ELECTRA ADHARA BLACK

James e eu mantivemos a reunião em segredo até o início da noite de quinta-feira - ele informou Cygnus que iríamos encontrar três sonserinos em segredo da Ordem da Fênix e do restante do grupo. Ele pareceu incomodado em guardar a informação dos demais, principalmente de Anabelle, mas concordou: nossa palavra era nossa moeda de troca. Tínhamos prometido um trio e segredo em troca de uma conversa para arrancar informações deles, então tínhamos que cumprir com aquilo. E nós três sabíamos mais do que bem que Sirius e Pontas jamais nos deixariam lidar com Rosier, Black e Nott por conta própria.

Então, apenas nós três saberíamos. Por enquanto.

A primeira aula de sexta-feira era Transfiguração e todos foram dormir cedo, sabendo que Minerva não tolerava um segundo de atraso - uma benção e uma maldição, dependendo do seu ponto de vista. Eu fui me deitar cedo e, graças a Merlin, fui imitada prontamente por Lily e Bells.

James, no entanto, não teve tanta sorte. Cygnus foi para o dormitório cedo, alegando dor de cabeça, e James ficou, esperando que os demais se juntassem ao meu irmão mais novo.

Ele não teve sucesso algum, porque quando desci, perto das onze da noite, James ainda estava usando uniforme com uma expressão azeda e Cygnus tinha um largo sorriso no rosto.

Além deles, Sirius e Pontas estavam no chão, com apenas os olhos se movendo, e parecendo furiosos.

- Eu quero saber o que aconteceu? - eu perguntei, cuidadosamente. Cygnus se virou para mim, alegre:

- Eles não foram dormir. James aqui precisou usar o petrificus totalus para segurar os dois.

- E você está feliz? - eu ergui as sobrancelhas.

- James é mais rápido que os dois juntos. Pontas estava petrificado antes que Sirius pudesse erguer a varinha. - meu irmão pareceu encantado. - Não sabia que ele era tão bom assim em feitiços mudos.

- Se você me acha rápido - James alargou a gravata e olhou meu irmão. - deveria ver a sua irmã em um duelo. Um misto de velocidade com agressividade que deixou Shacklebolt impressionado.

Meu irmão assoviou baixo:

- Vai me ensinar?

- É só treinar. - eu me virei para os dois garotos petrificados, encolhendo os ombros. - É para o bem de vocês. Quando voltarmos, contaremos tudo o que pudermos. Vamos, antes que nos atrasemos.

- Certo. - James fuçou os bolsos da capa do avô, parecendo satisfeito quando achou a capa da invisibilidade e a atirou sobre os dois, depois de ajudar Cygnus a arrumar os dois grifinórios para que coubessem sob a capa. - O mapa está comigo, também.

- Ótimo. Vamos. - Cygnus começou a andar em direção à saída da Grifinória, mas parou. - Espere. Estamos sem a capa. E se alguém nos ver…

- Lidarei com isso. - eu cortei. - James e eu já escapamos de casa, da Toca, da escola. Confie em mim.

- Eu vou na frente. - James abriu o mapa e nos guiou para fora do salão comunal.

Eu esperava muito que não fosse uma emboscada.


Exatamente como prometido, Nott, Rosier e Regulus nos esperavam sozinhos no corredor do sétimo andar. O mapa deixava mais do que claro que, além de nós seis, não havia mais ninguém.

- Eles prometeram, Electra. - Cygnus pareceu impaciente. - A nossa palavra tem valor, sabia?

- Desculpe. - eu franzi o nariz, envergonhada. - Devemos ir?

- Devemos. - James guardou o mapa dentro do casaco e nós entramos no corredor, certamente parecendo tão aliviados quanto o trio sonserino. - Boa noite.

- Boa noite. - Nott deu um passo à frente dos demais. - Você é o segundo James, esta é Electra e o outro…

- Cygnus Black. - meu irmão respondeu, colocando as mãos nos bolsos. - Então, qual o acordo que querem firmar?

- Deveríamos ir para uma sala segura. Há uma bem aqui. - Regulus apontou a parede onde sabíamos estar a Sala Precisa, agora representada por uma porta simples de madeira. - Ela aparece quando precisamos e podemos pedir coisas a ela. Bem, exceto por comida…

- Conforme a Lei de Gamp. - eu completei, acenando com a cabeça. - Podemos multiplicar e modificar, mas jamais conjurar.

