Opa, olá de novo!~
Como vão? Bem, eu espero!
Enfim, tenho tentado não desanimar (de novo) e desistir (outra vez), então já vou adiantando: mesmo sem revisão (as minhas são péssimas, sou o ó em gramática), seguirei postando – tentarei, pelo menos, uma por semana, porém depende.
Ainda seguindo a temática escolar/detenção (percebam que eu NÃO sei trabalhar com temas), essa é a segunda história que trabalhei nos últimos dias. Boa parte dela já estava escrita, é bem nítido pela forma como a narrativa é feita. Apenas abstraiam, ok?
A música da vez é In Between Days – The Cure e, sim, eu sei que a música pode ter outra leitura, MAS eu escolhi essa interpretação – e já peço desculpas caso não tenha ficado muito claro.
E já aproveito pra agradecer a quem se deu ao trabalho de ler, sério. Vocês são demais. Se encontrarem erros, acharem algo ruim etc, por favor, podem me informar – seja pelos comentários ou mensagem nas redes (que estão no meu perfil). Só me deem um retorno, ok?
No mais, boa leitura!
O garoto apertou os olhos e se mexeu na cama na vã tentativa de fugir dos feixes dourados que passavam pela fresta da cortina. Virou as costas para a janela e puxou o cobertor acima da cabeça, porém o incômodo em seu peito era maior do que aquele causado em seus olhos pelo sol matinal. Não queria, porém com um suspiro resignado, sentou-se na cama e encarou as paredes que pouco a pouco se iluminavam com a luz do novo dia.
Novo dia, velhos problemas. Com movimentos automáticos, pegou o uniforme, foi até o banheiro e permitiu que a água fria castigasse seu corpo quente que ansiava por qualquer coisa, menos por aquelas micro agulhas de gelo perfurando sua pele. Pegou a toalha sem muita vontade, mesmo que seu queixo estivesse batendo com a onda de frio que o atingiu minutos antes. Arrastou a si mesmo para fora do banheiro e, sem querer, acabou encarando o próprio reflexo no espelho. Ele estava deplorável: o rosto mais pálido que o de costume, o olhar vazio e aquela terrível vontade de largar tudo e fugir pelo mundo estampada em sua testa.
Velhos problemas, soluções inexistentes. Vestiu-se de qualquer jeito, não importava se seria chamado a atenção ou não. Se tivesse escolha, não teria saído da cama – entretanto, não havia muito em que um adolescente pudesse opinar em sua própria vida. Respirou fundo algumas vezes, pegou os fones de ouvido e colocou uma música qualquer para tocar. Com a casa inteira em silêncio, saiu para encarar o seu tormento.
Ontem eu fiquei tão velho
Eu senti que poderia morrer
Ontem eu fiquei tão velho
Isso me deu vontade de chorar
Não havia como ignorar que aquilo o incomodava e saber que ela também parecia incomodada lhe dava uma sensação estranha; não sabia dizer se isso era bom ou ruim, já que ambas opções eram angustiantes o suficiente para lhe deixar à beira da loucura. Cotovelos na mesa e queixo apoiado nas mãos, fazia um tremendo esforço para que seus olhos não caíssem na figura que outrora lhe trouxe tanta alegria e prazer – porém falhava miseravelmente, seus olhares por vezes se cruzando sem que ele se desse conta até ser tarde demais.
Missy revirava os olhos com desprezo, contudo não era incomum que lhe lançasse olhares quando achava que ele não estava olhando. Sua pele clara e macia, os olhos ferinos e profundos como um oceano junto ao seu sorriso lascivo estavam gravados em sua mente. Oh, ela era brilhante. E enérgica. E inteligente. E mais uma série de coisas que ele próprio jamais seria e mesmo assim aquela garota perfeita o tinha visto no meio de uma multidão muito mais interessante do que ele. Juntos, eles eram incríveis, faiscavam e queimavam com a intensidade de mil sóis e não a ter a seu lado partia seu jovem coração em tantos pedaços que não sabia se seria capaz de juntá-los novamente.
