N/A: Esse capítulo é o presente de Natal da Ly Anne Black e de todas as pessoas que não desistiram da fic.

Feliz Natal, pessoal. =)


- Como você pode deixar as coisas chegarem nesse nível, Remus? – Debruçado atrás da mesa cheia de papéis, Sirius parecia cansado e aborrecido.

- Eu...

- Remus, você tem contas aqui que estão três meses atrasadas.

Ele sabia. Tinha usado o dinheiro delas para pagar contas mais antigas e a coisa toda virara uma bola de neve antes que ele notasse. Já fazia algum tempo que a livraria não ia muito bem e qualquer idiota podia notar isso. Sirius, com certeza, não era nenhum idiota.

- Você devia ter falado comigo, Remus, nós podíamos ter resolvido juntos.

Era verdade, se ele tivesse falado logo com Sirius eles não estariam tendo essa discussão. Talvez ele nem tivesse chegado tão fundo naquele buraco. Mas a quem Sirius queria enganar? Ele sabia que Remus era orgulhoso demais para pedir ajuda com a livraria, logo a livraria, a única coisa que ele tinha. Sirius podia ajudar com as contas da casa e todas as outras coisas mas Remus nunca deixara que ele investisse o próprio dinheiro na sua herança.

Nos primeiros meses era fácil desviar a atenção de Sirius de seus problemas financeiros. Normalmente era Remus quem atendia atrás do balcão e só ele sabia quantos clientes tinham aparecido no dia. No velho escritório da casa, Sirius tinha seus próprios negócios para tomar conta, resquícios do império Black que ele tinha mantido em seu nome mesmo depois de ser deserdado. Depois de alugar o apartamento em que morava e de ajustar uma ou outra fonte de renda que já tinha, o moreno conseguia pagar boa parte das contas da casa e ainda sobrava dinheiro suficiente para viver. Remus, por outro lado, investia tudo que tinha na manutenção da livraria que nem de longe pagava as próprias despesas. Era uma receita certa para o fracasso.

Já haviam se passado quase sete meses desde o nascimento do pequeno Harry e a mudança de Sirius para a casa dos Lupin, mas foi só no último mês que ele começara a se questionar se deveria ou não investigar o que estava acontecendo. É impossível não notar que há algo errado quando os cofrinhos de moeda começam a desaparecer e os cobradores tocam a campainha durante a tarde. Por um lado, Sirius não queria se meter nos assuntos pessoais de Remus, por outro ele sabia que o loiro não pediria ajuda se precisasse. Quando a situação ficou crítica e os móveis começaram a desaparecer da casa, ele resolveu que já havia passado da hora de intervir, mas só depois de colocar o outro contra a parede foi que o moreno descobriu o quão ruim estava à situação.

- Remus, olha isso aqui. – Abrindo um pesado livro preto em cima da mesa, Sirius apontou para uma linha escrita a lápis. – Semana passada você só fez três vendas e as três para a mesma pessoa.

- É o Sr. Finn... – Remus abaixou os olhos, um misto de desespero e vergonha estampado no rosto. – Ele vem à livraria desde que eu era criança. Eu ligo pra ele sempre que recebo um drama que ele não tem...

Sirius suspirou. Era impossível brigar com Remus, ele era um livreiro e não um administrador, não era culpa dele que a empresa estivesse desabando. Remus seria capaz de se entregar de corpo e alma para aquela livraria, mas nem todo o amor do mundo seria capaz de salvar aquele lugar. Como um bom capitão, ele pretendia afundar com o navio.

- Remmy...

Sem responder, Remus simplesmente se deixou escorregar até o chão, o rosto escondido entre as mãos. Todos esses dias de preocupação tinham cobrado seu preço e o cansaço deixava marcas por todo o corpo. Ele estava mais pálido e magro, com grandes olheiras embaixo dos olhos, com certeza resultado das noites acordado tentando resolver tudo sozinho. Como Sirius odiava quando Remus tentava resolver tudo sozinho.

