Após a aceitação da missão por mim e por Luisa, os chefes de polícia esboçaram sorrisos discretos, claramente aliviados. Nikolai Ivanov foi o primeiro a falar, com um tom sério, mas também de gratidão.
– Agradecemos profundamente sua ajuda, Cavaleiros. Sabemos que esta missão não será fácil, e sem vocês, seria impossível lidar com essas forças. – Ele olhou para Stavros Demetriou, que assentiu antes de continuar.
– Sim, sua presença é essencial – completou Stavros. – E agora, vamos explicar como tudo funcionará.
Ele puxou um bloco de notas e se aproximou da mesa, indicando que estávamos entrando na fase prática do planejamento.
– Vocês serão apresentados como recém-casados, em lua de mel – disse Stavros. – O cruzeiro que irão é famoso por atrair a elite, e isso ajudará a justificar suas presenças. Milo, você será um advogado de um dos maiores escritórios de advocacia da Grécia. Luisa, você será uma médica respeitada de um renomado hospital particular.
Eu e Luisa trocamos um breve olhar. O disfarce fazia sentido, e o papel de recém-casados ajudaria a justificar nossa proximidade constante, sem levantar suspeitas.
– Vamos precisar de seus sobrenomes para os documentos que vamos forjar – continuou Nikolai, pegando uma caneta. – Milo, qual sobrenome você usará?
Eu pensei por um breve momento, antes de responder de forma firme e clara.
— Kallas. Milo Kallas.
Nikolai anotou rapidamente e então voltou seu olhar para Luisa, que se manteve impassível sob a máscara.
– E o seu, senhorita?
Luisa hesitou por um segundo, mas logo respondeu com a mesma firmeza.
– Garcês. Luisa Garcês.
Os dois chefes de polícia assentiram e continuaram a escrever. O disfarce estava tomando forma.
– Além dos documentos, vocês terão total suporte da nossa equipe – explicou Stavros. – Estaremos monitorando tudo de perto. Vocês usarão escutas o tempo todo, e nós daremos as instruções conforme a missão avançar. Não estarão sozinhos.
– Vocês ficarão em uma cabine no cruzeiro – completou Nikolai. – E nos quartos ao lado, ficarão nossos agentes. Um dos quartos será uma espécie de sala de controle da operação, com monitoramento em tempo real. Qualquer coisa que precisarem, é só pedir.
Eu assenti, reconhecendo a seriedade da situação e a estrutura que haviam preparado. Ao meu lado, pude sentir a tensão de Luisa diminuir um pouco, embora o desafio ainda estivesse claramente em sua mente.
– Entendido – respondi, minha voz carregada de determinação. – Estamos prontos para o que for necessário.
Luisa fez um leve movimento de cabeça, concordando silenciosamente.
– E lembrem-se – concluiu Stavros. – A chave aqui será a discrição. Vocês precisam agir naturalmente como recém-casados, sem levantar suspeitas. A organização é perigosa, e qualquer movimento em falso pode colocar tudo a perder.
– Confiamos em vocês – finalizou Nikolai, com um tom sério. – Agora, resta a preparação final.
O peso da missão já estava sobre nossos ombros, mas tanto eu quanto Luisa estávamos prontos para enfrentar o que viesse.
Nikolai Ivanov, após conferir suas anotações, levantou a cabeça e olhou diretamente para mim e Luisa.
– O próximo cruzeiro sairá em 10 dias — ele começou, sua voz firme. – Isso nos dá tempo para ajustar todos os detalhes e garantir que a operação seja perfeita. Nos próximos dias, voltaremos para acertar as particularidades, como as escutas que vocês usarão.
Stavros Demetriou completou:
– Também daremos a vocês o perfil de algumas pessoas que podem ser alvos da organização no cruzeiro. Precisamos que fiquem de olho em qualquer comportamento suspeito. Esse é o período ideal para vocês se prepararem e se familiarizarem com os papéis que irão desempenhar.