Soluções inexistentes, não há saída. O sinal tocou e todos levantaram prontamente para o intervalo. Exceto ele, claro, que perdido em si próprio só percebeu quando um colega tocou em seu ombro – e mesmo assim sequer notou quem havia sido. O som de conversa e risos preenchiam o ambiente e mesmo que o pátio fosse bastante espaçoso, John estava sufocando. Fora ali mesmo, em um momento banal como esse, que aconteceu. A voz de Missy e a sua própria ainda reverberavam em seus ouvidos, sua mente descrente de tudo que aconteceu a seguir.
– Quer saber? – Missy o olhou de cima a baixo, a voz repleta de raiva e desprezo e algo mais que ele não havia identificado. – Vá se foder, cara.
– Vá se foder você! – Devolveu com raiva, o tom alto demais. – Cansei dessa merda toda, foda-se.
– Você é um merda, John – ela devolveu com desdém. Pegando a mochila, Missy arriscou mais um olhar para ele, o rosto rígido. – E vá se foder.
Vá em frente, vá em frente, apenas vá embora
Vá em frente, vá em frente, sua escolha está feita
Vá em frente, vá em frente e desapareça
Vá em frente, vá embora daqui
Semanas haviam se passado e ele ainda estava ali, preso naquele dia. E, talvez, ele devesse mesmo se foder. Missy não estava totalmente errada e isso mostrava o quão merda ele era. Deitado em sua cama por horas a fio, na singela esperança de que o sono o levasse, via o céu escurecer e a chegada da lua que trazia com ela ainda mais melancolia para o seu ser melancólico – melancolicamente covarde, afinal de contas, como poderia negar? John Smith não era um homem; era um rato vestido de homem, que achava que sempre poderia fugir e se esconder e se privar de escolher, como se ainda fosse um menino tolo que poderia brincar de adulto sempre que quisesse.
Tudo no fim do relacionamento deles foi péssimo: a escolha de palavras, a briga que se seguiu e toda mágoa e ressentimento que ficou em ambos. Contudo, o motivo que os levou a tal fim conseguia ser ainda mais cruel – cruelmente sem sentido. Nem John sabia ao certo porque havia decidido por um fim no namoro deles, essa era a verdade. Parte dele acreditava que aquele romance era destrutivo e que seria a ruína dos dois, então nada mais lógico e sensato do que terminar tudo antes que a desgraça acontecesse. E ele não estava totalmente errado, sabia que não estava; aquele romance seria sua ruína. Ainda assim, não tê-la em seus braços, não sentir o seu perfume ou mesmo ser agraciado com o lindo som da voz de sua musa inspiradora, era o mesmo que estar morto.
E sei que estava errado quando eu disse que era verdade
Que não poderia ser eu e ser ela no meio
Sem você
Sem você
– Seria cômico, se não fosse trágico – disse para si mesmo, talvez alto demais para alguém que estava deitado sozinho no próprio quarto.
Seus pais dormiam no quarto ao lado e pela hora sabia que não deveria fazer barulho, porém ele não parecia se importar com isso – não agora que estava tão ocupado sentindo pena de si mesmo. Ele era um bastardo por terminar com o amor de sua vida por ter medo do futuro. E esse "futuro" era tão indefinido que chegava a ser ridículo que tivesse tomado uma decisão como essa. Havia cedido a pressão de estudar para buscar um bom emprego, ainda que seu coração quisesse viver de tocar guitarra e beijar Missy sempre que pudesse. Ele era estúpido, terrivelmente estúpido por seguir os conselhos de alguém que vivia em um casamento infeliz – e seus pais nem ao menos tentavam disfarçar o quanto viver juntos era um martírio para ambos.