- Remus! – Sirius se agachou ao lado do namorado. Tentava manter a voz o mais firme que conseguia, mas era difícil esconder a preocupação. – Há quanto tempo eu estou aqui? Não, não como Padfoot, como seu namorado.

- Mais ou menos uns sete meses... – Respondeu por entre os braços. – Por que?

- Lembra o que você me disse quando me chamou para morar com você? – Sem esperar por uma resposta o moreno continuou. – Você queria que eu te ajudasse a cuidar da nossa livraria.

- Eu sei disso. – Remus levantou o rosto vermelho e inchado. – Mas eu tenho um jeito certo para fazer as coisas aqui e, sinceramente, eu não precisava de ajuda.

Sirius respirou fundo. Era preciso uma quantidade absurda de força de vontade para ser firme com Remus naquele estado. Uma olhada do namorado era o suficiente para fazer o canino correr com mil beijos. Juntou o resto de firmeza que tinha.

- Remus, você tem que admitir que o seu jeito não está dando muito certo. Quanto tempo você acha que vai conseguir manter esse lugar? Um ano, seis meses? O que você vai fazer quando não tiver mais nada para vender?

Remus afundou novamente o rosto nas mãos, soluçando. Era tão estranho vê-lo perder o controle, logo ele que sempre planejava cada mínimo momento de tudo. Remus sempre se deixava levar pelas coisas que ama, aquele lugar e ele eram seu ponto fraco.

- Remmy... – Sirius abraçou o namorado, envolvendo o corpo soluçante com os braços. – Nós vamos dar um jeito, ok?

- Me desculpa... – A voz do loiro não era mais que um cochicho. – Eu realmente não achei que você fosse me aguentar tempo suficiente para ver as coisas chegarem nesse ponto.

Sirius suspirou. Típico de Remus. Não importa quantas vezes você diga "eu te amo" e quantas noites você passe do lado dele, ele sempre acha que uma hora ele vai chegar e você não vai mais estar lá.

- Remus, quantas vezes eu tenho que dizer que eu não vou embora? – Beijou a testa do namorado, limpando uma última lágrima que escorria pela bochecha pálida. – Tome um banho, se acalme e quando você sair vamos resolver isso como uma família, ok?

Remus acenou com a cabeça, enxugando os olhos na manga da camisa. Olhando assim ele parecia só uma criança grande que tinha perdido o brinquedo favorito. Com todo o cuidado, Sirius ajudou o namorado a subir as escadas.

Embaixo da água quente, Remus sentia cada músculo do corpo relaxar. Nem se lembrava mais a quanto tempo estava preso nessa angustia e como isso tinha corroído sua felicidade nos últimos tempos.

Os primeiros meses com Sirius tinham sido, sem dúvidas, os melhores da sua vida. Depois de fechar a livraria, Remus corria direto para sala só para encontrar o grande cão preto deitado em frente à lareira e ser recebido com lambidas e abanadas de rabo que logo viravam os melhores beijos e abraços do mundo. No começo não tinha certeza se se acostumaria com a ideia de ter um namorado tão "peculiar", mas agora tudo aquilo era natural como respirar. Definitivamente não são todos os casais que podem passar pelas discussões do tipo "sem patas em cima da cama" e Remus adorava cada pequeno momento delas.

Não existia mais Remus sem Sirius da mesma forma que ele acreditava não existir sem a livraria. E o que você faz quando tudo a sua volta começa a desmoronar? Você tenta segurar o que pode e torce para que de certo.

Desde o começo, ele sabia que deveria ter pedido ajuda, mas como? Era a sua herança e se ele não era capaz de tomar conta dela sozinho, talvez não merecesse tê-la. Não queria envolver Sirius naquele problema, não mais do que o necessário. Desde o começo ele devia ter adivinhado que não funcionaria.

Agora era muito tarde para recusar ajuda, Sirius jamais escutaria. Não podia mais fingir que estava tudo bem, precisava ser forte e encontrar uma solução ou deixar que a livraria acabasse. Não, Remus sabia que não seria capaz de fechar a livraria. Sirius era a sua última esperança.

