Nenhum outro momento na vida de Sirius foi mais doloroso do que observar a expressão de Remus quando finalmente voltaram para casa. Durante aquelas duas semanas em que passaram no hospital, ele tentou se preparar para aquilo. Enquanto Remus dormia sob o efeito dos analgésicos, Sirius tentava imaginar qual seria a reação do namorado ao ver o que tinha sobrado do seu lugar feliz. Precisava estar ali e ser forte para ele e quando o taxi parou na calçada e o loiro se apoiou nos dois pés em frente ao que antes fora a sua amada livraria, Sirius prendeu a respiração esperando o pior.

A fachada estava completamente destruída, não havia mais letreiro, vidraças ou porta de madeira. Tudo estava coberto por cinzas e faixas policiais que impediam a entrada de curiosos. A polícia tinha estado trabalhando incansavelmente durante esse tempo e, com Remus em recuperação, Sirius tinha sido o responsável por cuidar de tudo. Não que houvesse muito o que investigar, depois que os bombeiros finalmente conseguiram apagar as chamas, não sobrou muita coisa do velho lugar, todas as estantes, livros e decoração tinham sido reduzidos a um monte de cinzas. Apesar de tudo, o laudo final indicava que não havia danos estruturais ao prédio e que eles poderiam continuar morando na casa dos fundos, o que deixou Sirius bastante feliz. A coisa que Remus menos precisava agora era de uma mudança.

Sirius observou enquanto os olhos do namorado examinavam o que sobrara da entrada. Esperou aflito que o castanho se enchesse de dor, tristeza ou raiva, mas nada aconteceu. Enquanto o motor do taxi ao longe gerava o único barulho na rua deserta, Remus ficou ali, parado. Observando com o olhar vazio. De uma forma estranha isso era ainda pior do que tudo que Sirius tinha imaginado.

Durante o tempo que passou no hospital, Remus falava pouco e dormia muito, o que Sirius atribuiu a grande quantidade de remédios que o loiro vinha tomando. Quando ele abriu os olhos com clareza pela primeira vez, Sirius esperava uma enxurrada de perguntas do namorado, mas Remus não disse nada, apenas olhou para os curativos extensos que cobriam as duas mãos e o ombro de Sirius e chorou. Toda história estava ali, Sirius não precisava falar nada. E ele sabia o quanto doía em Remus vê-lo se machucar de novo por ele. Mesmo assim Sirius não tinha arrependimentos, Remus estava ali, vivo, e isso bastava.

Depois daquilo, o livreiro parecia perdido em seu próprio mundo, falava pouco e comia só o suficiente para ficar acordado. Às vezes levantava gritando e nessas noites dava espaço para que Sirius saísse do desconfortável sofá de visitas e deitasse do seu lado na cama mas, no resto do tempo, permanecia isolado na sua ilha inatingível. James e Lilian visitavam com frequência, enchendo o quarto com conversas e vida e, mesmo nessas ocasiões, Remus se limitava a sorrir, educadamente. Quando todos iam embora e o quarto ficava silencioso e frio de novo, como um bom cão de guarda, Sirius ficava ao seu lado, dando o espaço necessário, mas sempre disponível.

- Vamos entrar? – Perguntou o loiro, sua voz não era mais que um sussurro.

Sirius acenou com a cabeça. Segurou o braço do outro, mesmo sabendo que ele era perfeitamente capaz de andar sozinho. As queimaduras tinham atingido parte do rosto, pescoço e braços de Remus, mas nada que fosse deixar cicatrizes. O dano grave tinha sido aos pulmões, depois de inalar tanta fumaça por tanto tempo, os pulmões de Remus tinham se enchido de cinzas e sangue. Foi preciso muito trabalho para que o loiro voltasse a respirar sem dor.

Remus deixou-se conduzir até a porta da cozinha, indiferente. Pela lateral, o prédio parecia quase intocado. Assim que botaram os pés em casa, foram atingidos por uma nostalgia gostosa. Tudo estava exatamente como tinham deixado, cada pertence de Remus em seu devido lugar. Era, de fato, como voltar para casa.

- Lillian esteve aqui. – Vendo o olhar intrigado de Sirius, Remus acenou para o vaso de flores frescas em cima da mesa de jantar. – Eu vou subir agora.

Novamente, Sirius se limitou a concordar com a cabeça. Não sabia o que falar, não tinha argumentos que o impedissem de voltar para sua cama. Por mais que quisesse que as coisas voltassem ao normal, sabia que isso jamais aconteceria. Tinha deixado que algo muito importante se partisse dentro dele e nunca ia ser capaz de se perdoar por isso. Falhara como cão de guarda.

Observou do andar de baixo enquanto o loiro subia, atento para o caso dele escorregar, mas nada aconteceu. Com a mesma perícia de sempre, Remus subiu os degraus, um de cada vez, e desapareceu na porta do quarto.

Sirius ficou sozinho na sala de estar, estava de volta a casa aonde fora feliz. Pela primeira vez desde o incidente sentia que alguma coisa estava certa.

Andou até o canto da sala e entrou no corredor que levava a livraria. Tinham trocado a porta quebrada por uma nova, da mesma cor e modelo e que, ainda assim, parecia muito diferente. Era como se cada outro objeto estivesse julgando-o por ter levado embora um companheiro. Essa casa já era deles muito antes de ser de Sirius ou de Remus e nenhum dos dois tinha o direito de fazer isso. De toda a forma, não havia conserto para a velha porta.