Assenti com a cabeça, sentindo o peso da responsabilidade aumentar a cada nova informação. Ao meu lado, Luisa, com sua postura rígida e máscara firme, manteve a mesma concentração, absorvendo todos os detalhes.
Foi então que Athena se levantou de sua cadeira. Seu olhar era calmo, mas cheio de determinação, irradiando uma presença tranquilizadora que preenchia a sala.
– Milo, Luisa – disse ela, sua voz suave, mas cheia de poder. – Quero que saibam que vocês não estarão sozinhos nessa missão. Os demais Cavaleiros de Ouro estarão em prontidão. Se houver qualquer emergência, vocês poderão contar com o apoio deles.
O Grande Mestre também se ergueu ao lado de Athena, cruzando os braços com expressão séria.
– Nós organizamos uma estrutura de apoio. Se algo der errado, a ajuda chegará rapidamente.
As palavras do Grande Mestre reforçaram a importância da missão e a confiança que o Santuário tinha em nossa capacidade de lidar com a situação. Contudo, saber que teríamos suporte dos Cavaleiros trouxe uma sensação de segurança.
Eu e Luisa trocamos olhares mais uma vez. Não hesitamos em aceitar a missão, e agora sabíamos que, além de contarmos um com o outro, também tínhamos o apoio total do Santuário e de Athena. A sensação de responsabilidade era imensa, mas estávamos prontos.
Athena finalizou:
– Nos próximos dias, descansem, treinem e estejam preparados. Vocês enfrentarão não apenas humanos, mas criminosos que, de alguma forma, despertaram o Cosmo. Não subestimem essa missão.
Luisa, sempre quieta, fez um leve aceno de cabeça em concordância. Eu, por minha vez, respondi diretamente:
– Não falharemos, Athena. Estaremos prontos.
Com isso, a reunião parecia encerrada, e sabíamos que estávamos entrando em uma missão delicada.
Shion se aproximou dos chefes de polícia após a reunião, erguendo suavemente uma das mãos enquanto os fitava com seriedade. Stavros e Nikolai trocaram olhares, claramente surpresos, mas entenderam que estavam prestes a presenciar algo extraordinário.
– Estão prontos? – perguntou Shion calmamente.
Os dois chefes de polícia assentiram, e, em um piscar de olhos, Shion invocou o poder do teletransporte. Uma leve aura dourada os envolveu, e então, num instante, eles desapareceram da sala, como se nunca tivessem estado ali.
Assim que o ambiente se acalmou, Athena, ainda de pé, se voltou para mim e Luisa. Seus olhos brilhavam com determinação enquanto ela se aproximava.
– Milo, Luisa – começou ela com suavidade, porém firmeza. – Vocês têm dez dias até o início da missão. Quero que usem esse tempo com sabedoria. Familiarizem-se com os papéis que deverão desempenhar e, acima de tudo, encontrem maneiras de serem convincentes como um casal recém-casado.
Senti o peso dessas palavras, entendendo a importância de cada detalhe para a missão ser um sucesso. Luisa permaneceu em silêncio ao meu lado, sua máscara ocultando qualquer emoção visível, mas seu Cosmo vibrava levemente, indicando que ela estava atenta a cada palavra.
– Vocês também precisarão se adaptar ao estilo de vida das pessoas de classe alta – continuou ela. – Serão um advogado renomado e uma médica de prestígio. Isso não é apenas sobre comportamento; é sobre aparência, postura, tudo.
Athena estendeu a mão, e em sua palma havia um cartão dourado reluzente. Ela nos entregou com um olhar firme, que denotava sua total confiança.
– Lembrem-se, vocês serão pessoas de classe alta e precisam estar à altura. Usem este cartão para irem ao shopping e adquirirem roupas de marca. Queremos que tudo seja o mais convincente possível. Cada detalhe importa.
Peguei o cartão, sentindo sua superfície fria e metálica. Luisa se manteve ao meu lado, erguendo levemente o queixo como quem compreendia completamente o que estava em jogo. Não era apenas uma missão de combate; era um teste de disfarce, sutileza e precisão.
