N/A – Não me conformo com o final Canon. Então, apesar de ser a favor de respeitar o Canon, resolvi dar-lhe a volta no final. Uma espécie de pós-Canon.
O Feitiço da Esperança
Chegou o dia do enterro dos heróis abatidos na Batalha de Hogwarts. Esta tinha terminado, mas o castelo ainda estava imerso num silêncio pesado, apenas interrompido por soluços e palavras de consolo sussurradas. Harry Potter caminhava pelos corredores, cada passo uma lembrança do que fora perdido. Havia dito adeus a Fred, a Colin Creevey, a tantos outros... e, agora, estava diante dos túmulos abertos de Remus e Tonks.
Ajoelhou-se ao lado deles, com os olhos ardendo com lágrimas que não conseguia mais conter. Remus, com o rosto tranquilo, como se estivesse em paz pela primeira vez em muito tempo. Tonks, com o cabelo de um castanho suave, como se tivesse abandonado a luta e finalmente se tivesse entregado ao descanso.
- Desculpem. – Sussurrou Harry, com a voz embargada. – Lamento tanto... Eu devia ter feito mais, devia ter...
Foi então que ouviu passos suaves a aproximar-se e, ao levantar o olhar, viu Luna Lovegood. Parecia serena, quase etérea, como sempre, mas havia uma dor profunda nos seus olhos. Atrás dela, vieram Neville, Ron e Hermione, todos com expressões graves.
- Harry, - disse Luna suavemente, ajoelhando-se ao lado dele. - Eles lutaram por um mundo melhor, e agora eles estão juntos.
- Eu sei. – Murmurou Harry. – Mas é injusto. Sofreram tanto para ficar juntos, o Lupin sofreu a vida inteira e agora, que estava feliz, casado com a Tonks e com um filho pequeno… É injusto. É muito injusto. O que vai ser do Teddy? Sou padrinho dele, vou fazer tudo ao meu alcance para que seja feliz, mas sei bem o que é crescer sem pais. Pais que morreram às mãos de Devoradores da Morte.
Neville engoliu em seco. Sabia bem do que Harry estava a falar. Tinha vivido uma situação idêntica. Mais parecida ainda com a de Teddy, que iria ser criado pela sua vó, Andrómeda. A única diferença é que ele, Neville, não tinha tido um padrinho amoroso e dedicado, como certamente Harry seria.
Harry não conseguia parar de cuspir as palavras de revolta, que tinha engasgadas na garganta:
- E a mãe da Tonks? Depois de tudo o que sofreu com a família Black, quando tudo lhe corria bem, de repente, o marido morre e, meses depois, morre a única filha e ela fica sozinha, com um bebé para criar. É injusto! É tudo muito injusto! - Gritou, entre lágrimas de raiva e dor. - Se pudesse voltar atrás no tempo e impedir as mortes deles… Mas até para isso já é tarde. É definitivo.
- Harry. - disse Luna suavemente, ajoelhando-se ao lado dele. - Eles lutaram por um mundo melhor. Agora, eles estão juntos, e é nesse mundo melhor que o Teddy vai crescer. Mas... sabias que, por vezes, há maneiras de mudar as coisas que achamos definitivas?
Harry piscou os olhos, confuso:
- O que queres dizer, Luna? Eles estão... mortos.
Luna olhou para os corpos de Remus e Tonks e depois voltou seus olhos brilhantes para Harry:
- Há uma magia antiga, muito rara. Poucos conhecem. Não se fala dela nos livros, nem nas histórias contadas. É a chamadaMagia da Esperança. Só pode ser usada em casos muito raros, para corrigir mortes muito injustas e com graves consequências. Este parece-me ser um caso que se enquadra nessa possibilidade. Sabes, é que o feitiço só pode ser utilizado para trazer de volta duas pessoas, que morreram nas mesmas circunstâncias, num curto espaço de tempo e perto uma da outra, e que estavam unidas por um laço muito forte, como o amor. Além disso, aqueles que partiram têm de aceitar regressar.
Ron franziu o sobrolho, dando um passo à frente.
- Luna, estamos todos destroçados, mas... magia para trazer os mortos de volta à vida? Isso não é possível. Nem a pedra da ressurreição consegue isso. O próprio Dumbledore dizia que...
- Dizia que não havia feitiços que pudessem ressuscitar os mortos, - completou Hermione, parecendo dividida entre ceticismo e esperança. - Mas, se existir mesmo uma forma...
Neville deu um passo à frente, com a expressão determinada:
- Devemos tentar, se existe uma hipótese. Eles merecem. E o pequeno Teddy também. Também fui criado pela minha avó. Não é a mesma coisa. O Teddy merece crescer com os pais.
Luna assentiu, os olhos fixos nos de Harry:
- A chave é o amor, Harry. Tens de acreditar que existe esperança, mesmo quando tudo parece perdido. E... precisas da varinha de sabugueiro.
Harry engoliu em seco. A varinha de sabugueiro, o artefacto mais poderoso de todos, estava agora com ele, embora ele tivesse decidido escondê-la. Ainda assim, se houvesse uma hipótese...
- Luna,- disse ele, com a voz trémula - o que tenho de fazer?
Luna levantou-se, segurando as mãos dele nas suas:
- Vamos ao Grande Salão. Precisamos de um círculo de dez pessoas que realmente os amavam. Pessoas que os recordam como eram, com todos os seus defeitos e virtudes.
