Capítulo 12: O Milagre de Teddy

O quarto no hospital de St. Mungo's estava mergulhado numa suave penumbra, iluminado apenas pela luz suave que atravessava as cortinas. O silêncio era pontuado pelos sons delicados de Tonks e Remus, observando a pequena figura que Tonks acabara de trazer ao mundo. O bebé tinha o rosto sereno, em forma de coração, como a mãe, mas com os olhos do pai. Estava ainda envolto na manta branca, e um leve movimento dos seus pequenos dedos fazia o coração de ambos transbordar de amor.

Tonks estava exausta, mas os olhos brilhavam de felicidade. Não conseguia deixar de pensar se para as outras mulheres seria mais difícil dar à luz do que para ela, uma metamoformaga, habituada desde sempre a mudanças corporais. No entanto, havia algo mais importante para pensar: mal conseguia acreditar que o bebé estava ali, perfeito e tão pequeno. Remus, sentado na cadeira ao lado da cama, segurava a mão dela na sua com força, mas a tensão nos seus ombros era palpável.

— Olha para ele, Remus — Sussurrou Tonks, com a voz carregada de emoção, enquanto acariciava a carinha do filho. — Ele é tão… perfeito. O nosso Teddy.

- Teddy. - Remus assentiu, engolindo em seco, enquanto passava os dedos, delicadamente, pelos cabelos do filho. Embora a euforia de ser pai tomasse conta dele, o pânico silencioso não o deixava relaxar completamente. O medo, um velho conhecido, estava lá. E se...?

— Edward. Ted. Como o meu pai. — Continuou Tonks, ignorando as preocupações que via no rosto do marido. — Vamos chamá-lo Teddy. Sei que o meu pai ia adorar, e… — Fez uma pausa, com um sorriso travesso. — Se ele tiver um décimo do charme do meu pai, vai ser um problema para nós, Remus.

Remus sorriu, ligeiramente, mas o temor ainda estava ali, enterrado bem no fundo fundo.

Nesse momento, uma enfermeira entrou no quarto, interrompendo a conversa. Trazia um semblante calmo e atencioso.

— Vamos só levar o pequeno Lupin para fazer alguns testes — disse a enfermeira com uma voz tranquilizadora. — Só para garantir que está tudo bem. Não demora muito.

Remus hesitou, com o aperto em seu peito a intensificar-se, mas assentiu, mesmo que relutante. Tonks olhou para ele, tentando transmitir uma confiança que sabia que ele ainda não conseguia sentir.

— Vai ficar tudo bem, Remus. — Tonks sorriu e deu uma palmadinha no braço dele. — Aconteça o que acontecer, vamos amar o Teddy, seja ele como for. Licantropia, metamorfomagia, ou até se decidir ter o cabelo verde-limão para sempre. É o nosso filho.

— Eu sei, Dora — respondeu Remus, com a voz suave, mas carregada de tensão. — Eu também o amo. Amo-o mais do que posso expressar. Mas isso não muda o meu medo.. Pelo contrário, só aumenta. E se ele for como eu? E se a minha maldição... — Baixou a cabeça, sem conseguir concluir a frase.

Tonks respirou fundo e apertou a mão dele com mais força.

— Remus, tu és o homem mais nobre e corajoso que já conheci. Se o Teddy for como tu, vai ser a melhor coisa que lhe poderia acontecer.. E nós vamos estar aqui, juntos, para enfrentar o que vier. Sempre.

Remus sorriu um pouco mais, mas ainda havia uma sombra nos seus olhos. Ia responder, mas o som da porta abrir-se chamou-lhe a atenção, fazendo com que o seu coração saltasse no peito, com ansiedade. A enfermeira voltara, com o pequeno Teddy nos braços.

— Tudo em ordem, Mr. e Mrs. Lupin. — Sorriu, enquanto caminhava até a cama e entregava o bebé a Tonks. — Nenhum sinal de licantropia.