- Exatamente. - Evan Rosier sorriu para mim. - Vamos entrar.

- Vocês primeiro. - James acenou para que o trio sonserino entrasse primeiro.

Para crédito deles, os três nos deram as costas prontamente e entraram. Cygnus insistiu em ir logo atrás deles, acenando para que James e eu o seguíssemos.

O que quer que fosse aquilo, devia fazer parte da diplomacia sonserina, já que havia uma mesa redonda no meio da sala, acompanhada por cadeiras acolchoadas e de aparência fofa, com pergaminho, tinta e pena sobre a mesa.

James e Cygnus me obrigaram a ficar entre eles, mas Rosier, Nott e Regulus se ajeitaram sem desconfiança alguma.

- Vamos deixar as coisas claras. - Evan se inclinou para frente. - Esta é uma reunião diplomática. Sem agressões mágicas ou físicas. Sem ameaças. - ele passou os olhos por todos nós, mas passou mais tempo encarando James. - Estamos estabelecendo uma aliança entre Grifinória e Sonserina.

- Uma aliança contra o que? - Cygnus se recostou na cadeira, parecendo desleixado, mas eu sabia que ele prestava atenção em cada detalhe.

- Contra Você-Sabe-Quem. - Nott soou mais sério do que eu esperava. - Sei que nossas famílias têm um histórico. Sei que não confiam em nós. Mas estamos nos arriscando para impedir aquela loucura de chegar a níveis de Grindelwald.

- Vocês estão contra Voldemort? - eu perguntei, incrédula. Rosier piscou:

- E vocês não?

- É claro que estamos! - eu guinchei, indignada. - É só…

- Só porque carregamos o nome e somos sonserinos, não significa que concordamos com aquelas coisas. - ele me interrompeu, sério.

- Vocês já atacaram nascidos-trouxas, pelo o que nos foi contado. - James respondeu, se ajeitando na cadeira. - Pode imaginar o motivo de estarmos tão descrentes.

- Todos nós temos nossos motivos. - Nott respondeu, passando a mão pelo rosto. - Tudo o que foi feito, foi feito por necessidade.

- Qual necessidade? - James quase latiu.

- Sobrevivência. - Nott encarou James, sério. - Nem todos nós nascemos em família tolerantes como a sua, Potter. Às vezes você faz coisas que não gostaria para se manter vivo.

- Certo. - eu pigarreei, quando o silêncio ficou longo demais. - Então, qual o motivo de pedirem essa reunião?

- Queremos um acordo. - Evan olhou para Cygnus. - Você parece mais tolerante do que eles. - ele apontou para James e eu com a cabeça. - Imagino que o chapéu considerou Sonserina.

- Considerou. - meu irmão abriu um sorriso brilhante. - Mas meus traços grifinórios se sobrepõem.

Mentiroso.

- Claro. - Rosier acenou com a varinha e um jarro e copos apareceram na nossa frente, e ele os encheu rapidamente com um aguamenti muito controlado. Como que para provar a falta de veneno, ele tomou um grande gole depois de se servir e encher os demais copos. Nott, Regulus e Cygnus também beberam.

Eles estavam estabelecendo um senso de confiança?

Pelas calças de Merlin, meu irmão era maluco em confiar neles nesse nível.

James e eu não tocamos nas taças dispostas na nossa frente, o que causou um sorrisinho divertido no rosto do meu avô materno.

- Comecemos, então. - Nott disse, por fim. - Você-Sabe-Quem está subindo ao poder rapidamente. Ainda não tomou o Ministério, mas no ritmo em que está, não vai demorar.

- Nossas famílias são próximas. Nem todos jurados, - Evan apontou para Regulus, sério. - mas alguns membros sim. Meu pai e o de Aric estão nesse grupo seleto. Regulus está sendo observado, mas acredito que não demore muito para que receba um convite para participar das… Convenções.

- E você? - eu perguntei.

- Meu pai é jurado. Está esperando que eu faça meu juramento. - ele suspirou. - O que eu não pretendo deixar acontecer, mas preciso de ajuda. Nott está na mesma situação. Regulus ainda tem quinze anos, conseguirá se safar por pelo menos um ano, mas não poderá fugir das convenções por muito tempo. Walburga e Orion são convidados e esporadicamente aparecem.

