Betelgeuse cumpriu sua promessa em não interferir no namoro da irmã e de Alphard. Enquanto isso, o casal aproveitou os dois meses antes do fim de seus estudos em Hogwarts para viverem sua paixão, ainda que de modo discreto, como Marguerith pedira. Não foi tão difícil quanto poderia parecer. Ambos sempre foram próximos e os verem passando o tempo juntos não era novidade para seus colegas. Os beijos e carícias eram reservados para salas vazias e os recantos mais escondidos da orla do lago. O rapaz compartilhou as novidades com os amigos mais chegados, que compreenderam a situação.
Quando a noite do baile de encerramento do sétimo ano chegou, também não foi surpresa para ninguém que Alphard e Marguerith fossem juntos, acompanhando Abraham, Carmilla, Bartemius e Alicia. Betelgeuse foi com o noivo, que acatou o pedido da mais velha das gêmeas em manter o segredo do namoro da cunhada.
A noite transcorreu de modo agradável e sem incidentes. Contudo, um observador mais atento perceberia um brilho diferente no olhar de Alphard Black. Aproveitando que estavam todos na pista de dança, ele se reclinou ao pé do ouvido da namorada, pedindo que o acompanhasse até o jardim mais próximo.
-Por que me chamou aqui fora? – Marguerith perguntou.
Alphard parecia contente. O baile estava sendo agradável, e ele pensou acertadamente que aquela era a ocasião perfeita para aquilo que desejava.
-Lembra o que me respondeu quando te pedi em casamento? – ele falou.
Marge arqueou de leve a sobrancelha, dando um sorriso insinuante.
-Talvez depois da nossa formatura. – ela disse.
Alphard abriu um sorriso matreiro em resposta.
-Hoje é a nossa formatura.
-Você não está querendo casar aqui e agora? – ela perguntou, quase rindo, imaginando que o namorado poderia pedir ao diretor para celebrar o enlace.
-Não é uma ideia ruim. – Alphie disse em tom de brincadeira, coçando o nariz. – Mas falando sério, eu queria aproveitar a ocasião para oficializar o noivado.
Alphard tirou uma caixinha de veludo preto do bolso e abriu a tampa, revelando um anel de ouro branco com uma discreta esmeralda incrustada.
-Marguerith Black, aceita se casar comigo?
A moça piscou os olhos imensamente emocionada diante do gesto.
-Aceito.
Alphard colocou o anel com cuidado na mão de Marge, depositando depois um beijo sobre o dorso. Ele levantou a cabeça, colando os lábios com passionalidade em sua, agora, noiva.
Quando os dois se soltaram, ligeiramente vermelhos e arfantes, o rapaz completou.
-Eu imagino que você queira esperar passar o casamento de Bete.
Marguerith assentiu.
-Acho que minha irmã nos mataria se roubássemos as atenções dela.
Alphard abriu a boca para responder, porém o som vigoroso da banda fez com que ambos se calassem momentaneamente. Marguerith lançou um olhar cúmplice para o noivo. Conheciam a melodia que preenchia o grande salão há muito tempo. Com ela vinham as lembranças das festas da família.
-Aceitas acompanhar-me nesta dança, milady? - Alphard inclinou-se em reverência.
Marguerith acenou diante o gracejo.
-Seria um prazer, meu senhor - ela respondeu de modo divertido.
Assim, de braços dados, os dois voltaram para o salão principal, juntando-se aos demais, naquele compasso alegre. Marguerith deixou-se levar pelo momento, vivendo a felicidade de se ser jovem e apaixonada, enquanto Alphard se comprazia da felicidade dela, e de sua própria, por tê-la, naquele momento, ao seu lado, ansiando pelo dia que selariam o compromisso de permanecerem juntos pelo resto da vida.
Nos dias se seguiram, as gêmeas voltaram para o casarão em Grimmauld Place 12, enquanto Alphard se mudou em definitivo para seu pequeno apartamento. O casamento entre Betelgeuse e Stephanio aconteceria logo em meados de agosto, e, ainda havia muito que se providenciar e organizar. O russo se alocou em um hotel de luxo na capital inglesa e deixou os negócios do clã aos cuidados do cunhado, Leonid, e da irmã, Irina, que viriam para a Inglaterra na época da cerimônia.