Depois de sete meses acordando ao lado do canino, Remus descobrira várias coisas sobre Sirius que ainda não tinha notado como, por exemplo, como ele gosta de dar uma volta como Padfoot logo de manhã. Ou como seu irmão continuava enviando cartões de aniversário que Sirius nunca respondia. Ou como, às vezes, Sirius gania e se mexia enquanto dormia, como se estivesse caçando.

De todas as coisas que descobriu sobre Sirius, a mais interessante foi, sem dúvida, a gama de qualidades que Remus foi adicionando a lista das que já conhecia. O moreno era extremamente paciente, podia ficar horas esperando sem perder o bom humor. Era gentil e carinhoso, além de romântico. E incrivelmente sexy quase 100% do tempo, o que, sem dúvida, é uma qualidade interessante para se ter em um namorado.

Mas a qualidade mais surpreendente que Remus descobriu foi a habilidade de Sirius com negócios. O moreno conseguia pegar um apartamento destruído e transformar em uma fonte de renda como se fosse a coisa mais simples do mundo e, apesar dessa não ser a qualidade favorita de Remus, seria a mais útil agora.

Talvez Sirius realmente consiga salvar esse lugar, afinal.

Olhou para os próprios dedos que começavam a enrugar. Fechou o chuveiro e pegou a toalha. Parou em frente ao espelho, observando enquanto se enxugava. Olhando de volta e repetindo todos os seus movimentos estava um Remus mais velho e cansado. Sirius estava certo, como tinha deixado as coisas chegarem naquele ponto? Qualquer um podia ver que as coisas não iam muito bem, ninguém tem olheiras como aquelas sem motivo.

Terminou de se enxugar e vestiu a roupa que Sirius tinha deixado separada em uma cadeira perto da porta. Apesar de tudo, era bom dividir esse peso com mais alguém. Juntou toda a coragem que tinha e abriu a porta.

Assim que saiu do banheiro sentiu o ar ser invadido pelo cheiro delicioso de comida sendo preparada, Sirius devia estar na cozinha. Remus se sentia mais leve depois do banho, talvez por ter conseguido relaxar um pouco, talvez por ter finalmente dividido o peso que carregava. Desceu as escadas sorrindo, pronto para aquela conversa.

Logo que colocou os pés na sala, três cabeças se voltaram diretamente para ele: James, Lilly e o gorducho bebê Harry. Ele não esperava encontrar visitantes ali, não agora, não depois de toda aquela briga. Antes que pudesse formular qualquer frase, duas mãos pousaram na sua cintura e Remus pode sentir o corpo do outro habitante da casa contra a suas costas.

- Acho que nós temos muito o que conversar, lobinho. – Murmurou Sirius direto no seu ouvido, gerando um arrepio que levantou até o último pelo da nuca de Remus.

Ao ouvir a menção ao apelido, Remus corou instantaneamente, mesmo sabendo que nenhum dos outros três poderia ter ouvido aquela distância. Era extremamente fofo quando Sirius dizia, mas era um apelido dos dois, não era algo que Remus queria sendo dito por aí.

- Quando você disse "nós", eu esperava eu e você. – Adicionou Remus no ouvido do moreno, num sussurro entre dentes.

- Eu disse que íamos resolver isso em família e, se eu não me engano, esses três são a coisa mais perto de uma família que nós temos. – Com um sorriso maroto de quem sabe que venceu a discussão, Sirius completou. – Além do que, eles também estavam preocupados com você. E você sabe como a Lilly fica quando está preocupada.

Não havia mais o que discutir, não podia simplesmente expulsar os três. Sirius tinha razão, se ele tinha uma família essa família estava bem ali naquela sala. Mesmo assim, não queria sentar ali e discutir, não queria dividir aquele problema nem mesmo com Sirius. Por um instante segurou a vontade de sair correndo e se esconder em algum canto da casa imensa, mas ele sabia que se fizesse isso estaria acabando com a única chance que tinha de salvar a livraria. Não poderia parar tudo aquilo nem que quisesse, precisava aguentar. Com os olhos baixos, sentou-se no sofá do canto da sala.