James puxou o pergaminho e a pena, anotando os nomes dos meu bisavós como alvos a serem observados de perto.

- Nós temos uma proposta. - Nott continuou. - Nós daremos toda e qualquer informação que necessitem, mas em troca queremos proteção e asilo quando essa bomba estourar.

- Não vai estourar. - Evan disse, sério. Eu sacudi a cabeça:

- Voldemort tem ouvidos em todos os cantos. - eu disse, delicadamente. - Ele saberá, em algum momento, que vocês o traíram.

- E será nesse momento que vamos precisar de asilo político. - Regulus disse, quando Evan e eu nos encaramos. - Sirius foi posto para fora de casa e eu também serei quando isso acontecer. Evan e Aric correm mais riscos ainda, já que suas famílias têm encontros com ele e eles mesmos já o conheceram.

- Certo. - Cygnus se inclinou, sério. - Se prometermos proteção e asilo, o que estão dispostos a dar em troca?

- Informações. - Aric disse, sério. - Toda e qualquer informação que pudermos passar a vocês.

- E se pedíssemos um favor - eu tateei o terreno. - vocês o fariam?

- Depende do risco. - Evan respondeu, tenso.

- Só informações mais… Delicadas. - eu respondi, vagamente. Ele franziu os lábios, insatisfeito. - Vocês estão nos dando condições sérias e difíceis. Levem o nosso lado em consideração, Rosier.

- Certo. Desde que seja alcançável, sim. Iremos fazer seu favor. Ou favores. - ele cedeu.

- Então - Cygnus continuou. - nos tragam informações e nós daremos a proteção que desejam.

- Não será bom sermos vistos juntos. - James completou. - E a mudança de comportamento brusca será muito óbvia. Então, mantenham a fachada e nós daremos um jeito.

- Dumbledore saberá que temos informantes, mas não daremos os nomes até que seja necessário. - Cygnus respondeu. - Esse tipo de acordo - ele apontou todos nós. - é delicado e frágil e traz muitos riscos. Sugiro manter isso entre o mínimo de pessoas possível e naqueles em que confiamos cegamente.

- Isso é fácil. Somos apenas nós três. - Aric deu uma risadinha debochada. - E quanto a vocês?

- Manteremos isso sob os panos. Mas precisam saber que outros saberão sobre esse nosso acordo, Nott. - eu ponderei. - Nós três também somos alunos. - eu lembrei, quando eles pareceram tensos. - Nossa proteção é importante, mas a proteção de Dumbledore é quase impenetrável. Como disse, não daremos os nomes a ele tão cedo. Mas aos nossos, - eu suspirei. - não teremos como mentir.

- Não podem contar a eles. - Evan disse, ansioso. - Isso nos colocará em risco.

- Não serão todos… - eu comecei, mas ele se inclinou para mim:

- Black. Pettigrew é um traidor. Ele irá nos delatar.

Eu pisquei, mais chocada do que gostaria de admitir, e olhei de Cygnus para James, ambos com os lábios franzidos.

- É por isso que estávamos no jardim naquela manhã. Tecnicamente, deveríamos encontrar algumas pessoas por uma falha na defesa da escola, uma falha que Pettigrew sabe de alguma forma e tem usado para escapar da escola em alguns momentos. - Evan continuou. - Ele passa informações a Rodolphus Lestrange que as passa para Você-Sabe-Quem. Nós três iríamos nos encontrar com ele também, a pedido de nossos pais. - ele começou a falar, soando quase desesperado. - Quando encontramos vocês, não pudemos ir e tivemos que mandar cartas justificando para nossos pais o porque não comparecemos naquele dia.

- Pettigrew é um animago ilegal. Se transforma num rato. - Aric se recostou na cadeira. - Um tanto irônico, na minha opinião. Mas acho que devem ter visto naquela manhã.

- Vimos. - James respondeu, passando a mão pelo rosto. - Ótimo. Um traidor. E agora?

- Agora - Cygnus começou antes que eu abrisse a boca. - nós iremos observá-lo de perto, sem deixar isso óbvio. Agora, teremos que contar aos outros sobre isso para que não digam nada demais perto dele.