– Entendido, Athena – respondi, com um leve aceno. – Faremos o que for necessário.
Luisa, sempre reservada, fez um leve aceno com a cabeça, sinalizando sua concordância.
Athena esboçou um pequeno sorriso antes de dar um passo atrás, encerrando a conversa.
– Confio em vocês. Preparem-se bem.
A sala estava em silêncio, apenas o som leve do vento entrando pela janela preenchia o espaço. Fiquei parado, absorvendo tudo o que ouvimos. A missão, os disfarces, o perigo — tudo parecia grande, talvez até maior do que o esperado. Cruzei os braços e olhei para o chão, pensando em cada detalhe que precisaríamos enfrentar. Ao meu lado, Luisa permanecia imóvel, mas eu podia sentir a intensidade das emoções dela. Seu Cosmo oscilava de forma sutil. Mesmo atrás da máscara, sabia que ela também estava processando tudo.
Suspirei e levantei o olhar para ela.
– É muita coisa para processar de uma só vez – falei, tentando manter a calma, embora sentisse a tensão no ar. – Essa missão vai exigir muito de nós, não só como cavaleiros, mas como... parceiros — continuei. Precisaríamos ser mais que aliados. Desta vez, teríamos que nos passar por um casal.
Luisa deu um passo à frente, quebrando o silêncio.
– Eu sei – respondeu com a voz firme e calma. – Temos dez dias. É tempo suficiente para nos prepararmos.
Assenti, admirando sua postura decidida. Ela sempre foi assim: controlada, forte, pronta para qualquer desafio. Mas desta vez, eu sabia que seria mais complicado do que qualquer batalha direta. A sutileza, a necessidade de nos infiltrarmos... tudo isso exigiria outro tipo de força.
– Acho que precisamos de um pouco de ar... e talvez um lugar mais tranquilo para conversarmos sobre o que faremos a seguir – sugeri, tentando aliviar a tensão. – Vamos até o meu templo. Lá podemos pensar com mais clareza.
Ela me encarou por um instante antes de concordar com um leve aceno. Sabia que ela entendia a importância de estarmos em sintonia, especialmente numa missão como essa.
– Vamos – respondeu, direta como sempre.
Abri a porta, gesticulando para que ela seguisse primeiro. Enquanto caminhávamos para fora da sala, a gravidade da missão parecia ficar ainda mais real. Mas no templo de Escorpião, teríamos o tempo e o espaço para planejar, nos preparar e, acima de tudo, nos conectar para enfrentar o que viesse.
Chegamos à Casa de Escorpião, e conforme atravessamos o salão, percebo o olhar atento de Luisa, mesmo ela estando de máscara. Ela observava cada detalhe. Não era surpresa que ela estivesse tão atenta. A Casa de Escorpião refletia quem eu era, em todos os sentidos.
Enquanto andávamos, os passos dela eram quase inaudíveis, mas eu sentia sua presença. Luisa parecia estar absorvendo tudo, como se tentasse entender mais de mim pelo espaço ao meu redor. Assim que entramos na parte externa ela seguiu observando tudo.
– Parece que este lugar foi feito para você – ela comentou, com a voz calma e introspectiva.
Dei um meio sorriso. Era verdade. A Casa de Escorpião refletia muito do meu próprio caráter: forte, mas contido, perigoso para quem não soubesse respeitar os limites.
Ela assentiu em silêncio, olhando ao redor, analisando cada detalhe, como se estivesse tentando ler as paredes, o ambiente.
Finalmente, me virei para ela indicando um dos sofás para que ela se sentasse. Não queria parecer autoritário, mas havia uma distância que mantínhamos — algo profissional, talvez necessário, considerando a missão e o disfarce que teríamos que assumir. Quando ela se acomodou, fui até o sofá oposto e me sentei, observando-a de frente.