- Eu já expliquei a situação para todo mundo. – Sirius sentou-se ao lado dos outros dois, bem de frente para Remus. Era quase como um interrogatório.

- Você está um caco, querido... – Lillian tinha os olhos focados no rosto de Remus e uma voz preocupada. – Podia ter simplesmente falado com a gente ant...

- Acho que ele já sabe de tudo isso, Lilly. – Adicionou James, cortando a esposa delicadamente. – Olha, Remmy, nós estamos aqui, Sirius ligou e viemos o mais rápido que deu. Nós queremos ajudar, você é meu melhor amigo, não é?

- Remmy, nós três conversamos e chegamos à conclusão de que a livraria é sua e nenhum de nós pode impor nenhuma mudança nesse lugar sem o seu consentimento. Nem mesmo eu. – Sirius falava com uma voz mais firme do que antes. Com certeza tinha pensado muito no que ia falar. – Nós podemos e queremos te ajudar, Remmy, mas depende de você. Se você disser que quer a nossa ajuda, nós vamos ficar do seu lado e dar um jeito, mas se você quiser cuidar de tudo sozinho, vamos entender e simplesmente esquecer esse assunto, ok? É a sua livraria e a sua decisão.

Poucas coisas que Sirius poderia dizer agora iriam causar tanta surpresa a Remus quando aquela. Desde que o moreno descobrira sobre a livraria, Remus tinha tomado como certo que teria que aceitar a ajuda do namorado. Nunca havia lhe passado pela cabeça que Sirius lhe daria a escolha de recusar.

Estava em uma encruzilhada, uma longa e fria encruzilhada, do tipo que a gente não gosta mas é obrigado a passar. Tinha que escolher um caminho.

De um lado tinha todo o conforto daquilo que conhecia, os velhos clientes, a livraria que era sua desde que aprendera a andar. Os livros empoeirados e a solidão do passado estavam lá, chamando seu nome. Era como se estivesse com o seu pai e seu avô, arrumando as mesmas estantes empoeirada. Mas quanto tempo isso poderia durar?

Do outro estava uma grande incógnita, tudo que ele mais odiava, aquela temida palavra: mudança. Remus sabia que, para olhar para o futuro, precisava abrir mão do passado. Mas é tão difícil quando isso envolve desistir de tudo que você sempre conheceu e amou, desistir da livraria.

Não, não estava desistindo da livraria, estava dando uma segunda chance para ela. Desde que encontrara aquele grande cachorro ferido parado perto de casa a vida do pacato livreiro Remus tinha se enchido das mais difíceis escolhas, mas até agora ele não tinha se arrependido de nenhuma. Por mais que odiasse mudanças, precisava tentar. Novamente, fechou os olhos e pulou de cabeça no grande vazio da incerteza.

- Eu aceito. – A voz de Remus não era mais do que um sussurro que foi crescendo em determinação quando ele levantou os olhos. – Eu quero a ajuda de vocês. Por favor, me ajudem a salvar esse lugar.

Um sorriso encheu o rosto de Sirius. Uma das coisas que ele mais se orgulhava era de ter conseguido o que ninguém mais conseguira: mudar o livreiro. Ele sabia mais do que ninguém o quanto isso significava para Remus. Sabia o quanto de confiança ele precisava para deixar mais alguém tocar naquele lugar. E sabia que sem ele, James e Lillian não conseguiriam. Por um instante, Sirius se permitiu sentir o orgulho por ser o ponto de mudança de Remus. Agora, precisava fazer as coisas funcionarem.

- Bom, então... – Sirius se levantou, assumindo o papel de líder daquela súbita reunião de negócios. – Ok, nós temos uma livraria falindo. Vamos analisar a situação, quais são os nossos pontos fortes?

- Ahn... Localização? – Lilly foi a primeira a falar. – Quer dizer, a livraria do Remus fica numa grande rua, com muitas pessoas... E é bem central na cidade.