- Ele precisa ser alimentado informações. - eu discordei. - Mesmo que parcialmente. Não ter nada novo irá deixar óbvio que sabemos de alguma coisa e isso vai colocar os três em risco.

- Black tem razão. - Evan disse, olhando meu irmão. - Alimentem-no com pedaços de informação, mas nada muito grande. Mantenham Pettigrew por perto. Será mais fácil manter um olho nele e controlar a narrativa que irá passar para Você-Sabe-Quem.

Nós nos entreolhamos, em silêncio por um momento.

- É melhor encerrarmos por aqui. - Rosier ficou de pé, sendo imitado por todos nós. - As aulas começam cedo. Poderíamos nos encontrar aqui semanalmente.

- Mas não pode ser um dia fixo. - James lembrou. - Ficará óbvio. E nem sempre todos nós ou também ficará óbvio.

- A próxima reunião pode ser na quarta-feira, durante a madrugada. - Nott sugeriu.

- Quarta-feira, às três da manhã. - eu decidi. - Viremos em dupla.

- Em dupla. - Evan concordou. - Até lá, continuem nos odiando. Vai deixar a coisa mais natural.

Eu não segurei uma risada e, depois que James garantiu que o corredor estava vazio - ele saiu primeiro e olhou o mapa, para que os três não soubessem sobre ele - nós voltamos para o Salão Comunal em silêncio, nos esgueirando pelos corredores escuros.


James e Sirius permaneceram petrificados e sozinhos no Salão Comunal até o nosso retorno. James pediu desculpas incessantemente, guardando a capa da invisibilidade no próprio bolso e olhou para mim:

- Sugiro que fique um pouco afastada. Eu não duvido em nada que eles sejam proficientes em magia não-verbal e talvez até sem varinha. - ele disse, com a voz tão autoritária que eu me esgueirei para perto da saída do salão, tensa. Cygnus e James pegaram as varinhas dos outros dois e desfizeram o feitiço com um aceno de varinha.

Pontas se colocou de pé rapidamente, com uma expressão furiosa. Mas não era ele quem me preocupava e sim Sirius: ele se levantava lentamente, ajeitando o uniforme e os cabelos com um cuidado que fazia todos os meus instintos gritarem 'Corra!'.

- Vão começar a se explicar ou eu vou precisar apelar para os demais? - foi Sirius quem falou primeiro, encarando James com tanta firmeza que eu me encolhi ainda mais para atrás da parede.

Eu não costumava ser covarde. Eu tinha enfrentado colegas muito mais velhos por muito menos e não tinha me escondido. Mas ultimamente eu não andava sendo eu mesma.

- Prometo que podemos explicar tudo a vocês. - Cygnus ergueu as mãos, em sinal de rendição. James, sabiamente, se manteve à direita de meu irmão, o mais próximo possível de mim. - Mas precisamos que nos ouçam com calma e nos deixem terminar.

- Aqui é um bom lugar? - Pontas perguntou, ácido. Eu sacudi a cabeça:

- Muito exposto. - eu respondi, fazendo com que os dois Marotos me encarassem. James deu mais um passo para perto de mim:

- Iremos nos explicar com Dumbledore por perto se quiserem. - ele disse, pacientemente. - Mas, pessoalmente, acredito que seria preferível contar a vocês primeiro e depois a ele.

- Por que nos azarou? - Sirius exigiu saber.

- Não tive escolha. Havia um acordo entre nós e a outra parte. Ninguém além de nós três deveria ir ou saber. Precisávamos garantir essa aliança primeiro - James explicou. - e a segurança de vocês antes de arrastá-los para a bagunça.

- Não precisa nos proteger… - Sirius começou e eu sacudi a cabeça:

- Todos nós dependemos de vocês vivos. - eu interrompi, baixinho. Ele piscou e encarou Pontas. - Não podíamos arriscar.

Sirius passou a mão pelo rosto:

- Quero explicações agora, Electra. Porque fui atacado por um amigo. Um amigo que levou você e seu irmão para Merlin sabe onde, encontrar Merlin sabe quem. - ele apontou James.

- Eu não fui levada. - eu guinchei, ofendida. - Eu quis ir. A questão é que vocês não confiam mais em nós, e eu entendo, mas preciso que nos ouçam antes de surtarem. E aqui - eu acenei para o salão comunal vazio. - não é o lugar para isso.