Ficou ali encarando-a. Algo dentro dele esperava que depois daquela porta estivesse a livraria Lupin, aonde Remus encontrou Sirius pela primeira vez fora da forma canina. Tinha passado horas andando em frente a vitrine antes de ter coragem de entrar e se apresentar. Estava com tanto medo de ser rejeitado que suas mãos tremiam dentro do casaco enquanto sua voz permanecia firme. Um dos talentos de que mais se orgulhava.

Remus tinha sido tão gentil, tão Remus, que Sirius sabia que estava perdido para sempre antes mesmo de cruzar novamente a porta de entrada. Seu coração seria eternamente daqueles olhos castanhos, mesmo que nunca mais se vissem. Mesmo que Remus não tivesse aceitado aquele convite para jantar. Mesmo que tivesse recuado quando Sirius roubou o primeiro beijo. Mesmo que tivesse colocado o moreno para fora a pedradas quando descobriu sobre o seu lado canino, mesmo assim ele seria seu Padfoot.

Voltou-se de costas, deixando a porta para trás. Não tinha motivo para abrir a fechadura, não havia nada para se ver do outro lado, aquele lugar de suas memórias tinha sumido para sempre. Era melhor manter aquela ilusão gostosa do que encarar a realidade. De novo na sala de estar, tirou os sapatos e subiu as escadas silenciosamente, torcendo para não acordar Remus. Adorava a sensação do carpete do andar de cima sob seus pés. Adorava o som que seus passos faziam quando caminhava por ele. Parou na porta do quarto, observando o namorado adormecido entre as cobertas.

Quantas vezes tinha estado naquela posição, em tantos outros quartos, observando tantas outras pessoas e nunca tinha se sentido daquela forma. Antes de se perder no castanho dos olhos de Remus, Sirius já tinha arrastado muitas pessoas para o infinito cinza das suas pupilas caninas. Tinha nascido com as feições clássicas dos Blacks mas numa mistura melhorada dos dois lados da família. Quando era menor sua mãe costumava falar que era um desperdício tanta beleza jogada em um ser tão ingrato. Como se ele tivesse culpa de ter nascido bonito. Ou de Padfoot.

Sirius nunca desejou ser assim e, durante sua adolescência, isso tinha lhe trazido todo um tipo de atenção indesejada, recheada de inveja. Seus primos mais velhos evitavam trazer suas namoradas nas festas de família e seu próprio irmão começou a resmungar pelos cantos quando Sirius recebia elogios. Tinham os mesmos olhos cinzas, mas não podiam ser mais diferentes. Sirius era magro e alto, com os cabelos rebeldes e longos traços finos. Regulus era mais baixo, tinha ombros largos, cabelos curtos e expressão forte. Não é que ele fosse feio, mas era difícil competir, Regulus era sempre a segunda opção.

Mesmo com todas as cartas, declarações e juras de amor, Sirius não tinha qualquer intenção de corresponder aos sentimentos de ninguém. Tinha problemas maiores para lidar em casa, um lado selvagem para domar e toda companhia que precisava na biblioteca dos Blacks. Mesmo assim, quando Regulus começou a espalhar boatos sobre ele na escola, as coisas começaram a se complicar rápido. Não se incomodava com as risadinhas no corredor, com os comentários cruéis ou xingamentos direcionados. Teria aguentado qualquer violência verbal, Sirius era melhor do que isso. Tinha 15 anos quando um grupo de alunos mais velho o encurralou depois da aula, atrás da escola, longe da vista de qualquer adulto, com pedaços de madeira e anos de rancor guardado. Naquele dia, descontaram toda a frustração pelos suspiros que Sirius recebia pelos corredores. Tentou revidar e, embora não fosse ruim de briga, eles eram muitos.

Acordou três dias depois, no hospital, vestido de branco e sozinho. Como sempre, sua mãe tinha coisas importantes a fazer, mandou um chofer busca-lo. Seu corpo doía e sua cabeça estava enfaixada. O médico disse que tudo ia ficar bem, que ele não precisava se preocupar. Enquanto sorria afirmativamente, uma parte sua desejava que não tivesse acordado.

Aquilo tinha sido um baque tão forte para Regulus quanto fora para Sirius. Na sua inocência de criança, ele não imaginou que sua brincadeira pudesse de fato chegar a machucar alguém. Apesar de tudo, eram irmãos e se amavam. Se é possível tirar algo positivo da experiência, o arrependimento tinha levado Regulus a ser muito mais amável com Sirius. Anos depois o irmão ainda seria a única pessoa com quem tinha algum contato na velha família, mesmo que relutasse em responder suas cartas.

Quando voltou a escola, tinha curativos espalhados pelo corpo e as pessoas encaravam-no ainda mais. Descobriu que o grupo de alunos responsável não tinha sido responsabilizado por nada. Ninguém tinha visto o acontecido e eles não tinham provas para incriminar ninguém. Simplesmente tinham achado Sirius no chão, ensanguentado. Fim da história.

Depois disso os boatos se agravaram ainda mais, todo mundo queria saber quem era o garoto que tinha levado uma surra por gostar de outros garotos. A certeza da impunidade fez com que as ameaças de corredor ficassem mais constantes. Sirius precisava achar um jeito de resolver isso ou morrer tentando. Sem escolha, fez a única coisa que parecia válida na situação.

Escolheu a garota mais bonita que pode encontrar, o alvo dos suspiros de todo adolescente na escola. Um jantar e dois drinks e estavam de volta na casa dela, roupas no chão. Foi mecânico e desinteressante, mas o suficiente para acalmar os boatos sobre ele.