- Ótimo ponto, Lillian. – Sirius anotou mentalmente o comentário. – Mais alguém?

- O prédio. – James adicionou. – É muito bonito e espaçoso. Alugar um lugar desses por aqui seria uma fortuna.

- Com certeza, se Remus precisasse alugar esse lugar estaríamos ferrados. – Sirius ficou um tempo pensativo e continuou. – Remus é um atendente carismático. Os poucos clientes que temos continuam vindo aqui só por causa dele.

Remus sentiu as bochechas corarem quando os três se voltaram para ele, analisando. Só fazia o seu trabalho, nada de mais. Já estava começando a se arrepender da decisão quando Sirius continuou.

- Ok, então nós temos um espaço grande em uma boa localização e um ótimo atendente. – O moreno tentava juntar as peças do quebra cabeça. – Isso nos deixa com quase qualquer ideia de negócio possível. Quais são os nossos pontos fracos?

- A rede de livros dos Malfoys... – Adicionou Remus, pela primeira vez. – Eles tem lojas espalhadas por toda a cidade, os preços são baixos e a variedade grande.

- Concorrência... Ok.

- O lugar precisa de uma revitalização. – Lilly escolhia as palavras com cuidado para não irritar Remus. – Quer dizer, eu sei que livrarias tem um ar meio antigo, mas esse lugar está exatamente como o seu bisavô deixou.

- Acho que ela têm um ponto forte aí, Remmy. – Disse James, ignorando a expressão de desagrado de Remus.

- Precisamos de uma mudança de visual. Eu posso vender algumas coisas e levantar o dinheiro para isso. – Sirius lançou um olhar repreensivo para Remus antes mesmo que ele conseguisse abrir a boca. – E isso não é opcional. Ótimo, nós mantemos nossa localização e nosso atendente. Precisamos evitar a concorrência e de uma reforma urgente. Alguém tem alguma ideia do que fazemos com isso?

- Podemos abrir um novo negócio. Remus é um bom cozinheiro, poderia ter seu próprio restaurante.

Os três olharam para Remus. Era hora de dar uma opinião.

- E-Eu agradeço. – Respirou fundo, juntando as palavras. – Mas eu venho de uma família de livreiros, é a minha profissão.

- Huuum. Isso complica um pouco as coisas. – Novamente, Sirius se levantou. – Então nós temos que evitar a concorrência sem mudar de ramo de atuação. Acho que isso nos deixa com uma só opção, alguém sabe qual?

A expressão vazia dos três deixava bem claro que não. Sirius tinha sido criado na família Black e tinha aulas de gestão desde os três anos de idade. Às vezes era difícil acompanhar o pensamento das outras pessoas e principalmente era difícil para as outras pessoas acompanharem seu pensamento.

- Precisamos nos especializar. – Diante da não alteração das expressões, Sirius continuou. – Uma livraria que ofereça outros tipos de serviço... Ou que foque em um tipo de público específico.

- Tipo aquela livraria-café do centro? – Lillian continuou quando todos os olhos estavam focados em si. – Sabe... Você pode pedir um café, pegar um romance e ficar lá.

- Mais ou menos isso... Mas ela também é uma rede grande e nós não queremos esse tipo de concorrência novamente. – Sirius tinha uma expressão séria no rosto.

- E se tentarmos focar em outro público? – No canto do sofá, James tentava fazer o pequeno Harry dormir. – Remus atende muitos senhores, podemos fazer uma livraria voltada para eles.

- O que seria exatamente como a minha livraria sem a sessão de culinária. – Remus observava tudo do canto do sofá. – Não acho que vá funcionar muito bem, digamos que o meu público... Não está crescendo ultimamente.

Os três pararam, profundamente perdidos em pensamento. Era muito difícil ter uma ideia de negócios original e mais ainda quando você já tem o ramo de negócios definido. Segundo o relógio na parede, já estavam naquela discussão a quase uma hora e meia e, depois de alguns minutos de silêncio , Sirius estava pronto para terminar a reunião e levar todos para a sala de jantar quando o silêncio foi quebrado por uma longa e alta risada vinda do colo de James. Harry tinha acordado.