- E onde é?

- Nos encontrem no sétimo andar, na frente da tapeçaria do trasgo. - eu olhei James, que acenou com a cabeça.

- Já são quase duas da manhã. - ele ponderou. - Que tal às seis? Precisamos dormir um pouco e teremos tempo de nos explicar antes de McGonagall.

- Por que não agora? - Pontas questionou, ainda irritadiço.

- Porque estamos exaustos. - James respondeu o avô, passando a mão pelos cabelos. - Porque Electra, Cygnus e eu nos arriscamos demais esta noite e sabemos que os quadros nos viram. Sair agora será pedir para ser pego.

- Amanhã, às seis. - Pontas disse, depois de uma troca de olhares nada sutil com meu avô. - E me deem a minha varinha e de Sirius.

Cygnus entregou as duas varinhas prontamente, mas James ainda me manteve parcialmente escondida dos outros dois, receoso de um ataque surpresa. Porém, tudo o que Sirius disse foi:

- Iremos dormir. Encontramos vocês aqui, às seis, com os demais. Sugiro, Electra, que avise a Anabelle e Lily sobre isso. Boa noite. - ele subiu a escadaria, pisando firme, com Pontas logo atrás. James, Cygnus e eu ficamos no salão comunal:

- Isso vai ser um problema enorme. - Cygnus suspirou. - Você, - ele apontou para James. - vá tomar um banho. Você - ele apontou para mim. - vá dormir um pouco.

Eu nem discuti. Só desejei boa noite aos dois e subi a escadaria, exausta.


A manhã seguinte chegou rápido demais. Eu acordei Lily e Bells, ambas parecendo irritadas por serem acordadas antes das seis da manhã - um crime, segundo minha irmã. Eu tomei mais um banho antes de colocar o uniforme, esperando que isso me acordasse de vez, enquanto as duas se vestiam vagarosamente.

Eu desci a escadaria com as duas logo atrás de mim, todas nós com nossas bolsas penduradas nos ombros. Os garotos estavam todos lá embaixo, com exceção de Pettigrew. Alvo, especialmente, parecia magoado:

- James contou a você o que ele fez?

- Electra estava com ele e Cygnus. - Pontas apertou o ombro do neto, me encarando. - E vai participar da explicação toda.

- O que você fez? - Anabelle segurou meu cotovelo, séria. Ela e Lily me encaravam com tanta intensidade, que eu fiquei um pouco nervosa:

- Saí com James e Cygnus ontem a noite. Fui a uma reunião, por assim dizer.

- Firmar uma aliança. - Cygnus corrigiu. Anabelle apertou meu cotovelo ainda mais:

- Aliança com quem?

- Isso será explicado na Sala Precisa. - eu respondi, séria. - Prometo, Bells. Podíamos apenas ir em trio e Cygnus é nosso melhor diplomata. Você sabe.

Aquilo pareceu aplacar a raiva da minha irmã parcialmente, até que eu explicasse toda a situação. Lily, por outro lado, estava impaciente:

- Dê os nomes, Electra.

- Não. - eu respondi, irredutível. - Aqui não é lugar seguro o suficiente para esta conversa. Vamos.

Eu saí na frente, sabendo que James e Cygnus me seguiam e logo ouvi os passos dos demais atrás de nós. A pequena viagem foi feita em silêncio, com James colocando todos nós para dentro da Sala Precisa e a lacrando em sequência, nos deixando trancados em uma sala confortável, com uma mesa redonda muito maior que a da noite anterior.

- Sentem-se. - ele disse, sério. Eu me sentei à direita dele, com Cygnus do meu outro lado. Os demais obedeceram, receosos, nos encarando. - Vou começar explicando como é que diabos essa reunião aconteceu.

- Comece. - Remus disse, seco. James suspirou:

- Há quase uma semana, Electra e eu escapamos da escola para tomar café nos jardins, assistindo o sol nascer até dar um horário decente para tomar café no Salão Principal. Estávamos falando sobre a guerra, então era melhor ficar um pouco longe. - ele explicou. - Nós nos sentamos em uma pedra e logo depois Regulus Black, Aric Nott e Evan Rosier apareceram, também saindo escondido do castelo.

