Koga, ao ver Kanon descer as escadarias e sabendo que ele partiria do Santuário, sentiu o chão desaparecer sob seus pés, ao mesmo tempo que uma dor arrebatava seu coração e alma. Sem mais conseguir conter, deixou que o pranto rolasse livre, quem sabe assim suas lágrimas levassem embora sua dor. Mas, isso era apenas uma vontade.

Viu o geminiano desaparecer de sua vista e precisou conter a enorme vontade de ir atrás dele e pedir para que ele ficasse, que o perdoava, mas também sabia que se fizesse isso, Kanon não mudaria. Ficar esse tempo separado talvez fosse melhor para ambos...ou não.

Shaka, que observava tudo, sentiu a enorme dor que sua hóspede sentia e se compadeceu. Se aproximou e, para surpresa de Koga, a abraçou. A virginiana sentiu um conforto tão grande ali nos braços do dourado, que não tentou reprimir seu choro, pelo contrário, deu mais vazão à ele, chegando a soluçar.

O indiano esperou que a morena se acalmasse e quando isso aconteceu ele afastou um pouco o corpo, fitando os olhos ametistas inchados e vermelhos de Koga e segurou com as duas mãos o rosto moreno fazendo-a encará-lo. Shaka sorriu timidamente sem tirar os olhos dela, fazendo um leve carinho nos cachos negros e assim, falando com calma e candura tentou consolar seu coração:

— Tereza, lembre-se de uma coisa, hoje você consegue apenas enxergar a escuridão profunda da tristeza, porém o tempo é um grande sábio, logo, logo, seus olhos irão encontrar a luz e quando a enxergar, siga por ela com determinação e coragem pois dela sairá ainda mais forte.

Koga o olhou sem dizer nada, compreendeu o que ele quis dizer e sabia que ele estava certo. Deu um sorriso tímido em resposta, se desvencilhou do abraço e antes de voltar para dentro de virgem, olhou uma última vez o caminho que Kanon havia tomado, fechando os olhos logo em seguida, voltando-se para o guardião de Virgem que a aguardava logo acima.

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Saori mal conseguiu dormir, eram vários sentimentos contraditórios dentro de si. Mesmo assim, permaneceu sentada na cama de seu quarto refletindo em tudo o que havia acontecido.

Após um longo tempo assim, tomou uma decisão. Levantou subitamente, abrindo um sorriso largo e animado, emanou seu cosmo falando telepaticamente com Luisa, Koga, Calisto, Marin, Shina e June, pedindo para que elas a esperassem prontas pois teriam uma surpresa. Depois que elas aceitaram, Saori sentiu-se um pouco mais calma e conseguiu enfim adormecer tranquilamente.

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Calisto dormiu mal e muito pouco, pois já estava de pé e de banho tomado antes de Marie chamar ela e Camus para o almoço.

— Como se sente, mon Cher? – Camus olhava preocupado a hóspede que parecia pálida e com grandes olheiras.

— Ahm, acho que bem, apesar dos pesares, né Camyu. – Calisto com toda sua desorganização mental havia reparado em um detalhe sórdido. Por que cargas d'água, Camus de Aquário estava trajando um terno bem do lindo em pleno meio dia, num almoço comum do Décimo Primeiro Templo? A curiosa canceriana estreitou os olhos, ahhhhhhh, alguma coisa tinha ali, e aquele ruivo não lhe contou! Então se fazendo bem de besta, pegou uma batata da vasilha e colocou na boca direto, sabia que ele odiava que ela fizesse isso e ia torcer o nariz, e é claro, dito e feito.

— Mon Dieu, Calisto, non faça isso! – o garboso ruivo passou as mãos no próprio cabelo, aflito pela falta de compostura da amiga.

Ela então começou infantilmente a comer de boca aberta, havia acionado seu módulo insuportável, queria atazanar alguém, decidindo que aquele na sua frente seria seu alvo.

— Mas o que eu tô fazendo? – pegou outra batata e fez de novo a mesma coisa.

Camus então pegou a vasilha e com o garfo de servir colocou de forma brusca umas cinco batatas no prato dela, e logo se sentou de volta na cadeira se jogando de qualquer jeito, os olhos rubros se estreitaram vendo ela comer de boca aberta. Logo ela se soltou na cadeira e afastou o prato de perto de si.

