Com o olhar fixo na maçaneta, Remus mal podia acreditar que o dia havia enfim chegado. Era hora de jogar a moeda e testar a sua sorte. Depois que saísse por aquela porta tudo podia acontecer.

Já tinham deixado todo o trajeto acertado com Lucius. Sairiam perto das 21h, cruzariam três quarteirões, virariam a direta na rua 12 e andariam reto, dando a volta por trás dos prédios. Tudo sem levantar suspeitas, agindo como se hoje fosse uma grande comemoração. Precisavam ser naturais caso um dos homens de Abraxas estivesse vigiando o local. Como Remus seria capaz de agir naturalmente naquelas circunstancias ainda era um problema que ele tentava resolver internamente.

A livraria estava trancada, todas as portas checadas e estavam prontos para sair. Somente aquela maçaneta separava Remus de seu destino.

- Você tem certeza que quer fazer isso? – Na suas costas, a voz carinhosa de Sirius era reconfortante.

Com toda certeza ele não queria fazer isso, mas aquela já não era mais uma questão de querer.

- É muito tarde para recuar. – Respirou fundo, encarando a porta. – Só não sei muito bem como Lucius espera que eu faça isso.

- Deixa com a gente. – Tomando a frente, James abriu a porta.

- Não se preocupe. – Sirius murmurou ao ouvido do namorado. – Eu vou cuidar de você.

Antes que Remus pudesse se manifestar, o moreno passou o braço pelo seu ombro, trazendo o corpo do namorado para perto e afundando o rosto dele no seu pescoço. Para qualquer pessoa vendo de longe seria impossível discernir a expressão do loiro, só veriam um casal apaixonado andando abraçado. Remus não precisaria fingir, podia concentrar toda a sua energia em mover suas pernas, uma tarefa extremamente difícil. Definitivamente Sirius era um gênio.

Assim que colocaram os pés do lado de fora da casa, o clima de tensão foi substituído por uma conversa descontraída e animada entre os dois amigos. Calmamente, Sirius tirou a chave do bolso da calça e trancou a casa como faziam sempre que saiam. Nem mesmo Remus seria capaz de perceber qualquer diferença, era um dia como todos os outros.

Como os dois conseguiam interpretar tão bem era um mistério para Remus que lutava para se manter andando. Com o rosto escondido no cabelo de Sirius ele tentava com todas as forças resistir à tentação de olhar para os lados a procura de algum informante vigiando os passos do trio. Sirius segurava com força o ombro de Remus, o que se mostrou uma coisa boa já que três vezes Remus sentiu suas pernas falharem e se manteve em pé somente pelo aperto de Sirius.

Viraram a esquina da Rua 12, James olhando discretamente a passagem deserta a cada par de passos. Se alguém estava vigiando a livraria definitivamente não tinha seguido eles até ali. Lucius estava certo, qualquer informante ficaria na livraria para vigiar os arredores. Ótimo, tudo estava indo conforme o plano.

Não demorou mais que dez minutos para que o trio chegasse ao local combinado, três quarteirões, uma rua para trás, prédio marrom com janelas vermelhas. Nenhum deles sabia o porquê de Lucius ter escolhido aquele ponto e, apesar da insistência de James em saber todo o plano, o Malfoy tinha se limitado a dar muitas ordens e poucas explicações. Era como se a cabeça dele estivesse trabalhando em coisas demais e, como um bom estrategista, Lucius não via sentido em gastar tempo e energia explicando detalhes as suas marionetes. Desde que tudo funcionasse, ninguém precisava saber mais do que o necessário.

Isso irritava James que tinha passado os últimos dias resmungando sobre o quanto Lucius era traiçoeiro e detestável. Poderiam trabalhar juntos por décadas e, mesmo assim, os dois ainda se odiariam. Remus sabia disso, mas, apesar de todos os indícios contra, sentia que, de alguma maneira, podia confiar no loiro dessa vez. Não era como se eles tivessem alguma opção de toda forma. Sirius se limitava a balançar a cabeça em silêncio e se certificar de que Remus estava bem. Os preparativos para a armadilha tinham despertado o cão de guarda em Sirius que parecia achar que a qualquer momento toda essa pressão ia explodir levando a sanidade de Remus embora.