Repetiu o ritual muitas vezes no resto daquele ano, o que o fez passar de viado a galinha em um instante. Nunca levava garota nenhuma para sua casa, não queria ter que aguentar o perfume delas no outro dia de manhã. Saia assim que começava a amanhecer, sem explicações. Todas as garotas queriam Sirius Black mas nenhuma era capaz de mantê-lo por mais de uma noite. Até encontrar Marlene.

Ela não era a mais bonita, nem mais inteligente, mas tinha um sorriso brilhante e uma conversa divertida o que, para um garoto na situação de Sirius, era extremamente convidativo. Conversaram na primeira noite e, pela primeira vez, Sirius não dormiu fora de casa. Se encontraram no dia seguinte e no outro até que Sirius se sentisse estranhamente confortável perto dela. Não era amor como o que sentia por Remus, mas uma amizade reconfortante, gostosa. Passaram um mês juntos até que Sirius se sentiu confiante o suficiente para contar a ela o seu maior segredo. E as coisas não saíram muito bem.

Marlene enlouqueceu, tinha um sério problema para lidar com coisas fantástica que a inexperiência de Sirius não conseguiu identificar antes. Botou Sirius para fora com todas as suas coisas e disse que nunca mais queria vê-lo. Assim, num passe de mágica, Sirius tinha perdido a única amiga que tinha feito em toda a vida e colocado tudo a perder.

No outro dia, chegou na escola esperando que todos soubessem seu segredo, mas Marlene não tinha aberto a boca. Na verdade, se recusava a comentar sobre o porquê de ela e Sirius terem terminado, o que reacendeu os boatos sobre ele e uma nova série de ameaças pelos corredores surgiu.

Nesse ponto, Sirius já tinha completado 16 anos e sua paciência começava a se esgotar. Não ia mais viver em função de apelidos que nem lhe ofendiam. Sabia que não gostava de garotos ou garotas, gostava de pessoas e não entendia porque isso devia ser algo ofensivo. Quando tentaram encurrala-lo novamente, Sirius perdeu a paciência. Nesse ponto, a sua aparência de cão já não era mais a de um filhote fofinho e uma única mordida foi suficiente para abocanhar todo o braço de um dos garotos ainda em choque por ver o magrelo se transformar em cão bem diante dos seus olhos. Sem esperar que o susto passasse, soltou o pedaço de carne e correu, ignorando os gritos.

Talvez se Sirius tivesse uma família que o apoiasse, a história seria diferente. Talvez ele não tivesse voltado para casa, limpado o sangue da boca, feito as malas e ido embora para sempre. Talvez ele tivesse parado quando encontrou Regulus na porta, implorando para que ele não fosse. A verdade é que Sirius não sabia quanto tempo mais poderia controlar Padfoot ali. Não aguentava mais todas as regras dos Blacks, nem as transformações escondidas no meio da noite. Sem explicações, pegou suas coisas e foi.

Os próximos anos de Sirius foram gastos viajando pelo mundo, às vezes como humano, às vezes como cachorro. Por um golpe de sorte, seus pais não bloquearam as suas contas, talvez um último gesto de benevolência dos Black, ou talvez eles só tivessem dinheiro demais para se importar com algo pequeno como alguns apartamentos e uma conta poupança. De toda forma, não tentaram ir atrás dele. Enquanto terminava de crescer, Sirius ia encontrando pelo caminho os pedaços que montaram sua personalidade adulta. Depois de Marlene, jurou que nunca mais contaria a ninguém. Às vezes acordava de ressaca em uma cama desconhecida, mas nunca na sua própria. Ainda não podia suportar o cheiro alheio de manhã. Fez amantes pelo caminho, homens e mulheres, mas nunca amigos.

Trabalhou em um circo, um restaurante e um hotel. Se mudava de cidade antes que começasse a conhecer realmente as pessoas, ou que histórias sobre um grande cão preto que vagava a noite pudessem se espalhar.

Em determinado ponto, começou a se perguntar se estava destinado a morrer sozinho. Que sentido teria ter nascido tão diferente dos outros só para ser infeliz a vida toda? Não podia contar a ninguém, nunca teria família ou filhos. Nunca teria ninguém esperando em casa quando chegasse ou o cheiro de outra pessoa em seu travesseiro. Bom, isso foi até conhecer Remus.

Foi por um golpe do destino que Sirius foi parar na rua da livraria Lupin naquela noite fria. Depois de muito tempo viajando, o moreno achou que talvez fosse hora de voltar a Londres, dar uma olhada nos apartamentos que tinha alugado (os quais já tinha sabiamente transferido para o seu nome a fim de evitar surpresas) e passar um tempo na sua cidade natal. Tinha muito tempo que não passeava como Padfoot e sua cauda fantasma já estava começando a incomodar. Assim que desceu do trem, guardou todos os seus pertences num armário da estação e se transformou em cachorro.

Sirius não seria capaz de medir o tempo que passou andando como Padfoot, mas alguma coisa da nossa terra nunca nos abandona e andar por Londres parecia tão familiar, que quando o cão percebeu já estava anoitecendo. Sem saber aonde estava, sem roupas e com fome, Sirius não teve outra opção a não ser tentar roubar alguma comida. Exatamente aonde o cão encontrou o livreiro e a história começa.

Quando viu os olhos castanhos de Remus pela primeira vez, Sirius sabia que era especial. Todas as noites depois daquela, o moreno agradecia por ter ido parar naquela rua naquele dia. Quando o livreiro deu espaço para Padfoot entrar na sua vida, mudou completamente o mundo do moreno. Não era mais Sirius perdido por aí, sabia muito bem aonde queria estar.