Remus congelou por um momento. Nenhum sinal? Quase não conseguia acreditar. Era bom demais para ser verdade. Coisas tão boas não lhe aconteciam. Não a ele. Mas, afinal, tinha acontecido. Todo o peso, toda a ansiedade, de repente pareciam dissipar-se, como uma nuvem a ser levada pelo vento. O bebé era saudável. Teddy era saudável.

Nesse exato momento, como se quisesse chamar a atenção dos pais para algo ainda mais espetacular, o cabelo do bebé começou a mudar de cor, passando do castanho claro para um azul vibrante. Tonks soltou uma gargalhada, quase sem acreditar.

— Remus, olha para isto! — Apontou para o cabelo de Teddy, e o sorriso alargou-se no seu rosto. — Ele é metamormago! Como eu!

Remus piscou os olhos e ficou-os no pequeno tufo de cabelo azul. Uma explosão de emoções atingiu-o de repente. Alívio, felicidade, amor... e uma exaustão emocional que ele nem sabia que carregava. Depois de tanta ansiedade, tanta preocupação, e depois de tudo o que passara (e, na verdade, ainda estava a passar) com a guerra, a morte de Sirius, a morte de Dumbledore, o medo de que o bebé nascesse com a sua maldição... ali estava ele. Feliz. Remus não se conseguiu controlar. Deixou-se cair de joelhos ao lado da cama, com o rosto coberto pelas mãos, e começou a chorar. Mas, dessa vez, as lágrimas não eram de tristeza ou medo. Eram de pura felicidade.

Tonks, ainda com Teddy nos braços, olhou para Remus com uma mistura de preocupação e ternura.

— Remus, querido, o que foi? — perguntou ela, inclinando-se um pouco para ver o rosto dele. — Está tudo bem?

Ele balançou a cabeça, ainda com as mãos sobre o rosto, mas o riso começou a se misturar às lágrimas.

— Eu... eu estou bem — Conseguiu dizer entre soluços. — Eu só... Eu não sabia que era possível... sentir tanta felicidade... tanto amor... Não sei como vou conseguir ser o marido e pai que vocês os dois merecem, mas juro, Dora, vou tentar. Vou tentar com todas as minhas forças. E vou conseguir. Dora… Minha adorável Dora.

Tonks riu, as lágrimas nos olhos também, mas dessa vez de pura alegria.

— Ora, Remus — disse ela, ainda com o sorriso malicioso que ele tanto amava. — Sempre soube que eras uma manteiga derretida. Só estava à espera do momento certo.

Ele levantou a cabeça, os olhos vermelhos de tanto chorar, mas rindo agora, como há muito tempo não ria.

— Manteiga derretida? Eu? — Perguntou ele, enxugando o rosto com a manga. — Pelo menos, não sou eu quem tropeça em absolutamente tudo o que vê pela frente?

Tonks soltou uma gargalhada alta.

— Ei, eu tropeço, sim, mas ainda sou a mais ágil dos dois. Mesmo assim, tens razão. Se alguém aqui vai correr atrás do Teddy quando ele começar a gatinhar, é melhor que sejas tu.

Remus, finalmente a sentir-se leve pela primeira vez em muito tempo, levantou-se, inclinou-se sobre a cama e beijou a testa de Tonks e o cabelo azul de Teddy, ainda sorrindo.

— Seja como for, Dora, sinto-me o homem mais feliz do mundo. E prometo-vos, aos dois, que nunca, jamais, vou deixar de tentar ser o melhor pai... e o melhor marido que posso ser.

Tonks devolveu-lhe o sorrido, segurando-lhe a mão com força.

— Não tenho a menor dúvida. E aconteça o que acontecer, qualquer problema que surja, vamos ultrapassá-lo juntos, Remus. Todos nós. Juntos. Sempre.

E, enquanto o pequeno Teddy mudava a cor do cabelo mais uma vez, passando de azul para um verde-escuro inesperado, Remus e Tonks riram. Afinal, sabiam que, independentemente do que o futuro trouxesse, a sua família estava completa e cheia de amor.