De repente, os olhos cinzas de Sirius se abriram, e ele parou, olhando o bebê gorducho. Sem entender o que estava acontecendo, todos olharam para o pequeno que continuava rindo, estendendo os braços para Sirius com os olhinhos verdes de Lillian brilhando.

- Harry, você é um gênio. – Sirius observou enquanto todos se viraram com as mesmas expressões vazias de momentos atrás. – Vocês deviam ter vergonha quando a melhor sugestão da sala é dada por um bebê de sete meses.

Antes que qualquer um pudesse perguntar qualquer coisa ou se ofender com a insinuação, Sirius continuou.

- Se não podemos focar no público idoso, vamos focar no outro extremo. – Sirius parecia orgulhoso da própria ideia. – Vamos fazer uma livraria infantil.

- Mas... Só vamos vender livros infantis? – Remus parecia confuso.

- Não vamos só vender livros, meu caro. – Era como se Sirius estivesse visualizando tudo. – Vamos dividir as sessões por idade, colocar espaços de leitura para que os pais possam ler para os pequenos. Vamos colocar brinquedos e livros divertidos. Rodas de histórias e filmes. Do nascimento até os quinze anos, quando você pensar em livros, vai pensar na gente.

- Eu gostaria de levar o Harry a um lugar assim. – Lilly obviamente tinha gostado da ideia. – Sábado de manhã, coloca-lo no carrinho e leva-lo até a livraria... Lupin?

- É, o nome não parece combinar, mas a gente pensa nisso depois. – Sirius se virou para Remus, os olhos cheios de excitação. – O que acha?

Com todos os olhares voltados para si, Remus se sentia realmente desconfortável. Era uma ótima ideia, Sirius era ótimo com crianças, só tinha um problema.

- Eu gosto da ideia e tudo... Mas não é meio estranho, dois caras sem filhos cuidando de uma livraria infantil?

O silêncio novamente tomou conta da sala. Remus tinha razão, quando se vai a um lugar familiar, espera-se que ele seja comandado por, bem, uma família.

- Eu posso ser sócio de vocês. – James balançava Harry no colo, que ria constantemente. – Quer dizer, eu não vou ter tanto tempo de me dedicar, mas é só vocês dizerem que a ideia partiu de mim. Harry e Lillian também podem ajudar, podemos até arrumar um uniformezinho para ele. Aposto que todas aquelas mães iam adorar.

Estava decidido. Tinham tudo que precisavam, uma boa ideia, um bom local e até um atendente em miniatura. Era o plano perfeito.

Remus até que gostava da ideia de trabalhar com Sirius, podiam finalmente dividir o passado de Remus e ele não teria aquele imenso vazio solitário dentro dele. Em vez de trabalhar com os fantasmas do seu passado, Remus ia finalmente trabalhar com pessoas de verdade. Quando todos achavam que tinha acabado, Sirius continuou.

- Agora só precisamos de algo que chame a atenção.

- Podemos fazer uma super reforma, criar um local colorido e aconchegante. – disse Lillian.

- Sim, mas isso só chama a atenção depois que você entra. – Perdido em pensamentos, Sirius olhava para o lustre. – Precisamos de algo que convença as pessoas a entrar.

- E se tivermos um mascote? Podemos fazer toda a propaganda em cima dele, cartazes, bichinhos de pelúcia. – James agora equilibrava Harry sobre as pernas. – Crianças adoram bichinhos... Podemos ter um papagaio, ou um furão, ou um...

- Cachorro! – Sirius e Remus adicionaram ao mesmo tempo.

Eles não precisavam se olhar para saber que tinham pensando exatamente a mesma coisa. Era a ideia do século! Um mascote totalmente controlável, fofo e ótimo com crianças.

- Remus, posso falar com você na cozinha?

Assim que entraram na cozinha, deixando o casal confuso para trás, Sirius agarrou-se a manga do namorado.