Remus respirou fundo e se ajeitou nas cobertas e Sirius não pode deixar de pensar que morreria sem pensar duas vezes para proteger aquele rapaz. Tinha contado algumas partes de sua história a Remus, por exemplo que tinha saído de casa aos 16 anos e que tinha rodado o mundo, mas tomara o cuidado de omitir os piores detalhes. Tudo que Remus precisava saber é que ele estava ali e que isso era a coisa mais importante do mundo. E se ele precisasse passar por tudo isso de novo para chegar exatamente ali, com Remus dormindo na cama deles, ele passaria. Mil vezes ele passaria.

Foi nesse quarto que Sirius roubara o primeiro beijo de Remus. Passara o dia inteiro com medo da reação que o loiro teria se fizesse isso e finalmente o sono tinha lhe trazido coragem. Sirius ainda conseguia sentir o coração bater mais rápido quando pensava nesse dia.

Fechou a porta do quarto com cuidado, tentando não acordar o namorado. Olhou de relance o banheiro aonde Remus tinha dado seu primeiro banho em Padfoot e riu por dentro. Odiava banhos, mas tinha até gostado daquele.

Desceu novamente as escadas e foi direto para a cozinha. Roubou um cookie de cima da geladeira e encheu um copo com água. Passara sua primeira noite como Padfoot nessa cozinha. Remus lhe ofereceu comida e um lugar para dormir, duas coisas que ele não tinha. Se tivesse tentado achar o caminho de volta naquela noite provavelmente teria dormido em alguma sarjeta com a pata machucada. O cochilo no chão da cozinha de Remus deu a força que ele precisava para voltar, mesmo mancando.

Sirius amava aquela cozinha. Amava a sala aonde passavam noites intermináveis conversando, amava o banheiro de azulejos azuis e o quarto aonde envolvia o namorado nos braços todas as noites. Sem perceber, aquela casa que fora a morada de tantos Lupins se tornou também a casa dele. Cada objeto empoeirado ali dentro fazia também parte de sua história. De uma forma ou de outra a casa tinha aceitado Sirius como parte dela, como parte da família Lupin. Agora Sirius era um Lupin, o marido de Remus e sabia que nunca mais poderia ir embora.

Voltou para a sala ainda comendo o biscoito e se sentou no sofá. As vezes ficava imaginando como seria a casa quando Remus era criança. Quando haviam três Lupins morando aqui e não somente um. Podia imaginar o pequeno Remmy saindo do quarto que era seu e que hoje é só um depósito para coisas antigas. Enchendo a casa de risadas, correndo pelos cômodos.

Será que em alguma parte da vida Remus desejou preencher a casa com risos de crianças de novo? Em algum momento será que ele pensou em ter o que Sirius não poderia dar? Remus sempre foi filho único, deve ter pensando em quem cuidaria da livraria depois dele.

Esse era o tipo de pensamento que nunca afligia Sirius mas depois que as coisas tinham começado a ficar realmente sérias com Remus, ele se pegava pensando nisso constantemente. Apesar de adorar crianças, Sirius não tinha um legado ou uma família, não tinha nada para deixar. Se passasse a vida inteira sem ter filhos, não faria diferença para ele, mas Remus não era assim. Olhou de novo para as paredes, com certeza elas cobrariam um herdeiro uma hora. Fechou os olhos, já podia até ouvir a risada infantil ecoando pela casa...

- Sirius?

Sirius se virou depressa. Parado na porta da cozinha estava Lilly com o bebê Harry no colo, o dono da risada. Logo depois a cabeça morena de James apareceu do lado da esposa.

- Desculpa, achei que Remus só ia ter alta a tarde. – Com a mão livre, Lillian guardava a chave reserva na bolsa. – Têm muito tempo que vocês chegaram? Eu vim preparar o jantar. Como está o Remus?

- Dormindo. – Sirius falava baixo, apontando para cima.

Sentaram-se na cozinha, Sirius com Harry no colo, as mãozinhas puxando seu cabelo. James ajudava Lilly a desembalar a enorme quantidade de comida que tinham trazido.

- Como foi? – James colocou uma lata de massa de tomate em cima da mesa. – Quer dizer, como foi trazer Remus pra casa?

- Normal. – Sirius abaixou os olhos, brincando com as mãos de Harry. – Ele só ficou lá, olhando pra a livraria. Sem falar nada.

- Ainda não esboçou nenhuma reação? – Do outro lado do balcão, Lilly parecia preocupada.

- Uhum...

- E você, como está?

- Melhor, as queimaduras já não doem mais tanto. – Olhou institivamente para as bandagens que cobriam as mãos.

- Não é disso que eu estou falando.

Sirius sabia.

- Não há nada o que falar, Lilly. – Sirius suspirou, cansado. – Eu estou aqui enquanto Remus estiver.

- Ou enquanto seu corpo aguentar. – Lilly puxou uma panela grande do armário, sem tirar os olhos do moreno. – Sirius, você não dorme, quase não come. Não pode viver em função do Remus assim.

- Eu deixei as coisas chegarem nesse nível, Lilly. – Por mais que fossem palavras pesadas, era fácil conversar com a ruiva. – Eu devia ter protegido o Remus, era o meu dever. Eu não devia ter aparecido, ele estava perfeitamente bem e feliz antes de mim.

- E provavelmente morto. – James limpava molho de tomate dos óculos na camisa. – Todos nós sabemos o que teria acontecido se Padfoot não estivesse aqui na noite do primeiro incêndio.

Essa parte era verdade. Mas tinha sido ele a convencer todo mundo a mudar de ramo na livraria. Se não tivessem tentando inovar a livraria ainda estaria ali.

