De todo coração

Capítulo 14

Passado – parte VII

Rin observava a noite estrelada do deck externo do ryokan, observando também as montanhas parcialmente iluminadas pela luz da lua. De quimono padrão branco fornecido pelo hotel aos clientes, ela aguardava Sesshoumaru voltar para o quarto depois de resolver a situação do cardápio do café da manhã e o horário que a equipe deixaria a refeição no quarto. Era um serviço de primeira classe naquele lugar.

Enquanto olhava para o céu, ela viu um brilho passar tão rápido que ela só teve um instante para entender o que era:

— Uma estrela cadente!

Uniu depressa as mãos e fechou os olhos para fazer um pedido silencioso: Quero ficar com Sesshoumaru-sama para sempre.

— Rin... – ela ouviu a voz dele segundos depois e virou o rosto para o lado para vê-lo, por cima do ombro, de quimono branco masculino do mesmo modelo do dela – O que está fazendo aí fora?

— Achei o céu lindo hoje. – ela falou com um sorriso, voltando a encarar o céu – A noite aqui é tão estrelada, sem todas aquelas luzes de Tokyo.

Virou-se de frente para ele e uniu as mãos na frente do corpo, alargando o sorriso.

— Estou feliz por ter vindo a este lugar lindo com você neste dia. Obrigada por fazer isso por mim.

O namorado estendeu a elegante mão para ela e ela, de bom grado, aceitou o gesto, voltando os dois para dentro do quarto.

Não deu muito tempo e eles já estavam de novo na cama, ele por cima dela e ela com as mãos nas costas dele tentando tocá-lo em todas as partes possíveis. Sentia os lábios dele colados no ombro, na base do pescoço, próximo ao ouvido, queixo, boca. E em todos os momentos ela tentava corresponder.

Sim...

Com ele, ela já tinha esquecido o que havia acontecido em casa. As preocupações haviam ficado para trás. A discussão com a mãe ou a questão financeira eram coisa do passado. Sesshoumaru estava ali com ela e Rin estava feliz com ele.

Quero ficar com ele pra sempre.

o-o-o-o-o

Na manhã seguinte, Rin foi acordada antes do horário habitual.

Deitada de bruços e de olhos fechados, ela sentiu um movimento na cama antes de algo subir pelas costas e morder de leve o ombro dela.

—Para... – ela murmurou com um sorriso, sem ainda abrir os olhos.

Outra mordida.

—Você parece um cachorro. – ela sentou-se na cama e cobriu parcialmente os seios com um lençol – Preciso de um banho agora.

—Outro banho comigo? – Sesshoumaru perguntou, puxando-a pelo braço que cobria os seios para que voltasse para o lado dele espaçosa cama.

Que sensação boa..., ela pensou ao ceder ao desejo dele e se deitar espontaneamente de lado, de forma que podia ver o rosto dele. Sesshoumaru parecia ser tão mais tranquilo com ela, sem se preocupar com as exigências do pai para com ele.

A mão esticou para tocá-lo.

—Sei que é um pouco longe, mas eu queria muito conhecer o parque de Ashikaga antes do almoço. – ela reclamou enquanto tocava carinhosamente o rosto dele, trilhando com os dedos algumas marcas imaginárias nas laterais – Podemos ir agora pela manhã?

Sem reclamar ou mostrar-se chateado, ele sentou-se na cama e pegou a parte de cima do pijama do ryokan para vestir-se, olhando por cima do ombro para ela:

—Vamos então porque quero voltar logo para o quarto com você.

Foi então que Rin se deu conta que havia mesmo uma pessoa que realmente se importava em estar com ela. Ele gostava de estar com ela e estava fazendo o possível para que tivesse um dia especial, fazendo as vontades dela.

Sesshoumaru gosta mesmo de ficar comigo..., ela sentou-se na cama, sorrindo.

— O que foi? – ele quis saber.

Rin balançou a cabeça para os lados.

—Nada. Quero também voltar pra cá logo.

o-o-o-o-o

—Você já conhecia aqui? – foi a pergunta que Rin fez a Sesshoumaru enquanto andavam de mãos dadas por um parque cheio de lianas das mais diversas cores.

O ryokan onde Rin e Sesshoumaru estavam hospedados ficava em uma cidade próxima a Ashikaga, a duas horas de Tokyo, uma área que ela mesma ainda não tivera oportunidade de visitar antes por conta da distância e pela falta de tempo. Havia inúmeros pontos turísticos para visitar, e ela decidiu começar pelo Parque de Flores de Ashikaga, lugar repleto de trepadeiras coloridas e flores.