- Como vamos fazer para esconder... Você sabe o que. – o moreno parecia excitado e amedrontado ao mesmo tempo.

- Sirius, eu não acho que nós vamos conseguir esconder. – Remus via a excitação sumindo e o medo crescendo nos olhos cinzas. – Eles vão notar que você e Padfoot nunca estão juntos... Nós vamos ter que contar.

Sirius soltou a manga de Remus, o terror estampado no rosto fino. Depois de todos esses anos sendo abandonado por todos, o moreno tinha criado todas as barreiras do mundo contra aquilo. E se Lilly e James não o aceitassem? E se, de repente, ele voltasse a ser aquela aberração?

- Sirius, olha pra mim. – Remus agora segurava as duas mangas de Sirius e olhava fixamente nos olhos cinzas. – Vai dar tudo certo, eles vão entender, eu prometo. Eles são a nossa família, lembra?

- Digamos que a minha primeira experiência envolvendo contar para a família não deu muito certo.

- Eles não eram a sua família, Sirius. – Remus passou os braços pela cintura do namorado, abraçando-o. – Eu sou. Vai dar tudo certo. Vamos, Sirius, se eu consigo ser forte, você também consegue.

Remus tinha razão, era sobre a vida dele que eles estavam conversando naquela sala. Sirius não achava que ele ia aguentar chegar tão longe, mas lá estava ele, firme e forte. Precisava ser forte também, por Remus.

- Tudo bem, Remmy. – Sirius abaixou os olhos, escondendo o medo da melhor forma que conseguia. – Se você acha que vai ficar tudo bem...

Saíram da cozinha de mãos dadas, Remus na frente. Sirius vinha atrás, com os olhos baixos e as mãos tremendo e, quando chegaram a sala, foi Remus quem falou.

- Se vamos ser sócios, tem uma coisa que precisam saber... – Remus olhou encorajador para o moreno, que se limitou a se aproximar do ouvido do namorado e murmurar.

- O que você espera? Que eu fale "olha, eu consigo me transformar em um cachorro"? Não dá, Remmy, eu preciso mostrar pra eles.

O loiro concordou com a cabeça. Sem muita explicações, moveu Lillian e James para frente do banheiro da sala, um quartinho fechado, sem janelas ou outras portas.

- Então... Sirius consegue fazer uma coisa pouco usual. – Remus gaguejava. Como você explica para as pessoas que o seu namorado é um cão? – Melhor deixar ele mesmo mostrar.

Sirius entrou no banheiro sob o olhar atento de James e Lillian. Esperaram por alguns segundos em frente ao cômodo fechado até que um barulho de arranhar fez Remus abrir a porta. Dentro do banheiro não havia mais Sirius, só um grande cachorro preto e uma pilha dobrada de roupas.

Um silêncio mortal preencheu o cômodo. De olhos arregalados e boca aberta, Lillian e James tentavam entender o que tinha acontecido, procurando o segredo do truque que tinham acabado de presenciar. Depois de vários minutos de choque, os ganidos desesperados de Padfoot fizeram Remus agir.

- Não é um truque. – Passou a mão pelas orelhas macias de Padfoot. – Sirius pode se transformar em um cão. O nome dele é Padfoot.

O esclarecimento de Remus não fez nada para melhorar o silêncio mortal da sala e só quando ambos estavam começando a desistir foi que James se moveu.

- Essa é A COISA MAIS INCRÍVEL QUE EU JÁ VI! – Sem aviso, se jogou em cima do cachorro, puxando orelhas e patas para ter certeza de que era real. – Você pode me ensinar a fazer isso?

- Acho que nem ele sabe bem como faz isso. – Respondeu um Remus aliviado. – Lilly?

Lillian ainda estava em um estado de choque, com Harry no colo e a mesma expressão de espanto no rosto. Remus fechou a porta do banheiro e, com James, ajudou Lilly a se sentar de novo no sofá. Quando Sirius retornou a sala, James falava compulsivamente e Lillian segurava uma caneca fumegante.