— Não quero mais!

— Non, agora vai comer sim, já coloquei no seu prato!

— Estou satisfeita, não quero mais! – ela olhou para ele levantando uma sobrancelha, claramente o desafiando.

Os lábios finos do francês franziram. Aquela despeitada ia ver só, ele diminuiria o ar daquela casa deixando-a congelante, só não estava fazendo isso porque Marie estava um pouco gripada.

— Calisto, pelo menos duas batatas! – ele abriu os olhos vermelhos, já havia aproximado sua cadeira da dela, pegando o garfo e espetando uma batata. O que ela queria mais? Que ele fizesse aviãozinho?

— Não quero! – olhou pro lado oposto, com um bico.

— Marché Calisto! Quantos anos você tem, hein? – encostou a batata na boca dela que estava vedada com os próprios lábios.

— UIHUMmuhuHMHUHMUHM – ela fez alguns sons e ele foi sentindo a bochecha esquentar de raiva.

— Abra a boca, garota! – pegou um dedo e começou a forçar a mandíbula dela pra baixo.

— O que está acontecendo aqui? – Marie surgiu da cozinha vendo aquela cena ridícula, pareciam dois bebezões de quase trinta anos de idade. – Posso saber? – os olhos felinos da serva faiscaram.

Eles se olharam e apontaram um para o outro

— Foi ele que começou!

A serva sem acreditar, segurou a ponte do nariz negativando com a cabeça.

— Mon Dieu…

— Por que está agindo assim? – Camus retrucou com a voz mais alterada do que gostaria.

— Porque eu achei que era sua amiga, mas estou vendo que por aqui não dá pra confiar em ninguém, principalmente em vocês, cavaleiros de ouro! – ela cruzou os braços, fazendo um bico e sentindo sua vista marejar - Pronto falei!

Camus olhou para ela com uma interrogação enorme, do que ela estava falando?

— Calisto, não estou te entendendo. O que aconteceu que está colocando nossa amizade em jogo?

Na verdade nem ela mesma estava sabendo lidar com suas emoções, tudo estava acontecendo tão rápido que na verdade usou daquela criancice toda para descontar em Camus suas frustrações. Se fosse outro dia, ou se estivesse de bem com a vida, nada disso estaria acontecendo, se sentiu um pouco constrangida de ter feito aquela cena e até mesmo arrependida.

— Por que não me contou que ia para alguma festa? Está todo bonito, achou que eu não ia reparar? – disse, manhosa.

— Oras, mon ange, tudo isso por causa da minha roupa ou tem algo mais que eu deva saber?

Tinha, tinha um monte de coisas que havia acontecido, mas como toda boa canceriana ela ia trabalhar para guardar todas elas e fingir que nada aconteceu.

— É por causa da sua roupa sim! – mentiu para si mesma.

— Estou indo para a formatura da minha noiva. – ele disse, sério.

Calisto só não deixou o queixo cair no chão porque ainda estava grudado no seu rosto. Opa, opa, opa Camus de Aquario, deus ruivo está noivo?!

— Sua no-noiva?

— Oui. Mademoiselle Camille. – Marie completou toda satisfeita que aquela situação ridícula de alguns minutos atrás havia acabado, tirando os pratos da mesa.

— Made-sei-lá-o-que Camille? – Calisto falou meio abobada ainda com a afirmação da mais velha. – Camus, você nunca falou que tinha noiva, namorada …

— Calisto, faço isso até mesmo para a segurança dela. Quanto menos pessoas souberem, melhor, oui? – ele se levantou arrumando o visual. – Estou bem? – ele se virou para ela abrindo os braços e dando aquele sorriso de tirar o fôlego.

— Oui, mon ami, vai infartar a noiva desse jeito, assim não vai sobrar nada dela pra você casar. – Calisto e Marie riram, enquanto o aquariano ficou levemente encabulado.

— Bon, vou indo e Calisto. – ele se virou novamente em direção a mesa de almoço.

A castanha já havia se levantado e começava ajudar a juntar os pratos sujos do almoço.

— Hummm… – novamente se perdeu nos seu pensamentos.