- Regulus? - Sirius perguntou, a voz falhando. Eu acenei que sim:

- Os três estavam indo para a Floresta Proibida, mas acabamos interceptando a viagem. - eu encolhi os ombros. - Eles queriam uma reunião porque o jardim não era um bom lugar. Eles queriam algo que poderíamos dar a eles e eles poderiam nos dar algo que queremos. Então, marcamos uma reunião. Os três, James, eu e Cygnus. Meu irmão foi escolhido porque ele é o nosso melhor diplomata. - eu continuei, compreensão enchendo os olhos de Alvo e Anabelle. - Pensamos em contar a vocês, mas eu sabia que iriam nos seguir. E o acordo era claro: apenas três pessoas. Se quebrássemos aquilo, eles jamais confiariam em nós e a nossa aliança iria por água abaixo antes mesmo de começar.

- O que eles querem? - Alvo se inclinou na direção do irmão.

- Vamos chegar lá. - eu respondi. - Ontem a noite foi essa reunião. Marcamos naquele horário porque seria mais fácil escapar de vocês, já que temos McGonagall esta manhã. Acontece - eu encarei Sirius e Pontas. - que esses dois não foram dormir. James teve que petrificar Pontas e Sirius para podermos escapar para a reunião. E é por isso que eles estão tão azedos.

- Eu os cobri com a capa da invisibilidade e saí com Els e Cygnus. - James continuou de onde eu parei. - E encontramos os três bem aqui. - ele acenou para a Sala Precisa. - Foi Cygnus quem estabeleceu uma conversa mais tranquila. Ele e Rosier, na verdade.

- E o que eles queriam? - Sirius perguntou, ansioso.

- Vamos por partes. - eu me ajeitei e olhei meu avô, suspirando. - Minha mãe é Rosier e meu pai é Black. Nós sabemos que nossas famílias têm um histórico bem questionável. - eu franzi o nariz. - Mas isso não significa que eles não possam ser ouvidos. Os três disseram estar dispostos a nos ajudar se os ajudarmos. Nos darão informações em troca de proteção e asilo.

- Vocês fizeram acordos com comensais da morte?! - Alvo pulou de pé e James o encarou:

- Sente-se, Alvo.

- Eu…

- Sente-se. - James resmungou, entredentes. Alvo fuzilou o irmão com o olhar, mas obedeceu. - Você acha que Anabelle, Cygnus e Electra são comensais da morte?

- Claro que não!

- Nem mesmo pelo nome que têm?

- Nome não significa nada! - Alvo jogou as mãos para cima.

- Pois bem. - James encarou Al, que parecia mais exasperado que nunca. - O mesmo se aplica a eles. Evan, Aric e Regulus. Eles têm contato direto com comensais da morte e, em algumas ocasiões, com o próprio Voldemort, por conta da família que têm. Eles não são apoiadores.

- Sabemos que Walburga e Orion estiveram em convenções, como eles chamam, com Voldemort. - Cygnus continuou, depois que o silêncio se estendeu demais. - Eles não estão presentes em ataques nem nada do tipo, mas claramente apoiam o que Voldemort prega. Rosier pai, é comensal e Nott pai também. Regulus, Aric e Evan não são comensais. As famílias têm a intenção de que se juntem à causa, mas não é desejo deles. Estão dispostos a nos ajudar se oferecermos proteção e asilo quando a bomba estourar, por assim dizer.

- E como sabem que estão dizendo a verdade e não apenas manipulando vocês? - Lily perguntou, nos encarando. James sorriu para a avó:

- Eu sou um legilimente bem treinado por aurores. Passei um pente fino neles depois que sugeriram essa reunião, durante uma aula. É cansativo e difícil, mas pude checar as informações. Eles não mentiram.

- Você é legilimente? - Alvo encarou o irmão, horrorizado. James sacudiu os ombros e eu ri:

- Ele precisa se esforçar, Al. Não é como se ele lesse os seus pensamentos mais impuros às duas da manhã. - eu revirei os olhos. - Mas sim. James checou e nós já sabíamos que não eram comensais antes de virmos.

- Eu não sabia.

- Você precisava negociar com eles de uma forma mais dura. Você amolece quando sabe que as pessoas estão sem opção. - James sacudiu a cabeça. Cygnus fez careta mas não discutiu. - É isso que aconteceu. Sirius e Pontas estão bravos porque não contamos a ninguém.