—Vim há muito tempo aqui com minha família depois que meu pai se casou com Izayoi. – ele respondeu.

—Ah, é? – ela comentou quase fascinada por saber mais um detalhe sobre a vida dele. Era talvez a primeira vez que ele se referia à madrasta pelo nome. Antes sempre a chamava de "mulher do pai" ou "mãe do meio-irmão" – Deve ter sido bom nessa época.

—Eu não lembro muito, para dizer a verdade. – ele explicou ao se verem embaixo dos ramos de glicínias, segurando um dos ramos entre os dedos – Éramos bem crianças. Inuyasha ainda trocava o b pelo p.

— Aqui é lindo... – ela segurou um ramo entre os dedos num gesto parecido com o dele, o braço quase tocando o do namorado – Queria ver no inverno algum dia. Deve ser mais bonito à noite.

— Podemos voltar aqui quando quiser. – ele sugeriu ao voltar a caminhar, obrigando-a a largar o ramo para acompanhá-lo – É um pouco distante da cidade, mas podemos planejar sair na sexta de Tokyo e voltar no domingo à noite para a cidade.

Rin sentiu o rosto levemente vermelho. Planejar coisas com Sesshoumaru era um dos momentos favoritos dela.

— O que foi? – Sesshoumaru perguntou. Era a segunda vez que ele tinha que fazer a mesma pergunta porque sentia que ela estava estranha.

— Eu gosto de planejar essas coisas, principalmente viagens. – ela respondeu com certo orgulho, balançando as mãos unidas – Quero voltar aqui com você de novo.

Algum tempo depois, eles estavam no gramado do parque – Rin sentada em seiza e Sesshoumaru com a cabeça em cima das pernas dela, observando-a fazer uma coroa de flores enquanto cantarolava distraidamente a canção que havia ouvido no carro.

— Você parece diferente. – ele comentou tocando o rosto dela, fazendo os olhares se encontrarem.

— "Diferente"? – ela deu um sorriso com o toque dele, terminando de atar as flores na coroa – Como assim?

— Você parece mais leve. – ele deslizou o polegar até a orelha dela, colocando uma mecha do cabelo para trás – Aconteceu alguma coisa em sua casa?

— Não aconteceu nada. – ela deu um sorriso meio forçado – Nunca acontece nada em Kashima.

— Você realmente não gosta de lá. – não era uma pergunta que ele fazia.

— Acho que você deve ter notado que fiquei mais velha. – ela brincou, desviando do assunto para não contar o que havia acontecido em casa – Por isso está estranhando. Daqui a pouco terei cabelos brancos que nem você.

Sesshoumaru estreitou de leve os olhos, continuando a acariciar o rosto sorridente dela.

— Absurdo. Você não vai ter cabelos brancos tão cedo.

De repente, ela colocou a coroa na cabeça dele.

— Vamos voltar? – ela perguntou – Estou ansiosa pra ver o almoço que eles prepararam!

Sesshoumaru levantou-se e sentiu a delicada mão dela tirar um pedaço da grama aqui e ali que tinha colado na camisa dele, deixando-o novamente impecável.

— Há outros lugares que você queira visitar algum dia? – ele perguntou enquanto caminhavam juntos na volta ao ryokan.

Rin colocou um dedo no queixo e ficou pensativa:

— Acho que gostaria de visitar outros países. Talvez estudar moda na Europa. – ela queria muito visitar os países que redesenharam a história de um assunto que gostava tanto – Ah, e Hokkaido!

— "Hokkaido"? – ele repetiu.

— Por causa da comida. – ela completou, escondendo o sorriso delicadamente por trás dos dedos – Sempre quis visitar.

— Pensei que fosse mais rápido viajar para lá de Kashima. – ele comentou num tom casual, prestando atenção ao caminho que trilhavam – Como nunca visitou lá?

— Oh... minha família nunca quis viajar muito. – ela lembrou-se por um momento das vezes que a mãe dizia que viajar para o norte era caro e preferia passar férias em outro lugar perto de Kashima – Acho que sempre fui a mais aventureira.

Os dois alcançaram o estacionamento onde ele havia deixado o carro e, minutos depois, estavam a caminho do ryokan.