Nos últimos dias, Remus tinha se ocupado com as pequenas tarefas da livraria, carregando caixas de livros e fazendo retoques na pintura das paredes. Qualquer coisa para manter Abraxas longe de sua cabeça. Ainda assim precisava acalmar o namorado que passava os dias vigiando os passos do loiro. Sirius nunca tinha imaginado que alguém tão gentil como Remus pudesse ter um inimigo e aquilo tinha de fato mexido com a cabeça do moreno. Estava preparado para cortar a garganta de qualquer um que se aproximasse demais e isso só tornava as coisas mais estressantes.

Assim que chegaram ao prédio certo uma porta de madeira se abriu e a cabeça loira inconfundível de Lucius Malfoy apareceu.

- Vocês estão atrasados. – Disse, consultando um bonito relógio de bolso dourado.

- Não enche. – Resmungou James em resposta, abrindo seu caminho pela porta sem esperar por um convite.

Finalmente Sirius soltou o abraço de urso e Remus pode sentir seus pés tocando o chão com todo o peso do seu corpo pela primeira vez. Seu braço estava ligeiramente dormente pela falta de sangue, mas tinha certeza que se não fosse Sirius ele não teria chegado até ali inteiro. Mesmo por linhas tortas o moreno ainda conseguia ler seus pensamentos.

- Tudo bem? – Os olhos cinzas vasculhavam o rosto do loiro com toda a atenção.

- Aham. – Remus desviou o olhar. Não queria demonstrar fraqueza e sabia que Sirius perceberia qualquer sinal dela. – Você ouviu, estamos atrasados.

Atrás da porta uma estreita escada levava direto ao segundo andar. Sem pensar duas vezes começaram a subir, James na frente, seguido de perto por Remus e Sirius e, por último o dono da festa.

Logo que botaram os pés no chão, a surpresa tomou conta do grupo. Em vez da casa confortável de vovó que a fachada do prédio sugeria, todo o segundo andar se resumia em um grande salão sem paredes, com pintura branca e vista livre para uma janela fosca que tomava boa parte da parede frontal. Estava cheio de equipamentos mirabolantes que Remus não fazia ideia do uso e de pessoas com aparência ocupada andando de um lado para o outro.

- O que acharam? – Logo atrás deles, Lucius parecia particularmente orgulhoso de seu esconderijo. – Aposto que você nunca viu a sua livraria desse ângulo, não é, Remus?

Era verdade. Apesar de só ter notado depois dessa frase, era inconfundível, lá estava ela, sua livraria, logo depois do vidro. Estavam no prédio exatamente do outro lado da rua, um edifício velho que nunca tinha chamado lhe chamado a atenção mesmo que Remus passasse por ele todos os dias.

- Como conseguiu isso? – Incrédulo, Remus olhava pela janela como uma criança vendo algo novo.

- Tenho meus contatos.

- Deve ter subornado alguém. – Resmungou James ao que foi prontamente ignorado por todos os outros.

- Não vamos ser vistos?

- O vidro é fosco, nós podemos observar o exterior, mas de fora vai parecer só uma janela escura. – Lucius olhou em volta. – A não ser que acendamos alguma luz forte. Vocês vão ver.

Remus não gostava nem um pouco do sorriso sinistro que acompanhava o rosto de Lucius naquela última frase, mas já tinha aprendido que o melhor era não questionar. Pensou em se oferecer para ajudar em alguma coisa, mas nunca tinha visto aqueles equipamentos antes e tinha a sensação de que qualquer ajuda que pudesse dar só ia atrapalhar. Analisando o bloco de notas que um dos homens atarefados tinha lhe entregado, Lucius sorriu.

– Meu pai está a caminho.

Remus sentiu seu estomago dar um mortal. Então Lucius estava certo, Abraxas realmente tinha caído na armadilha. Agora era uma questão de tempo para que tudo acabasse. Por um instante achou que fosse desmaiar.

Sentou-se no único sofá em todo o andar, posicionado junto à porta para não atrapalhar o fluxo e observou. Examinou cada uma das pessoas estranhas, eram cinco no total e pareciam estar montando um equipamento que nunca ficava pronto. Sirius estava entretido examinando o que parecia ser uma câmera de alta resolução. Era estranho que um cachorro se interessasse por tecnologia, mas essas coisas podiam prender a atenção do moreno por horas. Gostava de mecanismos e de máquinas, mesmo que não tivessem quase nenhuma em casa.

- Como você está?