— Eu, se fosse você, conversaria com Máscara da Morte. – ele lhe sorriu, contido. – Acho que depois de ontem, ele merece alguns minutos seus.

Ela parou seus movimentos, sentindo uma dorzinha aguda no peito, e olhou para Camus assentindo.

— Vou pensar, tá bem?

— Ótimo, até logo!

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Na outra dimensão, os pais de Luísa estavam no apartamento que a filha morava. O peso no coração de ambos era enorme, só de pensar que não mais a veriam era doloroso demais. Olhavam para tudo com tristeza, pois sabiam a luta da filha para ter seu cantinho.

César, o pai de Luisa, ao mesmo tempo que confortava a esposa, ajudava a encaixotar os pertences. Algumas coisas eles doariam e outras, guardariam.

Depois de várias horas, César e Lúcia terminaram a difícil tarefa. Os olhos da mãe da escorpiana marejavam ao dar uma última olhada para o apartamento, agora vazio, mas ela e o marido como eram espíritas sabiam que um dia se reencontrariam com a filha e a certeza disso, amenizava um pouco a dor de ambos.

Esse momento triste foi interrompido com a campainha tocando. César foi atender pois provavelmente era o corretor que havia vindo para pegar as chaves e averiguar se estava tudo em ordem. Assim que o pai de Luisa acertou tudo com o corretor, olhou para a esposa convidando-a para ir embora, o que foi prontamente aceito por ela.

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Luisa dormia um sono pesado quando acordou num rompante. Novamente sentia seu coração apertado e uma vontade imensa de chorar, não lutou contra essa vontade, deu vazão às lágrimas que saiam em abundância. Pedia internamente que elas levassem consigo toda aquela angústia e incerteza. Depois de se acalmar tentou voltar a dormir, mas a voz de Saori a fez despertar mais ainda. No fundo ficou até feliz pensando no que a deidade poderia estar aprontando nessa surpresa.

Levantou-se, trocou de roupa e foi ao encontro do dono da casa encontrando-o na varanda da casa de touro. Assim que sentiu a aproximação de sua hóspede, Aldebaran se virou para ela.

— Você está bem Luisa? – perguntou enquanto fazia um gesto pedindo que ela se sentasse ao seu lado

— Estou sim, Debas.

— E você e Milo, estão se entendendo?

A escorpiana mordeu o lábio inferior. Não queria incomodar o dourado com suas bobagens, então achou melhor mentir.

— Sim, estamos.

Aldebaran, que não era um cavaleiro de ouro à toa, sentiu que ela estava escondendo algo, mas como não queria ser invasivo resolveu respeitar o silêncio dela. Iria mudar o rumo da conversa até que foi surpreendido por uma pergunta que ela fez.

— Aldebaran, o que vocês têm feito desde que voltaram à vida? Digo, vocês estudaram e essas coisas?

— Ah sim, pequena. Primeiro Athena nos deu a opção de continuarmos aqui ou não, e depois como ninguém optou por sair, a deusa pediu que estudássemos. Eu, por exemplo sou Administrador de Empresas, Máscara da Morte se formou em Gastronomia e Milo, Direito.

— Nossa! Quem diria que Mask era gastrônomo, achei que ele era médico legista.

A fala da escorpiana fez com que o taurino risse alto, o que a contagiou e acabou por fazer o mesmo.

— Olha, era o que todos nós pensamos na época, e a escolha dele pegou a todos de surpresa. – riu mais um pouco.

— E os outros, qual a faculdade que cursaram?

E assim, o dourado citou um por um até a conversa ser interrompida com a chegada de Hyoga.

— E aí pato, o que conta de novo? – Aldebaran perguntou enquanto o aquariano sentava à frente deles.

— Nada de novo, vim saber como Luisa está depois da confusão. – respondeu olhando para a escorpiana

— Ah, eu estou bem. Acho que a Koga que não deve estar nada bem. Depois vou ver como ela está.

— É, eu imagino. Eu ainda não fui vê-la.

— Tadinha da minha amiga, ela não merecia isso. – falou quase num sussurro

— Gente! – Aldebaran entrou no assunto – Vamos parar de tristeza porque a vida é muito curta. Hoje se está triste, mas amanhã a felicidade bate à nossa porta.