Não saberia dizer quando adormeceu exatamente, mas o último pensamento de que se lembra foi de que havia tomado a pior decisão de sua vida. Quando o sol entrou em cheio pela janela que havia deixado aberta, foi de encontro ao novo dia repleto de amargura e tristeza que ele conhecia tão bem. Um novo dia repleto da rotina que estava cansado de amaldiçoar. Conferiu o relógio da sala antes de sair, apenas para se dar conta de que estava terrivelmente atrasado.
Ontem eu fiquei com tanto medo
Eu tremi como uma criança
Ontem, longe de você
Isso me fez congelar por dentro
E lá estava ele novamente de corpo presente, enquanto sua mente vagava em pensamentos nada animadores sobre seu futuro. Suas vontades como um todo eram incertas, exceto o desejo que tinha de ter Missy com ele pelo resto da vida. Não queria nada além disso e o fato dela ignorá-lo cada dia mais o estava enlouquecendo. Ele havia se ferido quando feriu os sentimentos dela e tudo o que conseguia sentir era um misto de pena e raiva de si mesmo – como aquele idoso que mora no fim da rua sozinho e abandonado que todos odeiam e que é totalmente incapaz de ser agradável. Sentia que deveria fazer algo a respeito, mas não conseguia pensar em nada que pudesse funcionar.
Dessa vez, antes mesmo do sino tocar apropriadamente, John deu um pulo da cadeira e correu para fora da sala. Tomado de uma coragem que não era sua, seguiu para o pátio o mais depressa que conseguiu, evitando chamar atenção para si mesmo. Não demorou muito para avistar a dona de seus pensamentos: Missy estava linda, como sempre esteve. O uniforme desleixado e as mechas onduladas soltas caindo sobre seus ombros faziam um belo conjunto com o cigarro que pendia frouxo em seus lábios pintados de vermelho – um vermelho tão vivo que fazia parecer que sua pele clara era ainda mais pálida. A jovem estava encostada em uma árvore na parte mais afastada da entrada, quase nos fundos da escola; assim que o avistou, tentou se afastar, mas John foi mais rápido.
– Matando aula, é? – Viu-se dizendo, um sorriso bobo surgindo em seus lábios.
– Não é da sua conta. – A jovem tentou se desvencilhar dele, sem sucesso. – Agora, sai da minha frente.
– O diretor não vai gostar nada disso, – prosseguiu John, sem se importar. – E não vai gostar principalmente desse seu cigarro aí.
– E daí? – Missy parou por um instante e o encarou, seus olhos faiscando de raiva. – Só sai da minha frente, porra.
Volte, volte, não vá embora
Volte, volte, volte hoje
Volte, volte, por que você não consegue enxergar?
Volte, volte, volte para mim
Em um piscar de olhos, toda sua coragem havia se transformado em pó. Ele estava trêmulo, pernas bambas e apesar de abrir a boca, nenhum som saía. Ele estava petrificado diante daquele olhar tão firme, tão cruel, tão sensual e tantas coisas mais haviam naquele olhar que poderia passar horas enumerando. Missy deve ter percebido que havia algo errado – claro que ela havia percebido, ao contrário dele, Missy não era estúpida –, pois deu um passo para trás e o olhar que lhe foi lançado estava repleto de preocupação silenciosa.
– Missy, eu... – ele não conseguiu terminar, pois no instante em que começou a falar e gaguejar, Missy o empurrou de encontro ao muro. Ela o pressionou com os braços, prendendo-o ali, o rosto a poucos centímetros de distância.
– Cale a boca, – sibilou como uma serpente.
– Mas eu realmente preciso te falar... – as palavras morreram no momento em que polegar direito de Missy contornou seus lábios trêmulos.
E, finalmente, aconteceu. Em câmera lenta, John observou Missy dar uma última tragada em seu cigarro, antes de jogá-lo no chão. O toque suave em seu queixo lhe deu arrepios e a morena pareceu se divertir com isso, ele percebeu. E teria percebido outras coisas mais, porém todo e qualquer pensamento que pudesse ter foi interrompido quando lábios quentes que tocaram os seus. Aquele beijo era desesperado e faminto, a mais pura representação do desejo que sentiam um pelo outro. Ela ditava o ritmo e ele obedecia, dançando a dança conforme ela ordenava. Missy não se opôs quando o jovem enlaçou sua cintura, pelo contrário.