- Mas eu falhei. – O cinza dos olhos de Sirius começava a se encher de água. – Eu deixei que Remus perdesse tudo.

- Sirius, querido... – Lilly colocou a panela em cima do fogão, andou até Sirius e se ajoelhou, olhando nos olhos cinzas. – Ele não perdeu tudo, ele ainda tem você. E nós.

Harry, que até então estava rindo e balançando as mãos parou, olhando para Sirius junto com a mãe.

- Eu sei. - Sirius limpou as lágrimas na manga da camisa. – Mas isso não parece ser suficiente.

Mais lágrimas começavam a encher os olhos cinzas, escorrendo pelas bochechas e molhando sua camisa. Lillian suspirou, abraçando o moreno e o filho.

Um silêncio pesado caiu sobre a cozinha, cortado somente pelos soluços de Sirius. Tanta coisa tinha ficado presa no peito do moreno que era difícil impedi-las de sair todas de uma vez. Calmamente, James tirou o avental que usava e o colocou em cima da bancada de mármore.

- Sirius, quando você tirou o Remus da livraria você trouxe uma coisa junto, não trouxe? – Sirius virou-se para James, confuso e assustado com a pergunta.

- Sim.

James andou até a bolsa de bebê de Harry e abriu um dos bolsos. De dentro ele tirou uma caixinha de metal, a mesma que Remus tinha tentado proteger no dia do incêndio. Agora que Sirius olhava com calma, ela parecia antiga.

- Eu peguei quando você desmaiou, não queria que se perdesse. – Sentou na mesa, de frente para Sirius. – Talvez ela seja útil agora.

Lillian se sentou em uma cadeira e Sirius apertou forte as perninhas de Harry ainda enxugando as lágrimas. Com cuidado, James levantou a tampa da caixinha que se abriu com um "clic".

- Quando nós éramos crianças, Remus gostava muito de brincar com essa caixa. – Puxou de dentro um bloco de papéis amarelados, espalhando-nos pela mesa. – Acho que ele ia acabar te mostrando isso uma hora ou outra, mas vou acelerar um pouco o processo.

Sirius chegou mais perto, tentando entender o que aqueles papeis tinham de tão importante. Não demorou muito para o moreno perceber que não eram papeis, mas sim fotografias.

- Esses são os antigos donos da livraria Lupin. – James organizou cada fotografia em uma fila, da mais antiga para a mais nova. – Cada vez que a loja muda de chefe ele precisa tirar uma foto e colocar na caixinha.

Sirius observou as fotos. Na fotografia mais nova, um casal sorria na frente da mesma fachada que ele conheceu, com um garotinho nos braços.

- Esse são Remus e seus pais. – James falava com um tom sério. – Você deve ter visto fotos deles, Remus tem algumas pela casa. Eram boas pessoas.

Não era preciso legenda para aquela foto, Sirius sabia exatamente quem o casal era. Tinha visto as fotos de infância de Remus e reconheceria aquelas bochechas em qualquer lugar.

- Nessa são os avós do Remus. – Na foto, um casal diferente posava em frente a mesma livraria, sorrindo. – Não cheguei a conhece-los.

- Aonde você quer chegar, James? – Sirius começava a ficar impaciente. Mexer naquelas fotos sem a permissão de Remus parecia uma grave invasão de privacidade.

- Pela ordem essa aqui obviamente é do bisavô de Remus. – James continuou, ignorando o comentário. – Percebe alguma coisa diferente?

Sirius aproximou o nariz da imagem, observando. Do lado de lá, um senhor e uma senhora observavam, com seus três filhos em roupas de épocas. Parecia exatamente igual as outras, não fosse por um detalhe.

- Essa não é a livraria Lupin.

Isso não fazia sentido. A família de Remus era dona dessa livraria há gerações, então porque o bisavô dele estava acenando em frente a um prédio completamente diferente?

- Sim, é. – James colocou a foto de volta na sequência cronológica. – O prédio foi destruído durante a guerra, não sobrou nada. Os avós de Remus tiveram que reconstruir tudo do zero.

Sirius permaneceu em silêncio. Então o prédio em que estavam não era tão antigo assim. Seguiu a sequência com os olhos. A próxima foto mostrava um homem sozinho, em frente ao mesmo prédio, e na outra uma senhora posava séria em frente a uma fachada destruída.

- Terremoto. – James completou, seguindo o olhar de Sirius. – Destruiu metade da fachada, a tataravó de Remus assumiu a reconstrução.

Em todas as fotos haviam pequenas ou grandes diferenças na livraria. Por três vezes ela teve que ser completamente refeita. Em outras duas a fachada foi modificada.

- O que eu quero dizer, Sirius, é que os Lupin estão acostumados a se reinventar. – Disse por fim James, recolhendo todas as fotos de cima da mesa. – Remus não é tão frágil quanto parece, ser dono desse lugar envolve mais do que ficar sentado atrás do balcão. Ele vai ficar bem.

James colocou novamente a mão na caixa e puxou uma chave de metal muito antiga de dentro. Repetiu o processo e colocou na mesa uma chave ainda mais desgastada que a anterior. A terceira chave era pouco mais do que uma barra de metal retorcido.

- Uma chave para cada desastre que já destruiu a livraria Lupin. – James sorriu. – Ou uma chave para cada recomeço, depende de como você quer ver a situação.

Calmamente James recolheu as chaves e as colocou de volta na caixinha, fechando a tampa com outro "clic". Empurrou a caixa através da mesa, em direção a Sirius.