Durante a noite, Marguerith e Alphard se encontravam no apartamento do rapaz, enquanto durante o dia, ela se esmerava em ser a melhor madrinha possível para a irmã mais velha. Indo a provas de vestido, escolhendo bolos, entregando convites.
Naquela tarde, as irmãs estavam na casa de Orion e Walburga Black exatamente para levar o convite do casamento de Betelgeuse e Stephanio. Embora mantivesse um sorriso educado no rosto, Marguerith sentia-se imensamente entediada. De todas as primas, Walburga era a que menos gostava, sempre se vangloriando como se fosse melhor que as demais. Se havia alguma coisa que Marge aprendeu com Sirius e Hesper era que a grandeza de um Black se demonstrava nas atitudes e postura. A pobre prima era uma sombra perto do porte altivo que as gêmeas demonstravam.
-Peço licença, preciso me ausentar momentaneamente. – Marguerith levantou-se, insinuando que iria ao toalete, quando na verdade apenas desejava se poupar um pouco do falatório de Walburga.
Ela caminhava pelos corredores da casa, pensando que talvez uns minutos na sacada seriam suficiente para se recompor, contudo não chegou ao seu destino pois encontrou Alphard sorrindo para ela no meio do caminho.
-O que faz aqui? - ela perguntou, retribuindo o sorriso.
-Orion me pediu ajuda com um artefato que ele comprou – ele respondeu - Estava no escritório dele agora há pouco.
-Vai acabar se tornando um especialista – ela disse, em um gracejo.
-A ideia é essa – Alphard falou, se aproximando de Marguerith, segurando a mão dela – E você?
-Vim trazer o convite de casamento de Bete e Stephanio. Nossas irmãs estão na sala de visitas. Vim espairecer um pouco, mas preciso voltar.
- Então deixe eu providenciar uma despedida decente, torcendo para que faça você querer me ver bem rápido, hoje à noite – ele falou, enlaçando a cintura da morena.
- Alphie, por favor, nós estamos no corredor, qualquer um pode nos ver. – ela protestou, um pouco apreensiva.
- E daí? – ele retrucou, sorrindo – Nós vamos nos casar. Qual o problema então?
Marguerith suspirou.
- Ainda não falamos com o tio Sirius para tornar tudo oficial.
Ele não deixou que ela continuasse a enumerar as razões pelas quais ele não deveria beijar sua noiva – que, por acaso, era ela mesma.
Se tinha mais alguma objeção, contudo, Marguerith não demonstrou ao corresponder fervorosamente ao beijo. E eles teriam continuado ali, não fosse pelo fato de ouvirem um eco de passos acompanhado de um pequeno grito de espanto.
-Alphard! – a voz estridente de Walburga preencheu o corredor. – O que vocês estão fazendo?
O casal se soltou de imediato. Alphard não escondia um meio sorriso, enquanto Marguerith, inicialmente tomada pelo susto, não demorou a se recompor, adquirindo o costumeiro semblante altivo que mantinha quando próxima de alguns parentes indesejáveis.
-Exatamente o que você viu – ela disse com frieza. – Estávamos nos beijando, algum problema com isso, Wal?
Alphard sentiu-se surpreso com a reação da noiva. Ela, que desejava tanto que tivesse a aprovação do tio antes de assumirem o compromisso, parecia bastante segura naquele instante. O que o deixou imensamente feliz.
-Nós estamos noivos. – o rapaz completou.
Walburga olhava do irmão para a prima caçula ainda incrédula, enquanto Betelgeuse, de braços cruzados, mesmo que seus lábios tivessem se curvado apenas minimamente em um esboço de sorriso, se divertia com a situação. Ver a prima sempre tão cheia de si sem reação era sempre aprazível.
-Tio Sirius sabe? – Walburga perguntou, ainda espantada. Não era novidade para ninguém na família que o patriarca não tinha apreço por Alphard e era bastante controlador no que dizia respeito ao futuro das gêmeas.
-Ele vai saber, na hora certa. – o rapaz disse, com firmeza. Depois, virando-se para Marguerith, perguntou – Vem comigo?
A moça olhou para a mão que o noivo lhe estendia. Agora que o segredo havia sido revelado, não havia mais necessidade de discrição.
-Vamos – ela enlaçou a mão de Alphard e o acompanhou para fora da casa de Walburga.
O cenho da irmã de Alphard se endureceu enquanto via o casal se afastando.