- Vocês deveriam ter contado. - Lily disse, séria. - E se estivessem errados, James?

- Não estávamos. E temos mais treinamento que vocês. Els e eu somos sétimo ano, temos treinamento de verão de aurores. - James respondeu, sério. - Eu jamais os levaria para algo se não tivesse um plano B em mente.

- Certo. Agora nós temos uma aliança com Rosier, Nott e meu irmão. - Sirius disse, por fim. - Ele disse algo sobre como anda sendo as coisas?

- Não. Só que Walburga e Orion vão a essas reuniões. Não todas, mas algumas. - eu sacudi a cabeça. - Haverá uma reunião na próxima quarta, vou tentar descobrir mais.

- Eles sabem sobre as Horcruxes?

- Muito cedo para dar esse tipo de informação. - Cygnus respondeu, pacientemente. - Seguramos essa enquanto eles vão nos cedendo mais partes.

- E Peter ainda não pode saber nada disso? - Remus endireitou os ombros. - Não é certo todos nós sabermos disso tudo e ele não saber de nada. Estamos deixando nosso amigo cego a respeito dos riscos que estamos correndo, mesmo dentro da escola.

James e eu nos entreolhamos e Cygnus abaixou a cabeça, sem saber o que dizer. James passou a mão pelo rosto:

- Preciso que me ouçam atentamente. Até o final. - ele começou, calmamente. Pontas pulou de pé:

- O que está querendo dizer, James?

- Me escute. - James pediu, encarando o avô. - Por favor. - ele pediu e Pontas acenou para que ele continuasse falando. - Quando… Quando vocês foram mortos por Voldemort e meu pai sobreviveu, vocês estavam escondidos sob o Feitiço Fidelius em uma casa em Godric's Hollow. Ele recebeu a informação do Fiel do Segredo e por isso conseguiu localizar vocês e atacá-los. O fiel do segredo era Pettigrew.

Os três Marotos e Lily levaram alguns segundos para digerir a informação. E, então, Sirius pulou de pé, apontando para James de forma acusatória:

- Você está mentindo! Ele é nosso amigo. Jamais trairia James e Lily dessa forma! Principalmente com uma criança sendo caçada…

- Ele traiu, Sirius. - Alvo reforçou, quando James ficou quieto e deixou que ele falasse. Pontas encarou nosso grupo:

- Estão mentindo. Ele nunca…

- Ele já nos traiu. - eu interrompi. - James e eu o vimos, naquela mesma manhã antes de Nott, Rosier e Regulus aparecerem. Ele estava indo para a Floresta Proibida, também. Se transformou em um rato e foi para lá. Eles não deram detalhes além de que iriam encontrar Rodolphus Lestrange para dar informações sobre a escola.

- Peter nunca… - Remus começou, a voz mais frágil do que eu esperava. Eu sacudi a cabeça:

- Ele fez isso. Há um motivo pelo qual nenhum de nós quer lidar com ele. - eu disse, o mais delicadamente que pude. Os três Marotos sacudiram a cabeça e começaram a andar em círculos. Lily olhou para mim:

- Você tem certeza absoluta disso?

- Tenho. Pettigrew foi leal a Voldemort até o fim. - eu suspirei. - Não queríamos contar a vocês. Queríamos que ainda fosse cedo o suficiente para mudar isso, mas já é tarde. Ele já está do outro lado e está nos traindo neste momento, passando informações para comensais da morte.

- Ele não vai passar informações aos comensais. Ele vai visitar a mãe dele. - Remus sacudiu a cabeça.

- Não estou dizendo que a mãe dele não está doente. Estou dizendo o que sei. - eu respondi. James apertou minha mão sob a mesa:

- Podem escolher acreditar em nós ou não. Mas saibam que, se derem qualquer informação a Pettigrew e nós tivermos qualquer ataque e baixa - ele aumentou o tom de voz quando os quatro começaram a discutir. - será culpa de vocês. Vamos tomar café. Esta reunião está encerrada.

James me levantou pelo cotovelo e me arrastou para fora da Sala Precisa, com nossos irmãos logo atrás.

Os outros quatro não apareceram para a aula de Transfiguração.