O taurino já engatou numa conversa animada onde arrancou risos dos outros dois. Ele e Hyoga aproveitaram para perguntar para Luisa mais algumas coisas sobre os tais mangás e animes que contavam sobre a vida deles, o que ela respondia pacientemente.

E foi nesse mesmo instante, que lembrou-se do spin-off Episódio G Assassin, onde Hyoga era dono de um bar e uma luz se acendeu em sua mente. Olhou para o russo com um semblante curioso estampado no rosto.

— Tu já pensou em ter um bar, Hyoga?

— Um bar? – devolveu a pergunta com um semblante mais curioso que o dela.

— É… tu é russo. Na Rússia tem vodka que dá para fazer alguns drinks e essas coisas.

— E por causa disso você acha que sei fazer drinks? Só porque sou russo?

Luisa levou a mão até o queixo e olhou para cima, fingindo estar pensando, depois de alguns segundos voltou a olhar para o cavaleiro de Cisne.

— Sim!!! – respondeu numa empolgação que arrancou risos dos dois homens – Já sei! – falou empolgada – Por que vocês não abrem um barzinho?

Aldebaran e Hyoga se entreolharam e depois a olharam intrigados.

— Um barzinho? – perguntaram em uníssono.

— Sim... seria um máximo!!! Debas é Administrador de Empresas então, com certeza, sabe na teoria como fazer isso dar certo. E tu – apontou o dedo para o aquariano. – entra com sua experiência em drinks iguais os que tu fez no luau.

— Até que não seria má ideia – o cavaleiro de cisne falou – O que você acha?

— Acho que pode dar certo sim – respondeu o taurino com um semblante pensativo.

Assim, os três seguiram empolgados, conversando sobre a ideia de Luísa.

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Calisto ficou remoendo uma boa parte da tarde o que Camus havia lhe pedido. A canceriana não conseguiu focar em nada, não conseguiu ver televisão, nem ler, nem mesmo conversar com Marie, estava aflita por não saber o que fazer com a situação que estava vivenciando.

Lógico que estava apaixonada por Máscara da Morte, mesmo negando para si mesma, mas depois do que ele lhe falou todas suas esperanças haviam sumido, ela podia se fazer de boba quando queria, mas não era boba para ficar brigando por um amor que não era correspondido, ou que não queria ser correspondido. Então por que agora isso? Por que ele queria se reaproximar se ele mesmo tomou aquela decisão?

— Ai, Calisto… onde foi que se meteu mulher? – perguntava para si mesma.

Resignada e não aguentando mais os próprios pensamentos, resolveu encarar a situação e ir logo encontrar o cavaleiro e colocá-lo na parede.

Chegando na Casa de Câncer, Calisto passou os olhos castanhos nas pilastras com as cabeças penduradas, sentiu calafrios obrigando a se abraçar. Foi caminhando devagar para os fundos do Templo observando as faces mumificadas pelas mãos do homem que mexeu terrivelmente com seu coração. Como podia ser tão ambíguo? Como aquele homem que tirou tantas vidas inocentes de homens, mulheres e… Ela olhou para baixo vendo um rosto contorcido de uma criança de não mais que oito anos de idade.

— Pelos deuses… – colocou a mão no peito, engolindo em seco e parou de frente ao alçapão que dava para a ala residencial do guardião da Casa.

Se ajoelhou no chão passando os dedos delicadamente na madeira da porta. Depois que ficaram juntos, ele apresentou um lado que talvez pouquíssimas ou até mesmo, nenhuma pessoa conhecia. Um homem doce, carinhoso, protetor, engraçado… tudo que ela sempre almejou, porém se lembrou quando ele a machucou, sem nem mesmo conhecê-la, será que esse era o Máscara da Morte de verdade, aquele lado bom era falso, manipulado ao seu bel prazer?

Olhou para trás, com ganas de voltar e desistir daquela conversa, desistir dele, colocar aquele assunto no fundo do poço e deixar pra lá. Sim, ela faria isso, deu meia volta rumando para a saída da Casa.

— Calisto? – aquela voz que não queria ouvir mais. – Calisto, está tudo bem? O que faz aqui? – Máscara da Morte caminhou até ela, que estava de costas paralisada, olhando para a saída da sua casa.