Sem que ele percebesse, James tinha deslizado para o lugar vago ao seu lado e agora também observava o moreno.

- Aqui. Já respondi essa pergunta umas trezentas vezes nessa semana e a resposta ainda não mudou. – Deu uma risadinha nervosa, ainda olhando o namorado que agora girava uma lente entre as mãos. – Você também acha que eu vou ficar louco e sair correndo por aí?

- Nah. – James olhou para o teto. – Se bem que talvez todos nós já estejamos loucos só de estar aqui.

Aquilo não era nem um pouco reconfortante.

- Mas, sério. – Tirou os óculos e olhou diretamente para Remus. – Eu já te conheço faz um tempo, Remmy, sei que você é mais forte do que isso.

- Sirius com certeza não acha. – Nos últimos dias a super proteção de Sirius estava começando a deixar o loiro extremamente irritado. Até a chegada de Padfoot, Remus estava acostumado a resolver tudo sozinho, era muito estranho de repente ter alguém vigiando cada passo seu. – Acho que ele nem dorme a noite com medo que eu surte.

- Dê um desconto, você é a única pessoa que ele tem no mundo. – James colocara os óculos de volta e agora observava Remus com divertimento. – A ideia de te perder deve ser dolorosa demais. Ele sabe o quanto tudo isso é importante pra você. Só quer garantir que você saia inteiro.

Remus era, de fato, a única pessoa que Sirius tinha. Depois de ser abandonado pela família e rejeitado por todos os amigos que já tinha feito, era de se esperar que Sirius tivesse problemas para se envolver novamente com as pessoas, mas, como um cão leal, o moreno tinha se entregado de corpo e alma aquela nova chance. Agora tinha uma família, amigos e até um pequeno sobrinho para ensinar coisas erradas. Duvidava que ele fosse capaz de perder tudo isso de novo e continuar inteiro. Com certeza esse era o maior medo de Sirius, e Remus não podia culpa-lo.

- Eu sempre saio do outro lado, James, de um jeito ou de outro. – Remus fechou e abriu os olhos várias vezes. – Eu só preciso que ele esteja lá no final.

- Remmy, Remmy, ele está apaixonado. – James deu uma risadinha, voltando a olhar para o teto. – Homens apaixonados fazem coisas idiotas pra proteger quem amam.

- Nós não somos assim. – Respondeu, teimoso.

- Bom... Lilly não está aqui, está?

Antes que pudesse responder, o movimento das pessoas desconhecidas se intensificou e o sorriso malicioso de Lucius indicava que Abraxas tinha finalmente chegado. Sem pensar duas vezes, Remus e James correram para a janela, parando ao lado do amigo.

- Então, qual é o plano? – Perguntou Sirius, quebrando o silêncio.

- Vamos esperar. Precisamos de algo concreto para incriminar meu pai.

Lucius tinha razão. Não dava para pegar Abraxas se ele não estivesse fazendo nada de errado. Observaram enquanto o carro preto estacionava na calçada, um pouco distante da livraria.

A porta do motorista se abriu e um homem alto com cara de poucos amigos saiu, um cigarro entre os dedos. Com certeza estava fazendo a última checagem na rua deserta. Sentou-se no capô e ficou a fumar calmamente. Dentro da sala, o movimento das pessoas tinha sessado completamente e todos observavam a janela em absoluto silêncio.

Depois de mais ou menos dez minutos em que nenhuma alma cruzou a rua ou colocou a cabeça na janela o homem deixou cair o cigarro na calçada, apagando-o com a ponta do sapato. Olhou para trás e fez um gesto com as mãos. Quase instantaneamente a porta traseira se abriu e de dentro do carro saiu uma versão mais velha do homem que agora prendia a respiração ao lado deles. Era Abraxas.

Um turbilhão de sensações cruzou o corpo de Remus. Já tinha visto aquele mesmo homem passar pela porta da sua livraria uma centena de vezes, mas nunca por aquele ângulo. Ali de cima o Malfoy, sempre tão imponente e esnobe, parecia só mais uma pessoa.

Sentiu o sangue correr pelas suas veias, todos os anos de raiva contida se acumulando no seu interior. Quantos problemas poderiam ser evitados se Remus pudesse simplesmente por as mãos naquela garganta branca e apertar.

Andaram até o fundo do carro e abriram o porta-malas, sempre olhando em volta. De dentro, puxaram dois grandes galões pretos.

