Até que a morte nos separe
O caos envolvia tudo à sua volta. Feitiços e gritos ecoavam pelos corredores de Hogwarts, a Batalha chegara ao seu ponto mais cruel, mais desesperado. Tonks movia-se pela confusão com um único pensamento na mente: encontrar Remus. O medo corroía-lhe as entranhas, uma sombra fria que parecia apertar-lhe o coração cada vez que olhava em volta e não o via.
Os sons da guerra abafavam qualquer outro pensamento, mas nada importava mais. Nem o fogo cruzado, nem os feitiços a voarem perigosamente perto dela. Ele tinha de estar ali. Vivo.
Afinal, tinham prometido criar o Teddy juntos. Tinham prometido ser felizes, mesmo num mundo cheio de escuridão.
Finalmente, Tonks viu uma figura caída no chão. O seu coração deu um salto no peito. Correu, ignorando o que quer que estivesse a acontecer à sua volta, e caiu de joelhos ao lado dele. Remus estava ali, deitado, imóvel.
- Remus! NÃO! – O grito rasgou-lhe a garganta enquanto o agarrava pelos ombros, abanando-o levemente, o desespero a toldar-lhe os sentidos. – Por favor, não estejas morto... Remus, por favor... Remus...
As lágrimas ameaçavam cegá-la, mas foi nesse momento que ele abriu os olhos, apenas o suficiente para a ver. Um sorriso ténue, frágil, surgiu nos seus lábios, e a voz dele chegou-lhe, num murmúrio quase impercetível, mas que Tonks entendeu como se fosse o grito mais forte do mundo.
- Amo-te... – murmurou ele.
O coração de Tonks quebrou-se e, ao mesmo tempo, explodiu com todo o amor que sentia por ele.
- Também te amo, meu amor – respondeu, entre soluços, agarrando a mão dele com força, como se pudesse, com isso, manter a vida dentro daquele corpo que tanto amava.
Remus fechou os olhos por um momento, lutando contra o peso da morte que se aproximava. A voz dele era fraca, mas determinada.
– Garante que o Teddy sabe... que também o amei muito. Cuida dele. Quero que ele seja feliz, Dora.
- Não! – Tonks sacudiu a cabeça, as lágrimas correndo pelo rosto, enquanto apertava a mão dele com mais força, como se pudesse puxá-lo de volta da beira do abismo. – Não digas isso, Remus. Vais ficar bom. Vais cuidar dele comigo. Vamos ser felizes, os três. Por favor, meu amor... – A voz dela perdeu a força.
Remus limitou-se a sorrir, com a expressão já distante, como se estivesse a ver algo que ela não podia alcançar.
– Sempre te amei... Nunca duvides disso... Não podia haver uma forma mais feliz de partir... do que contigo ao meu lado... Amo-te tanto...
Essas foram as suas últimas palavras. O sorriso desapareceu dos lábios dele, os olhos fecharam-se suavemente, e a mão que ela segurava perdeu o calor. Lupin tinha partido.
- Remus! – O grito de Tonks foi abafado pelo som da batalha que continuava ao longe, mas o mundo dela silenciou-se. – Remus, por favor... – Abanou-o novamente, recusando-se a acreditar. – Remus, não faças isto... Temos tanto para viver juntos... Nós e o Teddy... Não! Remus! – A voz falhou-lhe por completo. Caiu sobre o peito dele, chorando como nunca chorara antes, um lamento profundo e irreparável.
O corpo de Remus permanecia imóvel, frio. O futuro que ela imaginara, o amor, a vida, a família... tudo tinha desaparecido naquele instante.
Foi então que um riso cortante ecoou ao longe, aproximando-se.
Tonks levantou a cabeça, ainda com os olhos enevoados pelas lágrimas, e viu uma figura familiar emergir das sombras. Bellatrix Lestrange, a sua tia, olhava para ela com um sorriso doentio, os olhos brilhando de uma insanidade que só a guerra e o ódio podiam alimentar.
- Ora, ora, ora, que cena comovente, minha querida sobrinha... – disse Bellatrix, com o tom carregado de desprezo. – Tens mesmo tão mau gosto como a tua mãe. Aliás, pior. Ela, pelo menos, teve a decência de casar com um Muggle. Mas tu... tu escolheste um lobisomem.
Tonks sentiu a raiva a consumir-lhe o corpo, ardendo tão fortemente quanto a dor da perda. Levantou-se de repente, os olhos faiscando de ódio. Apontou a varinha diretamente para Bellatrix, o coração acelerado.
- Não me chames sobrinha, sua víbora nojenta. – As palavras saíram-lhe com fúria contida. – Não sou sobrinha de Devoradoras da Morte. Nunca fui!
Bellatrix riu-se, fria e cruel, como uma serpente a sibilante.
– Ora, que resposta tão previsível. Mas, minha querida Nymphadora, parece que o teu adorado lobisomem já se foi... – Olhou de relance para o corpo de Remus e voltou a encarar Tonks com um sorriso de escárnio. – Tão patético, não achas? Morreu como um animal. E tu? Ficaste aqui, a chorar como uma idiota, enquanto o teu mundo ruía à tua volta.
Tonks sentiu o sangue ferver. O ódio que crescia dentro de si era quase insuportável. Mas Bellatrix não parava. A sua voz tornou-se ainda mais venenosa.
- E sabes o que é mais divertido, querida? A minha adorada irmãzinha, a tua mãe, Andrómeda, vai acabar sozinha no mundo. O Muggle dela já está morto. E agora... – O sorriso de Bellatrix alargou-se, cruel. – Vai perder a sua única filha. Vai ficar só... com um bebé com sangue de lobisomem. Queres um final mais feliz? Nem eu o poderia imaginar.
Tonks estava pronta a lançar o feitiço que tinha nos lábios, com a raiva a cegá-la por completo. Porém, Bellatrix foi mais rápida:
- Avada Kedavra!
O jato de luz verde atravessou o ar e atingiu Tonks no peito. Por um breve instante, todo o mundo dela se apagou. A dor, o ódio, o desespero... tudo desapareceu, e a escuridão envolveu-a.
O corpo de Tonks caiu ao lado de Remus, o rosto ainda manchado pelas lágrimas, mas agora imóvel, sem vida.
Bellatrix soltou uma gargalhada de loucura pura, e virou-se, saindo a cantarolar, enquanto o caos da batalha continuava a rugir ao seu redor.
Naquele canto esquecido da batalha, o mundo silenciou-se. Remus e Tonks, lado a lado, na morte como na vida, os seus corpos agora em paz no meio do caos. A última promessa de Remus cumprida – partiu com ela ao seu lado.
