- Bom dia!

Assim que Remus abriu os olhos, lá estava ele, o cinza interminável em que podia se perder por horas, o motivo de ter corrido metade da cidade como um louco na noite anterior: Sirius Black.

- Bom dia... – Respondeu, piscando os olhos algumas vezes. Com certeza Sirius era uma daquelas pessoas matutinas que já acordam com o maior sorriso do mundo no rosto.

Lentamente todos os seus sentidos iam voltando e Remus começava a juntar as peças daquela manhã. As roupas espalhadas pelo quarto, a pia cheia de louça que ficara por lavar. Sirius ao seu lado enrolado entre as cobertas e uma dor esquisita entre as pernas.

- Você com certeza acorda de bom humor. – Sentou-se na cama, movendo os quadris o mínimo possível. – Dormiu bem?

- Melhor impossível. – Sirius parou por um segundo, observando enquanto Remus tentava se arrumar de uma forma minimamente confortável na cama. – Doendo?

- Um pouco.

- Sinto muito. – A expressão de Sirius era de genuína preocupação. – Eu devia ter pegado mais leve, sabia que você não estava acostumado com isso.

"Sempre o cão de guarda" Remus pensou. Definitivamente ele não estava acostumado com isso, provavelmente Sirius era a primeira pessoa sem nenhum parentesco a ver Remus fora das suas roupas e, certamente, o moreno era a primeira pessoa que ele vira completamente nu.

Na luz do sol, Remus podia ver com detalhes cada uma das cicatrizes espalhadas pelo corpo de Sirius. Sem pensar, passou a mão pela marca deixada pelo dia em que Padfoot salvara sua vida. Quantas daquela ainda surgiriam no corpo do moreno por culpa dele?

- Eu sei o que você está pensando, e sei que não vai adiantar dizer que não foi sua culpa. – Sorrindo, Sirius segurou a mão do outro. – Mas realmente não foi, Remus.

Como Sirius conseguia ser sempre tão encantador? Mesmo com aquela cara de quem acabou de acordar era simplesmente impossível não se apaixonar pelo moreno. Aquele sorriso tinha um brilho hipnótico que faria Remus fazer qualquer coisa.

- Então, quais são os planos para hoje? – Saindo do transe, Remus tentava localizar cada peça de roupa sua espalhada pelo apartamento.

- Bom, eu não tenho nada planejado. – Sirius esticou os braços, se espreguiçando de uma forma estranhamente canina. – Você meio que apareceu sem avisar e eu realmente não esperava que você ficasse para o jantar.

Uma piscadinha sensual era tudo que Sirius precisava para deixar bem claro o que "jantar" significava. Remus tentou esconder as bochechas vermelhas atrás do travesseiro, mas parecia um esforço inútil quando todo o resto estava tão à mostra.

Se arrastando para fora da cama, Sirius começou a recolher cada peça de roupa, separando em duas pilhas distintas, dependendo do dono. A camisa de Remus e a calça de Sirius estavam emaranhadas em um grande bolo preto e azul que o moreno encontrou facilmente. As meias estavam jogadas por todos os lados e o casaco de Remus se equilibrava precariamente em cima de uma pilha de livros. Enquanto Sirius recuperava cada peça, Remus tentava se vestir da maneira mais apresentável possível, o que é uma tarefa bem difícil quando sua camisa parece que dormiu dentro de uma garrafa. Levou quase dez minutos para que os dois fossem capazes de encontrar o par de jeans surrado que Remus sempre usava, enrolado embaixo da geladeira.

- Nem imagino como ela foi parar aí. – Riu Sirius, enquanto levantava as calças amassadas. Do bolso da frente, um objeto preto e duro caiu direto no chão quicando algumas vezes e parando no tapete com um baque surdo.

- Meu celular! – Remus correu para agarrar o telefone, certificando-se de que estava tudo inteiro. – Ele já tá meio velhinho e eu não tenho dinheiro para comprar outro. Olha, tem uma mensagem. É do James... Isso é estranho, normalmente ele me liga.

- Hum? – Terminando de vestir as próprias calças, Sirius começava a buscar uma camisa em uma pilha de roupas limpas.

- Só diz "St. Mungus". – Confuso, Remus levantou os olhos do celular para o amigo. – O que isso quer dizer?