- Meu pai tem o péssimo hábito de insistir em coisas que já deram errado. – Murmurou Lucius. Acenou com a cabeça para um dos seus empregados.

Com um aperto de botão uma grande tela se ligou e Remus pode ver, entre quadros divididos, todos os ângulos do acontecimento. Lucius tinha instalado uma dezena de câmeras escondidas, algumas no interior da sua livraria, outras pegando a fachada. O que quer que Abraxas fizesse, teriam uma coleção de fitas para provar. Esperaram.

O homem que acompanhava Abraxas dessa vez era muito mais corpulento. Tinha braços grandes e fortes e Remus tinha certeza que Padfoot não teria sido capaz de espanta-lo. Observaram enquanto ele tirava algo do bolso e forçava a fechadura, um clic de cada vez. Por fim a porta se abriu, deixando a dupla passar.

- Já chega. – Sirius se remexeu inquieto.

- Não é suficiente. – Frio como gelo, Lucius analisava a situação. – Precisamos de algo mais concreto.

Remus sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Esperava que Lucius soubesse muito bem o que estava fazendo e até onde podia chegar. Tinha a terrível sensação de que não conseguiria parar o plano mesmo que quisesse, Lucius estava 100% no comando da situação.

A respiração pesada e a tensão no ar tornava aquela espera insuportável. Pelas câmeras observaram enquanto os dois homens abriam os galões e despejavam o conteúdo líquido no chão da livraria.

- Lucius, você já tem o que precisa. – James tinha um tom agressivo na voz. Do lado dele, Sirius estava branco como papel.

- Só mais um pouco. – Sem tirar os olhos da tela, Lucius estava jogando um grande jogo. – Preciso disso para provar quão grande é o estrago que ele pretende fazer. Ele não vai acender o fósforo lá dentro então temos tempo.

Novamente Lucius tinha razão. Abraxas teria que deixar a livraria e só então acender o fogo ou estaria preso dentro de uma bola de chamas. Enquanto estivessem os dois lá dentro não havia perigo.

Esperaram pacientemente até que os dois terminassem o serviço e depositassem os galões vazios no chão. Enquanto conferia se tudo estava pronto para saírem, Abraxas pousou a mão por sobre o bolso do casaco, conferindo alguma coisa.

- Ele está com os fósforos. – Murmurou Lucius, e então aumentou a voz. – Pode ligar o microfone.

Um dos empregados apertou um botão e Lucius se aproximou da tela, falando perto de um bastão metálico.

- Pai?

O efeito do microfone foi instantâneo, com Abraxas procurando a origem da voz. Pelas câmeras eles observaram a confusão se transformar em desespero no rosto do Malfoy mais velho.

- Olhe para fora.

Sem precisar de um comando um dos empregados acendeu um grande holofote e Remus soube que estariam visíveis para qualquer um do lado de fora. Não demorou mais que um segundo para que os olhos de Abraxas de dirigissem ao exterior e se fixassem em Lucius, com um ódio assustador. Ele sabia que o jogo estava perdido.

- Você perdeu, pai. – Lucius falava calmamente. – Temos tudo gravado.

Foi então que o plano começou a sair do rumo e tudo se transformou em uma viagem surrealista da qual nenhum deles seria capaz de lembrar direito depois dali. Remus observou enquanto Abraxas abria o mesmo sorriso sinistro que o filho. Não fazia sentido, ele tinha perdido, não devia haver nenhum sorriso, só desespero. Enquanto Abraxas levava a mão até o bolso que tinha checado momentos antes, Remus compreendeu. E seu coração parou.

Exatamente como no sonho que começara tudo isso, Remus viu lentamente a caixa de fósforo deixar o bolso e ser aberta. Viu Abraxas puxar um único palito alongado e arrastar na lateral da caixa de papelão. Viu a cabeça do palito ser envolta em chamas e soube que tudo estava perdido. E quando o palito tocou o chão e a livraria que tanto amava foi transformada em uma grande bola de fogo em torno dos dois homens, Remus não via mais nada.

Do lado dele, James se esforçava para entender o que estava acontecendo. Sabia que algo tinha saído terrivelmente errado, mas seu cérebro falhava em assimilar tudo aquilo. A ideia de que o fogo vinha da livraria que tinham gastado tanto tempo e amor para arrumar parecia um absurdo na sua cabeça. E ele ficou ali, travado observando.

