fora de casa.

Primeira escala para América do Sul em novembro:

Argentina dia 12, Chile dia 14 e por último o Brasil dia 17.

Assim que embarcaram, Uruha pediu para trocar de lugar com Kai, não queria sentar ao lado de Aoi, ainda estava chateado com ele e não queria conversar sobre o assunto. A banda sempre viajava na primeira classe, dessa vez não tinha assento vazio, para não causar confusão Kai trocou de lugar, mas falou para Uruha que ele devia resolver essa situação o mais breve possível, viajando juntos seria difícil ele ficar evitando o namorado.

Muitas horas de voo depois…

A banda chega ao seu destino, desembarcando na Argentina seguindo em direção ao hotel, durante todo o trajeto Uruha, só conversou com a banda a respeito do trabalho, os ensaios e o show. Poucas vezes trocou algumas palavras com Aoi. Quando o assunto se tornava pessoal, Uruha se encolhia no banco e fingia que estava com sono, não queria que os amigos o forçasse a outra intervenção, sendo obrigado a falar com Aoi.

Outro coisa inusitada que Uruha fez foi quando chegou ao hotel, pediu um quarto só para ele, mesmo que a reserva fosse apenas 3 quartos, apesar do hotel estar lotado para conta da equipe da produção que viajou com eles. O pessoal do hotel deu um jeito, novamente Uruha não queria ficar com o moreno.

Profissionalmente, estava tudo bem com a banda, os ensaios, o show deram certo, a interação dos guitarristas no palco não foi afetada, nenhum fã desconfiaria que ambos estavam brigados. E por mais que Aoi tentasse se aproximar de Uruha para conversar, ele dizia que precisava de um tempo, que o melhor seria só manter a conversa como amigos e seguir com os shows.

Esse clima entre os dois se prolongou nos outros países que se seguiram aos shows, Chile e Brasil. Kai não estava mais aguentando servir de ombro para Aoi em suas tentativas frustradas de falar com Uruha e pedir desculpa por muitas vezes. Uruha estava irredutível em sua decisão, o namorado havia confessado que o traíra com mulher qualquer que fora escolhida pela seita e pior não achava estranho o fato em que foi manipulado a realizar o ato sexual com a mesma.

Kai avisou assim que chegou ao Brasil, que faria uma reunião com somente eles para tentar resolver esse problema de uma vez por todas, sempre foram amigos, estavam juntos há anos com a banda, nunca houve problemas de ciúmes assim, que ficassem tanto tempo sem conversar um com o outro.

(...)

No quarto do hotel, no Brasil, antes do ensaio para o show, Kai obrigou Uruha a participar dessa reunião, mais conhecida com uma intervenção, a situação entre ele e Aoi já estava difícil de lidar, precisavam conversar. Sentados no sofá estavam Ruki com seu celular olhando as mensagens e Reita ao seu lado também com seu celular compartilhando fotos.

Kai estava sentado numa poltrona única esperando Uruha adentrar o quarto. Aoi havia sentado num outro sofá, estava inquieto aguardando o guitarrista loiro. Assim que ele entrou, Kai nem esperou ele sentar, já começou a falar.

— É seguinte Uruha-san, você disse que essa briga não ia interferir na banda — disse Kai olhando para o loiro que continua de pé. — Mas não é o que está acontecendo.

— Não vi nenhum problema com os dois shows que fizemos — comentou Uruha, mesmo sabendo que não é sobre isso que Kai quis dizer. — Tudo saiu como planejado.

— Exato! No palco tá uma beleza, parece perfeito. — Kai continua falando de olho no guitarrista — Uma grande família feliz só que não, saiu do palco o clima tenso continua.—

— O que você quer dizer Kai-san? Quer eu reconsidere a traição do meu namorado mesmo ele tendo confessado — disse Uruha olhando para Aoi, que se encolheu no sofá.

Ruki e Reita só observam o rumo dessa conversa, que já está ganhando um tom alterado na voz do maior.

— Shima-san, você nem deixou me defender e analisar o que havia acontecido. — Aoi tenta se explicar — Veio para cima com toda essa teoria de ritual, pessoas satânicas para explicar os lapsos de memórias e essas malditas tatuagens. Sendo assim, você também me traiu como uma mulher na fogueira.

— Quando vocês vão entender e acreditar que todas essas coisas estranhas que houve conosco, tem a ver com aquele ritual? — Uruha surta começa a andar e falar alto passando as mãos nos cabelos — Meu Deus! Eram bruxas usaram a gente, num ritual de magia negra, já esqueceram do maldito pesadelo, pessoas mortas desaparecidas. Fomos enganados, todos fomos forçados a fazer sexo com aquelas mulheres, não sei porque ainda estamos vivos, mas continuam nos manipulando.

Reita se levanta indo na direção do amigo, para tentar acalmá-lo ele já está alterado demais.

— Uruha se acalme, assim não chegaremos a lugar nenhum. — Reita tenta fazer Uruha se sentar. Kai aparece com um copo de água para o loiro — Tenho muito medo que tudo isso seja mesmo verdade, fico tremendo só de lembrar que posso ter sido responsável pela morte daquela mulher.

— Sobre isso que quero dizer Uruha-san, desde o dia que saímos do Japão, nada mais estranho aconteceu. — Kai tenta encontrar uma solução para essa discussão — Nenhum lapso de memória ou problema ao tocar a música Dogma. Quem? Ou o que poderia estar fazendo esse lance de manipulação ficou lá no nosso país.

— Yuu-san posso ter traído você na fogueira, mais só fiquei sabendo depois da revelação do pesadelo. — Uruha argumenta com Aoi, agora mais calmo com Reita ao lado ainda — Mas você Shiroyama, me traiu por duas vezes e ainda confessou que não foi manipulado para cometer o ato, ainda me chamou de louco.

— Gomennasai, Kouyou! Quantas vezes vou ter que dizer que sinto muito? — pergunta Aoi com a voz embargada, quase chorosa. — Eu estava nervoso e você começou a me pressionar com aquele monte de perguntas e meu braço ardia demais. Me perdoa, nunca iria lhe trair sem motivo, lhe amo muito.

— Não sei, essa calmaria está mais estranha que tudo que aconteceu. Só não venham me dizer que não avisei. — Uruha se aproxima de Aoi e pega na sua mão — Shiro-san te perdoo por me chamar de louco e paranóico somente por isso e também senti sua falta.

— Aleluia! Não tava mais aguentando os resmungos e lamentações do seu namorado, não sei como você consegue — exclamou Kai aliviado, parece conseguiu apaziguar a briga dos guitarristas. — Essa conversa toda ocupou muito do nosso tempo, a passagem de som vai ter que ser rápida.

— Ruki-san, tá tudo bem? — Reita pergunta para o baixinho sentado no sofá, alheio ao que acontecia. — Você está quieto sem dar sua opinião no caso, não é do seu feitio.

— Estou bem, sim. Chegaram num acordo? — Eles olham para o vocalista indignado que ele não tenha ouvido toda aquela conversa — Estava aqui pesquisando, qual o valor da pensão, se essas mulheres voltarem com as crianças dizendo serem seus filhos?

— Takanori-chan, você não presta mesmo. Um assunto sério desses, você está fazendo piadinhas — disse Aoi sorrindo para o vocalista. — Acho que vou contratar você com cuidador de criança, uma maior cuidando das duas pequenas, o que acha?

— Chega de papo furado e provocações agora. Temos um show para fazer, a fila dos fãs é enorme — disse Kai animando todos para se prepararem para o último show da América do Sul. — Vamos fazer o nosso melhor show.