- St. Mungus... Eu conheço esse nome... Não é aquele hospital?

- Hospital?

Não fazia sentido, o que James queria dizer com hospital? Será que um dos dois havia se machucado, doente, ou talvez... O choque da verdade atingiu os dois ao mesmo tempo.

- Acho que isso decide os planos pra hoje. – Disse Sirius, juntando os pertences dos dois o mais rápido que conseguia. – Vamos conhecer o mais novo Potter.


Quando Remus o segurou pela primeira vez, Harry não era nada mais que um pacotinho amassado e cabeludo muito parecido com uma mini versão de James. Tinha o mesmo penteado arrepiado e moreno e mãozinhas muito pequenas que tentavam puxar tudo que estivesse ao seu alcance.

- Esse definitivamente é seu, James. – Harry segurava o dedo de Remus com uma força incrível para alguém tão pequeno. – Menos os olhos...

- Os olhos são da Lilly. – Completou Sirius, pegando o pacotinho com destreza.

Com os grandes olhos verdes abertos, Harry observava tudo com curiosidade. Remus olhava enquanto Sirius sorria para o bebê, fazendo caretas e gestos com a mão. Como o moreno conseguia prender tanto a atenção do garoto era um mistério.

- Desculpa ter demorado.

- Tudo bem. – Apesar de cansada, Lillian tinha no rosto o maior sorriso que Remus já havia visto. – Eu sei que você estava... ocupado. Além do que, não é como se eu ou o Harry fossemos a algum lugar.

Apesar do remorso, Remus sabia que não teria feito nenhuma diferença ele estar ali mais cedo. Pelas olheiras no rosto de James, ele provavelmente teria passado a noite em uma sala de espera roendo as unhas.

- Ele é lindo, Lilly. – Disse Sirius, devolvendo um Harry sonolento ao colo da mãe. – Esperto e bonito. Puxou a mãe.

- Não sei o que você quis dizer com isso... – Adicionou um James quase tão sonolento quanto o filho, jogado em uma cadeira no canto do quarto. – Mas eu vou tentar aceitar como um elogio.

Era gostoso ter Harry no colo, e a visão daquele rostinho bocejando era uma das imagens mais fofas que Remus já havia visto. Tinha prometido para si mesmo que não ia ser um daqueles tios corujas que andam com fotos na carteira e saem mostrando para desconhecidos na rua, mas Harry estava tornando isso extremamente difícil.

Não demorou muito para que uma enfermeira viesse buscar o bebê, que parecia mais do que pronto para a hora da soneca. Era uma tarde quente e agradável e os dois passaram a próxima hora conversando com Lilly sobre coisas comuns e gostosas, como a arrumação do quarto do Harry e como James tinha gastado sete latas de tinta diferentes até achar a cor perfeita.

- Primeiro ele pintou de azul, mas achou que era muito triste. Depois de amarelo, mas aí era muito berrante. Depois de verde, roxo, marrom, laranja... – Lilly contava nos dedos cada cor. – Um dia eu cheguei e estava tudo rosa. Ainda não sei como ele chegou nessa cor, nós nem tínhamos comprado tinta rosa.

- O quarto ficou rosa? – Perguntou Remus, observando enquanto James roncava profundamente na cadeira.

- Não. Depois disso ele chamou um pintor e mandou voltar tudo para o azul inicial.

Com certeza parecia algo que James faria. Ele sempre tentava todas as possibilidades até encontrar a melhor.

- Acho que ele vai se sair bem. – Lillian ajeitou o travesseiro, deitando um pouco mais. – Ele só precisa se acostumar com Harry.

Quando a enfermeira sinalizou pela terceira vez o fim do horário de visitas, Sirius e Remus decidiram que era hora de deixar a amiga descansar.

- Assim que vocês saírem daqui eu vou fazer um jantar especial. – Disse Remus, segurando a mão de Lillian.

- Cuide do pequeno Harry. – Adicionou Sirius com um beijo na testa da ruiva. – E de James. Principalmente de James!

Entre risadas, os dois se retiraram para o grande corredor da maternidade, cheio de enfermeiras apressadas e pais preocupados correndo de um lado para o outro.