Quando o ar se fez necessário, a morena se afastou, não sem antes dar um singelo beijo na ponta de seu nariz – o que fez John rir de uma forma que não ria há muito tempo. Os olhos de Missy tinham um brilho divertido e ela parecia ainda mais graciosa enquanto acendia outro cigarro.
– Olha, eu...
– Não estraga a porra do momento, John, por favor, – seu tom era divertido, o que fez com que o rapaz risse mais uma vez.
– Eu sei, é só que...
– Você é um idiota? – Ela soltou a fumaça do cigarro e o ofereceu a ele.
– Isso também, – aceitando o cigarro que lhe foi oferecido, tragou algumas vezes antes de prosseguir. – Na verdade, eu sou muito idiota.
– Sim, eu sei disso, – disse com a voz suave, diminuindo a distância entre eles para um beijo rápido.
– Então, está tudo bem? – Ele encarou os próprios pés, a vergonha subitamente voltando a pesar em suas costas. – Sei que não está tudo bem, o que eu te falei da última vez não tem perdão.
– É, eu sei – Missy sentou no chão ao lado dele e bateu na grama, chamando-o para sentar-se junto a ela. – Mas acontece. Essa coisa de família e futuro é uma merda mesmo.
– Sabe, – após alguns minutos de silêncio, como se ponderasse algo, o rapaz que olhava atentamente para a fumaça do cigarro em suas mãos, retomou sua linha de pensamento. – Acho que deveríamos mandar tudo para o caralho e fugir por aí, sabe?
– Sério? – Agora foi a vez de Missy gargalhar e, ao perceber que ele mantinha o semblante fechado, virou-se o suficiente para encará-lo. – Não, espera. Sério?
– Sim, sério. – Devolvendo o cigarro, gesticulou com as mãos para mostrar sua linha de raciocínio. – Isso tudo aqui que é uma merda. Escola, casa... Podíamos fugir por aí, sabe?
– Fugir, John?
– É, fugir, – e ele não se deixou intimidar pela sobrancelha arqueada dela. – Posso roubar o carro do meu pai.
– Aquela lata velha azulada?
– Ei! – Ele pareceu ofendido, mas seu semblante suavizou assim que ouviu a risada de Missy. – É sério. Eu roubo o carro, nós dois fugimos e ganhamos a vida tocando e cantando sobre sexo, drogas, rock and roll e roubos.
– Ah, claro, claro que vai funcionar, John.
Missy lhe ofereceu um sorriso, um lindo sorriso, e ele não poderia estar mais feliz. Toda e qualquer provocação vindo dela era mais do que bem vinda. E, bem, ele sabia que ela havia gostado da ideia – só não iria admitir isso em voz apoiou a cabeça no ombro dela e ficaram ali por mais alguns minutos, em silêncio, apenas fumando e aproveitando a companhia um do outro. Por um instante, o garoto quase esqueceu onde estavam.
– O diretor não vai gostar nada disso, – sussurrou, sem se mover.
– Você fala tanto no diabo, que olha ele ali.
John só teve tempo de virar o rosto na direção que Missy havia indicado. Do outro lado do pátio, o diretor Lethbridge-Stewart vinha, furioso, ao encontro deles. Missy deu um último trago no cigarro, antes de levantar para, segundo as palavras da própria, "aceitar seu destino com alguma dignidade".
Em outro momento, John teria ficado irritado, ultrajado e uma série de outras coisas. Contudo, não havia nada que pudesse estragar a felicidade que estava sentindo – nem mesmo passar o resto da semana em detenção ou ainda a ameaça de ter seus pais chamados na escola. Naquele momento, ele se sentia o garoto mais sortudo do mundo. E, de fato, ele era.