- Essa caixa guarda toda a história da família Lupin, mais do que a livraria em si. Precisa mais do que algumas paredes caídas pra destruir essa história, Sirius. Remus sabe disso, ele só está irritado de ter acontecido na vez dele. Não é o fim, não se Remus quiser lutar contra. Agora, da forma que eu vejo, você tem duas opções. – James apoiou a cabeça nas mãos, olhando fixamente para Sirius. – Você pode se entregar a tristeza ou você pode ajudar ele a colocar mais uma chave nessa caixa.

James estava certo, não podiam ficar ali se lamentando pelo que tinha acontecido. Precisava achar um jeito de arrumar as coisas, botar tudo de volta no lugar e trazer a vida velha deles de volta. Mais do que nunca, Remus precisava dele.

- Eu só tenho uma pergunta. – Sirius ainda olhava a caixinha fechada enquanto James recolocava o avental. – Se há uma foto pra cada vez que a livraria troca de dono, porque não tem uma foto do Remus?

- Bem, isso...

- É porque a livraria não foi transferida pra mim. – A voz de Remus nas suas costas fez Sirius quase cair da cadeira. – Meus pais não se aposentaram, não houve uma cerimônia de transferência. Eles morreram e eu era a única pessoa que podia fazer o serviço.

- É verdade... – Virado, James cortava as cebolas com um sorriso. – Isso e aquela baboseira de você achar que não é merecedor do título.

- Fica quieto, James. – Vermelho, Remus encarava a caixa nas mãos de Sirius. – E é muito feio mexer nas coisas alheias sem permissão, sabia?

- Aham... – Ainda sorrindo, James retrucou. – Escutar a conversa dos outros também. E alguém tem que cuidar do seu namorado se você pretende dormir o dia todo.

Remus agora era um grande pimentão vermelho. Se sentou na mesa, tentando não olhar nos olhos de ninguém.

- Bom dia, Remmy. – Lilly tinha Harry no colo, que estendia as mãozinhas tentando alcançar o livreiro. – Você parece melhor.

- Acho que eu precisava dormir na minha cama. – Remus passou os olhos pelos curativos de Sirius e fixou-se nos olhos cinzas. – Como você está?

Era a primeira vez desde o incêndio que Remus fazia qualquer pergunta ao canino. E era a primeira vez que Sirius sorria.

- Melhor. – Murmurou em resposta.

Sirius buscou o velho brilho na imensidão castanha. Podia ver, estava lá, fraco mas ainda lá. Enquanto Sirius pudesse encontrar Remus naqueles olhos sabia que nem tudo estava perdido. Procurou por baixo da mesa a mão fria do outro e sorriu por dentro quando seus dedos entrelaçaram os dele.

Com a mão livre, Sirius deslizou a caixa de metal até o namorado. Por longos segundo, Remus permaneceu em silêncio, observando o objeto. Engraçado pensar que o peso de gerações estava guardado em um pote tão pequeno.

Era estranho que Remus não tivesse tirado a sua foto ainda. Já haviam se passado anos desde que seus pais morreram no trágico acidente, com certeza ele teve diversas oportunidades. Sirius não conseguia parar de pensar no que James tinha dito sobre Remus não se achar merecedor. Mesmo depois de anos tocando o negócio sozinho, o livreiro ainda não se achava no direito de fazer parte daquela coleção. O que mais ele precisaria para estar ali? Parecia bem Remus achar que não estava fazendo o suficiente quando todo resto do mundo podia ver o contrário.

- Olha, eu agradeço a preocupação de todo mundo... – Sem pensar duas vezes, Remus empurrou a caixinha para longe, virando o rosto. – Mas eu acho que é hora de deixar a velha livraria para lá.

Um ar de apreensão tomou conta da cozinha. Harry parou de rir, Lillian se virou séria, James largou a panela ainda com a grande colher de madeira na mão. Os olhos de Sirius pareciam duas grandes bolas cinzas.

- Você não pode estar falando sério. – James parecia quase ameaçador brandindo a colher.

- Pensa bem... – O loiro suspirou, decidido. Com certeza tinha passado muito tempo pensando nisso. – Nada dura pra sempre, uma hora até a livraria Lupin tinha que acabar.

- Mas não agora! – Até Lilly, sempre tão calma, parecia nervosa. – Você não pode desistir assim, Remmy.

- Agora é um momento tão bom quanto qualquer outro. Não é como se fosse haver uma próxima geração pra tomar conta da livraria de qualquer forma... - Ao ouvir o peso das próprias palavras, Remus sabia que havia falado demais. Olhou instintivamente para o namorado.

Sirius estava sem palavras. Então Remus também tinha pensado nisso. Quanto tempo o loiro tinha gastado remoendo isso internamente? Quanto tempo ele levou para perceber que amando Sirius estava matando a própria história?

Se levantou. Precisava pensar e de espaço. Sem aviso, saiu da cozinha, deixando um Remus envergonhado para trás. Subiu as escadas o mais rápido que conseguiu, as pernas fraquejando. Mal conseguiu se arrastar até a cama e afundar a cabeça no travesseiro.

Tinha cheiro de Remus. Porque de todos os cheiros do mundo ele tinha que escolher logo aquele para ter no seu travesseiro? Porque ele tinha que ter o melhor cheiro do mundo? Pela primeira vez não se sentia grato por ter cruzado o caminho de Remus naquela noite. Preferia morrer sozinho a trazer problemas.

- Sirius...

Parado na porta, Remus observava o moreno se remexer na cama. Entrou e fechou a porta atrás de si.

- Sirius, eu não queria...

- Não, Remus. – Com o travesseiro no rosto, a voz de Sirius era quase inaudível. – A culpa é minha.