O ambiente estava silencioso. Apenas o som leve de nossa respiração preenchia a sala. Sabíamos que o que vinha a seguir era crucial. Precisávamos nos conhecer melhor, nos entender, não só como guerreiros, mas como as pessoas que agora deveríamos fingir ser.
Cruzei os braços, me encostando no sofá, tentando quebrar o gelo.
– Acho que o primeiro passo é nos familiarizarmos com nossos papéis. Não vai ser fácil para nenhum de nós, mas temos que parecer naturais... ou o disfarce não vai funcionar.
Luisa me observava por trás da máscara. Ela cruzou as pernas de forma relaxada, mas sua postura ainda era cuidadosa, como sempre. Foi então que ela quebrou o silêncio.
– Você tem ideia de por onde começamos com esse disfarce de agir como um casal? – sua voz era tranquila, mas havia um tom direto na pergunta, como se quisesse ir direto ao ponto.
Eu sabia que ela não era do tipo de pessoa que gosta de perder tempo. Também não sou. Suspirei levemente, levantando-me do sofá e caminhando até a janela. Olhei para o horizonte, pensando. Era uma pergunta simples, mas a resposta, nem tanto.
– Bom, para começarmos – falei, virando-me para ela novamente –, precisamos aprender a nos comportar como um casal que acabou de se casar e está em lua de mel. Isso significa que... temos que parecer íntimos, naturais um com o outro. Nada forçado. E... – fiz uma pausa, procurando as palavras certas – precisamos construir essa proximidade sem que pareça falso, porque qualquer desvio vai chamar atenção.
Luisa assentiu, mas continuava me observando atentamente.
– Não vai ser fácil – ela comentou. – Somos colegas, cavaleiros... mas agir como um casal é diferente.
– Exatamente. – Voltei a sentar, mais inclinado para frente dessa vez. – A primeira coisa que vem à mente é que deveríamos nos acostumar a gestos simples. Coisas que casais fazem naturalmente. Tocar no ombro, talvez segurar as mãos em alguns momentos…
– Podemos começar tentando isso. – Ela falou calmamente, mas ainda assim direta. – Mas não podemos forçar nada. Se tentarmos forçar, vai ficar óbvio para qualquer um que estamos atuando.
– Concordo. – Abaixei a cabeça por um momento, refletindo. – E para isso, precisamos confiar um no outro. Mais do que o normal. O que acha?
– Eu confio em ti, Milo – ouvi ela responder, decidida.
– Eu confio em você também – respondi, tentando manter a firmeza na voz. A confiança mútua seria crucial para o sucesso da missão.
Ela fez uma pausa, como se estivesse refletindo sobre o que dizer em seguida, e então continuou: – Acho que devemos também saber mais coisas pessoais um sobre o outro... Ou, pelo menos, o que julgamos necessário.
Luisa tinha razão. Para convencer a todos de que éramos um casal recém-casado, seria necessário mais do que apenas aparência. Precisaríamos de histórias, detalhes e uma familiaridade que pudesse passar por verdadeira.
– Precisamos de uma história convincente de como nos conhecemos – ela sugeriu, voltando-se para mim.
– Talvez possamos criar algo que tenha uma certa conexão com quem realmente somos, mas que também funcione com nossas identidades falsas. – Eu sugeri, olhando diretamente para Luisa. – Poderíamos dizer que há dois anos, eu sofri um acidente grave, e você foi a médica que cuidou de mim. Como fiquei internado por um bom tempo, nossa ligação surgiu aos poucos.
Por um momento, ela parecia refletir sobre a ideia, e em seguida concordou com um leve aceno de cabeça. – Sim, isso faria sentido. A convivência diária no hospital... a confiança entre médico e paciente que, aos poucos, se transforma em algo mais.
No entanto, assim que ela terminou de falar, notei uma mudança sutil em sua postura. Seus ombros se retesaram levemente, e o ar ao nosso redor pareceu ficar mais pesado. Embora sua máscara escondesse suas expressões faciais, o jeito como ela desviou o rosto foi o suficiente para perceber que havia tocado em algo delicado.