Os amigos moveram-se em silêncio, guiando Harry até o Grande Salão. Lá, formaram um círculo ao redor dos corpos de Remus e Tonks. Harry fez sinal a todos os outros presentes que fizessem o mesmo. Mesmo sem saber o que se ia passar, julgando tratar-se de uma homenagem ao casal de heróis, todos se reuniram em círculo, desde Andrómeda, mãe de Tonks, com Teddy ao colo, até Madame Pomfrey, que cuidara tantas vezes de Remus quando era estudante e mesmo professor em Hogwarts, passando por uma multidão de alunos, que tinham Lupin como o seu professor favorito de sempre. A emoção que deles emanava em relação ao casal cujos corpos jaziam na sua frente era tão forte que algo se transformou dentro deles. Mesmo que não os tivessem avisado, no fundo, sabiam o que ia acontecer.
Luna colocou um pequeno ramo devisgo-triste, uma planta que só florescia em locais onde o amor havia triunfado sobre a dor, no centro.
- Todos vocês – Começou ela, - têm de se lembrar de uma memória em que o Professor Lupin e a Tonks trouxeram alegria, conforto ou esperança. Algo que vos fez acreditar que a vida era mais do que guerra e sofrimento. Temos de unir essas memórias, e então o Harry usará a varinha para canalizá-las.
Harry respirou fundo e fechou os olhos. Ele pensou nas aulas com Remus, no Patrono Corpóreo que aprendera a conjurar. Pensou no riso de Tonks, na maneira como ela sempre encontrava uma forma de fazer todos rirem, mesmo em meio à escuridão.
Ron deu um passo à frente, a voz emocionada:
- Lembro-me da vez em que conheci a Tonks. Ela tropeçou numa uma mesa na casa do Sirius e derrubou chá em cima mim. Fiquei furioso, mas ela riu tanto que eu não consegui evitar rir também. Ela trouxe um pouco de leveza para todos nós.
Hermione, com lágrimas nos olhos, acrescentou:
- Remus foi o melhor professor de Defesa Contra as Artes das Trevas que tivemos. Ele mostrou-nos que os monstros nem sempre são o que parecem e que, mesmo com todas as dificuldades, podemos ser bons.
Neville olhou para os corpos e disse:
- O Professor Lupin deu-me importância quando ninguém mais dava. Eles lutaram por nós. Lutaram para que tivéssemos um futuro. E eu nunca os esquecerei.
Aos poucos, todos os presentes foram recordando momentos que lhes encheram o coração de amor.
Luna, com a varinha dos anciãos em mãos, deu-a a Harry:
- Agora, pensa neles como eles eram. Não como guerreiros, mas como pessoas que amavam, que se preocupavam, um com o outro e com os outros.
Harry, com lágrimas a escorrer pelo rosto, apontou a varinha para o ramo devisgo-triste. Murmurou palavras antigas, palavras de poder e amor, sentindo o calor das lembranças e do carinho de todos ao seu redor.
Uma luz dourada começou a emanar do ramo, espalhando-se pelo círculo, envolvendo os corpos de Remus e Tonks. Por um momento, o mundo pareceu parar. O silêncio foi quebrado apenas pelo som da respiração pesada de todos.
Então, com um brilho ofuscante, a luz intensificou-se e, como se o tempo voltasse, Remus e Tonks abriram os olhos. A princípio, confusos, depois, reconhecendo as faces ao redor.
Tonks olhou para Harry, depois para Luna, e riu, com a voz rouca e hesitante.
- Então... estamos... vivos?
Remus, ainda atordoado, segurou a mão dela, como se não acreditasse:
- Eu... não sei como, mas parece que sim."
Harry, chorando e rindo ao mesmo tempo, ajoelhou-se ao lado deles, abraçando-os:
- Vocês voltaram. Não sei como, mas... estão aqui.
Tonks devolveu-lhe o abraço, com os olhos brilhando de lágrimas e gratidão:
- Obrigada, Harry. Obrigada a todos vocês.
Remus apenas sorriu, aquele sorriso cansado e amável que sempre tinha, olhando para cada um deles:
- Vocês deram-nos um presente que nunca poderemos retribuir. Obrigado.
Luna, com seu sorriso suave, disse:
- O amor encontra formas de sobreviver, mesmo quando achamos que ele foi perdido. Vocês mereciam mais tempo juntos. E com o vosso filho também.
Com uma explosão de alegria, o grupo ajudou-os a levantar-se. O casal abraçou-se, cheio de amor, enquanto Andrómeda corria para eles, com Teddy nos braços. Ao vê-los, Tonks deixpu escapar um grito de alegria, e abraçou a mãe e o filho. Remus juntou-se ao abraço e os três adultos choraram de felicidade, enquanto o pequeno Teddy se entretinha a enrolar uma madeixa do seu cabelo, que assumira um leve tom esverdadeado.
Havia lágrimas e risos misturados, mas, acima de tudo, havia esperança. Agora, Remus e Tonks podiam ver o seu filho crescer, podiam ser felizes num mundo melhor que ajudaram a construir e que, apesar de tudo, ainda acreditava no poder do amor.
E, ali, no Grande Salão, onde tantas batalhas haviam sido travadas, onde tantas vidas foram transformadas, a magia da esperança brilhou mais fortemente do que nunca.
FIM