É claro que a culpa era sua. Tentou imaginar como seria se ele não tivesse aparecido, uma foto de um Remus mais velho com esposa e filhos na caixinha de metal, como seus pais. Sirius nunca tinha se sentido mau por gostar de garotos, mas até então ele nunca tinha encontrado um que precisasse de uma família.

- Sirius, você não tem culpa por me amar. – Sentado na cama, Remus passou a mão pelo ombro do namorado, descendo os dedos pelo braço magro. – Não mais do que eu tenho por te amar de volta. Olha pra mim, por favor.

Lentamente, o moreno tirou o travesseiro do rosto, revelando os olhos vermelhos e molhados. Malditas emoções que não paravam de sair, estava sendo um chorão estúpido quando tudo que precisava era ser forte para Remus.

- Tá tudo bem. – A voz do livreiro era reconfortante e seguida de um sorriso tímido. Sua mão era quente contra a pele branca e fria do moreno. – Eu jogaria tudo fora por você sem pensar duas vezes. Isso é o tanto que eu te amo.

- Eu sei. – Controlando a voz, Sirius limpou os olhos. – Eu só queria que você tivesse outra opção.

Remus levantou a coberta que repousava sobre a metade de baixo do namorado e se esgueirou para dentro. Deitou sua cabeça na outra metade do travesseiro, olhando fundo nos olhos cinzas.

- Sirius, você consegue imaginar o que teria acontecido se você não tivesse aparecido?

O moreno parecia intrigado, não sabia muito bem aonde Remus estava querendo chegar com aquilo. O corpo do namorado era quente perto do seu e, sem perceber, Sirius chegou mais perto.

- Ahn, eu não sei. – Não era muito bom nesses jogos de imaginação. – Talvez tivesse conhecido uma garota legal, se casado... Essas coisas que as pessoas normais fazem.

Remus deu uma risada. Passou a mão do braço para a cintura de Sirius. Gelada.

- Eu não sei se você notou, mas eu não sou bom em conhecer pessoas. Se, por um milagre do destino eu tivesse sobrevivido aquele primeiro ataque sem você... – Era impressionante como as pessoas gostavam de mencionar aquele dia, Sirius não tinha feito mais do que a sua obrigação. – Eu estaria sozinho e a livraria já teria falido. Como você acha que eu ia levantar no outro dia?

- Como você levantou dessa vez?

- Com você do meu lado. – Remus deixou a mão escorregar por baixo da camisa de Sirius, pela barriga magra. – Como eu faço todos os dias.

Era difícil não se deixar seduzir pelo cheiro embriagante de Remus. Aqueles olhos castanhos olhando-o determinado seriam suficientes para fazê-lo pular de uma ponte agora.

- Sirius, o que quer que aconteça, eu sou eternamente grato por ter te conhecido. – Desceu a mão, brincando na linha da cintura de Sirius. – E se isso envolve levar uma bronca dos meus antepassados quando eu chegar lá, foda-se.

Isso era incomum vindo de Remus que sempre vivia em função da aprovação dos outros. O Remmy que Sirius tinha conhecido nunca seria capaz de tomar uma decisão assim. O livreiro da rua dois parecia tão diferente, tão mais... adulto.

Aquele cheiro estava começando a deixar o moreno seriamente tonto e ele já não sabia mais se era certo ou errado. Com uma mão, puxou o rosto de Remus contra o seu, com a outra, guiou a mão quente dele mais para baixo.

Os lábios de Remus estavam frios em comparação ao resto. Deixou sua língua escorregar por eles, faminto. Tinham passado duas semanas sem quase se olharem, sem saber se sentiria aquele gosto de novo um dia. Era tão fácil percorrer o corpo de Remus com suas mãos, já conhecia cada marca, cada linha naquele ser pequeno e magro. Era como se o corpo de Remus fosse uma extensão do seu.

Quando estavam sem ar, se separaram ofegantes. Remus tinha no rosto um olha que Sirius não via a muito tempo, escondido por trás das bochechas vermelhas pela adrenalina. Gostava daquele olhar, fazia seu sangue circular mais rápido.

Deitou Remus por baixo de si, tomando o cuidado de arrancar do loiro a camisa larga que usava. Gostava de vê-lo assim, cada músculo visível a luz fraca da janela. Era seu, pra sempre seu. Nunca seria capaz de deixa-lo ir.

Pousou a boca no pescoço magro, mordiscando. Esse era um dos pontos fracos de Remus e Sirius sabia disso. Sirius sabia de tudo que podia existir para saber sobre aquele garoto.

Remus gemeu alto, tapando a boca com as mãos logo em seguida.

- Sirius, a gente não pode. – Sua voz tinha um tom de súplica encantador. – James e Lillian estão no andar de baixo.

- Então gema mais baixo.

Com o sorriso malicioso característico de Sirius Black, o moreno foi descendo, mordiscando cada mínimo pedaço do tronco do namorado. Parou perto do umbigo, tempo suficiente para puxar o moletom cinza para baixo. Do outro lado da cama, Remus não estava fazendo um bom trabalho em se manter silencioso.

- Desse jeito alguém vai ouvir, Remmy... – Apesar disso, Sirius não tinha a menor intenção de diminuir o som no quarto e Remus sabia disso.

Um grito de prazer inundou o ambiente quando Sirius envolveu sua boca no membro de Remus. Inteiro, sem pestanejar. Estava mais rígido do que o normal e isso, de alguma forma, fazia Sirius ficar ainda mais excitado. Movia a língua e a boca, com movimentos rápidos enquanto o outro se retorcia de prazer.

- Isso não é justo, nesse ritmo eu...