Cerca de trinta minutos depois, Rin batia palmas ansiosamente diante do almoço deles – um kaiseki ryori com peixe grelhado, salmão cru, arroz, sopa missô, salada.

— Boa refeição! – ela falou ao pegar um hashi e começar a se servir experimentando uma porção e outra enquanto ele também almoçava em cômodo silêncio.

Sesshoumaru, sentado na frente dela, observava calmamente, enquanto comia, a forma como ela experimentava as porções e ficava pensativa, como se estivesse degustando profissionalmente ou adivinhando qual tempero foi usado na comida.

— Está se divertindo com a comida? – ele perguntou.

Rin parou de mastigar e sentiu o rosto vermelho.

—É que tento sentir o gosto pra tentar fazer em casa depois. – ela comeu com vontade uma porção de peixe grelhado seguido de uma salada de legumes secos com um molho separado – Aprendi a fazer isso com uma amiga.

Ayumi, certo? – ele perguntou.

—Sim. – ela confirmou com um sorriso, agora feliz que ele lembrasse dos amigos e conhecidos da escola – Vou sentir falta dela quando nos separarmos.

—Você fala como se não fossem mais se ver. – ele observou – Só vão ficar em cursos diferentes.

—Vai ser na mesma época que você vai se formar... – ela falou um pouco timidamente – Vou sentir também sua falta na escola. Gosto dos nossos intervalos juntos.

Sesshoumaru ficou em silêncio e voltou a comer. Ele ainda não gostava de falar sobre algo que aconteceria em tão pouco tempo.

— Podemos jantar juntos. – Rin sugeriu – Você também podia continuar dormindo lá em casa.

— Até você se formar e ir para a faculdade. – ele voltou o assunto para ela para não discutirem mais a respeito do futuro dele – Aí teremos que arranjar um lugar para ficar porque vão me impedir de entrar no prédio se eu não for morador.

— Você já escolheu onde vai estudar? – ela quis saber, tomando um gole da sopa.

— Ainda não. – ele respondeu com os olhos concentrados na comida.

— Vou gostar de planejar também essas coisas com você. – ela completou com o hashi pronto para pegar algo do prato – Você e eu daqui a alguns anos. Como será que vai ser?

o-o-o-o-o

No final do dia, Rin estava na frente do prédio onde morava, olhando por cima do ombro para ver o carro de Sesshoumaru esperando que ela entrasse no prédio. Acenou e o viu ir embora, seguindo com os olhos o veículo até que ele sumisse no final da rua.

— Ah... ele podia ter ficado hoje comigo... – ela lamentou. Mas entendia que ele precisava voltar. Já tinham ficado juntos durante o final de semana inteiro e, se ele passasse a noite no apartamento, não teria como adiantar algumas coisas importantes. Tinha ainda que arrumar as coisas para as aulas da semana, o que ela faria rápido porque tinha uma coisa muito importante em mente para fazer.

Entrou no apartamento, ligou as luzes, abriu a janela para entrar vento no cubículo e tirou o futon do armário, abrindo-o no chão para sentar-se no meio segurando um bloco de nota e o computador. Era uma forma que ela encontrava de trabalhar quando tinha algum plano em mente.

— Vamos lá, Rin... – ela tinha uma expressão determinada no rosto.

Começou a procurar empregos de meio período. Poderia trabalhar aos finais de semana ou à tarde durante alguns dias antes de ir para o restaurante à noite.

Mas teve poucos resultados. De fato, os anúncios eram mais de exploração humana do que realmente empregos.

Cansada, ela decidiu separar três ofertas e marcou os contatos para enviar o currículo.

Momentos depois, ela estava deitada no futon pensando sobre a possibilidade de ter mais dinheiro no futuro e poder viajar para mais lugares com Sesshoumaru.

o-o-o-o-o

Nota da autora: Pessoal, tive um enorme bloqueio com esse capítulo, então ficou bem simples, mas com todos os pontos bem amarrados para aparecerem na parte do presente. Espero que gostem dele 😊 O próximo capítulo está quase pronto, mas só vou postar depois de ouvir a opinião de vocês sobre isso aqui.

O jardim que eles visitaram é o Ashikaga Flower Garden e fica na província de Tochigi. Podem procurar as fotos na internet porque é lindíssimo! ❤️

Obrigada pelos comentários: Isa Raissa, Yuki, DindaT e 05csomoragnes11. Muito obrigada! 😘❤️

Até semana que vem!

Analoguec 😘