– Luisa… – comecei a falar, tentando ser cuidadoso. – Eu percebi que isso pode ter trazido lembranças difíceis. Se não quiser seguir com essa história, podemos pensar em outra coisa.
Ela balançou a cabeça suavemente. – Está tudo bem, Milo. – Sua voz soou calma, mas havia uma tensão nela que não passou despercebida. – É uma boa história, Milo. Na verdade, é bem parecida com o que realmente aconteceu – a voz de Luisa soou mais baixa, e vi que algo mudou em sua postura. – A única diferença é que eu... eu não fui a pessoa que cuidou de você.
Aquele tom triste me pegou de surpresa. Suas palavras, embora calmas, tinham um peso que não consegui ignorar. Notei como ela inclinou ligeiramente a cabeça para o lado, desviando o olhar de mim, e a forma como seu corpo ficou tenso no sofá. A máscara escondia suas expressões, mas suas mãos, antes repousadas de forma relaxada, agora estavam entrelaçadas com força.
Fiquei intrigado. Por que ela estava tão abalada? Será que minha morte junto ao Muro das Lamentações a afetou mais do que eu imaginava? Não éramos tão próximos assim, então, não fazia muito sentido que minha ausência tivesse mexido tanto com ela. Enquanto essas perguntas passavam pela minha cabeça, observei-a em silêncio.
Havia uma estranheza naquele momento, algo que eu não estava captando de imediato, mas que me incomodava. E então, lentamente, a resposta começou a se formar na minha mente. A tensão de Luisa não tinha a ver comigo, mas sim com outra pessoa... alguém que ela perdeu de forma brutal e que, sem dúvida, deixou uma marca profunda.
Aldebaran.
Foi então que entendi. A nossa história falsa, o acidente e o fato de ela ser "minha médica" haviam trazido lembranças dolorosas para ela. Aldebaran tinha sido muito mais que um colega para Luisa. Eles eram próximos, amigos íntimos, quase como se fossem irmãos. E a morte dele... claro, agora tudo fazia sentido.
Luisa estava associando a nossa história inventada ao que de fato aconteceu com Aldebaran. O sofrimento dela não era por mim, mas por ele. E a ideia de reviver uma dor que ainda estava fresca, mesmo que de forma indireta, a deixava assim... vulnerável.
Por um momento, desejei dizer algo para confortá-la, mas as palavras pareciam inadequadas. Eu não sabia o quanto aquilo ainda doía para ela. Só podia imaginar.
Mais uma vez, o silêncio se fez presente entre nós, como se o ambiente estivesse absorvendo nossas palavras e emoções. Luisa parecia refletir, suas mãos agora descansando sobre os joelhos, os dedos entrelaçados de forma nervosa. Finalmente, ela quebrou o silêncio, sua voz suave, mas carregada de peso emocional.
– A morte de vocês no Muro das Lamentações foi dolorosa para todos nós – disse, com um tom que evocava uma tristeza profunda. – Os meses que se seguiram foram difíceis. Eu vi como os cavaleiros de bronze pareciam, mesmo sem dizer nada, se culpar pela morte de vocês. – Ela fez uma pausa. – O Shun... – continuou, sua voz agora quase um sussurro. – Ele se culpava por ter deixado Hades tomar conta dele. E Marin... eu nunca imaginei que ela pudesse se afundar em tristeza pela morte de Aiolia. Aquilo me surpreendeu. Marin sempre foi tão forte.
Aquelas palavras ressoaram em mim. Luisa estava certa, tudo isso havia deixado cicatrizes profundas, marcas que não desaparecem facilmente.
– Mas então – Luisa prosseguiu, tomando um ar profundo –, quando Athena os trouxe de volta à vida, tudo mudou. Agora, estamos vivendo uma nova realidade no Santuário. Podemos nos relacionar, como se fôssemos mais do que apenas guerreiros. A lei das Máscaras foi revogada, e isso trouxe um alívio.