Devagar, sem saber muito o que esperar, Sirius caminhou pela sala, parando ao lado do sofá aonde os dois estavam. Embora sua mente dissesse que essa era a parte em que ele era agredido e mandado embora, algo lá no fundo desejava que Remus estivesse certo.

- Isso foi incrível, cara. – James olhava para Sirius com os olhos brilhando, como se ele fosse uma espécie de herói. – Como? Quando?

- Eu nasci assim. – Respondeu, se sentando ao lado de Remus e segurando novamente a mão dele. – E eu não sei como eu faço, eu só faço.

Lillian parecia muito mais calma, a cor tinha voltado ao rosto e ela acompanhava a discussão com os olhos.

- Eu... – Segurou a xícara mais forte entre as mãos, olhando de Sirius para Remus. Naquela pequena pausa o coração de Sirius perdeu uma batida. – Acho que não tem nada de errado nisso.

Ao ouvir aquela última frase, todos os músculos de Sirius relaxaram, deixando um moreno esgotado e feliz no sofá. Pela primeira vez estava cercado por pessoas que o aceitavam. Pela primeira vez tinha uma família de verdade.

Passaram a próxima meia hora conversando, Sirius respondendo pacientemente a cada pergunta que James e Lillian faziam. Remus já sabia a resposta para todas elas, ele mesmo já tinha feito aquele interrogatório para o moreno, mas ver Sirius falando abertamente sobre isso com outras pessoas era uma vitória pessoal. Sabia que alguma coisa nele tinha sido mudada por Sirius, mas era sempre bom saber que ele também tinha conseguido mudar algo no moreno.

Comeram e conversaram mais um pouco, discutindo detalhes sobre a arrumação da nova livraria e tentando descobrir um nome que não fizesse nenhum dos quatro resmungar. Quando Harry já dormia há muito tempo, os dois visitantes decidiram que era hora de ir e deixar o casal da velha casa descansar.

Mais tarde, quando já estavam deitados e prontos para dormir Remus se aconchegou mais perto de Sirius, sentindo o cheiro que ele conseguia trazer para a sua cama. Tentou dizer alguma coisa, pedir desculpas pelos problemas que causou, mas tudo que conseguiu como resposta foi um sonoro ronco canino. Não importava, tinha certeza que Sirius sabia de tudo isso. Fechou os olhos e se deixou deslizar para o merecido mundo dos sonhos.


N/A: Como eu já disse ali em cima, o capítulo de hoje é especial.

Feliz Natal para todo mundo, para quem comentou na fic, para quem ficou esperando, para quem chegou agora. Muito obrigada pelo apoio de vocês e, principalmente, obrigado por aguentarem firmes mesmo quando eu demoro décadas para postar um capítulo novo.

Fiz um capítulo mais "gordinho" para pedir desculpas por todo o tempo sem atualização. Espero que tenham gostado. =)

Resposta aos reviews:

LaahB: Muito obrigada pelo apoio! Espero que ainda esteja por aqui, estamos chegando ao final dessa história. =)

yasge: Obrigada! Fico feliz de saber que vocês continuam lendo. Sinto muitíssimo por atrasar tanto cada capítulo mas não pretendo desistir. Temos só mais um ou dois capítulos pela frente!

Reeamorim: Obrigada pelo apoio! Se você não desistir de ler, eu prometo não desistir de escrever. =)

Anne Marie Le Clair: Estou resistindo fortemente, vou terminar essa fic e já tenho na cabeça a ideia para a próxima. Tenho que parar com essa mania de me empolgar com a próxima fic sem terminar a anterior. Vou tomar vergonha na cara e terminar, eu prometo.

Ly Anne Black: Um capítulo gordinho de presente, papai noel acertou a casa dessa vez, né? Espero que o capítulo tenha ficado bom, estou a três dias terminando ele para poder soltar no dia de Natal. Sobre eu ser menino ou menina, vamos dizer que eu sou uma entidade (ficamos no mistério que é mais divertido). 8D