Do outro lado de James, Lucius estava em choque. Que variável era aquela que tinha se esquecido de calcular. Tinha planejado tanto, todos os cálculos. Não havia essa possibilidade, não tinha como ter falhado. Os seus planos nunca davam errado e, no entanto estava ali, vendo o homem que inspirara sua vida ser engolido pelas chamas. Não era para terminar assim, não era para Abraxas morrer. Era uma jogada inocente, um golpe de mercado como tantos outros que ele vira seu pai aplicar. Era sua culpa.

E havia Sirius. Congelado no momento em que o mundo de Remus desabara, levando-o junto. Porque tudo que envolvia Remus envolvia Sirius e sem Remus ele não mais existia. Ele estava ali, vendo tudo que constituía seu porto seguro ser levado embora, a alma dele sendo puxada de volta para a escuridão. Tinha falhado em proteger Remus e tinha certeza de que não seria capaz de consertar as coisas agora. Estava sozinho e não era mais capaz de viver sozinho.

Quando o mundo voltou a andar na velocidade normal e o peso da realidade atingiu o grupo, Sirius foi o último a voltar. Enquanto a sala retornava ao foco, viu as pessoas inquietas paradas, esperando por ordens. Viu Lucius ajoelhado, a cabeça entre as mãos, gritando. Por último viu James, segurando seus ombros com força.

- SIRIUS! – Seus olhos se focaram nos olhos castanhos de James, absorvendo a mensagem. – REMUS, CADÊ O REMUS?

Essa era uma frase importante demais para ser esquecida e o sangue canino tinha uma reserva de adrenalina guardada especialmente para qualquer um que dissesse aquele nome. Correu os olhos pelo lugar, procurando desesperadamente qualquer sinal do garoto loiro. Não estava ali e Sirius tinha uma terrível sensação de que sabia exatamente onde ele estaria. Olhou pela janela e viu um vulto atravessar a rua, bem a tempo de confirmar as suas suspeitas.

Viu que James também vira. Ele conhecia Remus a muito mais tempo e não era uma alma difícil de ler.

- Aquele idiota! – James sabia que era a única cabeça pensante daquele lugar. Precisava de Sirius e precisava de ajuda. – Vai!

Sem esperar confirmação, Sirius correu. Desceu as escadas de um salto, pulando quantos degraus suas pernas aguentassem e correu tão rápido que seus joelhos ameaçaram se partir, mas continuou correndo. Sabia que precisava dar a volta no quarteirão para ter acesso a rua da livraria e isso colocava Remus a uns dois minutos de vantagem. Precisava correr mais rápido.

Cruzou a esquina e viu que a confusão começava a gerar movimento na rua. Algumas luzes já se acendiam e frestas se abriam nas cortinas. Não via Remus em lugar nenhum, com certeza já estava lá dentro.

Nesse ponto a livraria era uma grande bola de fogo. Remus devia ter entrado pela porta da frente, mas agora era impossível sair por ali. De uma forma ou de outra o loiro estava preso naquela ratoeira.

Pense, Sirius, pense. Tentou olhar pela janela, mas havia fumaça demais para discernir qualquer coisa lá dentro. Precisava encontrar um jeito de entrar. Olhou para a lateral, o fogo ainda não havia atingido a parte traseira da casa. Poderia entrar por ali e forçar o caminho pela porta interna para a livraria. Perfeito.

Abriu a fechadura com as chaves que ainda tinha no bolso o mais rápido que conseguiu. Pensou em arrombar a porta, mas a possibilidade de deslocar o ombro não parecia muito boa naquela hora. Correu pelo corredor, completamente intocado pelo fogo até a porta aparentemente normal, porém, assim que tocou na maçaneta, sentiu os dedos arderem. Precisava arrombar ou não seria capaz de abrir. Deu alguns passos para trás e correu, torcendo para que isso não significasse um ombro quebrado.

A porta se partiu com um estrondo, a madeira velha e sem manutenção ajudou e em segundos Sirius estava no meio do turbilhão de calor, cinzas e fumaça. Precisava encontrar Remus e precisava encontrar rápido.

Tateou pelo chão, abrindo os olhos o mínimo possível para ver o que estava acontecendo. Tentou não respirar a fumaça preta, uma crise de tosse seria fatal agora. Do outro lado da rua, James tinha virado o holofote diretamente para a janela da livraria, dando ao ambiente um foco de luz. Bem jogado, se saísse vivo dali Sirius precisava se lembrar de lhe agradecer.