Pararam em frente ao berçário, aonde o mini-james dormia, cercado de outros bebês. Mesmo pequeno, o brilho natural dos Potter parecia atrair todos os olhares para si e era difícil prestar atenção em qualquer outro berço.

- Você realmente gosta muito de crianças, né?

- Sim. - Sirius parecia hipnotizado pela sala. – Acho que temos a mesma idade mental.

Remus não pode evitar uma risada. Essa era, com certeza, uma suposição válida. Lembrou-se do dia no parque e de como todas as crianças queriam brincar com o grande cachorro negro.

Do lado de fora do hospital o sol começava a indicar o final da tarde. Remus nunca tinha se sentido tão feliz na vida. Tinha Sirius de volta, um novo sobrinho e um mar de possibilidades pela frente.

- Eles parecerem felizes.

- Hum? – A súbita interrupção de Sirius puxou Remus de seus pensamentos como se fosse um rede.

- James e Lilly. Cansados e felizes.

- Suponho que sim. – Era difícil prever aonde Sirius queria chegar com essa conversa. – Harry parece um ótimo bebê.

Sem aviso, Sirius parou a frente de Remus, observando-o com os grandes olhos caninos.

- O que nós vamos fazer agora, Remus?

- Eu pensei em comer alguma coisa...

- Você sabe o que eu quero dizer... – Sirius suspirou. – Devo voltar pra casa e esperar você aparecer de surpresa de novo? Talvez passar na livraria de vez em quando?

- Aonde você quer chegar, Sirius?

- O que você quer que eu seja na sua vida, Remus? Você não vai poder me mandar embora toda vez que sentir o passado te chamando.

Sirius tinha razão. Tê-lo de volta significava esquecer todos os planos solitários que tinha assumido desde criança, tudo em que tinha acreditado em todos esses anos. Precisava aprender a dividir não só a vida, mas sua herança. Era isso ou voltar a dormir sozinho, e Remus tinha certeza que enlouqueceria se tivesse que passar mais uma noite sozinho naquela casa.

- Quero que você venha morar comigo. – Disse por fim, fitando os olhos cinza com toda a determinação que conseguia. – E que me ajude a cuidar da livraria.

- Tipo um sócio?

- Tipo um parceiro. – Para alguém que gostava tanto de ler, Remus achava muito difícil encontrar as palavras certas. – Não quero que você venha morar na minha casa, quero que você volte pra nossa casa.

- Remus...

- E quero que você venha trabalhar na nossa livraria... – Remus respirou fundo. – Quero que você seja minha família, Sirius. Como James e Lilly, só que com mais passado e poeira e, francamente, eu acho que você não tem ideia de onde está se metendo.

- Remmy, Remmy... – Sirius puxou Remus pela cintura, aproximando corpos e rostos. – Eu sei exatamente no que estou me metendo.


N/A: Ok, dessa vez eu não vou nem tentar pedir desculpas, mas antes tarde do que nunca, né?

O capítulo saiu meio pequeno, mas é um capítulo de transição aonde não acontecem muitas coisas. A partir do próximo teremos mudanças significativas na história. =)

Por favor, deixem reviews para que eu saiba que ainda tem gente lendo essa fic depois de todo esse tempo sem atualizar. Não faz sentido escrever se todo mundo tiver desistido da história, né?

Resposta aos reviews:

Ly Anne Black: Que bom que gostou, fico feliz! O que eu mais gosto do Remus é que ele é todo envergonhado e quietinho, mas nunca podemos esquecer que tem um lobo preso lá dentro. =P

Quanto as cenas mais quentes, eu não sou realmente um autor que escreve essas coisas (*esconde a cara embaixo da mesa*), mas vou tentar fazer umas descrições mais... ahem... visuais. =#

Caribbean Black Potter: Adorei o review! Eu tenho que parar de escrever com fome, só sai cena de comida, hahaha.

Reeamorim: Demorou mas saiu! Espero que goste. =)

Ivy: Acho que o Remus nunca ia ser capaz de desistir da livraria. Tá mais fácil o Sirius tacar fogo no Lucius que o Remus largar o lugar dele. xD

Mitsukusu: Muito obrigada, é muito bom receber reviews assim, faz a gente ter vontade de escrever muitão. =)

Sora Black: SIM! Hahahahaha, desculpe a demora, estou de volta!