Sem olhar para ele, Calisto abaixou a cabeça fechando os olhos e umedeceu os lábios. Então, se virou devagar sem olhar no rosto dele.

— Eu só vim agradecer por ontem. Obrigada por ter me levado até Aquário, foi muita gentileza.

O italiano se aproximou ainda mais, ficando a poucos centímetros do corpo pequeno, ele passou a mão pelo queixo dela erguendo sua cabeça.

— Por que não quer olhar per me? – realmente, ela estava com os olhos virados para o lado.

— Eu... eu não consigo, Máscara… – falou triste.

— Não consegue o que? Per favore, ragazza, olha pra mim? – ele dizia levemente aflito.

Ela então olhou para ele, para aqueles olhos que tanto amava, para aquele rosto lindo, fechou os olhos deixando algumas lágrimas caírem sem dizer nada.

Máscara passou as mãos calejadas em seu rosto. Sua boca abria e fechava, droga por que era tão difícil falar, expor o que ele realmente sentia por ela? Ele só queria vê-la feliz e, mais uma vez, ela chorava diante de si.

— Calisto, non chora, per favore. Me diga o que está acontecendo, pelo amore da deusa. – ele a segurou e a abraçou fazendo um carinho em sua nuca, contudo aquele abraço não foi correspondido.

Ela estava confusa demais. Uma hora ele a machucava, outra hora a amava, outra hora a repudiava, outra hora a ajudava. O que ele realmente queria? Ela então empurrou com as duas mãos o peito do canceriano, fazendo-o se afastar.

— Perche? – ele perguntou ficando tão confuso quanto ela.

Calisto, então, mesmo com o rosto em lágrimas, mesmo tendo a mesma dificuldade que ele de expor seus sentimentos mais profundos, abriu a boca para finalmente fazer a pergunta que não se calava em sua mente.

— Por que… Por que pergunto eu Máscara da Morte, ou sei lá qual seja seu verdadeiro nome! – da tristeza para a irritação, Calisto olhou para ele franzindo as sobrancelhas. – Por quê?

— Perche... - continuou encarando ela, dando um passo para trás.

— Sim! – falou alto – Por quê? Por quê? Por que não pode ficar comigo? Por que está fazendo essa novela? – ela bateu o pé no chão, franzindo os lábios e depois olhando para ele – Não me venha dizer que é um cavaleiro e não pode criar laços, pois se fosse assim, Aiolia, Camus, Kanon, Milo e Shura jamais se relacionariam! Por que você é diferente? – seus olhos voltaram a marejar, colocou a mão de frente ao rosto. Odiava não conseguir controlar suas emoções. Soluçou algumas vezes até que conseguiu proferir o que queria bem baixinho. – Por que não pode me amar? – este final saiu num soluço do choro que estava contendo, fechou os olhos mais uma vez, pois não queria ver as reações dele, estava tão sensível que até imaginou que ele ia rir da sua cara, o que não aconteceu, apenas silêncio.

Aquelas perguntas caíram como um peso no coração do canceriano e ouviu muito bem a última pergunta. Ele respirou fundo, e um turbilhão de coisas passaram pela sua cabeça em segundos.

— Calisto, eu…

— Eu te amo! – interrompeu abrindo os olhos. Podia ver o peito dele subir e descer, ele engolir em seco várias vezes.

— Me perdoe… – ele disse por fim.

Ela assentiu resignada.

— Não se pode forçar ninguém a amar outra pessoa, não é mesmo? – falou triste sentindo aquele nó dolorido surgir na garganta, se virou para sair daquela casa, até sentir sua mão ser segurada.

— Non… non vá – ele a puxou para um abraço – Io… io preciso te contar una coisa.

— Acho que não temos mais nada para falar um pro outro.

Ele ficou procurando as palavras.

— Io… – olhou para ela em seus braços, pois o abraço ainda não tinha sido apartado, o olhar esperançoso dela – Io… – estava lhe cortando o coração, daria sua alma só para completar com um " te amo", mas não seria justo, ele não era mais assim, ele não queria ser mais esse homem, e por ela faria o certo. – Io menti para você.

— O que… Mentiu? – Calisto começou a se afastar para a tristeza do canceriano. – Mentiu pra mim? Do que está falando?