Remus tinha razão, tinham esperado muito tempo por aquilo, não queria acabar rápido demais. Parou, observando o namorado. Estava suado e vermelho, ofegante. Essa era a sua visão favorita no mundo todo.

O loiro abriu os olhos, bem a tempo de ver quando o corpo de Sirius deitou novamente sobre o seu. Adorava aquela sensação, ali, embaixo do seu namorado, como se nada no mundo importasse além deles dois.

- Eu te amo, meu pequeno livreiro. – O moreno novamente mordiscava o pescoço do namorado.

- Eu não sou mais um livreiro, Sirius. – Ofegante, Remus lutava para formar palavras entre os gemidos. – Mas eu sou seu.

Sirius novamente desceu as mãos, procurando com os dedos o orifício que várias vezes explorara naquela cama.

- Posso? – Tinha nos olhos uma expressão quase suplicante.

Remus acenou com a cabeça, fechando os olhos. Depois de todo esse tempo, Sirius ainda pedia permissão. Sabia que aquilo doía e odiava machucar Remus.

Puxou um vidro de lubrificante do criado-mudo. Sempre mantinha um por perto caso Remus estivesse... disposto. Fez questão de usar bastante do líquido, queria que Remus sentisse o mínimo possível de dor. Era estranho como depois de tanto tempo ele ainda era incrivelmente apertado.

Deslizou um dedo para dentro, depois dois, tentando preparar o loiro para o que viria a seguir. Quando Remus já tinha se acostumado ao segundo dedo, puxou a calça jeans que usava para baixo.

- Me avisa se doer demais, ok?

Remus novamente acenou com a cabeça. Sabia que ia doer mas sabia também que valeria a pena. Devagar, Sirius foi deslizando para dentro, sempre atento a expressão facial do namorado. Era incrível estar dentro de Remus, nenhum outro corpo no mundo se comparava a isso. E ele já havia testado uma boa quantidade deles.

Com uma mão, o moreno se apoiou sobre Remus, os rostos quase se tocando. Com a outra envolveu o membro ainda duro do namorado, movendo para cima e para baixo. Quando atingiu o ponto máximo dentro dele, Remus gemeu alto.

- Tudo bem? – Sirius sabia exatamente aonde mirar para enlouquecer o loiro.

- Uhum. – A expressão de prazer se misturava com dor nos olhos castanhos. – Pode se mexer um pouco se quiser.

Habilmente, Sirius tampou a boca de Remus com a sua, se prevenindo contra qualquer outro gemido e começou. Com movimentos rápidos de quadril, Sirius fazia o corpo de Remus tremer embaixo do seu cada vez que chegava ao fundo. Era difícil se segurar quando fazia isso com o loiro, estar perto dele já era excitante demais.

- Remus, eu...

- Eu sei, eu também.

Ainda com os lábios colados, chegaram junto ao clímax, espalhando o liquido viscoso pelos lençóis e corpos. Permaneceram assim, Sirius ainda dentro de Remus, abraçados, por vários minutos. Quando finalmente se separaram, Sirius rolou para o lado, os olhos cinzas fixos no rosto do outro.

- Eu pensei que tinha perdido você, Remmy. – A expressão no rosto do moreno era de alívio. – Quando te trouxe pra cá e você não parecia sentir mais nada. Achei que tinha perdido você pra sempre.

- Você nunca vai me perder, Sirius. – O loiro segurou a mão do namorado, entrelaçando os dedos. – Eu só precisava de um tempo pra pensar, colocar as coisas no lugar. Eu sempre vou voltar pra você.

O suor fazia o cheiro de Remus ficar ainda mais forte e Sirius encostou o rosto no peito do namorado, deixando-se embriagar por ele.

- Você vai mesmo fechar a livraria?

- Eu não sei... – De repente a voz do loiro era séria. – Que escolha eu tenho? Mesmo que eu quisesse reconstruir tudo, nós gastamos todo o dinheiro naquela reforma.

- Eu vou pensar em alguma coisa. – Sirius fechou os olhos, escutando o coração do namorado. – Nós vamos dar um jeito, eu prometo.


Bonus:

(No andar de baixo)

- James, eles estão demorando, será que tá tudo bem?

- Eu não sei, Sirius parecia muito abatido. Fica aqui com o Harry, eu vou ver.

*anda até as escadas*

*barulhos vindo do segundo andar*

*volta para a cozinha*

- Eles vão ficar bem.

*tapa as orelhinhas do Harry*


N/A: Ok, esse é oficialmente o maior capítulo até agora e o meu favorito. Foi a primeira vez que eu escrevi uma cena tão explícita, mas achei que a história merecia. Também achei que valia a pena saber um pouco mais sobre a história do Sirius, explica muito do porque de ele ser tão superprotetor e ter tanto medo de contar às pessoas sobre Padfoot. Espero que tenham gostado!

Ah, não resisti a fazer o bônus. Parte da graça de escrever o capítulo foi imaginar James e Lillian no andar de baixo.

Respondendo aos comentários:

Shakinha: É, deu tudo errado, mas eles são fortes. E o amor resolve qualquer coisa, eles vão dar um jeito. O Sirius tá lá pra cuidar de tudo!

: Desculpaaa... O Remus nunca se dá bem nas minhas fics, não depois de sofrer um bocado. Mas ele ainda tem o Sirius, então tá tudo bem.

Novamente obrigado a todos que estão lendo, curtindo, acompanhando de qualquer forma até aqui. Desculpa pelos capítulos demorarem uma eternidade pra sair e espero que gostem desse.

Reviews são muito muito apreciados, me fazem feliz e me dão vontade de escrever. :D

Até o próximo capítulo, galera!