Ela fez uma pausa, como se estivesse tentando organizar seus pensamentos.
– Nós somos treinados para lidar com a morte a todo instante, mas isso, na teoria, é uma coisa. Na prática, é totalmente diferente – disse, com um leve tremor na voz. – Porque nós somos seres humanos e possuímos sentimentos.
As palavras dela ecoaram em minha mente, e percebi como a fragilidade humana era muitas vezes ignorada em meio a batalhas e lutas. Era um lembrete poderoso de que, mesmo sendo guerreiros, éramos, antes de tudo, pessoas. Aqueles momentos de dor, tristeza e perda nos moldaram de maneiras que muitas vezes não conseguimos expressar.
– Você tem razão, Luisa. – Falei suavemente, admirando sua força em discutir esses sentimentos.
Luisa pareceu se recuperar do momento de vulnerabilidade, e, respirando fundo, desviou o olhar para o chão, como se quisesse se ancorar novamente na realidade.
– Desculpe por isso – disse, erguendo o rosto em minha direção. – Eu não queria que isso se tornasse um desvio da nossa conversa. Precisamos nos concentrar na missão.
A determinação em sua voz era palpável, e eu admirei sua capacidade de mudar de foco, mesmo após um momento tão carregado de emoção. O senso de responsabilidade dela era inspirador, e eu percebi que isso era uma das muitas razões pelas quais a respeitava tanto.
– Você está certa – respondi, assentindo com a cabeça. – A missão é o nosso foco agora. Precisamos estar prontos.
– Temos mais alguns pontos a discutir. Precisamos saber nossas idades. Reais ou inventadas, isso precisa estar alinhado. O que você acha?
Pensei por um momento. As idades reais poderiam complicar as coisas, especialmente se nos questionassem sobre o passado. Inventar uma poderia ser mais seguro.
– Você tem razão. Inventar uma idade seria mais coerente para o que estamos tentando fazer. Que tal decidirmos que temos 25 anos?
– Ótima ideia! Assim, somos jovens, mas não tão inexperientes. Isso dá uma boa imagem de um casal que começou a vida profissional e está desfrutando a vida.
Depois de um longo tempo discutindo os detalhes, tanto eu quanto Luisa nos sentimos satisfeitos com o que havíamos planejado. Havíamos alinhado os aspectos principais — idades, gostos pessoais, a história do acidente — e sabíamos que ainda faltava muita coisa a ser acertada, mas a base estava bem estabelecida. Aos poucos, iríamos planejando o resto.
O silêncio que se seguiu foi mais leve dessa vez, quase como um sinal de que ambos sabíamos que estávamos no caminho certo. Luisa se levantou do sofá, ajeitando a máscara que cobria seu rosto. Seu corpo estava tenso no início, mas agora parecia mais relaxado.
– Acho que por hoje avançamos bastante. Ainda falta muito a ser feito, mas vamos ajustando as coisas conforme avançamos – ela disse, sua voz calma.
– Sim, estamos no caminho certo. Devemos revisar alguns detalhes nos próximos dias, mas estamos prontos para começar a atuar como um casal, pelo menos na teoria.
Depois de um breve momento de silêncio, ela se virou para mim.
– Eu vou me despedir por hoje. Tenho que voltar para casa e organizar algumas coisas antes da missão.
– Claro, Luisa. Tenha um excelente restante de dia – respondi.
Ela fez uma breve pausa antes de sair.
– Milo... obrigada por hoje. Sei que ainda temos uma longa jornada pela frente, mas sinto que podemos fazer isso juntos.
– O sentimento é mútuo. Nos vemos em breve.
Quando ela se foi, o ambiente ficou em silêncio novamente. Havia um peso no ar, mas ao mesmo tempo uma leveza que não estava presente antes. Sabíamos o que nos esperava, e a missão estava apenas começando.
Milo POFF