— Na notte que dormiu aqui, nós non ...noi… – ele começou a gaguejar perdendo a coragem.

Ela começou a negativar com a cabeça, ele não podia estar dizendo o que ela estava pensando.

— Io menti, nós non dormimos juntos... – ele começou a ficar nervoso e a gesticular com as mãos enquanto falava. – Começou com una brincadeira, eu não achei que você ia levar a sério, ai você tirou a roupa na minha frente e io sono homem e… – ele olhou para ela, se calando. O rosto alvo estava vermelho, os lábios dela começaram a tremer.

— Você se aproveitou de mim? – ela disse num fio de voz, enxugando as lágrimas com o dorso da mão. – Você disse que tínhamos dormido juntos à noite, eu lembro que acordei ao seu lado com a sua roupa.

— Você estava bêbada, eu emprestei minha camiseta e você acabou dormindo no sofá toda torta. – ele falava rápido atropelando as próprias palavras.

Ela olhava de um lado para o outro sem poder encarar ele. Calisto como poucas vezes na vida estava transtornada. Esfregava as mãos no rosto aflita, envergonhada, furiosa!

— Você abusou de mim?!

— NON! Eu jamais iria encostar em você sem sua permissão! Pelo amore, Calisto, non! – agoniado ele tentou se aproximar dela, porém ela colocou as duas mãos para frente num nítido sinal de pare, andando para trás.

Máscara da Morte rompeu o passo, uma tristeza profunda incorporou seu ser ao ver perfeitamente na aura da sua amada, algo que ele jamais saberia lidar. Até então sentiu nela, raiva, tristeza, fúria, mas agora… era MEDO.

Desesperado temendo perdê-la para sempre, ele correu para segurar seu braço e fazê-la olhar para si.

— Calisto, io achei que nunca fosse amar alguém, até aparecer você en mia vita, mas non podia manter um relacionamento na base da mentira. – os olhos castanhos já muito vermelhos eram de pura tristeza. – Io te amo, te amo! – ele mesmo sentiu seus olhos marejarem pela emoção de se declarar.

Ela começou a chorar compulsivamente, sonhou tantas noites com essas palavras, mas agora, sabendo que ele a manipulou, mentiu, como podia confiar, como podia saber se era verdade.

— Eu… – ela olhou para ele, e sem pensar duas vezes proferiu um tapa estalado na face do canceriano. – Se afaste de mim! – E sem dizer mais nada, passou por ele indo em direção a gêmeos, na verdade nem sabia para que lado estava indo, só queria sair dali.

— CALISTO, PERDONA-ME! – foi o que ela ouviu ao descer as escadas às pressas sem olhar para trás.

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Koga acordou já era fim de tarde. Após se despedir de Kanon teve dificuldades em conciliar o sono, e só conseguiu dormir quando Shaka lhe trouxera um chá calmante que fez efeito quase que imediato.

Levantou-se e tomou um banho, vestindo uma roupa leve em seguida. Quando encontrou Shaka, ele lhe avisou que por causa do que ocorreu no parque e por entender sua situação, Shunrei havia cancelado o encontro que haviam marcado e a chinesa também desejou melhoras para a brasileira e que se precisasse de algo estava à disposição.

A virginiana agradeceu e após se obrigar a comer um pouco decidiu ir ver as amigas, sabia que elas deveriam estar preocupadas.

Encontrou Calisto sem querer descendo as escadarias, notando que a canceriana estava com uma cara de poucos amigos. Koga sabia que quando ela estava assim precisava de um tempo e depois de conversar pouco com ela, resolveram descer juntas para Touro encontrar com Luísa.

Elas decidiram dar uma volta pelas redondezas para conversar e espairecer, já que nitidamente nenhuma estava bem. Depois de alguns minutos, chegaram até a praia onde sentaram na areia fofa.

— Como você está, Koga? – Calisto perguntou preocupada, mesmo com o coração em pedaços, ainda não estava a fim de contar o que aconteceu minutos antes na Casa de Câncer.

A virginiana soltou um longo suspiro e depois olhou para as amigas.

— Eu estou bem, eu acho... – respondeu num fio de voz, pegando um graveto e desenhando na areia qualquer coisa só pra se distrair e tentar não chorar.