Abriu os olhos, sentindo as pupilas arderem. Entre os vultos das estantes e as chamas, discerniu uma figura humana, caída bem no centro do ambiente. Ainda segurando o galão, Abraxas estava irreconhecível, o cabelo queimado e a pela escura pelas cinzas. Do lado dele o homem robusto jazia com um olhar de terror no rosto. Só podia salvar um e não era por conta deles que Sirius estava ali.

Tossiu a primeira vez e se segurou fortemente para não tossir a segunda. Precisava encontrar Remus rápido ou não seria capaz de se manter acordado. Abriu os olhos ao máximo, forçando as pupilas doloridas a enxergarem. Revistou o que sobrara da livraria, livros queimados, cadeiras que ainda queimavam e lá, atrás do balcão encontrou o que procurava. Desmaiado, Remus abraçava uma caixinha de coisas. Precisava chegar até lá.

Com a mão queimada pela maçaneta, afastou uma mesa em chamas que bloqueava o caminho. Felizmente uma das estantes tinha caído por cima do balcão, fazendo uma espécie de teto e impedindo que qualquer outra coisa acertasse Remus.

Se arrastou por baixo do balcão, puxando o namorado e avaliando os estragos. Algumas queimaduras, um ou outro corte, mas estava vivo e isso era mais do que Sirius esperava.

Tossiu novamente, sentindo o pulmão virar uma mistura de cinzas e sangue. Seu tempo estava acabando, era hora de voltar. Pegou Remus no colo, tomando cuidado de trazer também a caixa que ele tinha arriscado a vida para salvar. Levantou-se e viu pela janela que algumas pessoas tentavam apagar o fogo com baldes de água e extintores e se sentiu grato, talvez assim conseguisse construir um caminho de volta.

Andava mais devagar com o peso do namorado no colo e volta e meia tinha que desviar de um caminho bloqueado por móveis e livros, mas conseguiu chegar à porta que começava a cair das dobradiças. Precisou destruir o que tinha sobrado dela com chutes antes de passar com Remus e chegar à segurança da casa ao lado. Continuou correndo pelo corredor em direção à saída e só se deu ao luxo de parar por completo quando estavam do outro lado da rua, longe da casa.

Encostou as costas no muro gelado e se deixou escorregar até o chão, ainda com Remus firme no colo. Tossiu diversas vezes, cuspindo bolas de cinzas menores a cada vez. Do outro lado da rua viu o vulto desfocado de James correndo em sua direção, em câmera lenta. James estava ali, Remus seria socorrido, embora não soubesse se tinha sido suficiente. Se fosse capaz de acordar em outro dia descobriria. Remus tinha uma chance agora e era isso que importava. Com a testa encostada na do namorado, tudo se apagou.

-o-o-

N/A: Yeeeei, atualização e capítulo grande! Eu simplesmente adoro escrever os capítulos de ação, é tão divertido.

Por favor não me odeiem, as coisas sempre dão errado na vida do Remus, senão não teríamos história, né? Pelo menos o Sirius conseguiu chegar até ele! Se eles vão ficar bem? Aí só o próximo capítulo vai dizer. ;)

Por favor, deixem reviews, eles me ajudam a saber que ainda tem gente acompanhando a história. Um "firme aqui ainda" já ajuda muito a motivação para o próximo capítulo.

Para todo mundo que está acompanhando, muitíssimo obrigado! Nos vemos no capítulo 13.

Resposta aos reviews:

Sora Black: Capitulo novo, yei! Espero que tenha gostado, apesar do mala do Lucius ter deixado as coisas saírem do controle. Pelo menos o nosso cachorro fez um bom trabalho salvando o lobinho dele. Muito obrigado pelo review, espero que continue acompanhando.

Ly Anne Black: Capítulo grande e cheio de aventuras novas para um bom fim de semana. De fato o plano não era exatamente perfeito como o Lucius pensava, mas não foi culpa dele, ele só não contava com isso. Esse capítulo tem mais momentos fofinhos que o outro, Sirius sendo cão de guarda é sempre amor, né? Vou tentar não demorar muito para postar o próximo, continue acompanhando.

Nos vemos no capítulo 13. =)