— Pode parar de querer bancar a durona, Ko! Nós sabemos que tu não está nada bem! – Luísa falou enquanto abraçava a amiga de lado fazendo um carinho em seu braço, logo Calisto imitou o gesto da escorpiana do outro lado. As três ficaram olhando o horizonte em silêncio por alguns minutos, cada uma com sua questão.

Koga não queria preocupar ainda mais as amigas, mas ficar no meio das duas sentindo o abraço carinhoso que elas lhe davam não conseguiu mais esconder sua dor e caiu num choro compulsivo.

— Isso amiga, desabafa, pode chorar – a canceriana falava enquanto fazia carinho nas costas na virginiana, se segurando para não chorar também.

Koga ficou assim por vários minutos deixando as lágrimas caírem na areia e soluçando, até que conseguiu ir se acalmando e quando o choro finalmente cessou, se afastou do abraço das amigas.

— O Kanon foi embora... – falou fungando.

— Como assim ele foi embora?! – Luisa perguntou arqueando uma das sobrancelhas.

— Ele foi para o Templo de Poseidon. Antes de ir embora ele se despediu de mim. – as imagens do geminiano se afastando não saia da sua cabeça.

— Sabemos como você deve estar triste, mas talvez seja bom esse tempo afastado para que ele possa refletir sobre o que fez. – Calisto falou carinhosamente enquanto Luisa concordava com a cabeça.

— O fato, gurias, é que sempre achamos que eles fossem uns príncipes encantados e no fim eles são uns ogros como todos os homens, de qualquer dimensão! – Luisa falou enquanto apoiava o queixo nas mãos, que por sua vez estavam apoiados nas pernas.

— É… – Calisto e Koga murmuraram imitando exatamente o mesmo gesto da amiga.

— Se fizéssemos uma competição de qual deles é o mais ogro, com certeza o Mask ganharia, fora que é um mentiroso! – virou o rosto para as outras duas endireitando o corpo. – Vocês acreditam que ele mentiu pra mim só para me levar pra cama? – Para certos assuntos a canceriana era direta e reta, não tinha pudor algum, as outras duas arregalaram os olhos e falaram em uníssono.

— Não acredito!!! – Luisa colocou a mão em frente a boca. – Conte melhor isso, Cali.

E assim a canceriana contou tudo o que havia conversado com o Cavaleiro de Câncer mais cedo.

— E o que você vai fazer sobre isso? – Koga perguntou, preocupada pois sabia que a amiga ia dar um jeito de engolir aquela situação, teria que forçar ela a falar para não guardar essas mágoas.

— Ainda estou muito chateada com ele! – Calisto cruzou os braços em frente ao corpo fazendo bico.

— Mas Cali, você não pode deixar isso pra lá, tem que fazer alguma coisa! – Koga ficou injuriada com a amiga. Que homem despudorado, sem valores, depois era um dissimulado que agora queria ela de volta!

Calisto tinha vergonha de falar para as amigas, que mesmo com tudo que ele fez não conseguia sentir ódio, pois no fundo, lá no fundo do seu coração, não deixou de gostar dele, e estava se recriminando por isso.

— E-eu preciso pensar, ainda estou muito confusa, Ko.. – ela baixou o rosto olhando os próprios pés, até virar seu rosto por sentir a amiga fazer um carinho leve nas suas costas.

— Vai ficar tudo bem. – disse carinhosa.

— Obrigada… – a castanha desenhou um sorriso triste para amiga.

— E eu estou chateada com Milo! – Luisa fez um bico também.

– Você também?! O que ele fez Lu? Ele parece sempre tão fofo com você. – Koga perguntou segurando a mão da amiga.

— Ah, realmente ele é, mas sei lá, ele não fala nada sobre oficializar algo comigo. E isso me deixa insegura, vocês sabem. – Luisa tentava enterrar todo o pé na areia fofa, sem graça.

— Ai, amiga – Calisto se levantou e se sentou ao lado da escorpiana a abraçando. – Estamos todas no mesmo barco.

— E remando contra a maré. – Koga completou, também abraçando a escorpiana.

As três amigas permaneceram mais um tempo no lugar conversando, até que o sol se pôs, voltando para suas casas logo em seguida.

Continua…